Goiânia de Attilio Corrêa Lima (1932 a 1935): Ideal estético e realidade política
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Goiânia by Attilio Corrêa Lima (1932 a 1935): Aesthetic ideal and political reality Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Itinerário Pioneiro do Urbanista Attilio Corrêa Lima Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
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Goiânia de Attilio Corrêa Lima (1932 a 1935) - Anamaria Diniz
Anamaria Diniz
Goiânia de
Attilio Corrêa Lima
(1932 a 1935)
ideal estético e realidade política
Goiânia
2021
A história permanece um campo de batalhas, o lugar de confrontos primordiais onde se joga não tanto o passado enquanto tal, mas as grandes escolhas do presente
François Dosse
Sumário
Apoio a um legado
O sonho e a realidade
Revisitando a Goiânia de Attilio
Attilio Corrêa Lima: o urbanista da nova capital
Por que Attilio?
A trajetória acadêmica e profissional
A formação acadêmica na ENBA: 1920 a 1925
Curso de Urbanismo no IUUP e outras influências
Goiânia: filha direta da Revolução de 1930 em Goiás
Processo de mudança da capital: decretos e comissão para a escolha do lugar
Campinas e a disputa de poderes: Igreja versus Estado
Relatório de Armando de Godoy
Goiânia: o ideal estético
Comissão e encenação: a escolha do lugar
A formalização de Attilio nos planos de Goiânia
O relatório do Plano Diretor
Goiânia: a cidade funcional
Goiânia: a cidade sustentável de Attilio
Nova Goyaz: a cidade-aeroporto
Os limites da nova capital
O Plano Urbanístico
A arquitetura na nova capital
O Grande Hotel
Goiânia: realidade política
O rompimento
Corrêa Lima versus os Coimbra Bueno
A cidade fragmentada
Goiânia: A modernidade possível
Idealizando o futuro da nova capital
O reconhecimento − 85 anos depois
Attilio: um homem de fronteira
Evocação a Goiânia
Posfácio
Agradecimentos
Referências
Apoio a um legado
Fernando C. Chapadeiro
Registrar os fatos e as obras de um período da história é essencial para a construção da identidade e da memória de uma sociedade. No caso da Arquitetura e do Urbanismo, conhecer a história dos profissionais e de sua atuação contribui para o contínuo amadurecimento da profissão, seja diante de seus pares, seja diante daqueles que desfrutam do resultado de seu trabalho. Afinal, é de suma importância reconhecermos os legados que nos foram concedidos, garantirmos seu lugar nas narrativas acadêmicas ou nas esquinas da cidade. Entendermos ali um ponto de partida ou transição, na evolução dos processos projetivos e construtivos. Somente com esse olhar compreenderemos a importância de cada obra para a edificação dos espaços que temos hoje.
Ao observar os movimentos que se desenrolaram durante o desenvolvimento do plano inicial para Goiânia, desde o início, e a subsequente política do Estado, aliada a interesses particulares, entenderemos o atual aspecto formal da cidade e a tradição local de desrespeito ao planejamento urbano. Entender a relação de Attilio Corrêa Lima com Goiás e de Goiânia com seu plano é entender a cidade de hoje. É notório que os problemas que impediram a efetivação do plano de Attilio para a capital e levaram à interrupção do contrato do urbanista com o Estado, são os mesmos que nos assombram nos dias de hoje.
A expectativa dos profissionais técnicos, como os arquitetos e urbanistas, é de que em algum momento essa compreensão e esse conhecimento contribuam para a elaboração de diagnósticos mais precisos. Preferencialmente, que estejam menos atrelados a interesses econômicos e políticos. E, como resultado, que possibilitem a realização dos reparos necessários.
Esse é o legado que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo almeja construir, através dos editais de patrocínio da autarquia. Fomentamos seminários, debates, exposições, projetos de habitação social a fim de contribuir para o trabalho de garantia de moradia digna às pessoas. E apoiamos, convictos de sua importância, publicações como Goiânia de Attilio Corrêa Lima.
Fernando C. Chapadeiro
Arquiteto e urbanista
Presidente do CAU/GO
O sonho e a realidade
Estevão C. de Rezende Martins
A concepção do espaço e de sua ocupação por um desenho urbano, pensada pelo arquiteto-urbanista, reveste-se de uma boa dose de sonho. Leve sonho, que paira sobre a realidade concreta, na qual se projeta a ideia criativa de uma nova cidade.
A primeira metade do século XX foi pródiga em sonhadores urbanos, como Attilio Corrêa Lima, o idealizador de Goiânia, nova capital do estado de Goiás. O presente livro tem dois personagens marcantes, em torno dos quais volteia com graça e leveza a autora, qual ballerina, Anamaria Diniz: Attilio, o inventor, e Goiânia, a invenção.
Anamaria Diniz, cuja pesquisa se fez por ocasião de seu mestrado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Brasília, entrança seus personagens no contexto do surgimento e da consolidação da especialidade profissional urbanística no início do século XX, no ambiente da política de ocupação territorial e de poder regional, na dinâmica de marchas para o Oeste.
Nessa tessitura, mesclam-se o sonho das cidades, as ideias e a grandiosidade de objetivos estéticos, políticos e sociais.
Ao longo da história da humanidade, as pessoas sonharam com um mundo ideal – a terra da felicidade. O verso final do poema Utopia (1516), da pena de um dos mais famosos utopistas do século XVI, Thomas Morus, soa assim: Utopia é meu nome: uma terra de felicidade
.
O planejamento urbano se entende como uma ciência fortemente orientada para o futuro, cujo núcleo inclui objetivos de desenvolvimento por vir. Como resultado, a utopia é uma ferramenta eficaz para a elaboração de cenários de planejamento urbano, talvez até a única saída possível para uma possível crise estrutural, como a que dizia respeito à antiga capital goiana, Vila Boa (Goiás Velho).
Ao contrário de prognóstico ou visão, a utopia é caracterizada por uma ideia de comunidade bem marcante. Em sua essência, sempre se apresenta como uma espécie de modelo. Comunidade modelar é pressuposto característico do planejamento urbano em geral. Pode-se entender que, do ponto de vista social, o planejamento urbano pretende ser a utopia que se concretiza. No entanto, as ideias sobre o que caracteriza a utopia sempre divergiram entre planejadores urbanos e sociólogos.
Arquitetos e engenheiros geralmente formulam suas utopias de maneira muito imparcial e experimental. As mudanças sociais devem ocorrer como resultado de um ambiente confortável e repensado. O utópico do planejamento urbano pressupõe que uma arquitetura melhor sempre significa uma mudança na sociedade em direção de ser mais humana. Ao fazer isso, concebem-se modelos futuros, muitas vezes com base nas mais recentes conquistas técnicas, que devem permitir uma coexistência ideal típica e prometer aos habitantes uma vida despreocupada e sem conflitos. A fim de sublinhar o caráter inovador do design, as utopias de planejamento urbano geralmente se movem dentro da estrutura de ideias extremas e superlativas (por exemplo, a cidade de 3 milhões de Le Corbusier ou a arquitetura revolucionária francesa de Ledoux). São utopias universais que tratam de todas as questões de trânsito, uso do solo, estrutura funcional da cidade e inclusão da natureza. A ideia de ser capaz de provocar uma transformação para melhor na sociedade parece, dessa forma, compreensível, tendo em vista as amplas mudanças estruturais e os efeitos sobre o indivíduo. Embora os projetos utópicos das cidades ideais estejam a serviço de novas ideologias, eles podem, no entanto, ser vistos como uma forma visual e estética de realizar ideias sociais e políticas.
Utopias sociais, políticas ou humanísticas influenciaram assim o planejamento e o desenvolvimento das cidades. Mudanças particularmente significativas foram projetadas durante as crises sociais e urbanas e no início de novas formações políticas e períodos de planejamento urbano.
Pode-se perceber no itinerário de Attilio Corrêa Lima, ao se exprimir no traçado de Goiânia, uma forma de idealização utópica da cidade, com o fito de transformá-la em realidade.
A criação da nova capital, Goiânia (1933-36), evidenciou o empenho governamental – em particular de Pedro Ludovico Teixeira (1891-1979) – em consolidar a liderança política e econômica em Goiás, em desenvolver o estado e construir uma versão do Goiás moderno, afinado com os tempos que se queriam inovadores, nos anos 1930.
Novas cidades, pelo mundo afora, desde o século XVIII, dão visibilidade tanto à autoridade que as patrocina – a conexão de Juscelino Kubitschek com Brasília é um dos mais notáveis exemplos – quanto a seus idealizadores – o que se aplica também a Lucio Costa, urbanista, e a Oscar Niemeyer, arquiteto, quanto a Brasília.
Espaço urbano (re)inventado muito diz sobre a circunstância e sobre seu criador. O traço utópico prevalece na linha da concepção, o choque da realidade amolda o desenho e a ideia à dura concretude do teatro da vida política, no qual o Dom Quixote urbanista tem de desempenhar seu papel.
Attilio Corrêa Lima teve em Goiânia o grande projeto de largo alcance de sua carreira. A cidade ainda não era. Poderia ter sido como ele a pensou, mas não chegou a ser inteiramente executada, por injunções políticas e econômicas próprias ao Goiás de então. O projeto para o Recife, pouco depois do que fizera para Goiânia, lidava com uma cidade que começara a instalar-se em 1537. Goiânia veio a ocupar um espaço urbanisticamente virgem
, enquanto no Recife a realidade impunha mais limites.
Anamaria Diniz nos permite entender como a formação do urbanista – em um Brasil em que essa especialidade apenas engatinhava – e a concepção dos projetos se fizeram interdependentes. E também como não se consegue defender uma autocracia do urbanista, como onipotente criador do espaço. As variáveis são reais, em especial a do poder político e de suas metas.
A autora nos conduz pelo complexo poliedro dos tratados canônicos da concepção das urbes, de suas finalidades – excelsas ou lhanas –, de seus gestores, de seus pontífices, profissionais ou políticos, para entender paradigmas e padrões vigentes na primeira metade do século XX e a ousadia das rupturas que se propunha impor-lhes.
Em cidades novas, a brotar em área própria e desimpedida, o urbanismo se dá como projeto de um artefato pensado, muitas vezes, apenas em duas dimensões, mas eventualmente croquis e perspectivas sobrepostos às plantas apontam uma visão mais holística do desenho urbano, ainda que sob a forma de meros esboços. Assim, interessa não apenas o parcelamento do solo urbano, a indicação do número, da posição e do tamanho dos espaços livres e o arranjo artístico das vias, mas também a previsão de prédios públicos eminentes e o tratamento da arborização urbana viária.
Tem-se então que os vários componentes da forma urbana são organizados como uma composição artística, obedecendo a preceitos acadêmicos canônicos. Em busca de harmonia no conjunto, são combinados, por exemplo, ruas, avenidas, rotatórias; bulevares, aleias, passeios e arborização viária; quadras, edificações e alinhamento predial; praças, parques, jardins, esplanadas, belvederes; entrada e centro da cidade; monumentos e fontes. Com efeito, alcançava-se o padrão ideal de estética urbana com certos motivos formais e padrões de desenho que valorizavam a arte, a arquitetura e seus princípios.
Como bem enuncia Anamaria Diniz, "Attilio Corrêa Lima, homem e urbanista de seu tempo, comungava com o pensamento modernista do esprit nouveau, que acreditava que, por meio da arquitetura e do urbanismo moderno, um ‘novo homem’ nasceria na cidade planejada sobre uma tábula rasa, no meio do sertão brasileiro. Goiânia, como ilha de utopia, nasceria da vontade de seu idealizador, da transformação de uma nova sociedade".
A obra de Anamaria Diniz guia o leitor interessado, especialista ou não, por um capítulo exaltante da história do urbanismo no Brasil, abruptamente interrompido com a morte acidental de Attilio Corrêa Lima em 1943.
Brasília, abril de 2021
Estevão C. de Rezende Martins
Professor titular emérito
da Universidade de Brasília
Goia╠énia de Attilio Corre╠éa Lima_01Revisitando a Goiânia de Attilio
Foi durante o desenvolvimento do Projeto Cara Limpa¹, trabalho elaborado em 2003 para a Prefeitura de Goiânia a fim de revitalizar a área central da capital, que me motivei a pesquisar o tema que agora apresento neste livro.
No decorrer dos estudos, encontrei uma cidade até então desconhecida, que existiu somente nos planos de Attilio Corrêa Lima. A primeira cidade analisada foi a do nosso dia a dia, traduzida em placas de letreiros e paralines que descaracterizam a arquitetura dos edifícios, encobrindo a história. A segunda cidade, a imagética, coberta pela primeira camada, é o resultado da implantação da nova capital de Goiás no início dos anos de 1930.
Quando elaborei, durante a execução do Projeto Cara Limpa, os estudos de cores e letreiros para as fachadas das edificações da principal avenida do centro de Goiânia, a Avenida Goiás, tive acesso ao projeto original do primeiro prédio construído na capital, o Grande Hotel. A partir da análise comparativa entre o projeto e a construção do hotel, foi possível levantar algumas questões a respeito dos planos de Goiânia de Attilio Corrêa Lima.
As indagações suscitadas foram a respeito das construções pioneiras da cidade, como o Grande Hotel, e se os projetos atribuídos ao arquiteto-urbanista foram respeitados ou sofreram alterações durante as obras. Outra investigação que se fez necessária foi estudar o plano original e assim pesquisar os planos urbanísticos de Attilio para Goiânia.
Projeto Cara Limpa – Avenida Goiás – 2004 - Desenho: Luiz Aurélio
Fonte: arquivo da autora
A partir dessas análises preliminares, considerei um problema a examinar: qual foi a Goiânia projetada por Attilio Corrêa Lima?
. Esse foi o objeto principal da pesquisa desenvolvida durante o programa de mestrado na Universidade de Brasília (UnB), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação do professor Dr. Estevão Martins², durante os anos de 2005 a 2007.
O trabalho apresentado pretende preencher algumas lacunas no que se refere à história do período da construção da nova capital de Goiás, quando o urbanista Attilio Corrêa Lima, recém-chegado de Paris, atuou nos planos urbanísticos e no desenvolvimento da arquitetura das principais edificações.
Goiânia de Attilio Corrêa Lima (1932-1935): ideal estético e realidade política (DINIZ, 2007) é uma pesquisa que se dedicou aos estudos e às análises dos planos originais para a nova capital de Goiás. A documentação que a constitui é oriunda de fontes primárias encontradas nos arquivos da família Corrêa Lima³.
Além das fontes primárias do acervo da família, algumas referências bibliográficas foram primordiais para uma maior compreensão do tema. O livro Como nasceu Goiânia, de Ofélia Sócrates do Nascimento Monteiro, pode ser considerado como uma fonte documental relevante sobre os decretos e as leis que marcaram o início da construção da nova capital. As pesquisas de Ackel (1996, 2007), Attilio Corrêa Lima, um urbanista brasileiro e Attílio Corrêa Lima: uma trajetória para a modernidade, resgatam a trajetória do arquiteto-urbanista. Outra fonte importante foi a publicação de acesso raro de Armando de Godoy, A urbs e seus problemas, na qual o engenheiro apresenta o relatório sobre a região escolhida para a instalação da nova capital e as necessidades da mudança. Goiânia: uma modernidade possível, de Gonçalves (2003), foi também uma dissertação de mestrado esclarecedora quanto ao papel de Armando de Godoy nas modificações dos planos originais de Corrêa Lima.
Os contatos com o acervo de Attilio Corrêa Lima e com sua família contribuíram para aumentar meu interesse pelo arquiteto-urbanista, por sua formação e, assim, fomentar o desejo de descobrir fatos ocorridos na época do desenvolvimento dos projetos para Goiânia. Durante o mestrado, foi possível estabelecer vínculos de confiança com a família de Corrêa Lima, o que permitiu o acesso a um rico material.
Esse acervo particular dos Corrêa Lima é de grande relevância para a história e para o urbanismo brasileiro. Nele se encontram croquis, correspondências, projetos executivos, textos e memoriais, trabalhos acadêmicos realizados no curso de Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, a ENBA (1920 a 1925), e outras produções de Attilio quando cursou urbanismo no Institut d’Urbanisme de l’Université de Paris (IUUP), durante os anos de 1927 a 1930. Portanto, essa farta documentação representa um tesouro para os estudiosos interessados em entender a formação do campo do urbanismo no Brasil, além daquela do arquiteto e de suas atividades na primeira metade do século XX.
Nas entrevistas realizadas com Bruno, as lembranças tornaram-se fundamentais para a construção da trajetória do pai, Attilio. No que tange à transferência e à preservação de valores familiares e à herança cultural, nota-se entre os Corrêa Lima uma preocupação em manter uma identidade, um vínculo com seus antepassados diretos, não só nas escolhas profissionais, mas no cuidado em conservar documentos, cartas, fotografias, enfim, tudo que possa reconstituir a história da família.
Os guardados da família são testemunhos do desejo de continuidade. Cuidados com o esmero da museóloga Rachel Corrêa Lima, esses documentos também assumem um sentido sagrado e, por isso mesmo, seus guardiões exigem um ritual de iniciação para poder ter acesso a eles.
Este livro, portanto, é sobre minha pesquisa que tem lastro no mestrado e no doutorado, com desdobramentos diversos e atualizações em artigos e palestras realizadas por mais de uma década. Durante mais de 15 anos de pesquisa, estudos (2005 a 2020), estive no acervo da família Corrêa Lima por várias vezes. Sempre fica o desejo de estar lá, vivenciando o acervo
. São inesgotáveis as leituras dos documentos. A revisitação daquela Goiânia de Attilio para esta publicação foi um desafio enorme, pois reescrever um texto é uma tarefa complexa, especialmente quando já nos distanciamos do objeto da pesquisa e principalmente quando o retorno a ele ocorre após certo amadurecimento pessoal e acadêmico.
Para este livro, foram invertidas as sequências dos capítulos 1 e 2, originalmente presentes na dissertação. Primeiramente, no primeiro capítulo, apresento Attilio ao leitor, contextualizando sua trajetória acadêmica iniciada na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no curso de Arquitetura e, posteriormente, no Institut d’Urbanisme de l’Université de Paris (IUUP), quando se aprofundou no formalismo da escola francesa de urbanismo. São analisadas as influências acadêmicas de Agache e de outros mestres como Henri Prost, seu orientador do trabalho-tese: Avant-Projet d’Aménagement et d’Extension de la Ville de Niterói au Brésil. Esse percurso acadêmico contextualiza a escolha do interventor Pedro Ludovico Teixeira para que Attilio Corrêa Lima desenvolvesse os planos da nova capital de Goiás. Ainda nesta seção, foram acrescentadas informações relevantes principalmente sobre o IUUP, uma vez que pude estudar e conhecer, durante o meu doutoramento em Paris, essa instituição tradicional no ensino do urbanismo. As informações são complementares e não se contradizem com as primeiras pesquisas de mestrado.
Em Goiânia: filha direta da Revolução de 1930 em Goiás (capítulo segundo), são apontados os antecedentes históricos e o processo de mudança da capital. Para tanto, foram analisados os primeiros decretos e a formação da comissão para a escolha do lugar de construção da cidade. Apresenta-se o extenso e detalhado relatório de Armando de Godoy sobre a mudança da capital para a região de Campinas.
No terceiro capítulo, Goiânia: o ideal estético, faz-se a leitura da documentação encontrada no acervo do urbanista. O relatório do Plano Diretor de 1935 é apresentado e esmiuçado, apontando as influências das experiências de Attilio anteriores a Goiânia.
O plano urbanístico é apresentado de forma inédita, disponibilizando aos leitores e pesquisadores as imagens de esboços, detalhamentos da arquitetura e do urbanismo, documentos e correspondências do período em que o urbanista atuou nos planos de Goiânia. A concepção urbanística proposta por Attilio é analisada no seu caráter simbólico e formal.
Na abordagem dada ao capítulo Goiânia: realidade política, apresentam-se os documentos originais para contextualizar o rompimento de Attilio com o governo goiano, as modificações no plano original realizadas pelos engenheiros Coimbra Bueno, com assessoria de Armando de Godoy.
E finalmente, no último capítulo, Goiânia: a modernidade possível, Attilio descreve o futuro desejado para a nova capital como uma metrópole industrial no coração do Brasil em contradição com a modernidade possível, materializada nas primeiras construções que se adequaram à realidade local de escassez de mão de obra especializada e materiais de construção.
Passados 85 anos da conclusão dos planos da nova capital de Goiás, o Plano Diretor de 1935 foi reconhecido como o primeiro plano da cidade de Goiânia, por meio de lei municipal sancionada em 2020.
A partir da leitura das fontes primárias encontradas no acervo da família Corrêa Lima, pretende-se contribuir para a maior compreensão da relação entre a produção de Attilio Corrêa Lima para os planos da cidade de Goiânia, do seu ideal estético e da realidade política. A proposta é desvendar, desmistificar, esclarecer e divulgar o embate entre a cidade idealizada/imaginada e a possível/real.
Attilio Corrêa Lima: o urbanista da nova capital
Por que Attilio?
O Estado de Goiás ainda muito atrasado, muito falho de recursos de toda espécie, para se pensar em construir uma