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O Adeus da Humanidade
O Adeus da Humanidade
O Adeus da Humanidade
E-book1.403 páginas2 horas

O Adeus da Humanidade

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Sobre este e-book

Este livro consiste em uma reunião de quase 300 poemas compostos entre 2015 e final de 2020 sobre uma temática primordial: o ser humano e a humanidade, as suas grandes questões, seus principais problemas, a destruição do planeta, as crises ambiental, existencial, espiritual que nos assolam e nos desafiam na busca do sentido para a vida e que ao mesmo tempo ameaçam a continuidade da civilização.Mas os poemas aqui reunidos não se limitam a esta temática. Utilizando-se de uma linguagem intensa, que desfila entre o áspero e direto e o sugestivo e simbólico, o autor aborda a arte e seus gênios, o trabalho e a criação artística, a exploração dos seus próprios estados emotivos e o questionamento de tudo o que é tido como certo e correto pela nossa sociedade pós-moderna.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de dez. de 2021
ISBN9781526048554
O Adeus da Humanidade

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    O Adeus da Humanidade - Alessandro Reiffer

    O ADEUS DA HUMANIDADE

    Alessandro Reiffer

    Dedico este livro à memória de minha amada mãe, Maria de Lourdes de Almeida, e à de minha amada irmã, Elisandra Reiffer de Almeida.

    Capa: detalhe de Campo de Trigo com Corvos, de Vincent Van Gogh.

    Preparação para o Nada

    o homem não vive: só se prepara.

    nasce. e se prepara para crescer

    e crescer, dizem, é preparar-se para a vida

    (que nunca se vive)

    depois é estudar para se preparar

    para mais estudo e para decidir

    para que, depois, vai se preparar

    com mais detalhes e dedicação

    o depois é se preparar para trabalhar

    que o trabalho é uma preparação

    para outras coisas mais

    que ou são nada

    ou quando vêm já não bastam

    e então se prepara para o que falta

    que nunca deixa de faltar

    e para que não falte o que faltará

    a gente se prepara

    e por fim se prepara para

    quando se ficar velho

    e quando se fica velho

    se tenta se preparar

    para a Morte...

    e no Fim

    nunca estamos preparados.

    Eu Não Aprendi a Viver

    eu nunca aprendi esse negócio

    de aprender a viver

    eles dizem:

    você tem que aprender a viver

    mas eu nunca entendi

    o que eles queriam dizer com isso

    quando eles deram essa lição

    eu devia estar cagando

    eles determinaram exatamente como se deve viver:

    eles criaram regras normas leis padrões modelos

    teorias tratados cartilhas manuais e morais

    coisas bem difíceis e complicadas

    e eu na minha preguiça e irresponsabilidade

    fiquei só lendo coisas inúteis como contos e poesias

    e não aprendi o que deveria ter aprendido

    agora estou aqui e não aprendi a viver.

    eu achava que a vida fosse como escrever um poema:

    você inicia, diz o que veio pra dizer

    e termina em grande estilo ou nem tão grande assim

    mas eu só aprendi a escrever poemas

    (mal e porcamente)

    e não aprendi a viver

    não sei fazer outra coisa

    uma época eu achava que viver

    tinha a ver com se tornar melhor

    mas eles já me provaram

    que não é nada disso

    e eu, burro, nunca consegui entender.

    Escrever é um Ato Infame

    se o cara escrever de verdade

    matará de mentira sua fome.

    se o cara escrever poesia, por exemplo,

    terá um atestado de insanidade

    de inutilidade para o desenvolvimento

    de subversão e delinquência

    e, óbvio, de miséria.

    escrever é um ato ingrato.

    se o cara escrever contos novelas ou romances

    (muita gente ainda acha que romance é história de amor

    e novela aquilo que passa na tv)

    ou terá que ter muita sorte em conseguir uma boa editora

    (algo como acertar na loteria)

    ou ser bem apadrinhado

    (o famoso Q.I. - Quem Indica)

    ou escrever temas agradáveis desejados

    que se desenvolvam de maneira banal e infantil.

    se o cara escrever roteiro de filmes ou séries

    poderá fazer muito sucesso

    anônimo:

    ninguém dá atenção pra quem

    escreveu a história as ideias as falas

    só se dá atenção aos atores que falam

    e aparecem.

    escrever é um ato falho:

    quase sempre o cara que escreve

    só é reconhecido em vida

    se não escrever porra nenhuma.

    Quatro Batidas na Porta
    (ou A Propósito da 5ª Sinfonia de Beethoven)

    que foi que me trago no isso que deixo?

    que preço que pago pelo sopro que largo?

    quando uma palavra se for

    qual a palavra que volta?

    o que me trará suas pancadas na porta?

    o que é o destino

    que se destina no que digo?

    o que é que eu entrego

    naquilo que me verbo?

    no meu verso em que eu adejo

    se alada doença ou um beijo?

    ave algum canto pelo segredo

    em que não sei do que for certo?

    e daquilo que sinto o que é que é meu?

    quem é que me sonha lá no que falto?

    que deus que não sei

    me não sabe e por quem?

    que fim e que som e que luz e que alto?

    o que é que me vem?

    se o espaço é curvo

    o que é que é a volta?

    o que eu espero do meu verso

    quando vir bater na minha porta?

    Já que Falaram em Arte

    ninguém queria comprar os quadros de Van Gogh

    afinal era só um pobre e louco.

    disseram que a 3ª Sinfonia de Beethoven

    era exagerada e barulhenta e que não teria futuro

    também disseram que o tema principal

    da sua 9ª Sinfonia

    (a obra musical mais importante da história)

    era infantil e absurdo fruto da mente perturbada

    de um músico surdo e bêbado.

    queriam revisar as sinfonias de Bruckner

    porque diziam que eram de muito mau gosto

    criadas por um caipira simplório.

    estavam certos de que Fernando Pessoa

    era só um cara esquisito e fracassado.

    eles prenderam Dostoiévski por vários anos

    assassinaram García Lorca

    tentaram matar Pablo Neruda

    e enterraram Mozart como um indigente.

    Tchaikovsky se sentiu obrigado a se matar

    tomando água contaminada por cólera.

    Schumann achou que deveria

    se internar num manicômio.

    Edgar Allan Poe só aguentou

    porque bebeu até morrer.

    Michelangelo era espancado

    pelo pai e irmãos porque diziam

    que era vergonhoso ter um artista na família.

    usaram as partituras de Bach

    para embrulhar peixes nos mercados.

    Munch pintou O Grito

    (a pintura mais famosa do século XX)

    enquanto diziam que ele era só um alcoólatra.

    Rilke não tinha dinheiro

    para comprar seus próprios livros.

    e eles disseram que a poesia de Baudelaire

    era um atentado à moral e aos bons costumes

    e que deveria ser proibida.

    e hoje eles querem nos falar de Arte...

    Castelo de Carta

    a desgraça

    da existência humana

    atingiu o momento

    do se fechar de porta

    e eu acostumado

    a tudo que se acaba

    nem me alarma

    nem me resta

    nem me importa

    acostumado

    com tanta merda por toda parte

    e todas essas passadas de gente nas ruas

    que só passam

    e mais nada

    e que já se vão muito tarde

    tudo que veio um dia parte

    nem há sentido que o sinta

    tudo o que fique ou que falte

    ou o de que um dia

    eu de repente tente

    e em algum instante cante

    deixo que se feche

    tudo aquilo que daqui me aparta

    que de um momento o vento

    leva todo um mundo

    como um enorme coração

    que se infarta

    e o raio que o parta.

    O Pior Crime

    o homem criou máquinas motores robôs

    trens automóveis caminhões

    aviões jatos helicópteros

    microscópios para o muito perto

    telescópios para o muito longe

    navios foguetes satélites

    celulares computadores internet

    metrópoles a perder de vista

    prédios a se perder no alto

    pílulas remédios vacinas

    atulhou o planeta de quinquilharias

    e nada disso nem tudo isso junto

    chega aos pés do sensacional que é

    o voo de uma simples mosca

    DE UMA MOSCA

    somente pelo fato

    de que na mosca há VIDA

    e no entanto o inútil do homem

    se vê no direito

    de extinguir tigres onças orcas elefantes lobos

    (...)

    extinguir uma forma de vida

    é o pior de todos os crimes

    Vinho de Uvas Podres

    eu não sou o que escrevo.

    o que digo está em mim

    como algo que eu vi e me ficou

    ou como algo que busquei e me encontrou

    ou a mim veio  como algo que me quis

    mas não é onde me estou

    não se pode me encontrar

    pelo que deixei escrito:

    o que escrevo é o que crio

    a partir do que me destruo

    é um resultado como aquele vinho

    que se cria das uvas podres:

    o que escrevo é a fermentação

    do que me apodrece

    do que se sente e o que se vive

    do que se perde e o que se morre

    do que não é e o que não vem

    do que se passa e o que será

    eu não sou o que escrevo.

    mas em verdade tudo o que sou

    é só o que escrevo.

    O Óbvio

    escrever é perceber o óbvio:

    nada é mais difícil de ver

    do que está diante dos nossos olhos

    se colocarmos a página de um livro

    muito perto de nosso campo de visão

    não conseguiremos ler

    dito isso

    qualquer criança sabe

    que após um tempo de muito calor e seca

    de condições climáticas estéreis

    de crescente pressão atmosférica

    em que o abafamento o sufoco a opressão

    se tornam insuportáveis

    o resultado inevitável

    são tempestades temporais tormentas tremendas

    caos pânico destruição

    porém sem essas tempestades

    a vida não poderia continuar

    mas não se percebe que é por algo do tipo

    (só que muito maior)

    por que passa a humanidade

    a isso chamamos O Óbvio

    de modo que

    em tudo que escrevo

    estou explicado

    A Parábola dos Cegos

    não há mais palavras a serem ditas

    a quem já ergueu a perna direita

    para o passo a ser dado

    no vazio do abismo

    não há mais palavras a serem ditas

    não porque não há o que ser dito

    (há tanto que é melhor calar)

    é que não há o que ser entendido

    no sentido de que não se entende

    o significado do que está escrito

    a palavra, que é o que diz

    deixa de dizer

    quando mesmo dizendo

    o que se diz não é captado:

    há comunicante mas não há comunicado

    em outras palavras

    a palavra se perde

    e com ela a verdade:

    a cada palavra que some

    morre um pouco de fim e de fome

    essa miserável humanidade

    Planos Metas Objetivos

    as pessoas falam

    em planos metas objetivos

    sucessos e conseguimentos

    a serem atingidos

    e nem sabem se estão vivos

    querem chegar a um ponto

    e quando chegam (se chegam)

    é só isso

    e pronto

    (e surgem a miragem

    do outro ponto)

    e nunca se vive

    o ponto em que se está

    se tem coisa que a vida nos ensina

    é que não somos nós

    que levamos a vida:

    quem leva é a sina

    as pessoas babam

    em planos metas objetivos

    e eu rio:

    não sabem que o único plano

    é ao que nos leva as águas sábias

    do rio

    Da Formação de Tempestades

    sei que algo acontece.

    o fundamental é o que está latente

    aquilo que não mas que será à frente

    que se move como sopro e tigre

    que passa como nunca passado

    e que se ergue em olho bem do teu lado

    qual sábio é que garante

    que um vento que se veste inofensivo

    lá em processos desvistados

    não se tornará tornado furacão?

    há um outro nos envolve

    em insondável onde:

    há um ato que é fato

    e há outro que se esconde

    tudo traz um além-motivo

    ainda que a ele (rindo)

    não nos motivemos:

    mas ele sempre sorri

    acima do nosso riso

    Flatulência

    os homens com suas moedas

    se acham vastos

    mas são só vasos

    os homens com suas metas

    se acham vultos

    mas são só vulgos

    os homens com suas armas

    se acham forças

    mas são só farsas

    os homens com suas regras

    se acham retos

    mas são só ratos

    os homens com suas naves

    se acham fogos

    mas são só fátuos

    os homens com seus gases

    se acham fatos

    mas são só flatos

    Maldição

    não sei nunca saberei por que escrevo.

    não há nada que eu ganhe no que faço

    nem dinheiro nem glória nem abraço

    nem curo meu mal e em nada me inscrevo

    talvez seja assim meu último credo

    único som que deixo como rastro

    único sangue a valer meu cansaço

    única forma em que sou meu segredo

    vale tanto porque não vale nada:

    o que vale não merece seu preço

    só vale a vida que nos é não dada

    escrever é conhecer que me esqueço

    sentir o não-ser da vida alcançada

    em que serei morto e em que permaneço

    (Não-)Mensagem de Natal

    as pessoas querem de mensagem de natal

    qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança

    um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas

    votos vazios vazados de (in)verdades vagas

    algo que fale em paz perdão jesus

    a ser esquecido antes de ser lido

    pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia...

    hoje quando acordei um sabiá cantava na janela

    e eu prestei atenção no seu canto:

    essa foi a minha mensagem de natal

    e não poderia haver melhor

    Confissão de um Parasita

    o que o planeta vai querer com alguém como eu?

    reles verme racional que vive de despojos

    monstro de egoísmo que destrói a vida

    para manter em pé meu esqueleto morto?

    ainda que mil florestas tombem à minha direita

    e 10 mil animais agonizem à minha esquerda

    eu tenho que esboçar esse sorriso estúpido

    na minha cara cínica

    como forma de demonstrar ao vazio social

    que NÃO fugi dos padrões e dos contratos

    de felicidade fútil e de sucesso inútil obrigatórios

    dessa civilização de parasitas homicidas-suicidas

    por que o planeta iria se esforçar

    para manter vivo o fanfarrão inconsciente que sou

    se é que sei se sou alguma coisa

    e a minha vida sem eira nem beira

    eu, este

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