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Um Conto de um Retirante Imune à Abdução
Um Conto de um Retirante Imune à Abdução
Um Conto de um Retirante Imune à Abdução
E-book142 páginas1 hora

Um Conto de um Retirante Imune à Abdução

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Sobre este e-book

Quais as chances de um retirante do interior de Pernambuco encontrar um extraterrestre? E quais as -- menores ainda -- de que eles sejam amigáveis? Embarquem nesta viagem recheada de realidade, drama e morte como você nunca imaginou!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de jul. de 2022
ISBN9781526015266
Um Conto de um Retirante Imune à Abdução

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    Um Conto de um Retirante Imune à Abdução - Hélder Felix

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    CAPÍTULO 1 JUSTINO, O RETIRANTE

    - Chora não, mãe. Bênça, pai.

    E dá as costas o menino esguio, nos seus vinte e poucos, a seus pais, um casal de idosos em aparência, agricultores cuja pele castigada durante toda a vida pelo sol já não mais resistia e exibia com orgulho aquele símbolo de martírio. Ele somente carregava uma trouxa contendo uma ou duas cuecas e outra camisa; uma calça, talvez. Não era que não tivessem muito, eram pobres, mas sempre havia um jeito. A trouxa de pano era pendurada na ponta de um cajado de madeira verde que apoiava no ombro.

    - Justino!

    A mãe de Justino era implacável, daquelas bem protetoras. E como não poderia ser? Era mãe de um único filho, o guerreiro que resistiu a seis anos de seca intensa, a única tentativa bem-sucedida de aumentar a família e, assim, a mão-de-obra. O primeiro bebê havia sido uma menina, que, de tão magra, não suportara o primeiro mês. Vieram dois meninos depois dela. O último nem pôde ser dado à luz, pois nem luz já havia naquele corpinho moribundo. A outra irmãzinha de Justino, de não suportar a fome, padece intoxicada por algo venenoso que come na inocência e súplica para que cessasse aquela sensação megera. Ela tinha ainda seis anos e seria a caçula porque Justino já era um rapazinho de oito anos.

    O jovem rapaz caminhava sereno, bem tranquilo, apesar de estar morrendo de fome. A perspectiva era encontrar alguém na estrada próxima dali, que pudesse ajudar com o que quer que fosse. O grande sonho daquele rapaz era conseguir um lugar para morar numa cidade, mesmo que pequena, e levar seus pais para que passassem o restinho da vida deles com a dignidade de dormir satisfeitos depois de um merecido jantar. Era daí que vinha a energia para continuar sem sequer olhar para trás. Foi esse sonho que fez germinar uma ideia na cabeça dele, que só fez prosperar e se desenvolver. E, provavelmente, nada que pudessem fazer para desviá-lo do caminho ao objetivo teria força o suficiente.

    Era cedo da manhã e o máximo que protegeria os pés dele do calor vindouro, conforme o dia avançasse, dos seixos e da terra batida era um chinelo já bem desgastado, recompensa de um acaso, de um menino que passava com o pai de motocicleta na garupa pela estrada principal e acaba deixando cair a do pé direito. Depois de vários gritos em revolta, o pai sequer reduz a velocidade e o obriga a jogar a outra. Na cabeça, um chapéu de palha, a camisa de botão e a calça bem folgada do falecido avô, que era amarrada com um cordão de varal, compunham o restante do figurino daquele viajante.

    Com uma surpresa desagradável, uma sensação de furadas das costas por algo muito afiado acomete Justino, que grita com muita propriedade tamanha a dor. A satisfação de entender o porquê daquilo recompensa tanto pelo ferimento e a dor causada, quanto pela camisa rasgada. Joia, sua linda, ele fala olhando nos olhos da gata com ela no colo. Era uma gatinha vira-lata cuja vida fora salva por ele mesmo. Chovia uma chuva torrencial, daquelas que dá a impressão que o firmamento se debruça sobre a terra e, perto da ponte de pedra sobre o rio que passava a quilômetros dali, estava parada uma caminhonete. Justino tinha decidido esperar estiar para que continuasse o regresso à casa, porque sua mãe se preocupava toda vez que chovia para que ele não se molhasse e entrasse assim pela noite, era resfriado na certa. Além do mais, medicamento era como papai noel, aparecia sem explicação na gaveta do armário perto do fogão de lenha, abaixo da farinha de mandioca. Quanto mais se aproximava, mais entendia o que estava acontecendo. Um velho ranzinza se desfazia do último filhote da gata da família que não conseguira doar. Curioso foi para Justino entender a justificativa do esforço de se deslocar até ali para se desfazer de alguém tão indefeso. Ora, a cidade mais próxima ficava a mais de vinte quilômetros dali e nem era tão próspera. Provavelmente ele não queria ser conhecido como o velho que abandona filhotes, já que, em se tratando de uma cidade pequena no sertão, todos se conheciam e quiçá tinham ciência da árvore genealógica da cidade inteira. Antes que o velho pudesse atirar o filhote no rio, Justino corre em desespero, gritando para que não o fizesse, que ficaria com ele. Gesto interessante, visto que muitas vezes não tinha nem ele o que comer, ainda mais alimentar um animalzinho que, em fase de crescimento, come o tempo todo. O filhote era fêmea, por isso ele a chama de Joia. Não havia nada mais precioso que a vida, ele foi ensinado, aí ter salvado uma o inspirou desse jeito. Ela era muito arisca para tudo e todos. Somente Justino conseguia fazê-la obedecer. Ele entendia que o jeito de brincar com as unhas e dentes, com leves furadinhas e mordiscadas nada mais era que instinto, mas os outros não. Por isso, sempre que podia, ela apanhava desnecessariamente. Ele até mordia a bichana nas patinhas e ensaiava um ronronado perto dela. Para ele, quanto mais perto de parecer um gato, melhor. A bichinha era tão magra quanto o próprio Justino, coitada.

    E, rumo ao futuro que lhe aguardava, seguiam Justino, de chapéu de palha e chinelo e Joia, uma companheira pelo visto vitalícia enquanto fosse.

    CAPÍTULO 2 - ADEUS VIZINHANÇA

    Logo ao pegar a estrada, a mais próxima a partir de onde morava, passa por ele uma carroça puxada por um burro, carregada de três sacos grandes cheios de capim brachiara, um capim que dava o ano inteiro, contanto que houvesse água de alguma forma por perto.

    - Vai pra onde, Justino?

    A mulher que conduzia o burro e a carroça tinha ajudado a mãe de Justino no parto dele e de outros dois irmãos.

    - Viajar, dona Maria.

    - Mas pra onde danado, Justino? Tua mãe sabe?

    - Sabe. Ela ficou triste, né? Mas eu quero arrumar uma casa em qualquer canto pra tirar eles daqui. Pra ir morar comigo noutro canto, né?

    - Oh, Justino. Faça isso não. É muito perigoso. É melhor você aqui ajudando ela e seu pai.

    - Mas não tem mais o que fazer aqui, dona Maria. Parece que a seca vem valendo de novo. Não aguento ficar parado…

    - Deus abençoe, viu, meu filho, você é um menino muito bom. Mas é perigoso e a bichinha vai ficar preocupada. Não tem precisão disso, não. Quem é esse?

    - É minha gatinha, Joia.

    Ela olha para o animalzinho e sorri. Joia apenas fixa o olhar e, na hora que a mulher estende a mão para alisar o pelo, ela mostra os dentes e emite um chiado rejeitando o gesto.

    - Menino, como é que tu cria uma gata nervosa assim? Deve ser fome né? A bichinha… Tome, pegue essa bolacha aqui.

    Foi a sorte de Justino. Somente agora ele consegue alguma coisa para enganar o estômago. Toda bolacha que ele retirava do pacote, dava primeiro à gatinha, depois comia o restante.

    - Como vai seu Zé? Melhorou das costas?

    - Vai indo, meu filho. Melhorou nada. É doença de velho mesmo, daí só se ele entrevar agora.

    - Eita…

    - É assim mesmo. Daqui tu vai pra onde, hein, menino?

    Eles estavam chegando onde a mulher entraria para seguir para casa e deixaria a estrada.

    - Vou andando estrada afora. Procurar logo o que comer e vou indo.

    - Cuidado, viu, meu filho, quando a sombra tiver pequena cace um pé de pau e passe a calma debaixo dele. Não ande com fome, não. Quer entrar pra forrar?

    - Quero não, dona Maria, brigado, viu? Eu passo, se preocupe não. Vamo Joia.

    Ele pega a gata no colo e apoia no ombro. Lá ela fica um pouquinho até pular para o chão. Depois daquela bolacha deu até vontade de correr, mas ele se abstém. Tinha que ter paciência e não podia fazer extravagância para não se arriscar.

    CAPÍTULO 3 SOB A LUZ PUNGENTE

    Que sol escaldante, aquele. A paisagem inóspita repelia qualquer ser vivo que tentasse sequer se esgueirar de uma sombra a outra. E quais sombras? No máximo um juazeiro aqui, um umbuzeiro acolá. O resto, gramíneas e arbustos já sem folhas. E facheiros, muitos facheiros. Os mandacarus cresciam como gigantes.

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