Em nome do pai: a ressignificação da paternidade
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Em nome do pai - Marcilene Schorro Gianini
1. JUSTIFICATIVA
A dupla pai-mãe, biologicamente indispensável para a existência e manutenção da raça humana, tem sido durante muitas décadas foco de estudos, fato que se justifica pelo caráter de criação e continuidade que o casal humano possui.
Durante mais de meio século, a psicologia do desenvolvimento exalta especificamente a importância da relação mãe-bebê, dando a ela sua devida importância. É unânime entre os estudiosos da área, a teoria de que a relação que se estabelece entre esta díade marca de forma incontestável a estruturação da personalidade da criança, estabelecendo-se como protótipo das relações futuras (Bee 1979, Aberastury 1984 e Klein 1981).
Ainda hoje muito se fala sobre esta relação que se estabelece entre o par mãe-bebê, porém com todas as mudanças sociais e culturais, outras questões estão tornando-se objeto de investigação. A sociedade atual tem se caracterizado por um processo de contínua transformação, evolutiva e qualitativa, na qual antes, muito do que era tido como verdade maior, hoje é visto como valores arcaicos e autoritários, perdendo seu status de lei incontestável. Neste processo de transformação os papeis maternos e paternos, estão sofrendo um contínuo processo de adequação, numa constate onda de desorganização e organização, buscando de uma maneira evolutiva adequar-se aos novos modelos de organização familiar existentes.
As modificações ocorridas no mundo moderno alteraram radicalmente a realidade do mundo cultural e social, produzindo mudanças profundas nos relacionamentos entre os sexos, e nas atitudes de cada um diante da paternidade e da maternidade. Essas transformações vêm se processando no núcleo familiar de forma gradativa e contínua, a ordem vigente da distribuição de papéis na família está sendo revista e os temas da maternidade e paternidade reconsiderados, conforme Souza (1999).
A mulher está transformando sua condição, na busca da igualdade de direitos e oportunidades, abandonando a sua antiga postura de subordinação e obediência frente ao homem, conquistando um espaço social, profissional e político, que antes pertencia somente à esfera masculina. Fortalecendo sua representação enquanto ser social, esta nova mulher altera de forma profunda a supremacia do homem, que até então era possuidor ímpar de um poder socialmente legítimo. A mulher da atualidade é uma figura atuante no grupo familiar, está é uma realidade absoluta e incontestável do mundo moderno.
As mudanças da pós-modernidade, enfatizando o movimento feminista, exigem do homem uma nova postura, uma ressignificação de seus papéis, sugerindo que há uma verdadeira crise de identidade masculina, crise esta que perpassa também o exercício da paternidade, já que o antigo padrão não mais responde às necessidades e possibilidades da nova organização social, o antigo modelo paterno não atende mais as exigências e anseios do contexto atual,
Somente nos últimos anos, e muito timidamente, a ciência começou a destacar a importância do pai desde os primeiros dias de vida do bebê, mais ainda, desde o próprio momento da concepção, preocupação que até então se limitava apenas à função materna.
As novas perspectivas da paternidade remetem o homem, na condição de pai, a um momento de repensar suas ações, buscar atitudes mais coerentes com o atual momento social, conduzindo-o a um exercício da paternidade mais eficiente e feliz (Silva, 2000). O homem faz um movimento de maior aproximação com seus filhos, em busca de uma relação mais significativa e afetiva.
Não basta ser o progenitor, aquele que participa do processo de fecundação: pai biológico. É preciso ser pai num sentido mais amplo: aquele que estabelece vínculos afetivos, companheirismo, participação, que tenha cumplicidade com seus filhos, que saia da posição superior de autoritarismo e se aproxime, em uma atitude de amor.
Um estudo de Trindade, Andrade e Souza (1997), que se deteve em investigar as possíveis transformações das representações sociais masculinas da paternidade, concluiu que, apesar das mudanças ocorridas nos papéis parentais nas últimas décadas, as transformações efetivas ainda são bastante superficiais, demonstrando, assim, que as evoluções sociais que vêm acontecendo nas relações homem e mulher têm sido incorporadas às representações sociais ainda que timidamente, deslumbrando dessa forma, novos modelos no exercício da paternidade que preconizarão a perspectiva de relações mais equilibradas.
Este e outros estudos de Silva (2000); Maciel (1994); Krob (1999); Lewis (1999) evidenciam a importância de que se desenvolvam pesquisas científicas, que visem aprofundar-se nos estudos para melhor compreensão dos fenômenos da paternidade frente às transformações sociais e à dimensão das influências ocorridas no exercício da paternidade nas últimas décadas, enfatizando o processo de adaptação quando um novo sistema familiar é formado e alterado, tendo em mente a possibilidade de que o homem, no seu papel de pai, pode influenciar adversamente sua criança, em todos os aspectos da sua formação enquanto sujeito.
Na pós-modernidade esse modelo de pai tradicional e hierárquico foi sendo desconstruído, e do homem moderno foi exigido um reposicionamento de sua postura em relação ao casamento e consequentemente na criação dos filhos,
Diante de tais mudanças ocorridas no modelo tradicional de paternidade, observa-se um campo ainda confuso e indefinido, que carece de investigações, a observação desta realidade, os poucos estudos divulgados nesta área, e a experiência profissional da pesquisadora com crianças em clínica, em educação e em serviço público de saúde, despertaram o interesse e a curiosidade pelo referido tema de estudo.
A psicologia social e da personalidade articulam-se na interface da subjetividade e do psiquismo humano, pois é a particularidade de cada indivíduo em seu funcionamento psíquico que compõe e reproduz o grupo familiar, que por sua vez, transborda para todo o contexto social, lançando os mais sólidos alicerces para novas estruturas familiares, sociais e políticas. (Trindade, 1997).
Foi nesta interface que se buscou realizar esta pesquisa, a fim de se obter uma maior compreensão deste novo pai que emerge, em meio ao caos, a necessidade e o desejo. Assim sendo, esta pesquisa objetivou efetuar um estudo comparativo sobre o exercício da paternidade em duas décadas diferentes, onde buscou-se investigar as possíveis repercussões que as mudanças sociais acarretaram no exercício da paternidade, objetivando verificar as possíveis transformações ocorridas no exercício da paternidade, e consequentemente, o surgimento de uma nova estrutura familiar e organização social, que inevitavelmente, impulsionará o homem a um novo modelo de exercício da paternidade, ou seja, a um processo de ressignificação da função paterna.
2. OBJETIVOS
2.1 GERAL
• Efetuar um estudo comparativo sobre o exercício da paternidade entre homens que tiveram filhos nos anos de 1945 a 1950 e homens que tiveram filhos nos anos de 1995 a 2000.
2.2 ESPECÍFICOS
• Efetuar um estudo comparativo quanto às preocupações dos pais com seus filhos nos anos de 1945 a 1950 e nos anos de 1995 a 2000.
• Efetuar um estudo comparativo quanto à participação dos pais com os filhos entre os anos de 1945 a 1950 e pais que tiveram filhos nos anos de 1995 a 2000.
• Realizar um estudo comparativo sobre o envolvimento dos pais com os filhos, entre pais que tiveram filhos nos anos de 1945 a 1950 e os que tiveram filhos nos anos de 1995 a 2000.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 HISTÓRICO DA PATERNIDADE
O ato de conceber um filho sempre foi para a humanidade, algo impregnado de mistério, durante a Antiguidade, a reprodução humana era vista como um fenômeno puramente feminino. O ato sexual e carnal não era associado