Pequenos confinados: O olhar da infância para o isolamento social
De Renata Costa, Vera Mattos, Sofia Ivo e
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Pequenos confinados - Renata Costa
Enzo
1.
UM POUCO DE TEORIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Mariana
Conhecer a teoria, além de abrir horizontes, auxilia-nos a compreender melhor o que acontece na vida real, por isso traremos um pouco sobre a teoria do desenvolvimento infantil. Nosso objetivo não é transformar você em um especialista em desenvolvimento infantil, mas, sim, permitir que você tenha um embasamento teórico para refletir sobre os depoimentos trazidos pelas crianças, considerando os diferentes aspectos do desenvolvimento infantil.
Algumas das teorias do desenvolvimento abordam aspectos dessa fase fazendo uma separação das etapas da criança, ou da faixa etária. Outras abordam essas questões delimitando campos do desenvolvimento, como, por exemplo, afetivo, neuromotor e cognitivo. Essas teorias nos oferecem um norte e descrevem as fases do desenvolvimento de crianças indicando os marcos de crescimento de acordo com uma faixa etária típica. É importante, no entanto, ressaltar que o desenvolvimento não é algo linear e que cada criança tem sua individualidade e seu tempo de desenvolvimento que precisam ser respeitados, sem, todavia, deixar de observar os desvios que podem aparecer durante todo o percurso evolutivo.
Sabemos que o desenvolvimento infantil pode ser comparado com um diamante multifacetado. Com essa imagem em mente, apenas para fins didáticos, dividiremos o desenvolvimento infantil em quatro diferentes aspectos: neuropsicomotor, afetivo, cognitivo e de linguagem. Restringimos a nossa abordagem também à faixa etária das crianças que participaram do projeto: 2 a 14 anos.
1.1. Nosso Diamante e seu Aspecto Neuropsicomotor
O desenvolvimento neuropsicomotor, também chamado de desenvolvimento motor típico (quando a idade da criança está de acordo com sua capacidade de sentir e mover-se), reúne algumas mudanças do comportamento postural e motor que ocorrem nos primeiros anos de vida, organizadas em etapas e descritas de acordo com a idade cronológica. Cada uma das etapas precisa ser estimulada, já que são essenciais para o desenvolvimento global. As áreas neuropsicomotoras podem ser estimuladas por meio de jogos e atividades de aprendizagem que trabalham o movimento. Consideramos áreas neuropsicomotoras:
•coordenação motora global – associada à a consciência corporal e ao controle da musculatura ampla para realizar movimentos complexos como correr e pular;
•coordenação motora fina – relacionada com o controle dos pequenos músculos e o movimento das mãos, da face e visual, como desenhar e recortar;
•lateralidade – tem a ver com a consciência de que o corpo tem dois lados que podem ser trabalhados separadamente, como pular em um pé só;
•organização espaço-temporal – refere-se à habilidade de perceber o tempo, como a noção de velocidade e tempo (passado, presente e futuro), e a consciência do corpo no ambiente (dentro × fora, perto × longe, em cima × embaixo);
•esquema corporal – tem relação com a habilidade de consciência do próprio corpo (imagem corporal).
Para que o desenvolvimento neuropsicomotor ocorra, é necessário que os aspectos neurológicos, psicológicos e motores estejam evoluindo da melhor forma possível, o que vai depender de fatores como o amadurecimento do sistema nervoso central, a interferência direta do desenvolvimento das emoções, do afeto, e o desenvolvimento do movimento em si.
O movimento é a primeira forma de comunicação da criança com o meio e com os outros à sua volta, a primeira forma de expressão. É por meio do movimento que o bebê vai descobrir o próprio corpo, desenvolver sua imagem corporal, noção espacial e criar relações com o mundo que o cerca. Não nos aprofundaremos nos aspectos referentes aos primeiros 24 meses da criança, pois não abordamos essa faixa etária em nossa pesquisa.
A seguir, uma tabela com algumas habilidades esperadas por faixa etária.
Para que o desenvolvimento neuropsicomotor aconteça de forma integral, é importante que a criança seja estimulada, o que acontece no ambiente escolar, nas brincadeiras e no convívio com outras crianças, no ambiente doméstico ou até em centros de desenvolvimento especializados. Em períodos de isolamento social, no entanto, esses estímulos ficam prejudicados com as restrições de contato físico e, dependendo da faixa etária, os prejuízos podem ser significativos. As relações interpessoais são um vetor importantíssimo para o equilíbrio psicoafetivo durante situações adversas, por isso vamos para mais uma faceta do nosso diamante…
1.2. O Desenvolvimento Psicoafetivo
Toda criança nasce em uma família e esse é o seu primeiro grupo social. A família deve oferecer condições básicas para a formação das crianças, é, claro, influenciada pelos meios social e cultural em que está inserida. Partindo do princípio de que os humanos são seres sociais, desde o início da vida nós nos desenvolvemos em um contexto sócio-histórico. Em um momento de isolamento, dá-se uma ruptura neste contexto social, já que as relações sociais ficam restritas. Ocorre um distanciamento que não é apenas físico, corporal, mas também, e sobretudo, afetivo. As demonstrações de afeto com beijos e abraços, que são tão fundamentais no desenvolvimento das crianças e tão presentes na cultura brasileira, foram reduzidas ou mesmo eliminadas. Naturalmente, viver uma situação de isolamento social traz consequências para o desenvolvimento psicoafetivo, por isso é importante nos debruçarmos sobre esse tema e entender um pouco mais da teoria do desenvolvimento infantil para compreender as possíveis consequências de uma situação de isolamento social.
O primeiro contexto social é o núcleo familiar, que interage com a sociedade ao seu redor, formando progressivamente uma rede mais ampla. Cada um de nós, ao nascer, é extremamente dependente do outro humano (mãe ou outro responsável) para sua sobrevivência. Além disso, possuímos uma imaturidade biopsíquica que irá se desenvolver não só de acordo com nossa programação genética, mas também na relação que estabelecermos com o meio em que vivemos.
Apesar dessa imaturidade, no entanto, desde o nascimento já estamos equipados com inúmeros sistemas comportamentais, os quais são ativados a partir da nossa interação com o mundo e, por meio da relação com uma outra pessoa, transformar-se-ão em um vínculo recíproco e contínuo entre o eu e o outro. São os adultos que irão introduzir as crianças em sua cultura, atribuindo significado às condutas e aos objetos culturais ao longo da história. O comportamento de um interfere e estimula o comportamento do outro, dando início à interação no núcleo familiar.
Quanto maior a capacidade dos responsáveis em dar e receber afeto, de atender às diversas necessidades básicas, mais fácil será o desenvolvimento do potencial psíquico e afetivo, portanto a vida psíquica se origina das relações afetivas estabelecidas precocemente.
Cada criança possui suas características próprias e observa o mundo e o comportamento das pessoas que a cercam de uma maneira particular. Essas observações influenciam, de maneira positiva ou negativa, todos os modelos de relacionamento que o indivíduo terá ao longo da sua vida. O ambiente familiar é muito importante para o desenvolvimento de toda a estrutura emocional e para a formação da identidade, portanto a forma como a família reage a uma situação de isolamento social afeta diretamente o desenvolvimento afetivo das crianças.
Ninguém duvida de que as emoções sejam fundamentais na vida de todos os seres humanos. Cada um, desde o início da vida, vai criando seu repertório e suas estratégias para lidar com essas emoções que dão seus primeiros sinais no corpo fisiológico.
Em todo e qualquer ser humano, os aspectos psíquicos, físicos, intelectuais e sociais se desenvolvem ao mesmo tempo. Os aspectos psíquicos estão relacionados com o emocional; os físicos, com o desenvolvimento biológico; os aspectos intelectuais, com o desenvolvimento cognitivo; e os sociais, com as relações com outras pessoas. O desenvolvimento da criança ocorre de acordo com a relação existente entre as possibilidades biológicas e mentais que possui (conforme quadro a seguir).
Fonte: Adaptado de PAPALIA, D.E.; OLDS, S.W. O mundo da criança. Nova York: Macgraw-Hill, 2001.
Todos esses relacionamentos sociais serão importantes para o desenvolvimento da criança, para o tipo de relação que está sendo construída e para as relações que ela construirá no futuro.
As experiências de uma criança com o brincar desempenham um papel vital em seu desenvolvimento psicoafetivo. Além de promover o bem-estar, a criatividade e a harmonia nas relações sociais, a estimulação por meio do brincar promove a ligação afetiva da criança com seu entorno. O ato de brincar, quando nos encontramos em isolamento social, é bastante afetado não só pela restrição do convívio com grupos sociais diversos, mas também pela limitação de espaços físicos.
Cabe ressaltar a importância da fala direcionada às crianças. As falas são carregadas de afeto, que podem ser tanto positivos como negativos. Consequentemente, as palavras têm ressonância para uma vida inteira e dão contorno à estrutura edificante da personalidade durante o desenvolvimento humano. Além disso, a linguagem é uma forma de podermos perceber o quanto a criança compreende e o quanto ela apreende de suas experiências, abrindo espaço para conhecermos mais uma das faces do diamante do desenvolvimento infantil – a cognição.
1.3. Desenvolvimento Cognitivo
A forma como a criança se relaciona com o processo de aprendizagem envolve uma série de aspectos a serem considerados. Pode estar ligada à história de vida, aos estímulos oferecidos e, principalmente, à forma como a criança está inserida no contexto social. De acordo com o modelo de sociedade de cada época, a infância foi sofrendo modificações significativas.
Há estreita relação entre o desenvolvimento neuropsicomotor e a aprendizagem. Como vimos no aspecto neuromotor, na primeira infância o cérebro passa por grandes transformações, levando ao desenvolvimento e à aquisição de novas habilidades.
A criança tem seu corpo como referência e aprende espontaneamente por meio da observação, imitação, experimentação e dos estímulos recebidos pelo meio que a cerca.
As interações motoras e lúdicas com a família geram uma relação de confiança que colabora para a autonomia da criança em diversos aspectos da vida cotidiana (WALLON apud FONSECA, 2008, p.16-17).
Ao longo do processo de desenvolvimento, em decorrência da compreensão e do domínio das dinâmicas sociais,