Aprendendo sociologia no fazer sustentável
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Aprendendo sociologia no fazer sustentável - Cassiano Quinino
Dedico este trabalho ao meu filho, Benício. O dono do sorriso mais belo, do olhar mais marcante e das sapequices mais fagueiras. Um ser de muita luz, paz, amor e inspiração.
Agradecimentos
A realização deste trabalho não seria possível sem a intensa participação dos meus alunos da Escola Estadual João Alencar de Medeiros (EEJAM), razão pela qual, em especial, direciono as palavras iniciais de gratidão. Sequencialmente, em reconhecimento às contribuições dadas por tantas outras pessoas e instituições, também estendo meus sinceros agradecimentos:
À minha esposa, Leila Simone M. F. Quinino, aqui representando toda a minha família, sempre presente, que acreditou e contribuiu para a conclusão do mestrado.
Às pessoas de M. G. M. L., M. do S. dos S. S., M. A. L. de M. e V. O. da S., que, neste ato, representam todas as integrantes do grupo de mulheres assistido pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), de Ipueira-RN, que deram grande contribuição e alegria ao projeto.
Aos servidores da EEJAM, pelo apoio na empreitada.
Aos meus alunos da Escola Estadual Senador José Bernardo, de São João do Sabugi-RN, que produziram artigos com temas voltados ao Prefácio.
À pessoa de N. M. de S., representando todos os colaboradores que participaram ativamente na realização de tarefas no projeto.
À pessoa de M. de S. M., por quem estendo os agradecimentos a todos que compõem a SMAS.
À comunidade ipueirense, pela interação e pela integração ao projeto.
À minha orientadora, Maria de Assunção Lima de Paulo, pelo ensino, pela paciência, pela entrega e pelo apoio ofertados na jornada.
Aos meus professores do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional, sede Campina Grande-PB.
A todos que, direta ou indiretamente, de alguma forma deram sua contribuição voluntária à realização desta intervenção.
[…] não sei nem sequer escrever. Mas isto me parece delicioso. Aprender uma coisa é rejuvenescer, é perder preconceitos, é ficar camarada dos que vêm atrás, é estar sempre na correnteza da vida – e distanciado do futuro, onde, então, se colocam as belas ilusões, como os doces nas mesas altas, que as crianças contemplam com uma veneração mística…(MEIRELES, apud LAMEGO, 1996, p. 233).
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Prefácio
1. Apresentação
2. As bases para o projeto prefácio: o ensino de sociologia na educação básica
2.1 História da institucionalização da sociologia na educação básica
2.2 O ensino de Sociologia: uma discussão sobre metodologia
3. Descrições da intervenção pedagógica
3.1 Processo ensino-aprendizagem
3.2 Prefácio: um projeto de intervenção
3.3 Prefácio: discussões norteadoras
3.4 O projeto prefácio: a efetivação
3.4.1 A organização dos alunos
3.4.2 A interação com a comunidade
3.4.3 Outras estratégias de divulgação
3.4.4 A organização da coleta e controle do óleo
3.4.5 As oficinas de produção de sabão
3.4.6 Da produção, entrega de bonificações e comercialização dos sabões
3.4.7 A relação entre a teoria e a prática
3.5 Avaliação do projeto prefácio
3.6 Resultados do projeto prefácio
4. Análises dos efeitos da intervenção pedagógica
5. Conclusão
Referências
Apêndices
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
Prefácio
Como é sabido, apesar da intermitência da presença da Sociologia na Educação Básica e da sua presença em alguns Estados há algum tempo, foi só em 2008, que a disciplina passou a ser obrigatória, sendo, portanto, muito recente. Desde então, o ensino de Sociologia tem sido objeto de pesquisas e de sistematizações de experiências. É nesse campo do conhecimento que se insere o trabalho do professor/pesquisador Cassiano Quinino.
O tema do meio ambiente, presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e que aparece como um dos conteúdos a serem abordados no Ensino Médio, foi o mote para o desenvolvimento de um trabalho que envolveu a pesquisa e a extensão na Educação Básica, como metodologias para a compreensão dos conteúdos sociológicos, trabalhando conceitos como: política; educação; socialização; diversidade cultural; economia, trabalho, desemprego e luta de classes; estratificação e desigualdade social, meio ambiente e sustentabilidade. Assim, este é um trabalho sociológico, mas, antes de tudo, um trabalho sobre o ofício docente.
A atividade do professor tem a especificidade de ser um trabalho sobre o outro, sobre o humano e, por assim ser, evoca atividades como: instruir, supervisionar, servir, ajudar, entreter, divertir, curar, cuidar, controlar (TARDIF; LESSARD, 2014). Especificamente a atividade do professor pode ser interpretada a partir de vários vieses. Segundo este mesmo autor, a docência é um trabalho composto no sentido de que pode ser entendido como um trabalho codificado e flexível, comportando tanto os planejamentos burocráticos quanto os aspectos variáveis e imprevisíveis, sendo, portanto, um trabalho no qual a personalidade do trabalhador torna-se integrante do processo laboral. Como trabalho socializado, a docência pode ser analisada a partir de três dimensões: a atividade, o status e a experiência.
Como atividade, o professor agiu nas organizações, nas escolas, nas suas turmas, com a função de colaborar na aprendizagem e no processo de socialização que foi além da sala, da instituição e se expandiu para a comunidade, atuando, assim, na sua capacidade de aprender, executando seu trabalho de maneira interativa.
Como Status, o professor Cassiano exerceu seu ofício burocrático de ministrar uma disciplina que faz parte da BNCC, documento construído com bases neoliberais, executando-a dentro das exigências que lhes foram impostas, porém, por meio da sua identidade de professor, buscou construir os mecanismos de transformação de uma ação burocrática em uma ação social que envolvesse os estudantes e a comunidade, em suas mais diversas instâncias e instituições.
Como experiência, no sentido em que entende Dubet (1994). A atividade foi executada tendo como base o processo reflexivo do professor, pautada em sua experiência no sentido em que é vivenciado e significado pelo docente, como a intensidade e a significação de uma situação vivida por um indivíduo, como atividade social e cognitiva, mas transformada, mediante a inserção da coletividade no processo.
Este trabalho traz a sistematização da experiência do ensinar, como um processo construído, vivenciado, avaliado e significado coletivamente, na relação do professor com os alunos, com a comunidade e com a universidade. Produto de um processo do que se define no Mestrado profissional em Ensino de Sociologia, como intervenção pedagógica, ele é o resultado da criatividade, da ousadia e da coragem do professor em construir uma experiência docente que ultrapassa o fazer burocrático na transmissão de conteúdos
, e que dá sentido aos conteúdos teóricos e interpreta o agir cotidiano e coletivo com base nas teorias sociológicas. É o que pode ser compreendido como uma prática de real imaginação sociológica
, na prática docente, analisada com base em conceitos sociológicos como a reflexividade moderna, cunhada por Antony Giddens e sistematizada nesta obra.
Além de tratar deste processo, o trabalho de Cassiano faz um percurso pelas contribuições acerca da metodologia do ensino de Sociologia na Educação Básica, de forma crítica. Também demonstra como a BNCC, como documento construído sem participação efetiva dos atores sociais envolvidos na educação do país, implica prejuízos para a área das Ciências Humanas, especialmente, a Sociologia, ficando a cargo da capacidade criativa e analítica do professor o papel de recuperar o lugar da disciplina na Educação Básica, de acordo com suas oportunidades. Destarte, o trabalho traz uma colaboração importante tanto para a compreensão da prática do professor como experiência, como para o entendimento do ensino de Sociologia como campo do conhecimento.
Profª. Dra. Maria Assunção Lima de Paulo.
Referências:
DUBET, François. Sociologia da Experiência. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2014.
1. Apresentação
O homem, em sua interação social, é o objeto dos estudos vinculados às Ciências Sociais. Igualmente, é certo que o que é estudado por aqueles os quais se inquietam, perante esses fenômenos de interação inerentes à dinâmica social, vai depender das paixões que os animam. Portanto, o contato, ou melhor, a escolha de um determinado tema, que será examinado por um pesquisador social, deve estar correlacionada com as suas experiências ou com as suas vivências.
Por assim compreender, a presente intervenção adentra no universo do ensino-aprendizagem da Sociologia no Ensino Médio Regular e volta-se para a produção e consolidação de formas de intervenção na sala de aula. Nessa perspectiva de trabalho, há de se entender que ambientes de educação formal têm recebido olhares de vários estudiosos. A educação, a escola e a comunidade são instituições essenciais que devem ser analisadas conjunta e pormenorizadamente.
Dessarte, será exposto como foi possível construir práticas educacionais que atendem às dinâmicas demandas sociais contemporâneas e, ao mesmo tempo, conseguem produzir um efeito positivo junto aos alunos e à comunidade. Para tanto, faz-se necessário adentrar numa discussão sobre as práticas de ensino e conteúdos curriculares a fim de, a partir daí, refletir sobre as práticas e os saberes escolares e as possíveis maneiras de intervir junto aos estudantes na sala de aula e fora dela.
Especificadamente em relação a este trabalho, tem-se como objeto de estudo a construção e a efetivação do processo de ensino-aprendizagem de Sociologia no Ensino Médio Regular (EMR), mediado por um projeto de intervenção social com base no desenvolvimento sustentável. Por sua vez, foi idealizado a partir das categorias: ensino-aprendizagem, Sociologia, projeto de intervenção social e desenvolvimento sustentável.
No ano de 2019, este pesquisador se viu desafiado por uma das escolas onde atua como docente de Sociologia. Foi convidado e aceitou ministrar uma outra disciplina própria do EMR, denominada Componente Eletivo, a qual foi implementada com a reestruturação curricular no Estado do Rio Grande do Norte (RN), em decorrência da lei 13.415/17 (BRASIL, 2017), que alterou a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB).
A partir da nova disciplina, elaborou-se um projeto que teve como título Prefácio: o alunado como protagonista na construção de uma nova realidade social com base no desenvolvimento sustentável
, que doravante será designado apenas como Prefácio. Por sua vez, por meio deste, trabalhou-se, de maneira prática, uma grande variedade de temas, conceitos e teorias sociológicas, de forma que buscou sobrepor-se a vários obstáculos que serão elencados. Assim, esta intervenção foi desenvolvida junto aos alunos do primeiro, segundo e terceiro ano do EMR da Escola Estadual João Alencar de Medeiros (EEJAM), sob orientações do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (PROFSOCIO), pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Como base para reflexão, para desenvolvimento e para posterior análise dos efeitos do projeto na relação ensino-aprendizagem, foi utilizado o seguinte referencial teórico: ensino-aprendizagem foi analisado com base em Freire (2016, 2018). Para abordar sobre a Sociologia, fundamentou-se em Bodart (2019), Bodart e Silva (2019), Florestan Fernandes (1976, 1977), Giddens (1991, 2009), Giddens, Lash e Beck (2012), Lemos et al (2013) e Mills (2009, 1982). O projeto de intervenção social foi estruturado e compreendido à luz de Lemos et al (2013) e Schneider e Von Flach ([2016]). Giddens (2012) foi usado para embasar o estudo sobre o desenvolvimento sustentável/sustentabilidade.
A designação Prefácio foi dada considerando a significação atribuída ao termo pela a ABNT NBR nº 6029 (ASSOCIAÇÃO…, 2006, p. 4), que diz: Texto […] escrito por outra pessoa […]
. Nesse sentido, faz alusão à dinâmica de construção coletiva da intervenção proposta, anuncia a ideia de que implica algo construído com base na coletividade, na interação e na contribuição dada por todos. Cada um e todos juntos puderam construir a história
desse projeto.
Com essa acepção, cabe expor o caminho trilhado para a construção do objeto de estudo desta intervenção. À vista disso, o pesquisador, durante algum tempo, desenvolve estudos na área da educação. Antes mesmo de atuar como docente, já havia tomado esse objeto como seu alvo de estudo. Dessa forma, tem vivenciado práticas junto ao universo escolar, mais precisamente junto à sala de aula, à escola e à comunidade, os quais o obrigam constantemente a repensar sobre o ensino-aprendizagem, a Sociologia e as formas de intervenções adotadas pelos professores.
Nesse contexto, tem questionado bastante a respeito da efetivação dos objetivos educacionais, principalmente, no que tange ao seu alcance, quando relacionado à metodologia ou à forma de intervenção usada pelo professor. Essa inquietação, reforçada por meio da análise do que se evidencia pelo empírico cotidiano, é decorrente do ofício de professor de Sociologia do Ensino Médio (EM) da rede pública de ensino, também pode ser constatada por meio de pesquisas que desenvolve.
Assim, um trabalho que realizou e intitulou Dossiê sobre a Escola Estadual João Alencar de Medeiros (EEJAM), em Ipueira-RN
, que teve foco na disciplina de Sociologia e nas turmas do EMR, já serviu como base para fazê-lo começar a refletir sobre o objeto de estudo em questão. No seu desenvolvimento, foi aplicada uma pesquisa a 30 alunos, dos resultados analisados chamou atenção que 97% dos pais/responsáveis pelos discentes tinham no máximo até o Ensino Médio (EM) completo, 61% tinham o Ensino Fundamental (EF) incompleto, 8% o EF completo, 13% o EM incompleto e 15% o EM completo (FIGUEIRÊDO, 2016).
Da inquirição à docente que ministrava a aula de Sociologia, constatou-se que era licenciada em Filosofia, bem como a titular do referido componente curricular. Para além disso, também foi informado pela professora que A principal dificuldade encontrada pelo docente de Sociologia é de estimular o interesse do aluno pela disciplina
. Ela certificou, ainda, que […] Sem dúvida alguma, o que suscita menos interesse entre os alunos é a temática política.
(FIGUEIRÊDO, 2016, p. 9). Essas são afirmações as quais devem gerar preocupação para o professor, afinal o êxito da prática docente depende também do estímulo do aluno. Já a temática política é base para parte das discussões sociológicas.
Em conformidade com o que já fora exposto, o processo que levou ao interesse pelo tema estudado está-se relacionado com as experiências vividas por este professor, enquanto pesquisador. Logo, cabe esclarecer que, no ano de 2017, enquanto esteve como dirigente da Educação do município de Ipueira-RN, julgou necessário desenvolver uma pesquisa--exploratória junto aos professores, aos coordenadores pedagógicos e à direção da escola municipal para que pudesse compreender melhor a respeito dos problemas comuns à educação. Desse modo, realizou-a, e, como