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Plenitude galvanizante
Plenitude galvanizante
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E-book171 páginas2 horas

Plenitude galvanizante

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Sobre este e-book

'Este incomum aglomerado de páginas dá-nos a conhecer a aventura existencial de Prosperità Benedetto, um peculiar protagonista com as mesmas aspirações, desejos, vontades e sonhos que todos nós. O que o difere de muitos de nós foi a sua capacidade de lá chegar, ao utópico pico da montanha, galvanizando-nos e tornando os menos atletas entre nós, nos melhores dos alpinistas.' Em 'Plenitude galvanizante' acompanhamos a vida do jovem chamado Prosperità Benedetto, uma BIC Cristal de tinta azul que nasceu em uma família mediana de canetas, habitando todos na secretária de uma família rica. Após um sermão grave do seu pai, o jovem inicia em sua jornada de auto-conhecimento para a obtenção de seu equilíbrio e sustentabilidade existencial, a lembrar sempre que a vida não abandona a sua espetacularidade, 'só a interpretação do Ser é que por vezes desiste da mesma'. Porém, na altura da 'troika', uma tragédia entre os humanos mudaria tudo, e é entre tragédias e reencontros que Prosperitá amadurece 'pelo caminho da decência, da honra, do brio, da apreciação e aproveitamento da vida'. Com essa história peculiar e com doses de muito humor, o médico João Gorgulho, ganhador do Prémio Autor 2018, atravessa com sua prosa perspicaz os pequenos dramas do cotidiano e igualmente as grandes questões filosóficas da existência e da humanidade.
IdiomaPortuguês
EditoraGato-Bravo
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9789898938404
Plenitude galvanizante
Autor

João Gorgulho

João Gorgulho é João Silveira Botelho de Sousa Gorgulho, nascido em Lisboa em 1995, em uma tradicional família alfacinha. Estudou na Escola Alemã de Lisboa e foi admitido na Universidade Técnica da Renânia Norte-Westfália, na cidade de Aquisgrana, onde vive e estuda Medicina. Adepto da filosofia, interessou-se pela escrita e estreia como romancista com este livro Plenitude galvanizante, ganhador do prémio Autor 2018 pela Editora Gato-Bravo.

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    Plenitude galvanizante - João Gorgulho

    1.png

    © Editora Gato·Bravo 2019

    Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro nem o seu registo em sistema informático, transmissão mediante qualquer forma, meio ou suporte, sem autorização prévia e por escrito dos proprietários do registo do copyright.

    editor Marcel Lopes

    coordenação editorial Paula Cajaty

    revisão Inês Carreira

    capa Julio Silveira, Ímã Editorial

    projecto gráfico 54

    D

    esign e Ímã Editorial

    imagem da capa André Correia

    Título

    Plenitude galvanizante

    Autor

    João Gorgulho

    isbn 978-989-8938-39-8

    e-isbn 978-989-8938-40-4

    1a edição: setembro, 2019

    Depósito legal: 461253/19

    gato

    ·

    bravo

    rua de Xabregas 12, lote A, 276-289

    1900-440 Lisboa, Portugal

    tel. [+351] 308 803 682

    editoragatobravo@gmail.com

    editoragatobravo.pt

    Índice

    I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    VII

    VIII

    IX

    X

    XI

    XII

    XIII

    XIV

    XV

    XVI

    XVII

    XVIII

    XIX

    Para a minha família, a pedra basilar do meu desenvolvimento, tal como para todos aqueles que me auxiliam dia após dia na próspera busca da plenitude.

    I

    Porquê? Porquê? Porquê!?. Estes gritos galopantes, apelando à resolução de todas as suas dúvidas existenciais, tinham uma só fonte: as suas mais recentes leituras. Desde que começara a lidar com métodos socráticos para a resolução de perguntas aparentemente indecifráveis, princípios aristotélicos do empirismo e toda a complexidade do reino das ideias platónicas, parece que desligou do mundo que o confinava. Porquê? constituía já o elemento principal do quotidiano desta caneta, de seu nome Prosperità Benedetto.

    Trata-se, ao contrário do que seu nome sugere, de uma mera caneta

    BIC

    Cristal, de tinta azul.

    A sua família, para seu orgulho, uma assídua presença na sua vida, era somente constítuida por si mesmo, a sua irmã, jovem e afável pirralha, e os seus pais. Estes emergiam como duas presenças ambivalentes. O pai, Onorato, era um homem de poucas palavras, autoritário e severo, contudo sempre justo. Este Roller Grip, com um corpo emborrachado texturizado e arrendondado e uma ponta fina e suave, conferindo-lhe uma aparência contemporânea, estava constantemente em busca de manter acesa a chama intrínseca da família Benedetto. A mãe, por outro lado, baptizada com o nome de Dea, era uma Shimmers perfumada que se apresentava como uma mulher elegantíssima, bondosa e dotada de um marasmo de espírito que infelizmente é raro como a justiça que há no mundo. O balanço familiar incessantemente procurado por Onorato era facilitado pelo espírito sonhador dos seus dois filhos, Candore, a angélica e indubitavelmente magnânima Shimmers Perfumada, na altura com 3 aninhos, semelhante à sua mãe, e Prosperità, um empenhado e permanente sonhador. Quanto à irmã, que mais haverá para mencionar além da sua doce tinta colorida e perfumada, o seu exímio corpo redondo e o seu cheiro singular a maçã, reconhecível até no meio de uma assembleia de doninhas. A sua existência por si só conferia alegria e rejubilo a todos os que tanto bem lhe queriam. Todos conhecemos a doçura de um bebé quando o aconchegamos nos braços, o sentimento rejubilante de tratar adequadamente de alguém e receber uma recompensa, nem que meramente moral, por tal ato. A presença de Candore constituía o apogeu destas aprazíveis sensações. No que toca a Prosperità, há que frisar que embora não nos deparemos aqui com nenhum Padre Bartolomeu Lourenço, a este certamente também não deve ser atribuído o rótulo pessoano do cadáver adiado que procria. Apesar de simples, nascera prendado com tinta de qualidade, que secava rapidamente, uma bola de tungstênio e esfera perfeita muito resistente, que juntamente com o seu corpo hexagonal, lhe proporcionavam um enorme potencial, obrigando o Universo a exigir dele mais do que insignificantes utilizações em bilhetinhos ociosos.

    Aquando dos seus 5 anos, após passar uma vida estagnada, sendo ocasionalmente utilizado para redigir ora o habitual bilhetinho do frigorífico, ora o memorando inútil, tudo mudou num certo 12 de Dezembro. Deu-se então o seu fatídico confronto com o amor à sabedoria (filosofia), ao tropeçar na conceituada obra de Platão Primeiro Alcibíades. Desta feita, trata-se de um diálogo platônico que se ocupa com a doutrina socrática do auto-conhecimento, sendo que a discussão visa esclarecer que nenhum conhecimento é possível sem o conhecimento de si mesmo. Ao ler isto e chegar à interpretação desejada, Prosperità é invadido por um turbilhão de pensamentos e divagações. Na verdade, ele sempre tinha tido o desejo de ter nascido uma Parker Duofold Pearl and Black. Porém, não obstante a sua capacidade sonhadora, faltava-lhe a capacidade de concretização, visto que sempre vivera na esperança de amanhã acordar e ser aquilo que nunca cessara de desejar. Mas Sócrates e Platão recolhem os estilhaços da sua fictícia aspiração e carregam-no em seus braços para o altar da coerência. Não é ao esperar pelo amanhã, sonhando com dias melhores, esperando a transmutação do mundo, que ele alcançará a plenitude vital a que todos aspiramos. É ao lutar por esta aspiração, ao ambicionar o Quinto Império, com força empreendedora e energia criativa suficientes para triunfar, que é possível tangenciar a plena prosperidade espiritual. Desde pequenino que sua mãe sempre lhe dissera:

    — Sabes filho, houve um homem muito sábio e velhinho, merecedor de um lugar no altar da eternidade, que aconselhou todos os seres a tornarem-se na mudança que querem ver no mundo.

    E o filho, novo demais para processar e decifrar a vasta complexidade enigmática de tal discurso, retorquia insipientemente:

    — Pois mummy, acredito que disse.

    Porém, naquela álacre manhã de 12 de Dezembro de 2013, não houveram outras palavras mais merecedoras de sua atenção. Para quê continuar a viver na ilusão e esperança irrealista de se tornar naquilo que não nascera? Podia não ser uma Parker com 14 quilates de diamante, mas também não era qualquer

    BIC

    Cristal. Era uma orgulhosa e diligente

    BIC

    Cristal, um modelo único. Apesar desta epifania, todas estas suas recentes certezas existenciais viriam rapidamente a afundar-se num poço incerto de porquês.

    I

    I

    Nas semanas seguintes, decidiu tornar-se num bicharoco de livraria. Esta sua atitude leva-nos a concluir que, de facto, Prosperità não sabia as repercussões futuras de possuir um saber somente enciclopédico. Passou a conhecer de fio a pavio o empirismo aristotélico, o idealismo platónico e a antropologia de Kant, entre outros grandes obreiros da História da filosofia. Certo dia, após algum tempo de ausência do mundo real, decidiu abrandar o seu banquete de conhecimentos devido a duas razões. Em primeiro lugar, graças à sua mãe, que, após um enorme discurso sobre a sua atitude ausente perante a família, a sua falta de confraternização recente com a harmoniosa e afetuosa irmã Candore, culmatou o desagrado de seus pais proferindo a fatídica expressão:

    – Fica na tua consciência.

    Regra geral, é a mãe quem sempre está do nosso lado, pois enquanto o pai tende a adotar a posição austera e exigente necessária, esta surge como circunstância mitigante de todos os sermões e castigos. Porém, nunca abandona a sua discreta e suave severidade, dado que são expressões como aquela proferida por Dea, que a desmascaram, tocando na ferida que mais nos dói (ou devia doer), a consciência.

    Importante é não esquecer que, independentemente do papel de um progenitor, este desempenha-o sempre, salvo infortúnias exceções, com a melhor das intencionalidades. Prosperità parecia estar consciente de tal facto pois sentiu uma instantânea contrição ao ouvir a sua mãe pronunciar tais palavras. A segunda razão foi, novamente, o suspeito do costume, Platão. Desta feita tratava-se de Hípias Menor, um outro diálogo platónico que relata a história de Hípias, um sofista.

    Hípias, que vem a Olímpia regularmente, é o expoente da sapiência, alguém que conhece todas as ciências e todos os ofícios, que fabricou tudo aquilo que traz vestido, que sabe escrever poemas e tragédias, discursos e epopeias. Sócrates quer porém mostrar-lhe que falta o essencial nesse saber enciclopédico. Sócrates é bem-sucedido ao expôr que a ação moral não se reduz a uma técnica de astúcia ou habilidade técnica. Todos os conhecimentos de Hípias são portanto vãos; podem ser úteis, mas também podem ser prejudiciais, dado que este só conhece meios, ignorando o saber essencial: o dos fins. Esta conclusão socrática assola Prosperità, que conjugando este saber com as palavras de sua mãe numa intrincada acrobacia mental e moral, decide mudar o rumo tomado uns meses antes: a preocupação somente com o seu eternamente insuficiente saber enciclopédico. Apesar de ter deixado as suas leituras, os pensamentos desta filosofia enigmática e gradualmente mais confusa permaneciam intrínsecos no seu ser.

    Perguntas como: Qual é a maneira de provar Deus? É sequer possível prová-lo? ; É a moral um dado inerente à nascença ou um conceito cultivado aos moldes da sociedade? ; Qual é a essência de tudo o material: a idealização ou a perceção? constituiam as machetes do seu jornal cerebral. Adotara uma postura pessoana, rotulando-se como um mar de sargaço, à semelhança do ortónimo ambivalente. Arrastava-se pelas secretárias da casa que habitava, não sabendo o quê, nunca afastando o porquê. A sua mãe chamava-o para contribuir para a lida da casa, ele não ia. O seu pai chamava-o para lhe dar um sermão sobre a importância da responsabilidade, ele não ia. A sua irmã pedia-lhe um afável abraço, e apesar de não saber o quanto se iria vir a arrepender mais tarde, ele também não ia. Certo dia, o seu pai irrompeu pela sua secção da secretária e empurrou-o ligeiramente,berrando:

    — Porque te comportas como uma lástima existencial? De todos os conhecimentos e sabedorias que contigo partilhei, é isto que tu aprendeste?

    Ao escutar o seu pai a intitulá-lo austeramente de lástima existencial, sentiu um aperto tão grande, como se fosse o seu coração soltar-se do corpo que o acolhia. Pois, apesar de tudo, era nisso que ele se tinha tornado, num cadáver que respirava, uma pratada de incertezas remoídas, temperadas com o molho amargo do auto-desconhecimento. Esta era a situação que Onorato pretendia frisar com o seu discurso agressivo, soltando as garras a seu filho, mostrando uma autoridade necessária, apelando a uma conduta (menos) racional por parte deste. E assim, Prosperità aprendeu que a racionalização é tanto adequada quanto não exacerbada. A usurpação desta temível característica humana pode levar à incerteza, acompanhada pela depressão existencial, a doença do artista. Para esta

    BIC

    Cristal era fulcral encontrar uma clara rota a seguir, pois dado o multilateralismo e densidade de tráfego na estrada da vida, Prosperità incorria no sério risco de se tornar numa vítima de atropelamento. Fundamental era então que esta caneta pusesse em prática os conhecimentos com que lhe prendara o Primeiro Alcibíades: o auto-conhecimento como fator galvanizante da aquisição de todo o equilíbrio e sustentabilidade existencial.

    E sendo que na vida toda a aprendizagem tem custos, foi mais uma vez uma tragédia que abriu, de vez, os olhos a este jovem entediado.

    I

    II

    Confrontamos muitos dos cenários calamitosos que se intersecionam com a nossa história com o lema: Só acontece aos outros. Porém, tal como Prosperità, este torna-nos falíveis e imprudentes, atraindo ainda mais os infortúnios que obtusamente recaem sobre nós. Como tal, este mote ignóbil requer uma reformulação total, tanto na mente do conturbado Prosperità, como na da descuidada Humanidade: acontece a todos, a uns mais cedo que outros.

    O dia era já 7 de Dezembro de 2016, dia da vigésima sétima avaliação do, por toda a parte aclamado, triunvirato internacional. Para todos aqueles que achavam que a troika permaneceria manipulando Portugal somente até 2014, foram assoladas pelas notícias, na altura, duma extensão do prazo em 4 anos, devido a uma espiral recessiva incontrolável. Várias canetas tinham já dado diversas entrevistas na Rádio Mancha Clube alegando todas virem do Palácio de São Bento e terem participado na criação de vários documentos, dos quais rememoravam somente as palavras austeridade e bancarrota. Os tempos não estavam fáceis, todos o sabiam, estavam inclusive tão mal que já nem a verosimilhança das medidas políticas era posta em causa, dado que a ausência desta era já facto adquirido. Mas não para os Bettencourt.

    Ainda assim, para

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