O Adeus da Humanidade
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O Adeus da Humanidade - Alessandro Reiffer
O ADEUS DA HUMANIDADE
Alessandro Reiffer
Dedico este livro à memória de minha amada mãe, Maria de Lourdes de Almeida, e à de minha amada irmã, Elisandra Reiffer de Almeida.
Capa: detalhe de Campo de Trigo com Corvos
, de Vincent Van Gogh.
Preparação para o Nada
o homem não vive: só se prepara.
nasce. e se prepara para crescer
e crescer, dizem, é preparar-se para a vida
(que nunca se vive)
depois é estudar para se preparar
para mais estudo e para decidir
para que, depois, vai se preparar
com mais detalhes e dedicação
o depois é se preparar para trabalhar
que o trabalho é uma preparação
para outras coisas mais
que ou são nada
ou quando vêm já não bastam
e então se prepara para o que falta
que nunca deixa de faltar
e para que não falte o que faltará
a gente se prepara
e por fim se prepara para
quando se ficar velho
e quando se fica velho
se tenta se preparar
para a Morte...
e no Fim
nunca estamos preparados.
Eu Não Aprendi a Viver
eu nunca aprendi esse negócio
de aprender a viver
eles dizem:
você tem que aprender a viver
mas eu nunca entendi
o que eles queriam dizer com isso
quando eles deram essa lição
eu devia estar cagando
eles determinaram exatamente como se deve viver:
eles criaram regras normas leis padrões modelos
teorias tratados cartilhas manuais e morais
coisas bem difíceis e complicadas
e eu na minha preguiça e irresponsabilidade
fiquei só lendo coisas inúteis como contos e poesias
e não aprendi o que deveria ter aprendido
agora estou aqui e não aprendi a viver.
eu achava que a vida fosse como escrever um poema:
você inicia, diz o que veio pra dizer
e termina em grande estilo ou nem tão grande assim
mas eu só aprendi a escrever poemas
(mal e porcamente)
e não aprendi a viver
não sei fazer outra coisa
uma época eu achava que viver
tinha a ver com se tornar melhor
mas eles já me provaram
que não é nada disso
e eu, burro, nunca consegui entender.
Escrever é um Ato Infame
se o cara escrever de verdade
matará de mentira sua fome.
se o cara escrever poesia, por exemplo,
terá um atestado de insanidade
de inutilidade para o desenvolvimento
de subversão e delinquência
e, óbvio, de miséria.
escrever é um ato ingrato.
se o cara escrever contos novelas ou romances
(muita gente ainda acha que romance é história de amor
e novela aquilo que passa na tv)
ou terá que ter muita sorte em conseguir uma boa editora
(algo como acertar na loteria)
ou ser bem apadrinhado
(o famoso Q.I. - Quem Indica)
ou escrever temas agradáveis desejados
que se desenvolvam de maneira banal e infantil.
se o cara escrever roteiro de filmes ou séries
poderá fazer muito sucesso
anônimo:
ninguém dá atenção pra quem
escreveu a história as ideias as falas
só se dá atenção aos atores que falam
e aparecem.
escrever é um ato falho:
quase sempre o cara que escreve
só é reconhecido em vida
se não escrever porra nenhuma.
Quatro Batidas na Porta
(ou A Propósito da 5ª Sinfonia de Beethoven)
que foi que me trago no isso que deixo?
que preço que pago pelo sopro que largo?
quando uma palavra se for
qual a palavra que volta?
o que me trará suas pancadas na porta?
o que é o destino
que se destina no que digo?
o que é que eu entrego
naquilo que me verbo?
no meu verso em que eu adejo
se alada doença ou um beijo?
ave algum canto pelo segredo
em que não sei do que for certo?
e daquilo que sinto o que é que é meu?
quem é que me sonha lá no que falto?
que deus que não sei
me não sabe e por quem?
que fim e que som e que luz e que alto?
o que é que me vem?
se o espaço é curvo
o que é que é a volta?
o que eu espero do meu verso
quando vir bater na minha porta?
Já que Falaram em Arte
ninguém queria comprar os quadros de Van Gogh
afinal era só um pobre e louco.
disseram que a 3ª Sinfonia de Beethoven
era exagerada e barulhenta e que não teria futuro
também disseram que o tema principal
da sua 9ª Sinfonia
(a obra musical mais importante da história)
era infantil e absurdo fruto da mente perturbada
de um músico surdo e bêbado.
queriam revisar as sinfonias de Bruckner
porque diziam que eram de muito mau gosto
criadas por um caipira simplório.
estavam certos de que Fernando Pessoa
era só um cara esquisito e fracassado.
eles prenderam Dostoiévski por vários anos
assassinaram García Lorca
tentaram matar Pablo Neruda
e enterraram Mozart como um indigente.
Tchaikovsky se sentiu obrigado a se matar
tomando água contaminada por cólera.
Schumann achou que deveria
se internar num manicômio.
Edgar Allan Poe só aguentou
porque bebeu até morrer.
Michelangelo era espancado
pelo pai e irmãos porque diziam
que era vergonhoso ter um artista na família.
usaram as partituras de Bach
para embrulhar peixes nos mercados.
Munch pintou O Grito
(a pintura mais famosa do século XX)
enquanto diziam que ele era só um alcoólatra.
Rilke não tinha dinheiro
para comprar seus próprios livros.
e eles disseram que a poesia de Baudelaire
era um atentado à moral e aos bons costumes
e que deveria ser proibida.
e hoje eles querem nos falar de Arte...
Castelo de Carta
a desgraça
da existência humana
atingiu o momento
do se fechar de porta
e eu acostumado
a tudo que se acaba
nem me alarma
nem me resta
nem me importa
acostumado
com tanta merda por toda parte
e todas essas passadas de gente nas ruas
que só passam
e mais nada
e que já se vão muito tarde
tudo que veio um dia parte
nem há sentido que o sinta
tudo o que fique ou que falte
ou o de que um dia
eu de repente tente
e em algum instante cante
deixo que se feche
tudo aquilo que daqui me aparta
que de um momento o vento
leva todo um mundo
como um enorme coração
que se infarta
e o raio que o parta.
O Pior Crime
o homem criou máquinas motores robôs
trens automóveis caminhões
aviões jatos helicópteros
microscópios para o muito perto
telescópios para o muito longe
navios foguetes satélites
celulares computadores internet
metrópoles a perder de vista
prédios a se perder no alto
pílulas remédios vacinas
atulhou o planeta de quinquilharias
e nada disso nem tudo isso junto
chega aos pés do sensacional que é
o voo de uma simples mosca
DE UMA MOSCA
somente pelo fato
de que na mosca há VIDA
e no entanto o inútil do homem
se vê no direito
de extinguir tigres onças orcas elefantes lobos
(...)
extinguir uma forma de vida
é o pior de todos os crimes
Vinho de Uvas Podres
eu não sou o que escrevo.
o que digo está em mim
como algo que eu vi e me ficou
ou como algo que busquei e me encontrou
ou a mim veio como algo que me quis
mas não é onde me estou
não se pode me encontrar
pelo que deixei escrito:
o que escrevo é o que crio
a partir do que me destruo
é um resultado como aquele vinho
que se cria das uvas podres:
o que escrevo é a fermentação
do que me apodrece
do que se sente e o que se vive
do que se perde e o que se morre
do que não é e o que não vem
do que se passa e o que será
eu não sou o que escrevo.
mas em verdade tudo o que sou
é só o que escrevo.
O Óbvio
escrever é perceber o óbvio:
nada é mais difícil de ver
do que está diante dos nossos olhos
se colocarmos a página de um livro
muito perto de nosso campo de visão
não conseguiremos ler
dito isso
qualquer criança sabe
que após um tempo de muito calor e seca
de condições climáticas estéreis
de crescente pressão atmosférica
em que o abafamento o sufoco a opressão
se tornam insuportáveis
o resultado inevitável
são tempestades temporais tormentas tremendas
caos pânico destruição
porém sem essas tempestades
a vida não poderia continuar
mas não se percebe que é por algo do tipo
(só que muito maior)
por que passa a humanidade
a isso chamamos O Óbvio
de modo que
em tudo que escrevo
estou explicado
A Parábola dos Cegos
não há mais palavras a serem ditas
a quem já ergueu a perna direita
para o passo a ser dado
no vazio do abismo
não há mais palavras a serem ditas
não porque não há o que ser dito
(há tanto que é melhor calar)
é que não há o que ser entendido
no sentido de que não se entende
o significado do que está escrito
a palavra, que é o que diz
deixa de dizer
quando mesmo dizendo
o que se diz não é captado:
há comunicante mas não há comunicado
em outras palavras
a palavra se perde
e com ela a verdade:
a cada palavra que some
morre um pouco de fim e de fome
essa miserável humanidade
Planos Metas Objetivos
as pessoas falam
em planos metas objetivos
sucessos e conseguimentos
a serem atingidos
e nem sabem se estão vivos
querem chegar a um ponto
e quando chegam (se chegam)
é só isso
e pronto
(e surgem a miragem
do outro ponto)
e nunca se vive
o ponto em que se está
se tem coisa que a vida nos ensina
é que não somos nós
que levamos a vida:
quem leva é a sina
as pessoas babam
em planos metas objetivos
e eu rio:
não sabem que o único plano
é ao que nos leva as águas sábias
do rio
Da Formação de Tempestades
sei que algo acontece.
o fundamental é o que está latente
aquilo que não mas que será à frente
que se move como sopro e tigre
que passa como nunca passado
e que se ergue em olho bem do teu lado
qual sábio é que garante
que um vento que se veste inofensivo
lá em processos desvistados
não se tornará tornado furacão?
há um outro nos envolve
em insondável onde:
há um ato que é fato
e há outro que se esconde
tudo traz um além-motivo
ainda que a ele (rindo)
não nos motivemos:
mas ele sempre sorri
acima do nosso riso
Flatulência
os homens com suas moedas
se acham vastos
mas são só vasos
os homens com suas metas
se acham vultos
mas são só vulgos
os homens com suas armas
se acham forças
mas são só farsas
os homens com suas regras
se acham retos
mas são só ratos
os homens com suas naves
se acham fogos
mas são só fátuos
os homens com seus gases
se acham fatos
mas são só flatos
Maldição
não sei nunca saberei por que escrevo.
não há nada que eu ganhe no que faço
nem dinheiro nem glória nem abraço
nem curo meu mal e em nada me inscrevo
talvez seja assim meu último credo
único som que deixo como rastro
único sangue a valer meu cansaço
única forma em que sou meu segredo
vale tanto porque não vale nada:
o que vale não merece seu preço
só vale a vida que nos é não dada
escrever é conhecer que me esqueço
sentir o não-ser da vida alcançada
em que serei morto e em que permaneço
(Não-)Mensagem de Natal
as pessoas querem de mensagem de natal
qualquer texto banal que fale de amor felicidade esperança
um amontoado pré-determinado mecânico automático robótico de palavras positivas
votos vazios vazados de (in)verdades vagas
algo que fale em paz perdão jesus
a ser esquecido antes de ser lido
pretensas espiritualidades a serem estouradas com champanhes foguetes e peidos pós-ceia...
hoje quando acordei um sabiá cantava na janela
e eu prestei atenção no seu canto:
essa foi a minha mensagem de natal
e não poderia haver melhor
Confissão de um Parasita
o que o planeta vai querer com alguém como eu?
reles verme racional que vive de despojos
monstro de egoísmo que destrói a vida
para manter em pé meu esqueleto morto?
ainda que mil florestas tombem à minha direita
e 10 mil animais agonizem à minha esquerda
eu tenho que esboçar esse sorriso estúpido
na minha cara cínica
como forma de demonstrar ao vazio social
que NÃO fugi dos padrões e dos contratos
de felicidade fútil e de sucesso inútil obrigatórios
dessa civilização de parasitas homicidas-suicidas
por que o planeta iria se esforçar
para manter vivo o fanfarrão inconsciente que sou
se é que sei se sou alguma coisa
e a minha vida sem eira nem beira
eu, este