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Filhos da Mãe Gentil
Filhos da Mãe Gentil
Filhos da Mãe Gentil
E-book146 páginas1 hora

Filhos da Mãe Gentil

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Sobre este e-book

O Brasil que faz parte deste livro salta escancaradamente da ficção para a realidade, possibilitando um final feliz, nem sempre conquistado por vias legais. Uma interminável sucessão de equívocos. José Ribamar Garcia, de maneira cirúrgica, criou um universo onde se somam personagens que jogam com as vantagens, fazendo uso de um discurso hipócrita e repleto de uma falsa moral.A trama de Filhos da Mãe Gentil ressalta a postura demagógica de alguns empresários e políticos, de escroques, bem como de outros personagens que teimamos em encontrar por aí. Escrito numa linguagem que seduz o leitor da primeira à última página, este livro revela o Brasil diante do espelho da verdade e da vaidade, mesmo que isto tenha um preço.
IdiomaPortuguês
EditoraLitteris
Data de lançamento10 de mar. de 2022
ISBN9788537404058
Filhos da Mãe Gentil
Autor

José Ribamar Garcia

Nasceu em Teresina, Piauí. Inserido no contexto literário e preocupado com o curso que este País toma a cada dia, ele jogou todas as suas fichas em uma obra que traduz sem pudor muito do que está gravado em suas páginas. Filhos da Mãe Gentil é o seu décimo livro. Ribamar mora no Rio de Janeiro, é casado e pai de quatro filhos.

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    Filhos da Mãe Gentil - José Ribamar Garcia

    Filhos da mãe gentil431.png435.png

    Copyright desta edição © 2011 by José ribamar garcia 

    Direitos em Língua Portuguesa reservados a Litteris Editora. 

    ISBN - 978-85-374-0405-8 (2018) 

    ISBN - 978-85-374-0155-2 (versão impressa) 

    Conversão: Cevolela Editions 

    Capa: ivan szulc 

    435

    Litteris Editora Ltda. 

    Av. Marechal Floriano, 143 - Sl. 805 - Centro | 20080-005 Rio de Janeiro - RJ 

    tel (21) 2223-0030; (21) 2263-3141 

    litteris@litteris.com.br 

    www.litteris.com.br

    Ao meu pai,

    Francisco de Assis Garcia

    — o insubstituível —

    À

    Dona Dedé,

    ou Bernarda de Sousa Garcia,

    — a heroína —

    Sumário

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Obras do autor

    Sobre autor

    Ao quarteto:

    Kíria

    Ivan

    Kássia

    Clara

    — vício e paixão —

    E, também, a

    Roseli Mansur,

    sempre leal na caminhada.

    1

    Céu escuro, de nuvens cerradas. Um silêncio profundo pairava no ar calorento e repercutia nos ouvidos um chiado longo, distante. Da mata, a brisa intermitente entrava pela janela do carro, afastando momentaneamente os insetos. Eram quase três horas da manhã, na tela do celular. Fazia pouco que Ricardo Pimenteira havia chegado e permanecia dentro do veículo, estacionado no acostamento do final da descida da serra de Petrópolis. Mais adiante, iniciava a parte reta e plana da rodovia. Ao seu lado, Luizinho, refestelado no assento do carona. Paulão, o outro escudeiro, a qualquer momento, surgiria na picape. Pois, de acordo com o último contato, o alvo passaria por volta das três. Hora de o galo cantar, se galo houvesse na redondeza.

    No começo, Pimenteira era todo ansiedade. Padecia de véspera. Suava frio e sentia-se febril. Nem dormia direito, tal a tremedeira nas mãos. Por diversas vezes pensou em desistir daquele ofício. Não o não fez por questão de orgulho, e para não decepcionar o amigo que o colocara no negócio. Também pela grana. Mas, com a continuação e depois de muito suco de maracujá, conseguiu controlar-se. Dominou-se. Adquiriu confiança. Profissionalizou-se. E qualquer situação passou a ser encarada com naturalidade. Foi quando obteve o reconhecimento do patrão e, por mérito, ocupou o cargo de gerente de operações especiais, com status que superava o de diretor.

    Mas o que de fato pesou para que ele vencesse a ansiedade não foi apenas o suco de maracujá, que já lhe provocava incômodas azias. Tampouco os livros de autoajuda que se meteu a ler. Leitura que, segundo seu ex-professor de Matemática, se tivesse alguma valia, faria todo mundo andar feliz, com os problemas resolvidos. O que lhe ajudou a abrandar os nervos foi a jovem morena do caixa da padaria próxima de sua casa. Que ele depois tirou do emprego para que ficasse à sua disposição. Ela adorou. Assim, libertou-se daquele trabalho de salário curto e de cantadas grosseiras, ditas por fregueses chulos.

    Graciete, o calmante. Sedativo à primeira vista. Que foi ficando e acalmando. Ah, vai ser hoje de madrugada?, pensava ele. Ato contínuo, pegava o telefone e discava:

    — Quero te ver.

    Ela vinha alegre, plena de vontade, de prazer. A sede em busca da fonte. Ou vice-versa. Tanto fazia. E os dois bailavam, com ou sem música, numa coreografia compassada de um tango imaginário, como se cada tarde fosse a última de suas vidas.

    Próximo da hora indicada, Paulão encostou a picape alguns metros à frente do veículo de Ricardo Pimenteira. Deu duas piscadas com a luz do freio, para avisar que o alvo estava no horário. Que se preparassem. Imediatamente, Pimenteira vestiu o capuz, passou o outro para Luizinho, calçou as luvas, checou as armas e ligou o motor do carro. Viesse o que viesse. Concentração absoluta. Naquela atividade, o menor dos descuidos punha a operação abaixo. Ou a própria vida. Nunca sabia qual a reação do adversário, embora contassem a favor com o fator surpresa. Era uma vantagem -— relativa, porém. Pois cada situação era uma situação, diferente da outra. De comum, só o perigo, com o qual ele se acostumara. Mas não pretendia abusar da sorte, até então a seu lado. Até quando? Pela dúvida é que não almejava aposentar-se nesse ramo. Logo que juntasse algum dinheiro cairia fora, como fizera o amigo. Voltaria para sua Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo. Montaria uma pousada, receberia os turistas que visitavam a Mata Atlântica e o Museu de Biologia Dr. Mello Leitão, fundado e mantido pelo naturalista Augusto Ruschi, na chácara de 80 mil metros quadrados, herdada do pai.

    Esse cientista, de renome internacional, patrono da ecologia no Brasil, defensor das florestas e amante dos beija-flores, enfrentou, com os próprios punhos, toda a máquina estatal em defesa da reserva florestal de Santa Lúcia. De 279 hectares, situada no próprio Município de Santa Teresa. O governador tentou desapropriá-la e entregá-la a uma empresa que usaria o local para plantio de palmito. A área pertencia oficialmente ao Museu Nacional, que a cedeu a Ruschi para a instalação da Estação Biológica, na qual ele cadastrara 600 mil orquídeas e 20 mil árvores, identificadas nominalmente. Esse capixaba destemido, ao realizar uma pesquisa de campo, na Amazônia, pegou nas mãos um sapo dendrobata, que o envenenou mortalmente. Nem mesmo o tratamento a que se submeteu pelos pajés Raoni e Sapaim surtiu efeito. Quando o veneno foi retirado, metade do seu fígado já estava petrificado. Mas o incidente não arrefeceu seu amor pela natureza, como diria durante a enfermidade: Jamais me senti traído pela floresta; ela me deu tudo sem exigir nada de mim. Eu é que fui imprudente.

    A pousada era o projeto mediato de Pimenteira. No entanto, ainda havia um alvo. À vista.

    2

    A empresa não era das maiores, nem das menores no ramo de distribuição de produtos farmacêuticos. Fundada por um imigrante italiano. De espírito empreendedor, que chegou adolescente ao Rio de Janeiro, onde começou a vida, vendendo comprimidos de Cibalena nas quitandas da zona norte da cidade. Quando faleceu, o filho mais velho, Marcelo Zeloni, aqui nascido, assumiu os negócios da família. Tornou-se o principal acionista. O resto do capital era dividido entre os outros dois irmãos. Um que ocupava cargo de direção, mas não tinha voz de mando, e o outro que comparecia, esporadicamente, à sede da companhia, em Bonsucesso, para apanhar dinheiro e contar piadas, por sinal, sem graça.

    Fazia dois anos que Ricardo Pimenteira, levado pelo conterrâneo amigo, marcava pontos na Santa Engrácia Distribuidora. A princípio, lotado no setor de contas. Para isso, servira o curso de técnico em contabilidade feito no Senac de Vitória. Isto muito depois de haver desviado o septo, no ringue de uma velha academia de boxe, onde sonhava ser médio-ligeiro profissional. Do boxe só lhe restara a lesão. Até o físico, de músculos rígidos e bem distribuídos, ficara naquele sonho. Agora, ao completar a idade de Cristo, sem bolo nem parabéns — e também sem crucificação -, adquiriu mais peso, barriga e uma calvície precoce que tomara metade do couro cabeludo. E certa flacidez na pele morena, que, na certidão de nascimento, constava como parda. Tempos em que, nos papéis oficiais, vinham os termos branco, negro e pardo, designando a cor da pessoa. Mas ainda se sentia fisicamente em forma. Depois, foi requisitado pelo amigo para trabalhar perto dele, no departamento de compras, quando lhe ensinou tudo a respeito da empresa, especialmente, das chamadas operações especiais. Coisa que o conterrâneo inventara para obter mercadoria a custo zero e aumentar a remuneração. Modo mais rápido de fazer dinheiro, aplicado na compra de alguns alqueires de terra, na divisa dos Estados do Espírito Santos e Rio de Janeiro, nos quais plantaria café.

    — Pimenteira, te prepara que estou indo embora — avisou o amigo, em tom de despedida.

    — Quer dizer que chegou a hora da aposentadoria?

    — Aposentadoria dessa atividade, porque daqui pra frente vou plantar café e cuidar do que é meu.

    — Desejo a você toda sorte do mundo.

    — Não quer mesmo vir comigo?

    — Não dá, ainda tenho que ralar um bocado nesta cidade.

    — Eu sei, pois te cuida. O patrão ficou feliz quando eu disse que você estava preparado para ficar no meu lugar.

    — Velho, não sei como te agradecer, pois o que você tem feito por mim não tem preço.

    — Não tem do que agradecer, você também me ajudou muito, sempre do meu lado, me dando força. Outra coisa — advertiu: — Continue só com Paulão e Luisinho nas operações, que são de total confiança. Não coloque mais ninguém, porque, sabe como é que é, três é um trio e não uma quadrilha e gente demais traz o risco de um acabar batendo com a língua nos dentes. Também nunca se meta com o contato que é de responsabilidade do patrão.

    Zeloni obtinha as informações sobre as rotas e

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