Contos de Grimm
De Irmãos Grimm
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Sobre este e-book
Os irmãos Jacob Grimm (1785) e Wilhelm Grimm (1786) nasceram em Hanau, Alemanha. Os dois eram pesquisadores e se colocaram na tarefa de viajar por diversas regiões para reunir contos populares narrados oralmente e preservar o folclore alemão. As histórias foram publicadas em 1812 e 1815 em dois tomos, com o título de ‘Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos’. Anos depois, diversos desses contos seriam transformados em filmes por Walt Disney, como ‘Rapunzel’, ‘Cinderela’, ‘Chapeuzinho Vermelho’ e ‘Branca de Neve’.
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Contos de Grimm - Irmãos Grimm
Contos de Grimm
Translated by Monteiro Lobato
Original title: Contos de Grimm
Original language:German
Copyright © 1857, 2021 SAGA Egmont
All rights reserved.
ISBN: 9788726753820
1st ebook edition
Format: EPUB 3.0
No part of this publication may be reprp--duced, stored in a retrievial system, or transmitted, in any form or by any means without the prior written permission of the publisher, nor, be otherwise circulated in any form of binding or cover other than in which it is published and without a similar condition being imposed on the subsequent purchaser SAGA Egmont
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O Príncipe Sapo
Noutros tempos, quando desejar uma coisa era tê-la, existia um rei cujas filhas eram tôdas bonitas; porém a mais jovem era tão linda que o prόprio sol, apesar de vê-la todos os dias, não se cansava de admirar-lhe a beleza.
Nas proximidades do castelo real havia uma grande floresta muito escura, que escondia em seu seio uma velha tília, sob cujos galhos coria tranqüilo regato. Em dias de muito calor a princesinha caçula costumava ir a essa floresta para sentar-se à beira do riacho refrescante, divertindo-se com uma bola de ouro, que atirava para o ar e aparava novamente nas mãos, assim passando horas.
Mas aconteceu que uma vez, estando a brincar com a bola, esta escapou-lhe das mãos, caiu na grama e rodou para o riacho. A princesinha acompanhou a bola com os olhos ansiosos até vê-la desaparecer dentro da água. Pôs-se então a chorar, cada vez mais alto, até que, de repente, soou uma voz ali perto:
— Por que chora, princesinha? As suas lágrimas comovem até as pedras.
Olhando para o lugar de onde vinha a voz a princesa viu um sapo com a cabeça fora dágua.
— Oh, foi você que falou, sapo? Estou chorando porque perdi minha bola de ouro neste riozinho.
— Não chore, disse o sapo. Poderei remediar o mal. Mas que me dará em troca se eu lhe, devolver a bola?
— O que você quiser, sapo! Meus vestidos, as pérolas, as jόias, ou a coroa de ouro que uso.
— Não desejo pérolas, nem pedras preciosas, retrucou o sapo. Mas se promete deixar-me ser seu companheiro, sentar-me à mesa junto de você, comer no mesmo prato, beber no mesmo copo e dormir na mesma cama, então lhe trarei a bola de ouro novamente.
— Terá o que quiser, se me devolver a bola, disse ela. Mas pensou lá consigo: Que será que deseja êste sapo? Êle que fique na água com o resto da saparia; viver comigo é que não pode.
Ao receber a resposta, o sapo mergulhou na água, para logo depois reaparecer com a bola na bôca. Atirou-a sôbre a grama; a princesinha, mais que depressa, pegou-a e saiu correndo.
— Espere! espere! gritou o sapo. Também vou junto. Não posso pular tão depressa como você corre. Mas todo o seu coaxar foi inútil, pois a filha do rei não o ouviu e logo que chegou ao palácio esqueceu o pobre sapo, que teve de voltar para a água, muito triste da vida.
No dia seguinte, quando a princesinha se sentava à mesa com o pai e as irmãs, percebeu qualquer coisa subindo a escadaria de mármore. E logo apόs ouviu uma batida na porta: toque, toque, toque.
— Abra a porta, princesinha! exclamou alguém.
A môça levantou-se imediatamente para ver quem a chamava. Quando deu com o sapo, fechou a porta com tôda a fôrça e voltou para a mesa, muito pálida. O rei, vendo-a assim assustada, perguntou se era algum gigante que tinha vindo buscá-la.
— Não, respondeu a princesa, não é gigante nenhum, mas sim um sapo horrendo.
— Que deseja com você? perguntou o rei.
— Ah, papai, quando eu estava brincando com minha bola de ouro, à beira do riacho, ela caiu nágua. Pus-me a chorar. Ouvindo o meu chôro, êsse sapo veio e trouxe-me de novo a bola. Mas antes disso fêz-me prometer que o faria meu companheiro. Nunca pensei que êle conseguisse sair da beira dágua — e agora êle aqui está.
Nisto bateram novamente e o sapo falou:
— Princesinha caçula, já esqueceu as promessas que me fêz à beira do regato, sob aquela tília frondosa? Princesinha, abra a porta!
— Já que prometeu, agora cumpra! ordenou o rei. Vá abrir a porta.
A jovem deu entrada ao sapo e êste, logo que entrou, foi pulando para junto da princesa, à qual pediu que o levantasse do chão e o pusesse junto dela. A princípio a môça hesitou, mas decidiu-se logo que o rei lhe deu ordem de satisfazer o pedido do sapo. Assim que o sapo se viu na cadeira da princesa, tratou de pular para a mesa e achegar-se do prato da jovem, para comerem juntos. Muito contra a vontade, a princesa viu-se forçada a jantar com aquêle nojento animal. Por fim o sapo deu-se por satisfeito e pediu-lhe que o levasse para a cama, pois estava cansado. A princesa pôs-se a chorar, sentindo nojo de encostar-se naquele bicho e tê-lo em sua caminha tão limpa. Suas lágrimas, porém, sό serviram para enraivecer o rei.
— Quem a auxiliou num momento difícil não pode ser desprezado, disse êle.
E assim foi ela obrigada a levar o sapo para o seu quarto. Mas o colocou a um canto e foi deitar-se. O bicho, não se conformando com aquilo, disse-lhe que se não o pusesse na cama êle iria queixar-se ao rei. Tais palavras deixaram a princesinha tão furiosa que, agarrando o sapo por uma perna, o atirou de encontro à parede, dizendo:
— Quero ver se não fica quieto agora, sapo imundo!
Mas ao cair, o sapo se transformou num belo príncipe, o qual lhe contou de como fôra virado em sapo por uma bruxa e condenado a ficar sapo até que uma linda princesa o tirasse do riacho. Disse-lhe mais que no dia seguinte se casariam, seguindo juntos para seu reino.
Na manhã seguinte, logo ao nascer do sol, uma belíssima carruagem, tirada por oito cavalos brancos, enfeitados com penas de avestruz e arreios de ouro, parou diante do portão do palácio. Atrás da carruagem estava o fiel João, criado do jovem príncipe. Quando o seu amado amo foi transformado em sapo, o fiel João sentiu tanto que amarrou o coração com três argolas de ferro, para que não se partisse de tristeza e dor. Mas agora ali estava, pronto para levar o príncipe e a noiva de volta ao reino e cheio da maior alegria de sua vida.
Não haviam andado muito quando o príncipe, ouvindo um estalo, como se alguma peça da carruagem tivesse partido, pôs a cabeça para fora e perguntou ao criado o que acontecera.
— Não foi nada, meu senhor; apenas uma das argolas que apertavam o meu coração que se partiu. Coloquei-as quando o meu senhor foi transformado em sapo, tal era a minha tristeza.
Por mais duas vêzes, durante a viagem, ouviram o mesmo ruído, e o príncipe, sempre pensando que fôsse alguma peça que se quebrara, fêz a mesma pergunta. Mas a causa do ruído era sempre a mesma. Eram as outras argolas que envolviam o coração do fiel João, as quais se arrebentaram tôdas, tamanha era a alegria que inchava o seu grande coração.
em 2009.
Rapunzel
Nos tempos de dantes havia um homem e uma mulher cujo maior desejo era terem um filho; mas apesar de estarem casados de muitos anos? não conseguiram ver a casa alegrada com um chorinho de criança.
A casa dêles tinha uma janela nos fundos que dava para a horta duma vizinha que era bruxa. Um dia em que a mulher estava nessa janela espiando a horta da bruxa, viu um canteiro de rabanetes tão apetitosos que foi tomada de um desejo louco de comê-los. Mas como? Eram rabanetes da bruxa e a bruxa não os dava a ninguém, nem vendia por dinheiro nenhum. E a mulher começou a pensar naquilo dia e noite, e quanto mais pensava mais apertava o seu desejo. E foi indo até ficar doente.
O marido assustou-se com a tristeza da espôsa e perguntou:
— Mas afinal de contas, que é que tem você, mulher?
— Ai! gemeu ela. Se não como pelo menos um rabanete da horta da vizinha, tenho a certeza de morrer.
O marido, que gostava muito dela, resolveu satisfazer-lhe o desejo, conseguindo um daqueles rabanetes, custasse o que custasse.
Pensou, pensou sôbre o meio e à noite saltou o muro da vizinha e colheu um rabanete. Fêz uma saladinha e levou-a à mulher. Foi um regalo. Nunca na vida um rabanete foi mais apreciado; mas no dia seguinte o desejo voltou e a mulher pediu ao marido que pulasse de nôvo o muro e trouxesse dois.
O marido assim fêz. Pulou o muro; mas quando estava arrancando os dois rabanetes, a bruxa surgiu, de mãos na cintura e cara muito feia.
— Como se atreve a pular o muro para vir furtar meus rabanetes? esbravejou com voz colérica.
— Perdoe-me, senhora, suplicou o coitado. Se cometi essa feia ação foi apenas para salvar a vida de minha querida mulher. A pobre viu êsses rabanetes lá da janela e tomou-se de tal desejo que até caiu de cama. Se não comesse pelo menos um, morreria.
Esta explicação acalmou a cólera da bruxa, que disse:
— Se é verdade o que está contando, dou licença de levar não um, nem dois, mas quantos rabanetes quiser. Isso, porém, com uma condição: darem-me a criança que sua mulher vai ter. Eu sou rica e hei de tratá-la como se fôsse minha filha.
Na sua aflição, e para ver-se livre dos apuros, o homem aceitou a proposta.
Meses mais tarde a mulher teve uma filhinha; no mesmo dia a bruxa apareceu e levou-a, dando-lhe o nome de Rapunzel.
Essa Rapunzel cresceu, tornando-se a mais linda menina do mundo; mas quando fêz doze anos foi encerrada pela bruxa numa tôrre altíssima, lá no meio da floresta — uma tôrre sem escada para subir, nem porta. Só havia uma janelinha na parte mais alta. Quando a bruxa queria entrar, chegava embaixo da janelinha e gritava:
Rapunzel! Rapunzel!
Lança-me as tuas tranças!
Isso porque Rapunzel tinha uma cabeleira magnífica, de fios longuísssimos e mais louros que o ouro. Assim que a menina ouvia aquela voz desfazia as tranças e soltava pela janelinha a cabeleira dourada para que a bruxa subisse por ela.
Certo dia em que um príncipe veio caçar naquela floresta, aconteceu-lhe avistar de longe a tôrre. Tomado de curiosidade, aproximou-se. Um canto maviosíssimo partia lá de dentro. O príncipe deteve seu corcel e ficou absorvido, a ouvir. Quem cantava era Rapunzel e cantava para disfarçar o aborrecimento de viver ali tão sòzinha.
O príncipe quis entrar na tôrre; mas por mais voltas que desse não viu nem sinal de porta — e voltou para o seu palácio. Aquela voz de anjo, entretanto, não lhe saía dos ouvidos e o môço começou a ir tôdas as tardes rondar a tôrre furtivamente. Numa dessas vêzes, em que estava oculto atrás dum tronco de árvore, viu a bruxa aparecer, parar debaixo da janela e gritar:
Rapunzel! Rapunzel!
Lança-me as tuas tranças!
Logo a seguir viu a menina aparecer à janela, a desfazer as tranças — e pela cabeleira sôlta subir a bruxa.
— Hum! exclamou o príncipe para consigo mesmo. Já sei agora qual é a escada dessa torre.
No dia seguinte o príncipe voltou para ali e parando diante da janelinha repetiu as palavras da bruxa:
Rapunzel! Rapunzel!
Lança-me as tuas tranças!
Não demorou muito e a cabeleira loura escorreu pela tôrre abaixo. O príncipe agarrou-a e por ela foi subindo e subiu e pulou para dentro.
Quando a menina, em vez da bruxa, viu tão lindo rapaz, mostrou-se assustadíssima, porque era a primeira vez na vida que punha os olhos num homem. Mas o susto foi passando aos poucos, à medida que o príncipe