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A Umidade relativa das palavras
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E-book100 páginas1 hora

A Umidade relativa das palavras

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Sobre este e-book

'A umidade relativa das palavras' é como uma surpresa na porta de casa. Você abre e pode ser surpreendido, ora por uma pancada surda e vigorosa, ora por uma ponte que encurta os caminhos, ligações que restabelecem o vazio e quebram o silêncio. A cada um de seus dezesseis contos, aquela história, que não é minha, mas poderia ser, ou já foi, ou será um dia. Autor de O inverno que não acabou e outros contos (2015), Adriano de Andrade neste seu novo livro percorre um emaranhado de vozes conhecidas e desconhecidas, ora com palavras áridas, ora com palavras úmidas, entrelaçando temas como rivalidade entre irmãs, a linha tênue familiar que agride e sufoca, os medos, as vertigens, a repulsa, a morte, o amor, os vícios. Adriano de Andrade parece ter uma escrita inofensiva, mas é vigorosa e sedutora: uma miríade de gestos que passamos a descobrir e apreciar, como enlaçados por uma paixão suspensa no ar. Seus contos têm a capacidade de esparramar letras a perder de vista, envolver e entorpecer o leitor, transformar a escrita para que a leitura seja pura melodia. E, em meio a angústias e reflexões, a figura da mulher surge como referência de protagonismo neste conjunto de belas narrativas curtas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788556621917
A Umidade relativa das palavras
Autor

Adriano de Andrade

Adriano de Andrade Barbosa nasceu em Juiz de Fora/MG, tem 44 anos e é formado em Engenharia Elétrica, com mestrado pela COPPE/UFRJ. Trabalha atualmente no Rio de Janeiro e reside em Niterói. Casado, pai de dois filhos, acredita que a união entre a literatura e a engenharia resulta em transformação: “Agora, sou letras e números”. Autor de O inverno que não acabou e outros contos (Editora Novo Século), Contágios (Editora Oito e Meio), É duro ser cabra na Etiópia – Maitê Proença (Editora Agir), Contos de Todos Nós (Editora Hama), Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea (Câmara Brasileira de Jovens Escritores) e Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos (Câmara Brasileira de Jovens Escritores).

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    A Umidade relativa das palavras - Adriano de Andrade

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    adriano de andrade

    A umidade relativa

    das palavras

    jaguatirica

    © Jaguatirica, 2019

    Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida

    ou armazenada, por quaisquer meios, sem a autorização prévia e por escrito da editora e do autor.

    editora Paula Cajaty

    revisão Hanny Saraiva

    imagem de capa Shutterstock

    projeto gráfico e diagramação 54

    d

    esign

    isbn

    978-85-5662-191-7

    Jaguatirica

    av. Rio Branco, 185, sala 1012, Centro

    20040-007 Rio de Janeiro

    rj

    tel. [21] 4141 5145 [21] 3500 1390

    jaguatiricadigital@gmail.com

    editorajaguatirica.com.br

    Troque suas folhas,

    mas não perca suas raízes.

    Victor Hugo

    O presente é instantâneo.

    O futuro, pensamos escolher.

    Somos todos passado.

    Adriano de Andrade

    Ao meu pai (in memorian),

    pela partida prematura.

    À minha avó (in memorian),

    pela referência na família

    À minha mãe,

    pelo alicerce que nos abraça e conforta.

    Aos meus irmãos,

    pela cumplicidade.

    À minha esposa,

    pelo amor inabalável.

    Aos meus filhos,

    pelo sentido da vida.

    Sumário

    Prefácio

    A ordem natural

    Perfuração

    Umidade relativa

    Longas tardes

    Em pequenos frascos

    Não precisa me dizer quem sou

    Notícias que sua mãe não quer saber

    Ah, as meninas

    Lá pelas quatro

    No ponto

    Sobre gatos e humanos, ou apenas uma questão de sobrevivência

    Mais que cinco

    DDD

    O que resta entre nós jamais será sobra

    Só me acorde quando setembro acabar

    Nesta data querida

    Prefácio

    Esse é um prefácio arriscado.

    Um prefácio em que precisarei me policiar. Porque se há algo que eu gostaria de fazer agora é contar do início ao fim a você, leitor, feito um amigo espantado em busca de cúmplice, as histórias que acabei de conhecer. Elas são boas demais, humanas demais. E escritas com rara precisão. Adriano de Andrade trabalha cada frase com segurança e sabe onde quer chegar com cada uma das dezesseis narrativas presentes neste livro. Não há gratuidade. Ele leva cada conto para onde quer, sem improviso, num trabalho sólido que maneja de forma invejável o alívio e a tensão, e essa é a nossa sorte.

    Preciso me conter pois não quero deixar muito escapar e acabar privando o leitor do estranho prazer de percorrer essas histórias por si mesmo. É quando o leitor se verá envolvido desde a primeira linha do primeiro conto e, ao longo de cada um deles, sentirá a aflição tomando-o lentamente, ou o regozijo diante de uma pequena vingança, e, ainda, o desgosto inventando um sabor amargo na boca – ao mesmo tempo em que simpatiza com as personagens. Essa é uma das chaves de Adriano: ele nos faz simpatizar com personagens que, se as encontrássemos fora das suas histórias, provavelmente as repeliríamos. Somos ganhados pelo tom sedutor de seus narradores e pela rigorosa lapidação das suas frases. Pois não são histórias ensolaradas as que você encontrará aqui. Há muito suspense e crueldade. A bem da verdade, até que algumas trazem um quê de céu claro, uma promessa de brisa, o doce sabor de uma saudade bonita, mas há sempre a ameaça de chuva a qualquer instante ou, ainda, uma tempestade, que deixa a manhã seguinte tão úmida e escorregadia quanto pode.

    É que os contos de Adriano são sobre isso: o espaço entre o agrado e o repúdio, o tempo entre a brisa e a tempestade, e, mais do que isso, sobre o risco de não nos encontrarmos a uma distância segura para evitarmos qualquer um dos dois. O risco de não estarmos numa posição em que a salvação ainda seria possível. Afinal, qual é a medida certa a se manter em relação ao outro? O quanto ele pode me tocar? E o quanto eu posso me aproximar dele? Se vim até aqui, ainda posso recuar? O quanto a aproximação do outro me ameaça? A violência, mesmo quando apenas sugerida, mesmo que simbólica, está sempre à espreita.

    Como se verá, nem sempre o risco se deve ao lugar em que eles estão e ou às pessoas que cercam os protagonistas de Adriano. Muitas vezes, são os próprios personagens que, em conflito, sem entender o próprio desejo, ou obrigados a presenciar determinada situação, calculam diferentes destinos, e como não têm o controle do que pode acontecer, vez ou outra viverão o imprevisto e o encontro como pequenos ou grandes desastres. Esse desastre pode estar na ponta de uma agulha em uma clínica de saúde, na descoberta de que uma pessoa amada já lhe esqueceu e segue a vida, no asco que o garoto sente pelo novo colega de prédio que tem seis dedos, ou ainda, numa bem-humorada inconsciência sobre as próprias manias e loucuras, a qual, apesar da sua leveza, terá como efeito prático somente a continuidade do afastamento. Pois o contato com o outro e consigo mesmo é sempre perigoso.

    Um senhor acabara de entrar distraído e se aproximou. Balbuciou palavras como se quisesse conversar e quase roçou o braço em mim. A repulsa veio não apenas pelo fato de ter um sujeito na iminência de um contato físico, mas seu cheiro era enjoativo, a roupa tinha fedor de tempo, diz o narrador de Perfuração, acuado numa sala de espera que, pelas diversas possibilidades de aproximação – doentes, enfermeiras, seringas – o aflige. Ou melhor, nos aflige. A escrita de Adriano é muita próxima ao corpo, às sensações corporais e também à fisicalidade dos cenários e objetos. Suores, choros, painéis luminosos que atraem os olhos, o ruído das pás de um ventilador frenético, o cheiro de um perfume encantador, a diferença de minutos com que o corpo feminino dá à luz a uma ou outra irmã gêmea, e como essa diferença marca as duas vidas que se desenvolvem entre atos de cinismo e outros ainda mais cruéis. Qual seria a distância justa de uma vida para a outra, a fim de que não se entrelacem da pior maneira? Se na barriga da mãe já há disputa, uma disputa de quem se alimentava mais da placenta, de quem sugava a maior quantidade de nutrientes, um ensaio de selvageria pela sobrevivência… É possível a paz depois disso?

    Adriano é mestre em criar momentos em que algo importante está para acontecer e a personagem, ciente disso, se vê, como no conto Umidade relativa, em agonia, como que protegendo-se da anunciação, isolado dentro de um carro onde lança toda a sua atenção ao simples movimento do limpador do para-brisa, aquele par de hastes emborrachadas que descreviam dois arcos que comprimiam a visão embaçada do carro à frente, enquanto repara nas gotas de chuva que começam a cair e no atrito do para-brisas com a poeira no vidro, um barulho irritante que lembrava o risco de um giz arranhando quadro negro. É o momento de concentração em que nos isolamos e ao mesmo tempo reunimos forças para encarar algo. A câmera sensível e milimétrica de Adriano nos joga sem pudor nesses instantes quando sentimos a vida ressaltada, com seus cheiros, sua aparência e seus sons – nem sempre agradáveis.

    É claro que, por

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