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Transição Escolar
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E-book284 páginas3 horas

Transição Escolar

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Sobre este e-book

A escolarização formal atravessa grande parte da vida dos sujeitos, de modo que as instituições escolares são espaços onde os alunos passam por experiências de socialização que impactam diretamente a sua constituição como indivíduos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de ago. de 2020
ISBN9788547344528
Transição Escolar

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    Pré-visualização do livro

    Transição Escolar - Graciana Vieira de Azevedo

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    A Ninho, Digo e Leo.

    Por tudo o que construímos juntos.

    AGRADECIMENTOS

    O texto deste livro, com poucas alterações, é resultado da minha tese de doutorado em Psicologia Cognitiva, defendida em fevereiro de 2017. Muitas pessoas contribuíram de diferentes formas para que esta obra se materializasse. Com o sentimento sincero de profunda gratidão, faço meus agradecimentos:

    A Maria Lyra, orientadora do trabalho que originou este livro, aos professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da Universidade Federal de Pernambuco, do Laboratório de Estudos do Desenvolvimento na Cultura: Comunicação e Práticas Sociais e do Colégio de Aplicação (CAp), pelo incentivo e contribuição para esta pesquisa. Em especial, agradeço a Tatiana Alves de Melo Valério e a Madson Góis Diniz, pela amizade, atenção e contribuição para esta obra.

    Aos alunos do sexto ano, em especial, a Laila, Sabrina e Paulo, pela espontaneidade, pelo carinho e pela disposição para participar da pesquisa de forma sincera e verdadeira, compartilhando comigo um pedacinho das suas vidas.

    A Ícaro Weimann, pela ajuda na preparação do material enviado para a edição desta obra.

    E, finalmente, a Luciano, meu marido, pelo encorajamento e apoio incondicional durante todas as etapas da construção desta obra.

    Eu não sentia nada.

    Só uma transformação pesável.

    Muita coisa importante falta nome.

    (João Guimarães Rosa)

    APRESENTAÇÃO

    Um trabalho é verdadeiramente uma obra singular quando se ocupa eficientemente daquilo que Umberto Eco denominou de a estrutura ausente. É por meio desse jogo dialético que a obra Transição escolar, de Graciana Vieira de Azevedo, ressignifica as teorias culturais, alcançando um verdadeiro roteiro poético-teórico ao bordar os fios do complexo frivolité entre a psicologia cultural de orientação semiótica e a pedagogia, englobando as possíveis transdisciplinaridades dos saberes próprios das ciências humanas.

    Mas qual é de fato a relação entre a psicologia cultural e a educação ou, ainda, quais contribuições teóricas dessa psicologia poderiam alumiar o entendimento de fenômenos educacionais já tão amplamente discutidos nas humanidades? É nesse contexto que a obra descortina um horizonte teórico inóspito e ainda pouco debatido na academia: a transição escolar de crianças entre 10 e 12 anos para o sexto ano do ensino fundamental e os respectivos desdobramentos na subjetivação desses indivíduos.

    Os períodos de transição são característicos na história individual e ocorrem no ingresso, pela primeira vez, em uma instituição educacional, projetando-se, ao longo do percurso de sua formação enquanto aluno, na sucessão entre os anos e séries ou na mudança entre estabelecimentos educacionais. Na análise em questão, a autora usa emblematicamente o Colégio de Aplicação (CAp) da UFPE, um dos mais renomados centros de educação básica do país, ligados a uma instituição federal de ensino superior.

    Destarte, a partir do ingresso desses estudantes no CAp, uma escola inserida em um contexto de um campus universitário com um modus operandi característico e rotinas pedagógicas próprias, inicia-se o processo em que a escola se insere profundamente na vidas desses alunos, demandando-lhes estratégias e esforços simbólicos para superação, inserção, adaptação, reconhecimento e assimilação das novas rotinas escolares em detrimento das vivências escolares anteriores. A obra, portanto, analisa o respectivo período de transição escolar, no qual se dá a construção da relação aluno-escola, fazendo uso de três estudos de caso, a saber: Laila, Sabrina e Paulo. A exegese dos casos se traduz em uma hermenêutica irrefutável: uma maior compreensão das transformações qualitativas aos quais os discentes são submetidos, vivenciando-as como uma nova realidade em suas vidas, e como a escola pode auxiliar nos respectivos períodos de transição.

    A psicologia cultural semiótica é uma ramificação da psicologia fundamentada no pressuposto de Jaan Valsiner de que todo o pensamento humano é cultural, concebendo-se o termo cultural como equivalente à expressão semioticamente mediado. Nessa dimensão, os estudantes em seus períodos de transição escolar criam e usam signos em seus contextos para regularem a si mesmos e aos outros. Esta é, portanto, contribuição da obra – alinhar a psicologia cultural, com foco na dinâmica semiótica, e a educação, categorizando as interpretações teóricas acerca do desenvolvimento humano que implicam diferentes maneiras de entender a questão da transformação e das mudanças transformacionais, associadas a novidades emergentes, mudanças qualitativas e descontinuidades ao longo da vida.

    Eis, portanto, a oportunidade teórica de esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. Eis o tempo de uma travessia semiótica.

    Madson Góis Diniz

    Doutor em Linguística e mestre em Letras (UFPB)

    Docente e pesquisador do Colégio de Aplicação (UFPE)

    PREFÁCIO

    Devo iniciar este prefácio destacando a alegria de ver o trabalho de Graciana Azevedo, fruto de muito esforço e dedicação, ganhando o formato de livro e, assim, alcançando outros públicos, especialmente docentes e pesquisadores preocupados com um fenômeno que ocorre ano após ano em todas as escolas brasileiras: a transição das crianças do quinto para o sexto ano do ensino fundamental, experiência cognitiva e afetiva complexa.

    Graciana, professora do Colégio de Aplicação (CAp) da UFPE, também com experiência de coordenação de ensino na mesma instituição, chegou ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva (UFPE) com várias inquietações, sempre buscando investigar problemas concernentes à dinâmica da vida estudantil. Na linha de pesquisa Cultura e Cognição, ela conheceu a psicologia cultural semiótica ao ingressar no Laboratório de Estudos do Desenvolvimento na Cultura: Comunicação e Práticas Sociais (LabCCom). Foi participando das reuniões desse laboratório que Graciana construiu sua pergunta de pesquisa, baseada no cerne da teoria que investiga como as pessoas constroem significados sobre as mais diversas experiências do cotidiano, com base na interação do sujeito com o ambiente, numa relação de interdependência. Assim, investigar como os alunos do sexto ano, vivenciando uma transição escolar dupla (do quinto para o sexto ano e ingressando em uma nova escola), ressignificam e enfrentam essa nova realidade, tornou-se a indagação central da pesquisa que originou a tese da autora deste livro.

    A psicologia cultural semiótica, teoria extremamente densa e desafiadora, mas, ao mesmo tempo, altamente instigante, passou a ser o fio condutor da pesquisa de Graciana, que, mesmo vinda de outra área de pesquisa, obteve êxito em cada desafio que se apresentava em sua trajetória doutoral. A autora soube aproveitar bem as dinâmicas oportunizadas pelo LabCCom, fruindo de experiências acadêmicas diversas que lhe permitiram aprofundar os seus conhecimentos sobre conceitos-chave que a ajudaram a estudar, em profundidade, o fenômeno da transição escolar em crianças do sexto ano do ensino fundamental, contribuindo de maneira significativa para com a literatura que versa sobre transição escolar.

    A inovação da presente obra é de caráter teórico e metodológico. A adoção da psicologia cultural, consequentemente, já exige do pesquisador o desenvolvimento de uma metodologia que seja adequada ao fenômeno sob investigação, considerando sua centralidade axiomática sobre os processos psicológicos, a saber: os fenômenos psicológicos desenvolvem-se com o tempo irreversível, na relação interdependente entre sujeito e o ambiente semioticamente investido e com construções teleogenéticas (capacidade humana de criar metas e agir em direção a elas – regulação pelo futuro).

    Apoiada fortemente nas noções de transição, recursos semióticos e imaginação, a pesquisadora incursiona na criação de um método que integra redações, minitextos com imagens e entrevistas, além de dados complementares oriundos do 1º Conselho de Classe Diagnóstico da turma do sexto ano que participou desse estudo e, ainda, de pesquisas em sites da internet, conversas e observações informais. Três estudos de casos possibilitam à autora uma investigação em profundidade, consoante aos fundamentos epistemológicos da ciência idiográfica, à qual a psicologia cultural se filia.

    Com base nessa rica construção de dados, Graciana conhece os mecanismos que as crianças participantes da sua pesquisa criaram para ressignificar o novo cotidiano que elas vêm experienciando. Mesmo o sujeito sendo reconhecido em sua unicidade mantendo uma relação interdependente obrigatória com o ambiente, é possível à investigadora, à luz dos pressupostos teórico-metodológicos adotados, sinalizar generalizações acerca do processo que se desdobra na transição vivenciada pelos participantes. Recursos entendidos como semióticos – por terem um significado cultural e pessoal para crianças diferente daquele significado partilhado socialmente – são encontrados em todos os casos.

    A imaginação é sugerida como tendo um papel central na construção de significados das crianças sobre a transição que elas enfrentam, sendo possível seu acesso por meio dos mais variados suportes utilizados pela autora, que possibilitaram aos participantes imaginar soluções para o dilema a eles apresentado: deveriam escrever uma redação sobre um personagem que mudava de escola. Essa estratégia de provocar um distanciamento psicológico nas crianças, sobre sua própria dupla transição, colaborou na fluidez de ideias em busca de soluções plausíveis para o personagem criado por cada uma delas. Nessa dinâmica, o livro consegue sinalizar caminhos que podem ser adotados e ampliados por escolas que se preocupam em ajudar seus estudantes na transição do quinto para o sexto ano do ensino fundamental.

    Tatiana Alves de Melo Valério

    Doutora e mestre em Psicologia Cognitiva (UFPE)

    Docente e pesquisadora do Ifpe/Belo Jardim

    Membro do LabCCom/UFPE

    LISTA DE SIGLAS

    Sumário

    1

    INTRODUÇÃO

    2

    FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO

    2.1.1 Cenário da transição

    2.1.2 Desenvolvimento e transição: principais abordagens

    2.2 A PSICOLOGIA SOB AS LENTES DA CULTURA

    2.2.1 O que é cultura?

    2.2.2 A cultura coletiva e a cultura pessoal

    2.2.3 A psicologia transcultural e a psicologia cultural

    2.2.4 Os signos e a mediação semiótica

    2.2.5 Psicologia cultural semiótica: princípios básicos

    2.3 CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS

    2.3.1 Ruptura e transição

    2.3.2 Aquisição de conhecimento, reposicionamento

    2.3.3 A construção de recursos semióticos nas transições

    2.3.4 A imaginação

    3

    METODOLOGIA

    3.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

    3.2 ABORDAGEM METODOLÓGICA

    3.2.1 O ciclo metodológico

    3.2.2 A perspectiva idiográfica: o estudo de caso

    3.3 CONTEXTO DO ESTUDO

    3.3.1 Participantes – alunos do CAp

    3.3.2 O CAp

    3.4 CONSTRUÇÃO DOS DADOS

    3.4.1 Procedimentos e instrumentos

    3.4.2 Critérios de escolha dos casos e organização dos dados para análise

    4

    CONSTRUÇÃO DOS RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO

    4.1 CASOS

    4.1.1 Laila

    4.1.2 Sabrina

    4.1.3 Paulo

    4.2 RECURSOS SEMIÓTICOS E A DINÂMICA IMAGINATIVA

    5

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIA

    ÍNDICE REMISSIVO

    1

    INTRODUÇÃO

    A história do presente trabalho começa em 2011, quando ingressei como professora de Língua Inglesa no Colégio de Aplicação (CAp) – instituição pública de ensino básico – da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Antes de fazer parte do corpo docente desse colégio, trabalhei vários anos em cursos de inglês, onde lecionava e treinava professores. Ao começar minha trajetória no CAp, percebi que algo novo e importante tinha início na minha carreira de professora. No primeiro ano, lecionei em seis turmas, entre elas a do sexto ano – grupo dos novatos e dos mais jovens na escola.

    Achava esse grupo interessante, pois os alunos tinham muitas dúvidas e faziam muitas perguntas do tipo é para copiar?, escreve onde?, é para anotar a tarefa? Identifiquei-me com a turma, afinal, eu também era novata no CAp e estava vivenciando uma mudança de ambiente escolar. No ano letivo seguinte, além de continuar ministrando aulas no sexto ano, assumi a coordenação do ensino fundamental (EF)¹. A partir de então, como coordenadora, aprendi muito sobre a dinâmica da escola. Sabia das dificuldades e dos problemas enfrentados pelos estudantes, em especial pelos alunos do sexto ano. Comecei, então, a observar os meus alunos dessa turma com um olhar mais atento e muitas vezes me perguntava: como é que esses meninos e meninas fazem para processar tantas novidades, tantas mudanças?

    Naquela época, associei-me a um grupo do Laboratório de Estudos e Desenvolvimento na Cultura: Comunicação e Práticas Sociais (LabCCom), da Pós-graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE, que discutia a construção de significados na perspectiva da psicologia cultural semiótica (VALSINER, 2007, 2014a). Motivada pelas discussões realizadas no grupo e pela curiosidade em entender como os novatos do sexto ano constroem significados na transição escolar, decidi estudar sobre esse tema. Assim, os participantes do nosso estudo foram estudantes em transição escolar ingressando no sexto ano do Colégio de Aplicação (CAp) da UFPE.

    O ingresso no CAp da UFPE se dá no sexto ano do ensino fundamental (EF) por meio de um exame público bastante concorrido (AZEVEDO, 2015). Por conseguinte, os alunos selecionados são considerados por grande parte da sociedade como estudantes muito diferenciados e respeitados em relação ao seu potencial para focar e se destacar nos estudos.

    Com o ingresso desses discentes na escola, inicia-se o período em que o CAp passa a fazer parte de suas vidas, demandando-lhes estratégias e esforços para se inserirem e se adaptarem de fato à dinâmica da instituição. Nesse período de transição escolar, no qual se dá a construção da relação aluno-escola, faz-se necessária uma maior compreensão das transformações qualitativas aos quais os discentes são submetidos, vivenciando-as como uma nova realidade em suas vidas.

    Assim, o presente trabalho se propôs a estudar esse momento de transição, a passagem do quinto para o sexto ano – na qual os alunos encontram-se, em sua grande maioria na faixa etária dos 10 aos 12 anos. Na passagem para o sexto ano observa-se que os alunos apresentam muitas dificuldades na adaptação para esse ano escolar (WIGFIELD et al., 1991; ECCLES et al.,1993). Os percalços enfrentados pelos discentes na adaptação a uma nova escola (AKOS, 2004; HAUSER, 2007) se refletem no seu desempenho escolar. Acerca disso, os resultados do EF constantes no Anuário Brasileiro da Educação Básica (CRUZ; MONTEIRO, 2019) apontam para um fraco desempenho escolar dos sextos anos, foco de nossa pesquisa.

    Optei pelo CAp como contexto de pesquisa por considerar que os alunos do sexto ano dessa escola vivenciam uma transição potencialmente mais marcante, uma vez que estão experienciando muitas rupturas simultâneas: mudança de ano escolar, de escola, e, muitos deles, com o advento da puberdade e o início da adolescência (pré-adolescência), vivenciam também mudanças biológicas e psicossociais. Além disso, como docente do CAp, tenho uma vivência etnográfica natural na escola com os alunos, os professores e os demais funcionários, e, portanto, uma maior facilidade de acesso a observações e informações para a compreensão do fenômeno estudado.

    Acredito que o entendimento de como os alunos do quinto ano lidam com a transição para o sexto ano sob uma perspectiva psicológica e cognitiva poderá auxiliar o CAp, bem como as demais escolas de ensino básico, onde outros alunos encontram-se enfrentando situações semelhantes, na criação de ações mais bem direcionadas para dar suporte a esses discentes na sua entrada para o EF 2.

    Em face do exposto, o presente estudo objetiva investigar e compreender como alunos do CAp, iniciando o sexto ano do ensino básico em um momento de transição escolar, constroem significados (valores e emoções) na relação com um novo ambiente. Entendo essa construção como um processo dinâmico no qual a experiência cultural vivenciada (a transição escolar) organiza-se semioticamente com base em elementos culturais presentes na cultura pessoal e coletiva (VALSINER, 2007, 2014a). Esses elementos, ao adquirirem significados particulares para o indivíduo vivenciando uma transição, passam a ser signos e tornam-se recursos, atuando como mediadores da relação do sujeito com o novo contexto escolar, ajudando-o, assim, a aprender outras formas de se relacionar com o mundo, a se reposicionar e a se transformar (ZITTOUN, 2006; 2009). Julguei também que, nesse momento de transição, a imaginação tem um papel importante na ressignificação do cotidiano escolar desses alunos. A imaginação possibilita às pessoas distanciarem-se da experiência presente, revisitarem o passado e considerarem alternativas viáveis para o

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