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Um Botânico no Império do Brasil: A trajetória de Joaquim Monteiro Caminhoá (1858-1896)
Um Botânico no Império do Brasil: A trajetória de Joaquim Monteiro Caminhoá (1858-1896)
Um Botânico no Império do Brasil: A trajetória de Joaquim Monteiro Caminhoá (1858-1896)
E-book232 páginas2 horas

Um Botânico no Império do Brasil: A trajetória de Joaquim Monteiro Caminhoá (1858-1896)

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Sobre este e-book

Joaquim Monteiro Caminhoá pode ser considerado um dos primeiros divulgadores da ciência no nosso país. Importante personagem do Império do Brasil, esse médico baiano teve a botânica como objeto de seus estudos e ensino durante sua vida profissional. Professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e do Imperial Colégio Pedro II, exerceu papel fundamental na disseminação dessa importante disciplina da história natural para os estudiosos e a população em geral, com suas publicações e, principalmente, através das populares Conferências da Glória com o curso de Botânica Popular. Em seus estudos procurava alcançar o maior número possível de leitores, desde estudantes, agricultores e aqueles sem nenhum conhecimento de botânica. Para ele, o conhecimento da história natural era fundamental para o crescimento do país e para a exploração e utilização de suas riquezas naturais.Caminhoá foi um naturalista alinhado aos conhecimentos científicos da época. Apesar de não ser um darwinista, tinha em sua biblioteca os livros publicados pelo naturalista inglês, inclusive suas obras sobre botânica. Deixou publicações de inegável valor para o conhecimento e a prática da botânica, como seus estudos sobre os Jardins Botânicos, herbários, e as euforbiáceas, grupo botânico de grande relevância para a economia nacional, além de outras obras inéditas.Em um Botânico no Império do Brasil, Alex Gonçalves Varela, Gabriel Vieira e João Marcos Rocha Pereira descrevem a figura extraordinária do botânico Caminhoá e sua admirável contribuição para a disseminação do conhecimento e consolidação da ciência botânica no país, em uma leitura prazerosa e de interesse e relevância para a história das ciências no Brasil.Magali Romero Sá (COC/FIOCRUZ)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de mar. de 2022
ISBN9786588417027
Um Botânico no Império do Brasil: A trajetória de Joaquim Monteiro Caminhoá (1858-1896)
Autor

Alex Gonçalves Varela

Alex Gonçalves Varela é Gaduado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1999), mestrado em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2001), doutorado em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2005), Pós-Doutor Junior pelo Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente é professor adjunto do Departamento de História da UERJ.; Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: história das ciências, história do Brasil, ilustração, história das geociências, José Bonifácio de Andrada e Silva, História da Oceanografia, Instituto Oceanográfico da USP, História da Botânica, Joaquim Monteiro Caminhoá.

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    Um Botânico no Império do Brasil - Alex Gonçalves Varela

    um_botanico_-_capainterna.jpglogoQuartica

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO

    CAPÍTULO 1

    A HISTÓRIA NATURAL

    CAPÍTULO 2

    JOAQUIM MONTEIRO CAMINHOÁ: A TRAJETÓRIA DE UM

    MÉDICO-BOTÂNICO DO IMPÉRIO DO BRASIL (1836-1896)

    CAPÍTULO 3

    O CURSO DE BOTÂNICA POPULAR NAS CONFERÊNCIAS

    POPULARES DA GLÓRIA

    CAPÍTULO 4

    RELATÓRIO ACERCA DOS JARDINS BOTÂNICOS: "TERMÔ-

    METROS PARA A AVALIAÇÃO DA CIVILIZAÇÃO DE UM

    POVO"

    CAPÍTULO 5

    DAS EUPHORBIACEAS: O CONCURSO PARA A CADEIRA DE

    HISTÓRIA NATURAL DO INTERNATO DO IMPERIAL COLÉ-

    GIO DE PEDRO II

    CAPÍTULO 6

    OS ESTUDOS SOBRE OS HERBÁRIOS (1873-1877)

    CAPÍTULO 7

    "O CATÁLOGO DOS LIVROS DA BIBLIOTECA DO CONSELHEI-

    RO CAMINHOÁ (S/D.; S/L.)"

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    SOBRE O AUTOR

    Copyright© 2020 by Alex Gonçalves Varela / Gabriel Vieira / João Marcos Rocha Pereira

    Direitos em Língua Portuguesa reservados aos autores através da

    QUÁRTICA® EDITORA.

    ISBN: 978-65-88417-03-4 (versão impressa)

    ISBN: 978-65-88417-02-7 (versão digital)

    Conversão: Cevolela Edition 

    Arte Final de Capa: Teresa Akil

    Revisão: Quártica e os Autores

    Editoração: Quártica Editora

    CIP - Brasil. Catalogação-na-fonte

    Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    logoQuartica

    QUÁRTICA® EDITORA

    CNPJ 32.067.910/0001-88 - Insc. Estadual 83.581.948

    Av. Marechal Floriano, 143 sala 805 - Centro

    20080-005 - Rio de Janeiro - RJ

    Tel: (21)2223-0030/ 2263-3141

    E-mail: litteris@litteris.com.br

    www.litteris.com.br

    www.litteriseditora.com.br

    www.livrarialitteris.com.br

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha mãe, Dalva, e à minha irmã, Amanda, pela torcida vibrante e pelo incentivo de sempre.

    A seguir, gostaria de agradecer à FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e ao PIBIC/UERJ por disponibilizar bolsas de pesquisa para o desenvolvimento do projeto de investigação.

    Agradeço á bolsista Sharleny Pereira de Almeida pelo excelente desempenho no projeto de pesquisa.

    Também gostaria de agradecer às professoras e pesquisadoras Lorelai Brilhante Kury e Maria Rachel Fróes da Fonseca pela leitura das monografias dos alunos participantes do projeto.

    Por fim, agradeço ao Laboratório Redes de Poder e Cultura/UERJ, espaço que me acolheu para desenvolver os projetos de pesquisa e pelo intenso debate intelectual.

    APRESENTAÇÃO

    Alda Heizer

    (PPG/ENBT/JBRJ; PPGPAT/FIOCRUZ)

    Nunca um fenômeno histórico se explica plenamente

    fora do estudo de seu momento. (Marc Bloch)1

    Este livro tem a intenção de registrar e compartilhar aspectos da trajetória de vida de um personagem pouco visitado pela historiografia da ciência e da botânica, em particular.

    Um dos méritos da publicação é lançar luz sobre algumas dimensões da vida de Joaquim Monteiro Caminhoá (1858-1896) que ainda não foram analisadas, a partir de uma literatura que vê a ciência como cultura, priorizando análises que consideram as práticas científicas em seus contextos locais.

    A obra de Caminhoá é central para pensar a institucionalização das ciências naturais no Império do Brasil e, para demonstrar tal afirmação, os autores serviram-se de análises teóricas sobre a centralidade das biografias e histórias de vida e o seu papel na História da Ciência, afastando-se da perspectiva analítica que busca, em tempos e lugares exemplares, personagens fora do comum.

    O livro tem como ponto de partida um projeto de pesquisa envolvendo professor e alunos de graduação, que buscou localizar a produção dos textos de botânica num contexto maior.

    O capítulo inicial apresenta questões sobre o processo de constituição do campo da história natural moderna, a centralidade do pensamento de Francis Bacon, a ideia de progresso científico e a Revolução Científica do século XVII, na Europa. Mais do que isso, aponta para um modelo de conceber a ciência que se faz presente até os dias atuais.

    A trajetória de vida de Caminhoá foi tratada a partir de seus textos científicos. Caminhoá era um homem de seu tempo e não estava só. Conhecido e reconhecido dentro e fora do Brasil, é possível, ao ler os seus trabalhos, identificar os autores que lhe eram preciosos, suas teorias e possibilidades de aplicação local.

    O livro apresenta a participação de Caminhoá nas Sociedades Científicas, nos encontros regulares, como aqueles das Conferências da Glória, em instituições, como o Colégio Pedro II, entre outras inserções relevantes que demonstram tanto a sua rede de sociabilidade, como as suas reflexões sobre o papel das instituições no Império do Brasil.

    Uma análise interessante incide sobre um relatório que trata dos jardins botânicos. Nele, Caminhoá aborda a sua importância histórica, funções e atribuições, tomando como base outros jardins, como o Kew Gardens, em Londres. A temática dos jardins botânicos ganha uma dimensão importante e atual porque refletir sobre suas coleções como ferramentas para o conhecimento da diversidade das plantas é um desafio contemporâneo. Para se ter uma ideia, o Relatório acerca dos Jardins Botânicos, que foi redigido em Paris, em março de 1874, e publicado na cidade do Rio de Janeiro, apresenta a necessidade e a importância dos jardins botânicos, especialmente como local de produção de conhecimento. O relatório foi concebido a partir de uma viagem de Caminhoá, patrocinada pelo Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, a diversos jardins botânicos e herbários da Europa, Dos Herbários, é um texto, também, particularmente interessante, para pensar diferenças quanto às práticas científicas e à especificidade desses locais. Caminhoá chega a afirmar que:

    foi revendo os herbários, que diversos botânicos, nunca tendo vindo ao Brasil, como Baillon, Mueller d’ Argovia, etc, escreveram sobre as nossas Euphorbiaceas com tanta certeza e com tanto critério! Os Saint-Hilaire, Gaudichaud, Martius, e toda esta corte de caminhoneiros e peregrinos da ciência que percorreram nosso país, apesar de hoje não viverem, podem por meio dos herbários que deixaram, a cada momento e sobre cada planta que estudaram, informar aos vivos acerca dos lugares, climas e condições em que elas nasceram, quais os seus usos e qual a afinidade ou parentesco que apresentam com as demais outras regiões do globo!

    Importante ressaltar que o manuscrito analisado, identificado na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, apresenta o catálogo dos livros de Caminhoá. Mais do que uma listagem de publicações, algumas questões são comentadas por ele, como, por exemplo, a própria concepção de biblioteca, a trajetória dos livros até a biblioteca, a função dos catálogos, entre outras não menos importantes.

    Os resultados da pesquisa apresentam ao leitor aspectos sobre a atuação de Caminhoá, trazendo elementos que podem interessar também à história da divulgação científica e da educação no Brasil. Talvez seja possível também afirmar que certas questões tratadas no livro são elementos para pensar desafios que se apresentam para o século XXI, o lugar da pesquisa científica nas instituições, por exemplo, e, especialmente, o reconhecimento do valor dos recursos biológicos para a humanidade, diante das ameaças constantes às espécies e aos ecossistemas.

    Em tempos de Pandemia e da negação de parte da população dos resultados científicos de diferentes campos do saber, a publicação de um livro, fruto de projeto de pesquisa, incluindo alunos e professor, aponta a relevância de uma reflexão sobre o botânico e médico Caminhoá em suas circunstâncias.

    Os autores ressaltam que Caminhoá preocupava-se com a divulgação das suas pesquisas científicas em memórias, anais, revistas, periódicos, boletins, livros, entre outros. Tal fato deixa transparecer a presença do Ideal Ilustrado de esclarecimento, a função educadora que os sábios e os letrados deveriam cumprir na sociedade." Entre mudanças e permanências, a pesquisa permite ao leitor pensar em outros voos igualmente importantes.

    ¹ BLOCH, Marc. O ídolo das origens. In: Introdução à História. Coimbra: Publicações Nova Europa-América, Coleção Saber,1987.3, p.31-38.

    INTRODUÇÃO

    Joaquim Monteiro Caminhoá foi um dos mais importantes homens de ciência que atuou no Império do Brasil, tendo inclusive uma carreira consolidada e reconhecida internacionalmente. Ela atuou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no Imperial Colégio Pedro II, e em diversas sociedades científicas, e publicou diversos livros e artigos. O estudioso se dedicou a produzir conhecimento científico sobre questões médicas e botânicas. Contudo, sua trajetória acadêmica ainda não foi devidamente estudada, e suas produções científicas ainda não foram analisadas profundamente. Dessa forma, há lacunas que precisam ser preenchidas pelos estudiosos que se dedicam a pesquisar as relações ciências e trajetórias, e caminhos amplos e profícuos que merecem ser explorados e estimulam novas reflexões.

    Buscando então superar os espaços em branco existentes no campo da historiografia das ciências no que diz respeito à trajetória do cientista Caminhoá, o estudo que ora apresentamos teve como ponto de partida o projeto de pesquisa intitulado Um Médico Ilustrado do Império do Brasil: a Trajetória de Joaquim Monteiro Caminhoá (1858-1896). O resultado foi o trabalho monográfico de fim de curso de João Marcos Rocha Pereira.² O jovem pesquisador analisou os textos científicos de Caminhoá no campo da Botânica. Tal análise dos textos científicos foi realizada por meio da contextualização do quadro científico de sua respectiva época e de sua condição espaço-temporal de gestação. Os textos selecionados foram: Relatório acerca dos jardins botânicos. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1874; Curso de Botânica Popular I. (189ª Conferência em 10 de agosto de 1876). In.: Conferencias Populares. Agosto, n. 8, 1876. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve & C, 1876; Curso de Botânica Popular II. (193º Conferência em 02 de setembro de 1876). In.: Conferencias Populares.Setembro, n. 9, ano de 1876. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve & C, 1876; Euphorbiaceas. In: Elementos de Botânica Geral e Médica. Vol. 3. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1877; Família das Euphorbiaceas. Rio de Janeiro: Imprensa Industrial, 1879. (Tese Para o Concurso da Cadeira de História Natural do Colégio de D. Pedro II).

    Num segundo momento, tivemos como resultado do supracitado projeto de pesquisa o trabalho também monográfico de fim de curso do discente Gabriel Vieira ³.

    A pesquisa realizada por este último deu prosseguimento ao estudo anteriormente referido e tem como objetivo central analisar a trajetória de vida do médico e botânico Joaquim Monteiro Caminhoá, por meio dos seus textos científicos, e a sua relação com o processo de emergência e consolidação das ciências naturais no Império do Brasil. Para tal, foram selecionados

    dois textos no campo da Botânica produzidos por Caminhoá. As produções científicas são: Dos Herbários, que faz parte da obra Elementos de Botânica Geral e Médica, integrando o terceiro volume da mesma, impressa no ano de 1877; e Memória Sobre o Modo de Conservar as Plantas, com Suas Formas e Cores ou dos Herbários em Geral e Particularmente em Líquidos, obra impressa de 1873.

    Além dos textos impressos de Caminhoá já informados, também analisaremos o manuscrito intitulado O Catálogo dos Livros da Biblioteca do Conselheiro Caminhoá (S/d.; S/l.), e que será publicado também no sétimo capítulo. O documento foi localizado na Seção de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A seguir foi realizada a sua leitura, cópia, digitação, e análise, para, finalmente, publicarmos.

    Para a leitura dos textos científicos do referido personagem utilizaremos uma abordagem teórico-metodológica da história das ciências, área do conhecimento na qual insere-se o estudo. Registremos que partilhamos com Hebe Vessuri o entendimento da ciência como cultura. A autora argumentou sobre a necessidade de romper com as concepções que compreendem a ciência como conhecimento universal a respeito dos fenômenos naturais, os quais, por serem os mesmos em toda parte, tornavam irrelevante considerar os contextos sociais, culturais e políticos das práticas científicas: Se se entende a ciência como uma cultura sustentada por uma tradição existente, pode-se colocar uma quantidade de problemas interessantes acerca de suas características em diferentes sociedades.⁴ Entre esses problemas, a autora registrou a necessidade inelutável de deseuropeização da imagem do conhecimento científico, adotando assim um enfoque universalista mais amplo, e mais sábio.⁵

    Os trabalhos em história das ciências têm apontado a necessidade de compreender a forma como se deu a contextualização de determinada cultura científica num espaço-tempo definido, uma vez que, quando esta é considerada fora de seus mais diversos e interligados contextos, torna-se uma ficção.⁶ É necessário tentar compreender a dinâmica própria de cada uma das sociedades em questão. O processo de desenvolvimento das ciências está inserido no processo histórico geral, no qual atuam fatores econômicos, sociais, políticos e culturais, não se restringindo apenas ao processo de produção de conhecimento. Uma gama intensa de estudos vem sendo realizada desde a década de 1980 com o intuito de conhecer a história da ciência nos países latino-americanos, em especial no Brasil, e o desenvolvimento das práticas científicas nesse espaço. O interesse pela análise das produções científicas produzidas pelo estudioso justificasse pelo fato de serem importantes materiais de produção do conhecimento, deixando transparecer a sua contribuição para o processo de emergência e consolidação das ciências naturais no Império do Brasil na segunda metade do século XIX. Por meio da análise das suas obras, entre outras questões, é possível observar a concepção de ciência com que Caminhoá trabalhava e sua postura téorico-metodológica. Além disso, seus textos permitem identificar as apropriações que fazia das modernas teorias científicas médico-botânicas e como buscava aplicá-las em seu contexto local, os autores com quem dialogava bem como os autores que refutava. Sua produção científica é, portanto, uma peça importante para a compreensão da forma como se deu o processo de institucionalização das ciências naturais no Império do Brasil.

    Os textos científicos produzidos por Caminhoá serão analisados sem perder de vista o contexto social mais amplo em que foram concebidos, como tem sido proposto pela nova historiografia das ciências. Ao fazer, então, uma leitura contextualizada dos textos, é possível perceber as questões formuladas pelo estudioso, os argumentos por ele apresentados e em que medida aceitava as ideias então predominantes no debate científico da época – sobretudo no campo das ciências naturais – e delas se apropriava, ou as contestava, repelia, e, às vezes, até as ignorava. Permite observar também quais foram os autores lidos e as obras analisadas pelo estudioso. Portanto, seus textos científicos serão analisados a partir do contexto no qual ele escrevia, uma vez que são construídos segundo regras variáveis no tempo e no espaço social, um objeto que seria ingênuo considerar transparente em si mesmo, como se relatasse fatos brutos.

    Ainda tecendo considerações sobre essa necessidade de contextualização dos textos, as reflexões de Silvia Figueirôa⁸ quanto à construção de biografias serão importantes contribuições para o nosso estudo por permitirem refletir sobre a vida científica do personagem que será estudado. Isso porque essa autora considerou de fundamental importância para a construção da biografia de um determinado personagem a reconstrução do contexto histórico de produção, legitimação e veiculação do conhecimento científico elaborado pelo indivíduo estudado. E não uma narrativa biográfica que busca associar o personagem em uma cronologia ordenada, dando-lhe uma personalidade coerente estável, realizando ações em inércia e tomando decisões sem incertezas, nem muito menos numa perspectiva que busca transformar o indivíduo num gênio ou num mito. Assim, privilegiaram-se alguns aspectos da trajetória de vida do autor, sobretudo aqueles relativos à sua prática científica e ao processo de construção do conhecimento científico, dentro do contexto histórico no qual estava situado.

    O estudo apresenta-se dividido em sete capítulos.

    No primeiro capítulo apresentamos o processo de constituição do campo da História Natural moderna, que se iniciou sobretudo com os escritos de Francis Bacon, filósofo inglês do século XVII. Apresentamos a definição dessa área de produção do conhecimento, os ramos que a integravam, e os principais autores e obras que contribuíram no século XVIII para realizar o que se consagrou como a reforma da História Natural.

    No segundo capítulo nos preocupamos em apresentar o personagem Joaquim Monteiro Caminhoá

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