Contos de fadas
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Sobre este e-book
Deixe-se levar pelo mundo fantástico de Perrault, onde nada é impossível se você tiver coragem e imaginação. Esses contos mágicos foram adaptados inúmeras vezes pelos estúdios Disney em seus ilustres filmes de animação, assim como os filmes "Malévola" (2014), estrelando Angelina Jolie, e "Cinderela" (2015), com Lily James.
Charles Perrault (1628 - 1703) foi um escritor e poeta francês do século XVII considerado hoje como o "Pai da Literatura Infantil" devido aos seus inúmeros contos de fadas. Ao publicar as histórias que ouvia de sua mãe e nos salões parisienses, ele rompeu os limites literários da época e alcançou públicos de todos os cantos do planeta. Quem não conhece os seus contos mais famosos, como "Chapeuzinho Vermelho", "O Gato de Botas" e "O Pequeno Polegar"? Essas histórias fazem parte do alicerce cultural ocidental e continuam a ser fonte de inspiração para inúmeras adaptações cinematográficas, como os filmes "A Bela Adormecida" (1959) e "Cinderela" (1950) dos estúdios de animação Walt Disney.
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Contos de fadas - Charles Perrault
Contos de fadas
Translated by Monteiro Lobato
Original title: Contes de ma mère l'Oye
Original language: French
Copyright © 1697, 2021 SAGA Egmont
All rights reserved.
ISBN: 9788726795615
1st ebook edition
Format: EPUB 3.0
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Barba Azul
Era uma vez um homem que possuía belas casas na cidade e no campo, mobília de luxo, prataria e carruagens. Mas por desgraça tinha a barba azul, o que o tornava tão feio e terrível que tôdas as mulheres fugiam dêle.
Uma das suas vizinhas, que era fidalga, tinha duas filhas perfeitamente belas. Barba Azul pediu uma em casamento — uma qualquer, a mãe que escolhesse. Mas as duas môças não queriam saber dêle, não só por causa da barba azul como também porque já havia casado várias vêzes e ninguém sabia o fim que as mulheres levavam.
Barba Azul, para melhor decidi-las, levouas com a mamãe e mais três ou quatro dos seus melhores amigos a uma casa de campo, onde passaram oito dias. Eram passeios e mais passeios, caçadas, pescarias, danças e jantares — uma festa contínua; as môças quase que não dormiam, passando as noites em divertimentos e brincadeiras. E o caso foi que a menina mais môça gostou tanto daquela vida que perdeu a cisma com o Barba Azul e começou até a achar que era um homem muito bom. E casou-se com êle, logo que voltaram à cidade.
No fim de um mês Barba Azul disse à sua nova espôsa que tinha de fazer uma viagem longa, dumas seis semanas no mínimo, para um negócio de muita importância, e pediu-lhe que se divertisse quanto quisesse durante a sua ausência. Poderia convidar amigas e levá-las para o campo e festejá-las com tôda a largueza.
— Aqui estão, disse êle, as chaves de tôdas as salas; estas as chaves do quarto onde estão as baixelas de ouro e prata; estas, as dos cofres onde estão todo o meu ouro e pedras preciosas. E esta aqui, pequena, é a chave do gabinete que fica ao fundo da galeria.
Ande por onde quiser, abra o que quiser, menos êsse gabinete. Se abri-lo terá de contar com a minha cólera.
A jovem espôsa prometeu fazer tudo como êle dizia — e Barba Azul entrando na sua carruagem partiu.
Os vizinhos e as amigas não esperaram que a môça os convidasse; foram aparecendo, um atrás do outro, de tão ansiosos que andavam por conhecer as famosas riquezas daquela casa. Não tinham vindo antes porque a presença do homem de barba azul os assustava. Vieram e puseram-se a correr o palácio — porque era um verdadeiro palácio a casa. Correram-no inteirinho e visitaram tôdas as salas e todos os quartos, cada qual mais rico que o outro. Aquelas mobílias raras, aquelas tapeçarias, aquêles espelhos enormes em que uma pessoa se via da cabeça aos pés, eram as coisas mais ricas que todos ainda haviam visto. E as amigas não paravam de invejar a sorte da môça que se casara com tão opulento senhor; ela porém nem dava tento à conversa; sua preocupação era uma só — ver o que havia dentro do tal gabinete misterioso.
E não podendo por mais tempo dominar a curiosidade, cometeu a grosseria de largar dos visitantes para correr até ao fim da galeria grande onde ficava o gabinete. Tal era a sua pressa que ao descer por uma escadinha de serviço quase quebrou o pescoço. Chegou afinal diante da porta do gabinete e parou, receosa, pensando no que poderia acontecer-lhe caso desobedecesse às ordens do marido. Mas a curiosidade venceu o mêdo — e ela abriu a porta.
A princípio não viu nada, porque fazia escuro lá dentro. Mas depois que seus olhos se foram acostumando à escuridão, começou a ver coisas esquisitas. Viu manchas de sangue no chão e viu, também pendurados à parede, vários corpos de mulheres: eram tôdas as espôsas que Barba Azul havia tido e que degolara uma por uma. A môça quase morreu de mêdo e a chave do gabinete, que tinha nas mãos, caiu por terra.
Depois que voltou a si do grande susto apanhou a chave, saiu do gabinete, fechou a porta e foi para o seu quarto a fim de recompor-se antes de aparecer novamente para os hóspedes; mas não o conseguiu. Seu corpo tremia como geléia.
Havendo notado que a chave do gabinete estava manchada de sangue, ela a limpou várias vêzes, sem nada conseguir; nem lavando e esfregando com areia aquêle horrível sangue desaparecia. Isso porque a chave era uma fada e quando as manchas sumiam de um lado reapareciam do outro.
Barba Azul não demorou na viagem tanto tempo como disse; voltou logo depois, dizendo ter recebido cartas no caminho anunciando que dispensavam a sua presença no tal negócio. Sua mulher ficou embaraçada com a volta repentina, mas fêz o que pôde para mostrar contentamento.
No dia