BloodSeeker: Primeiros rastros
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BloodSeeker - Junior de Oliveira Faria
BloodSeeker
Primeiros Rastros
(Parte 1)
Junior de Oliveira Faria
1ª Edição Março 2019
Design de capa: Junior de Oliveira Faria
Contato: junioroliveiraf@bol.com.br
É mais um dia chuvoso em Pachero. A densa mata verde recebe grata as doces gotas de chuva que a encharcam. A escuridão repentina causada pela forte chuva, relâmpagos e trovões são para algumas tribos o presságio de alguma calamidade, mas para outras, uma benção que faz a vida perpetuar. É durante o período de longas chuvas que a aldeia de Verjara, da tribo de Voz da Fenda realiza suas festas, agradecendo a Aquele que é maior que nós
. Desde o Vale Alagadiço até a Árvore Pequena e toda praia se ouve a música e os cantos de alegria da tribo. Verjara, igualmente celebra com os frutos da terra, as folhas doces, as alfaces e todo o tipo alimentos puros, na sua ideologia, ausentes de sangue.
As aldeias do continente, ainda que estejam distantes geograficamente uma das outras, estão vinculadas entre si por meio de uma manifestação única, denominada Voz. Esta manifestação se dá de maneira mais intensa em alguns locais do continente, onde algumas peculiaridades geológicas muito atraentes, digo, diferentes das características do local se estabelecem. Esta Voz é ouvida por pessoas de mais idade e por pessoas que possuem um chamado especial, em geral, caracterizadas por dificuldades extremas no parto ou experiências de quase morte.
Interessante que todas as aldeias vivem em torno de uma destas formações geológicas, uma vez que estas parecem abençoar a terra com fertilidade e aos moradores com saúde. Porém, os mais antigos sabem que estes benefícios não vêm simplesmente das formações especiais da terra. Uma fonte inextinguível de poder alimenta estas fontes naturais de saúde e fertilidade. Os antigos têm muitas histórias pra contar sobre isso. Cada um deles obteve o seu próprio contato com a Voz e puderam ver que ela é esta fonte poderosa.
A aldeia tem cerca de 140 pessoas adultas, que compartilham posses, fazendo escambo, vendo o todo como de todos, tendo apenas como exigência de fazer parte da tribo a cooperação ao trabalho, do respeito à Hierarquia das Vozes, que se inicia com a Voz da Fenda, a manifestação audível de Aquele que é maior que nós
que acontece numa formação rochosa grande, com uma enorme fenda com fragmentos de estrela, normalmente instruindo aqueles que podem ouvi-lo. Em seguida vem a Voz da Experiência, a saber, o líder da tribo e mestre no ensino dos Códigos para uma vida justa e aquele que responde como defensor e guardião local de todos. A Voz do Conselho é o último nível de hierarquia das vozes, composto pelos líderes de cada família, tanto homem como mulheres.
Em meio a Verjara, existem apenas dois que não nasceram na aldeia, a saber, Panum e Faur.
Panum é um garoto órfão de 11 anos, que foi encontrado no meio dos corpos da última guerra por poder a 5 anos atrás. Ele é um belo menino negro, olhos castanhos claros, magro e costuma deixar a cabeça sempre raspada. Já Faur é um guerreiro de elite, muito forte e veloz, se estabeleceu em Verjara, mas ninguém sabe ao certo o por que. Ele é da tribo dos Zrum, que conseguem operar o milagre de se comunicar com relâmpagos, tempestades e fenômenos naturais por meio da Voz.
Enquanto os adultos contam as histórias de seu povo para as crianças, Panum parece distante. Todo o ano é assim. O seu padrasto é A Voz da experiência, a saber, o ancião Vuah, um senhor com fisionomia típica dos índios, olhos cansados e sempre bem vestido. Ele ama contar histórias e passar por meio de provérbios a sua sabedoria. Ele está conversando com outros adultos até que as crianças se reúnem para convencê-lo a contar uma história. Curioso que ele parece possuir um estoque infinito delas.
Ele dá um riso para os amigos que com um gesto de alegria demonstram satisfação na maneira que as crianças gostam dele. Ele escolhe um canto do salão distante dos lugares mais chamativos e reúne as crianças ao seu redor. A esteira de palha não é suficiente para todas elas que disputam com gargalhadas os melhores lugares. Conhecedor de cada menino e menina da aldeia, ele sente falta de seu filho adotivo, Panum. Mas não tem como esperar. As crianças já se posicionaram e aguardam ansiosamente a história.
-Muito bem meninos, vocês venceram. Dessa vez não tive como fugir. Como prêmio por vossa perseverança- fala ele com tom de riso- contarei a história da fundação da tribo da Voz Estelar.
-Mas senhor Vuah, essa tribo existe?- pergunta uma menina.
-Talvez Salima. Se você quiser ser uma Loreseeker, bem possível que encontre esta tribo um dia. Pois bem. Estão prontos?
Sim!
Responde o coral.
Era uma vez uma grande aldeia. Esta aldeia vivia em torno de um monte não muito alto, onde próximo ao cume havia uma rocha razoavelmente grande em forma de uma estrela de seis pontas. Esta estrela em forma de rocha era acessível a todos, mas mesmo assim, alguns pontos excessivamente brilhantes dela causavam certo receio de tocá-la. Esta aldeia tinha sérias dificuldades com a colheita, pois a terra era predominantemente rochosa, no entanto, a área em torno da estrela era muito produtiva e todo dia haviam frutas novas para alimentar o povo. Uma pena que a quantidade já era insuficiente para todos.
Desde o mais jovem ao mais velho, todos amavam dormir, pois curiosamente, enquanto dormiam, eles tinham sonhos maravilhosos e no sonho, as pessoas conseguiam se relacionar como quando acordados e de uma maneira curiosa, eles se ajuntavam num determinado momento do sonho em torno da grande estrela e ouviam palavras de sabedoria de um ser semelhante a um homem que falava e ensinava assentado na estrela. A palavra por ele pronunciada os alimentava, então, quando acordavam não tinham fome. Mas durante o dia, conforme o dia passava eles se esqueciam rapidamente do que ouviram.