O que há de súbito em ser
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Sobre este e-book
O que há de súbito em ser flutua entre poemas que tangenciam a vida ordinária, sensorial e sensual (o estramônio do quintal/ abriu-se uma vez/ tragado fresco ainda virgem) e o mundo (das coisas e das ideias) como problema filosófico (o mundo já não é a vista de cima/ de um muro na casa do/ primo/ o mundo já não é mais beber desesperado/ água ao voltar das quatro/ praças/ tampouco é jogar tabuleiro e nintendo/ com os amigos), polos que não são necessariamente opostos, em face da opacidade do mundo e dos limites da linguagem, de cujos interstícios é possível fazer com que ecloda essa forma estranha, esse animal em metamorfose vertiginosa e, ao mesmo tempo, animal paralisado diante da aurora. O poema: que não reste assim/ quilha alguma/ intocada pela poesia, é uma possível censura em que o poeta vislumbra as coisas que vigoram, ora de olhos fechados (o mundo é estranho/ as geometrias e seres/ que surgem quando fecho os olhos/ acordado) ora de olhos abertos (o espelho está cansado da minha cara).
As fraturas de sintaxe andam lado a lado com as vertebrações que o autor cumpre operar e que põem no mesmo espaço imagético. Entes tão disjuntos e apartados como o beemote, o pólipo, um deus hindu e um balandrau, logrando assim chegar àquela cena de encontro fortuito consagrada por Lautréamont, entre uma máquina de costura e um guarda-chuva sobre uma mesa de dissecação. Em outros momentos, há os poemas que cantam, choram, ironizam e mobíliam o amor, seguindo em uma atmosfera que lembra a duchampiana: e em teu coração/ guardado em lençol/ está também/ o meu.
Permanece para o poeta, no entanto, a pergunta muda e invencível que esvoaça de dentro dos livros de poesia: que pensam os poemas/ sobre os poetas/ velho/ amargo/ jovem/ iludido/ não lhes restam compaixão/ se os poetas dizem tanto aos poemas/ que tipo de vil crueldade é/ a dos poemas/ de não chorar/ junto do poeta/ quisera eu um dia/ que os poemas respondessem também/ a mim/ que os escrevo.
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O que há de súbito em ser - Pedro Henrique França
ainda que já o tivesse terminado
descobri que o pantheon haveria de
cobrir em seguro
o que havia me ocorrido
ananke não é apenas destino
não é uma deusa qualquer
é força motriz inconsciente
é a fatalidade ainda que não mortal
é o que reside silencioso na alma e que
subitamente em rompante
há de ser e que num instante
vem de fato a ser
violento dilacera a alma
destrói o corpo e a mente
desnutri
perturba
e ainda assim
me faz bem
pois em um momento isto tudo
esteve dentro de mim
meu sonho
é fazer de um poema
um cerzir de muitos ocasos
cortar em lanhos o céu estrelado
reversar esquecidos desalentos
aos versos do amanhã
rezo que me aguardem
que não fujam ignorantes
e que
sob o sol o devorem
que não reste assim
quilha alguma
intocada pela poesia