Quando o Amor é Verdadeiro: Uma história de amor e superação
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Quando o Amor é Verdadeiro - Valdenice Mendes
Capítulo 1🏍
Era uma segunda-feira cinzenta e chuvosa. Um dia em que eu queria ficar deitada na minha cama quentinha; que por sinal estava ainda mais aconchegante e confortável naquele dia do que já esteve em qualquer outro ao qual eu me lembrava. Com a cabeça sobre o travesseiro, pensava que tinha começado mais uma semana. Seria mais um dia em que eu teria que suportar o meu chefe carrancudo, as indiretas da minha rival - ambas lutávamos pela promoção que se aproximava, onde passaríamos de assistente para gerente da empresa. Ao pensar nisso, arrepiava-me toda! E por fim, nas indiretas e piadas sem graças do meu melhor amigo, John.
Depois do vestibular, de me formar, essa empresa foi a primeira e única em que trabalhei. E foi nela que me especializei na área de tecnologias e computação. Foi aqui que cresci como pessoa e profissional. E agora, me tornar a gerente da firma seria a realização de um sonho meu e de minha mãe. Mas é muito triste saber que ela não estará ao meu lado para ver nosso sonho se tornar realidade!
Meus pais haviam falecido, há pouco mais de 1 ano e 6 meses, num acidente de carro. Foi um dia muito trágico, que me causou muita tristeza e dor! E mesmo depois de mais de 1 ano, sinto que às feridas dessas perdas, estão muito abertas e doloridas em meu coração!
Parece que foi ontem que essa terrível tragédia aconteceu. Era um dia como qualquer outro. Me arrumei para mais um dia de trabalho no escritório, antes de sair, me despedi de meus pais com um forte abraço, seria o último! Se eu soubesse teria dito tanta coisa naquele dia! Teria agradecido por eles me amarem tanto e cuidarem tão bem de mim. Teria elogiado pelos pais maravilhosos que foram e teria dito o quanto os amava e os admirava. Mas, eu apenas os abracei e não disse nada! Ao voltar para casa estranhei que eles ainda não tinham voltado, pois a viagem era curta, minha mãe tinha ido se consultar - consulta de rotina - e papai acompanhou-a. Eu liguei diversas vezes para eles e o telefone só dava caixa postal. Então os aguardei. A cada minuto ou hora que se passava, eu ruía as unhas de nervoso. Foi uma tortura para mim não ter notícias deles! Eu só pensava no pior! Por volta das 22 horas, a pior notícia da minha vida chegou: eles tinham falecido num acidente de carro.
Foram pegos em cheio por um outro carro - o motorista estava bêbado, e faleceu ainda no local. Apesar de eu não estar presente no local do acidente, era como se eu visse toda aquela cena terrível diante de mim. Naquele momento, eu senti que morria também. Entrei em depressão. Foi muito difícil para mim continuar sem eles. Se não fosse o apoio e amor que recebi de John - o meu melhor amigo -, eu nem sei o que seria de mim! O tempo e o imprevisto tem sido cruéis comigo - me deixando sozinha em meio ao caos que é a minha vida!
Depois de algum tempo eu percebi que precisava continuar. E aqui estamos nós! Tenho me dedicado ao máximo para conseguir a promoção - citada anteriormente - e aos estudos. Quero me aprimorar cada vez mais no que eu faço. E essa também é uma desculpa para não pensar na dor que eu sinto e na falta que os meus pais me fazem.
Enquanto pensava no que teria que suportar e o quanto o dia iria passar lentamente; sou despertada dos meus pensamentos, pelo toque insuportável do meu alarme. Sempre achei que o toque de um alarme, teria que ser o mais irritante possível, para que eu conseguisse ter forças para levantar; e que depois de um tempo, eu passaria a odiar o tal toque, por isso, este deveria ser o mais feio possível! Bem essa era a minha teoria!
Após um longo suspiro, me levanto e me sento à beira da cama. Procuro as minhas sandálias que sempre ficam perdidas debaixo da mesma. Após encontrá-las, coloco-as e então, levanto-me cambaleando de sono. E por mais estranho que possa parecer, estou mais cansada agora, do que quando fora deitar-me! Corro até o meu celular e ao ver que já se passaram mais de 20 minutos desde que abri os olhos, disparo para o banheiro. Ligo o chuveiro e a água extremamente fria, termina de me despertar do sono. Enxugo-me e vou até o armário procurar a roupa do dia, ou como digo: A farda nossa de cada dia!
Ao chegar no trabalho, estaciono a minha moto, tiro o capacete e o carrego sobre o cotovelo. Coloco os óculos de grau - que já por meses precisam ser trocados, mas não tenho tempo para desperdiçar com coisas que podem esperar!
, digo para mim mesma -, e saio em direção à porta da entrada da empresa onde trabalho. Estou atrasada mais uma vez. Ah, que raiva!
Ao entrar, logo me deparo com o meu chefe que não está nada de bom humor - tivera uma séria discussão com um de seus filhos antes de sair de casa. E agora está com os nervos à flor da pele, e como eu sei, vai sobrar para mim. Tento passar despercebida, mas é em vão! Logo sou notada pelo seu Robert, meu chefe, que diz impaciente:
- Boa tarde, Sabrina! Como foi sua noite? - Diz ele com deboche. - Pelo visto, à estendeu durante a manhã toda, não foi?!? - Continua seu Robert com ironia tentando camuflar a sua ira.
Pensei seriamente em retrucar e dá-lhe uma boa resposta, mas notei que seria o mesmo que cutucar uma onça com vara curta; e então, contive-me, dizendo apenas:
- Seu Robert - comecei cautelosa -, eu sinto muito pelo o meu atraso! Não tive um boa noite de sono. Na verdade, eu nem dormi! Mas prometo que isso não vai mais acontecer! - Finalizei determinada.
Seu Robert não parecia convencido. Ele prossegue:
- Sabrina, não prometa o que você não pode fazer! Não é a primeira vez que você se atrasa e sei que não será a última também! Contando com hoje, só nesse mês, você se atrasou umas 5 ou 6 vezes. Não sei como acha que vai conseguir a promoção - ele parecia decepcionado - Falando sério Sabrina, eu preciso de alguém de responsabilidade para assumir esse cargo e eu não sinto que você seja essa pessoa! Pelo menos, não tem sido ultimamente...
Penso bem no que poderia dizer para convencê-lo e então falo:
- Eu sinto muito por ter deixado essa impressão seu Robert, não era a minha intenção! Mas, o senhor bem sabe o quanto eu trabalho por essa firma e o quanto me dedico a ela! E não faço isso apenas pela promoção, faço porque amo esse trabalho! E me tornar a gerente da empresa é a realização de um sonho meu. Por isso, pode ter certeza de que não irei desapontá-lo!
- Assim espero, Sabrina! Vai, vai trabalhar. Cansei de perder tempo com você!
Sim, o seu Robert era sempre um cavalheiro comigo, assim como um grande cavalo, soltando coice para todos os lados! pensei.
- Já estou indo! - Falei chateada.
- Ah, só mais uma coisa: já que você se atrasou ... - De novo! - Ele acrescentou, - quero que você fique mais tempo hoje, para compensar o seu atraso! - Finalizou, comemorando por dentro.
- Ok, se é da sua vontade, assim farei!
- Assim espero!
E virando-me as costas; se retira.
Me dirijo até minha sala, mas no caminho encontro minha rival, Lúcia, fingindo que não à vejo, apresso os passos em direção a porta, quando sou interrompida por ela que me diz grossa e direta:
- Mais um atraso para conta! - Vejo a sua boca entortar enquanto ela fala. Ela realmente me odiava.
- Não estou mandando você contar! Mas se o faz, faça-o bem longe de mim, onde não me incomode e nem atrapalhe o meu serviço! - Respondo de forma ríspida. Ela tinha o dom de me deixar aborrecida.
- Você se acha muito cheia de si, não é Sabrina?! Mas eu sinto em lhe dizer que esses joguinhos aqui não funcionam! - Dizia ela, me encarando.
- Não estou jogando, Lúcia. Estou trabalhando!
- Sério? Não me diga! - Falou ela em tom de deboche.
- Digo sim! E digo mais, eu estou aqui para vencer! Haja o que houver essa promoção será minha, então, me deixe trabalhar! - Concluí.
- Hm ... cheia de atitude! Espero que continue assim quando me vir ganhar a promoção e se tornar a próxima gerente! Porque diferente de você, Sabrina, eu estou aqui para fazer o meu trabalho e para seguir as regras. Já você, só quer fazer as coisas do seu jeito! - Senti uma pontinha de inveja naquelas suas palavras.
- Fala do meu atraso? - Pergunto demonstrando não entender ao que ela se referia.
- O atraso é só o início, minha cara Sabrina!
- Já estou cansada disso! Preciso trabalhar, Lúcia. Se eu fosse você faria o mesmo! - Suspiro.
- Sim, e é engraçado você falar nisso! Eu já fiz a minha parte. Agora mesmo, estou indo levar o relatório que o seu Robert havia te pedido para entregar, assim que você chegasse aqui. Mas, como vejo, você o deixou na mão mais uma vez! Vamos ver quem vai ser a queridinha dele agora! - Falava comemorando com os olhos. - Eu tenho pena de você, Sabrina! Não passa de uma iludida, que já perdeu há muito tempo, mas que não quer aceitar! - Ela balançava a cabeça em reprovação para mim.
Decido não responder a sua provocação, afinal, dessa vez eu vacilei feio! Como pude esquecer de trazer o relatório? Eu tinha ficado até tarde da noite o fazendo; e tudo para nada! Agora, o que me restava era aceitar o que tinha acontecido e ficar mais atenta para que esse erro nunca mais se repetisse. E simplesmente digo, encerrando a discussão:
- Você fez um bom trabalho, Lúcia! Merece elogios. Agora estou indo fazer o meu. - Digo de cabeça baixa.
A outra apenas me observava em silêncio, enquanto eu me retirava para a minha sala, pensativa.
O dia passou mais rápido do que eu imaginava. E logo, todos estavam saindo do escritório rumo às suas casas. Enquanto isso, eu permanecia um pouco mais ali. Continuei trabalhando e fazendo de tudo para adiantar o que estava atrasado. Nem me dei conta de que já tinha se passado mais de uma hora. Então, arrumo as minhas coisas e desço até o estacionamento. Pego a minha moto e piloto em direção a minha casa. Às avenidas estão bem movimentadas e o trânsito parado, mas nada que me irrite. Porém, não vejo à hora de chegar em casa e poder me jogar na cama mais uma vez!
Capítulo 2 🎡
Durante toda a semana, consigo me levantar cedo, - o que parecia impossível, devido a minha insônia - mas, muito cansada e com pouca ou quase nenhuma disposição! - Isso para mim já era uma grande Vitória! Era uma sexta-feira. E mais uma vez eu precisava fazer um bom trabalho. Tudo estava em jogo! E eu não podia mais vacilar, senão tudo iria por água à baixo - e eu não tinha passado tantos anos estudando para simplesmente perder essa chance agora! - Toda aquela pressão que o meu chefe, minha rival e principalmente eu mesma estava colocando sobre mim - a respeito da promoção que se aproximava -, estava me paralisando, me sobrecarregando. Àquilo tudo estava me deixando muito sensível e irritada. Não via à hora de tudo àquilo acabar!
Já pronta, pego minha moto e saio, rumo ao escritório. Dessa vez, estou adiantada 20 minutos. A felicidade está estampada no meu rosto e eu não me contenho de tanta felicidade!
- Bom dia, seu Robert! - digo empolgada.
- Bom dia, Sabrina! - ele responde, enquanto me olha com desconfiança. - Caiu da cama? - diz ele com ironia.
- Eu diria que saí mais cedo dela! - respondo com firmeza.
- Hm; espero que isso não seja apenas uma coincidência!
Ele não era fácil de se convencer!
- E não é! - apressei-me em responder. - Eu diria que é uma rotina que planejo seguir daqui para frente! - finalizei.
- Se assim for, não faz mais do que a sua obrigação!
- Uhum... - falei tentando esconder a minha decepção. - vou trabalhar!
***
Um pouco depois:
- Por que você ainda tenta se aproximar dele, Sabrina? Vocês são como água e óleo, nunca vão se misturar! - dizia John, meu melhor amigo, em tom de brincadeira, porém, falando sério.
- Não sabia que você era profeta, John! - digo revirando os olhos.
- E não sou! Gosto de dizer que sou realista, apenas!
- Sei. - falei arqueando uma das sobrancelhas.
John, continua:
- O que houve com você? Por que está aqui?
- Eu trabalho aqui! Esqueceu? - falei demonstrando minha insatisfação por sua pergunta absurda!
- Não é isso o que eu quero saber, Sabrina... - disse John na defensiva.
- Então se explique melhor, John, que eu não tenho tempo a perder! - finalizei impaciente. A paciência não era uma das minhas virtudes. E ultimamente ela tinha tirado férias!
- Me desculpe! - começou John novamente. - Quero dizer, como conseguiu chegar cedo aqui? Você está se atrasando quase que todos os dias! - falou ele com seu jeito inocente. Aquilo nele me irritava de um jeito!
- Incrível! - disparei. - Como vocês conseguem?
- O quê?
- Cuidar tanto da minha vida e ainda sobrar tempo para cuidar da vida de vocês?!? - falei em tom de crítica.
John me olha paralisado. Aquilo o surpreendeu.
- Poxa, você pegou pesado agora, Sabrina! - disse ele enquanto me encarava profundamente.
- É que eu já estou cansada, John! Cansada de suas indiretas e piadas sem graça. Eu preciso de um amigo, de inimigos eu já estou cheia! - falei segurando o choro. Aquela pressão toda estava me matando. Mas naquele instante, olhando rapidamente para John, eu sabia que tinha passado dos limites. Eu tinha magoado o meu melhor amigo. Ele era a pessoa que sempre estivera comigo nos últimos anos. E agora, naquele exato momento, eu estava ali descontrolada, descontando toda a minha raiva nele. Eu me sentia horrível por dentro, por ter agido daquela maneira. Não consegui mais olhá-lo nos olhos.
John não sabia nem o que dizer. Estava em choque!
- O que você tem hoje?