Lô Borges e Milton Nascimento, Clube da Esquina: Entrevistas a Charles Gavin, Som do Vinil
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Pré-visualização do livro
Lô Borges e Milton Nascimento, Clube da Esquina - Charles Gavin
Clube da Esquina
EMI Odeon, 1972
Produzido por Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
Diretor de produção Milton Miranda
Diretor musical Lindolfo Gaya
Supervisão musical Milton Nascimento
Arranjos Wagner Tiso e Eumir Deodato
Regência Paulo Moura
Gravação Nivaldo Duarte, Jorge Teixeira e Zilmar Rodrigues
Capa Cafi, com a colaboração de Ronaldo Bastos
Fotos da capa, contracapa e nuvem
Cafi
Fotos internas Cafi e Juvenal
Músicos
Milton Nascimento Voz, violão, piano, solfejo e coro
Lô Borges Voz, guitarra, violão, piano, percussão, vocal e coro
Beto Guedes Baixo, guitarra, guitarra de 12 cordas, percussão e coro
Wagner Tiso Piano, piano elétrico e órgão
Toninho Horta Guitarra, baixo, percussão e coro
Nelson Angelo Guitarra, surdo e percussão
Tavito Violão, guitarra, guitarra de 12 cordas, baixo, percussão e vocal
Luiz Alves Baixo, baixo acústico (arco) e percussão
Rubinho Bateria, tumbadora
Robertinho Silva Bateria e percussão
Paulinho Braga percussão
Alaíde Costa Voz em Me deixa em paz
Luiz Gonzaga Jr. Coro em Estrelas
Lô Borges
Lô, conta para a gente como foi seu início na composição, na coisa de pegar o violão, pegar a guitarra e fazer música, querer ser o artista que você é hoje.
Meu início foi muito peculiar porque eu tinha uma atmosfera de música na minha casa. Uma família numerosa e as pessoas, meus irmãos mais velhos, já tinham esse vírus da música bem instalado. Então eu cresci vendo meu irmão tocar violão, os amigos do meu irmão, o Bituca, o Wagner Tiso. Eu era bem garoto, dez anos de idade, gostava de ver as pessoas tocando, minha casa tinha muitos instrumentos à minha disposição e eu rapidamente comecei a pegar esses instrumentos, a pesquisar, a tentar tocar. Tocava violão, pegava o violão, deitava ele aqui e dava uns Karatê Kid no violão para tentar tirar sons do instrumento. Na verdade a música começou bem antes da história da semiprofissionalização. Eu ouvia bossa nova direto, eu era ouvinte indireto, ouvia o que as pessoas ouviam. Na minha casa se ouvia bossa nova, música brasileira, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, enfim, todas essas coisas, Dorival Caymmi. E eu ouvia essas coisas, aprendi a tocar violão e tenho o maior orgulho disso. Meu primeiro aprendizado no violão foi com a bossa nova, que é a parte mais difícil da história, a parte da sofisticação harmônica. Mas quando eu completei doze anos de idade eu comecei a me interessar mesmo e foi quando surgiram os Beatles. Surgiram no mundo inteiro metendo o pé na porta, e meteram o pé na minha porta também; eu rapidamente já fiz uma pequena banda que tocava em programas infantis em Belo Horizonte. Cantava de calça curta, os The Beavers. Então a gente já teve esse primeiro contato com a música, com o público, de maneira semiprofissional. Tinha programa de auditório.
Você tinha quantos anos?
Eu tinha doze anos.
Você tocava o quê nos Beavers ?
Só o Beto Guedes tocava violão. Era eu, Beto Guedes, meu irmão mais novo e um cara chamado Márcio Aquino que, como num poema de Drummond, sumiu na história e eu não sei o quê ele está fazendo atualmente. A gente cantava essas canções dos Beatles e o Bituca era entusiasta do grupo. Ele frequentava muito minha casa nesse momento, ele não era um cara famoso ainda, não tinha feito nenhum disco. Ele ficava tentando incluir músicas brasileiras no nosso repertório, Dorival Caymmi. Mas aí existia uma rejeição da banda toda, o pessoal era tão beatlemaníaco que só queria ouvir os Beatles mesmo. Essa banda durou uns dois anos. Em casa eu tocava violão, mas ao vivo só o Beto que tocava e eu cuidava mais dos arranjos vocais. Simular o que os Beatles faziam. Os Beatles no mundo já eram novidade, em Belo Horizonte já eram novidade, então imagina uns guris de doze anos cantando os Beatles, então a gente fez bastante sucesso em Belo Horizonte, era até curioso. E a partir dessa história dos Beatles eu passei a me interessar mais por começar a criar minha própria produção musical. Eu fiquei muito estimulado vendo o Milton, que era um cara que frequentava minha casa direto, é considerado irmão.
Como eram esses encontros na sua casa?
Eu andava de calça curta, eu era criança mesmo, mas eu lembro que o pessoal ensaiava. Várias vezes eu vi Wagner Tiso dentro da minha casa, Milton Nascimento, todos ilustres desconhecidos nesse momento. Aécio Flávio, Marcelo Ferrari, vários personagens. Alguns se tornaram famosos, outros não. Outros partiram para outras e eu via esse pessoal ensaiando. Eu adorava ver os ensaios, sempre fui um amante da música. A música me emocionava, já estava no meu sangue. Eu via esse pessoal ensaiando e adorava, mas a parte que eu mais gostava era quando o ensaio acabava, porque ficavam todos aqueles instrumentos para eu poder desfrutar. Ai eu deitava, eu rolava. O Milton tinha um baixo acústico desse grandão. Eu tocava o contrabaixo, eu era tão pequeno que montava no contrabaixo igual se monta a cavalo. Minha casa já tinha piano e enfim, eu acho que os ensaios aconteceram na minha casa porque era uma das poucas casas que tinha piano. Uma família grande, muitos filhos, então era um apartamento grande, eu fui começando a fazer minhas primeiras pesquisas pessoais, além de ver o pessoal ensaiando. Eu comecei a tentar inventar canções. Teve todo um ambiente preliminar que me levou a começar a pesquisar uma maneira de compor que não fosse nem um plágio que eu ficasse cantando música dos Beatles nem músicas do João Gilberto, mas que eu desse vidas para elas. E aí começou a minha história com composição.