Isabela's
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Isabela's - Daniele Freitas De Jesus
DANIELE FREITAS DE JESUS
Title: Isabela's
Genre: Tale / Tragedy
Author: Daniele Freitas de Jesus
Language: Português
São Paulo, 2019
Dedico a todos os autores amadores, que assim como eu,
amam ler e escrever seus próprios sonhos e histórias!
Para minha família e amigos que jamais permitiram minha
vida se tornar monótona e vazia!
Em especial às minhas duas amigas, Amanda Catarina Batista
e Lara Ferreira do Vale, que me ensinaram muito desse
mundo.
Agradeço a Deus pela vida!
Sumário
Prólogo
Que Comece Minha História!
Infância e Turbações
Os Caminhos da Indiferença
Aproximação Premeditada
Indescritível Insegurança
Desfiladeiro da Morte
Novos Horizontes, Antigos Sentimentos
Segunda Chance
Epílogo
Prólogo
"Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de
nossa miséria". [Machado de Assis – Frase de Memórias
Póstumas de Brás Cubas]
quele corpo parecia ainda aquecido. A face
A apresentava um rubor natural que pouco a
pouco se perdia na gélida palidez da morte. As mãos ainda
permaneciam fechadas em torno da garganta, como se buscasse
desesperadamente o ar que jamais chegaria aos pulmões.
Os olhos ficaram encobertos no véu feito pelas
pálpebras apertadas.
Dor.
Essa era a expressão naquele rosto tão conhecido.
Lembrou-se daquela delicada marca na bochecha. A
cicatrização já havia ocorrido há alguns anos, mas jamais se
esqueceria de quando a adquiriu. Foi o dia mais divertido de
sua vida e o mais triste também.
Vida.
Como amava se lembrar daqueles momentos vívidos
que agora fariam parte de sua memória póstuma.
Póstuma?
Sim, era isso mesmo. Estava parada em pé junto ao
corpo que um dia sentiu ser seu.
Jovem e frágil sempre foram os adjetivos preferidos
de seus pais para lhe descrever. E agora, observando-se
naquele estranho encontro entre vida e morte, entendia o
motivo.
O corpo era magro demais. Excessivamente pálido. Os
cabelos longos, negros como a noite ausente, estavam
espalhados ao redor da cabeça quadrada, como uma abóbada
em meio ao emaranhado encaracolado dos cabelos.
Os pés descalços eram delicados e pequenos.
Afastou o olhar com dificuldade. Estava cansada de
observar aquilo que fora um dia.
Mas afinal? O que ela conseguiu ser? Tinha apenas
quinze anos e já havia visto a morte tantas vezes, que chegou a
pensar que jamais morreria um dia. Mas esse dia chegou. E ali
estava ela. Sozinha, em silêncio assistindo o calor sumir
daquele corpo.
Corpo.
Aterrou-se. Sentiu medo do que viria agora. Para onde
iria? Quem olharia por sua família sofrida e conflituosa? Quem
escutaria as estórias aloucadas da vovó Ana? Quem apoiaria
Carlos a enfrentar seu pai alcoólico e construir seus sonhos?
Quem ajudaria à senhora Doret a plantar legumes para a
próxima primavera?
Não eram essas tarefas dela? Não era ela quem
cuidava de cada um, ao contrário do que todos acreditavam, já
que ela vivia dando cuidado, devido à frágil saúde, tendo, por
seguidas vezes, sido internada no pequeno hospital daquela
cidadezinha perdida em meio a Prados, em Minas Gerais?
Não era isso o que a fazia ser Isabela Moraes?
Que Comece Minha História!
Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer.
[Cassiano Ricardo – O Relógio]
esando pouco mais que dois quilos e medindo
P quarenta e seis centímetros, o pequeno corpinho,
ainda envolto na massa de sangue e resquícios de placenta,
tremia ante as mãos ágeis do profissional. Não chorou, e isso
estava deixando toda a equipe médica assustada. A respiração
parecia sofrível e dificultosa, deixando os lábios finíssimos
arroxeados e abertos.
A jovem mãe observava desesperada, a correria de
médicos e enfermeiros para salvar aquela pequena vida, que
mal chegou ao mundo, já teria que lutar contra a morte
prematura. Apertou com força a mão de seu esposo. Seria seu
primeiro filho, ou no caso, filha. A mãe mal pôde ver a filha,
sequer havia visto direito a cor de seus olhos.
A
menininha
era
linda.
Tinha
cabelinhos
encaracolados de uma cor escura como ébano. Os olhos eram
de cor esmeralda e cristalina. A cor da pele era clara e pálida.
Tão frágil e delicada, que parecia querer se quebrar ao simples
abraço, algo que não conseguiu fazer, já que nos primeiros
momentos do parto, a menina não lhe fora entregue.
As horas se arrastaram, e nenhuma notícia chegava da
CTI neonatal. Os familiares e amigos do casal sofriam a dor
dos pais e, aguardavam ansiosos na sala de espera.
— Quando darão informações sobre minha neta? –
questionava a velha senhora, para uma enfermeira que não
parou para responder.
Ana Marcelina não sabia se ficava sentada, ou se
seguia o filho nas voltas infindáveis pelo corredor. O rapaz
andava de lado a outro, para tentar controlar o nervosismo e
desespero.
Aquela senhora, mãe de filho único, apaixonada por
literatura e música, aposentada no ofício de escritora, ansiava
desde muito tempo, o título de avó. E agora, no dia que
pressupunha ser o mais feliz de sua vida, enfrentava a tristeza
de não poder acolher em seus braços a sua ansiada neta.
João Moraes, engenheiro agrônomo de profissão,
violinista de coração, esposo a pouco mais de um ano, beirando
seus quarenta anos, sentia a solidão por não estar ao lado da
esposa, Roberta, para confortá-la enquanto aguardavam e
rezavam pela saída da filha.
— Acalmem-se... Logo saberemos da melhora da
pequena... Qual será mesmo o nome da menina, Jô? – Ângelo
perguntava, enquanto abraçava com doçura a avó.
— Isabela... Minha filha, Isabela...
— Ok! Logo Isabela estará em seus braços... Tenham
fé! Quando meu Carlos chegou, eu e Marina achávamos que
ele não sobreviveria, mas olhe como ele cresceu! Fique calmo
e pare de rodopiar que está me deixando enjoado, cara! –
emendou, sentando-se ao lado da esposa.
O pequeno menino de quatro anos, adormecido no
colo da mãe, remexeu-se pela carícia provocada pelo pai. A
ternura no olhar de Marina fez o estressado advogado sorrir.
Era um casal cotidiano e feliz em matrimônio. Torciam pelo
amigo de infância.
Ângelo era alto, cabelos loiros e olhos amendoados,
descendente alemão, advogado e artilheiro do time de futebol
da pequena cidade nos finais de semana, enquanto Marina era
baixinha, morena de olhos escuros, professora de geografia da
escola municipal, morando em Prados há cinco anos, a convite
do amigo João para abrirem em sociedade, a Fazenda Moraes
para turismo natural e aventuras radicais.
A enfermeira fugitiva retornou com o rosto pálido e a
prancheta nas mãos. Observou o desespero da família e
anunciou reticente:
— Tentamos tudo o que podíamos... Sinto muito, mas
a menina faleceu!
A velha senhora não resistiu e desmaiou. O pai não
sabendo como reagir, desabou nos joelhos com lágrimas
banhando o rosto. Ângelo e Marina tentaram com tristeza,
apoiar o amigo no pior dia da vida dele. Somente Carlos
continuava placidamente adormecido, sonhando com anjos e
carrinhos.
******
No quarto do hospital, Roberta desejava imensamente
sair daquela cama e ver como estava sua filha. Já fazia mais de
quatro horas que ninguém entrava no quarto para lhe dar
alguma notícia sobre a situação de sua pequena. Estava por se
levantar, quando a porta se abriu. Não conseguiu evitar as
lágrimas que escorreram de seus olhos ao ver o esposo entrar
com o bebê no colo.
— É a nossa bebê? Oh, meu Deus! É a nossa bebê? –
perguntou em desespero.
— Diga olá pra mamãe, Isabela!
O pequeno bebezinho tentou abrir os olhos, mas a
claridade daquele lugar não estava ao seu gosto. Roberta
esticou o braço e colheu, com cuidado extremo, o pequeno
corpinho quente, que aos poucos se mexia. Mais lágrimas
desceram em cascata, e a mãe não resistiu, beijou as bochechas
com carinho e veemência.
A enfermeira e o amigo Ângelo, que vinham logo
atrás de João, estavam pálidos e silenciosos. Num ímpeto de
nervosismo, Ângelo arrebatou o amigo pelo braço e saiu do
quarto o empurrando para um corredor mais afastado da ala de
apartamentos.
— Você está louco, Jô? Roberta tem o direito de saber
o que aconteceu! – sussurrou, travando o maxilar.
— Você prometeu Ângelo, lembre-se disso! Foi uma
promessa e não permitirei que destrua a felicidade de minha
mulher! – gritou impaciente, assustando alguns enfermeiros
que passavam.
— Isso