Surrealidade Púrpura
De Lydia Gomes
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Surrealidade Púrpura - Lydia Gomes
lydia gomes
surrealidade
púrpura
antologia poética
2000-2020
surrealidade púrpura – antologia poética 2000-2020
lydia gomes
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1ª edição.
conceito de capa e arte final: lydia gomes
dados bibliográficos
GOMES, Lydia [Lydia Martha de Mendonça Gomes]. surrealidade púrpura – antologia poética 2000-2020. Poesia. 1ª edição. Nova Friburgo, 2020.
ao tempo, que em sua paciência e justiça nos concede novas chances de acerto; à roda que move os destinos; ao amor que se equilibra entre ambos.
surrealidade
púrpura
antologia poética
2000-2020
um calor inóspito e quase artificial
sobre meus dias de espera na janela
como quem contempla o tempo a olho nu
e de ti nada sei, exceto pela maresia
o ar que traz recordações esquecidas
mas que seguem ao meu lado entre silêncios e atropelos
preciso desfazer as intrigas formadas no interno
muito mais do que os mal-entendidos do externo
muito daquilo que esquecemos de dizer ou calar
um calor inóspito e definitivamente artificial
que faz mal à vida, faz mal aos sonhos
mas que de um jeito ou de outro me faz companhia
não preciso revelar o que me diz a paisagem
talvez nem mesmo eu a esteja vendo de fato
revelo apenas o que me embriaga os sentidos
será este calor absurdo de um verão sem fim?
ou será que desejo-te muito mais do que afirmo?
(não, nada confirmo; chega de afirmações)
voltemos às sensações
calores extremos de um dia que não passa
ou será que sou eu que perdi meu olhar no tempo?
o olhar, o tempo, o pensamento e as sensações
e eu, sim, inóspita, artificial
sem um propósito maior a zelar por meus dias
não! isso não! estou mentindo agora
e mesmo que não confessasse a verdade você saberia
pareço artificial, mas mantenho firme os propósitos de vida
falando na vida, como vai a sua?
ainda buscando as respostas
ou já mudaram as perguntas?
a minha está registrada em paisagem
feito fotos de encontros e viagens
algo como um filme surreal da década de vinte
seria possível tamanha vintage
?
ou estou abusando demais da brincadeira que faço
com palavras e pensamentos para entreter a nós dois?
surreal como um quadro de dalí
ou um filme do wood allen
sou a rosa púrpura embriagada pela tela
contemplo o que não vejo
como quem não sente dor, fome ou vontade
apenas a estranha artificialidade de um dia quente
não. não aguento mais tamanho calor
nenhuma brisa a balançar meus enredos
e os contornos do tempo parecem rascunho, carbono
todos os contornos derretendo junto com meus pensamentos
que já não encontram grande razão de existir
exceto...
exceto a vontade de roubar sua atenção para mim
surrealidade púrpura
sempre se tem a noção errada de tudo sabido antes
palavras, rabiscos
e a certeza de que existem borrachas apagando as certezas
parece que o ontem
é algo distante demais do que enxergamos hoje
como se nada tivesse registro
como se a memória do mundo houvesse sido apagada
e assim, de repente, do nada
surgem ideias que bateriam de frente com antigos conceitos
(se esses ainda existissem)
mas por milagre divino
ou imperfeição da genética
temos os dados arrancados do banco central
preciosidades da história comum virando pó
e nada é mais como achávamos
(antes)
que deveria ser
bombardeios mentais
bloqueados por trincheiras do espírito
e a não necessária clareza da mente
fazem surgir um outro ser
também independente
mas ligado ao fio da vida de forma intermitente
tendo assim impedida
sua vontade de ir ao encontro do nada
ou o impulso de seguir ao encontro de tudo
certezas
existe um lugar
existe uma história a contar
quem sabe um mergulho no mar
ou apenas saber esperar
e encontrar o lugar
dentro de mim
revelar, escapar pela boca, falar
deixar quem quiser escutar
ou apenas saber esperar
e encontrar o lugar
dentro de mim
desprezar o que não há
para o que há deixar rolar
ou apenas saber encontrar
dentro de mim o que espero, o lugar
lugar em mim
contam-se em horas as nossas inglórias
revelam-se mortos os minutos confusos
projetam-se