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A ROSA DE NAIÁ
A ROSA DE NAIÁ
A ROSA DE NAIÁ
E-book1.019 páginas17 horas

A ROSA DE NAIÁ

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Sobre este e-book

Os gêmeos Oto e Ziza nasceram há 500 anos. Sua imortalidade é um segredo, nem seusamigos mais íntimos são capazes de imaginar o que fora enterrado no passado da dupla. Porém o tempo é cíclico, desse passado, os horrores da antiguidade, hão de retornar para atormentá-los.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9786588676523
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    A ROSA DE NAIÁ - Juan Gomes Ribeiro

    Dedico principalmente a minha mãe que sempre me apoiou em tudo o que eu fiz desde o início, a meu pai, a meus primos que apoiaram a minha idéia e a alguns colegas escritores.

    PRÓLOGO

    Seria um sonho? Só poderia ser!

    Oto simplesmente desejava não estar nesse sonho, vendo tudo de longe como se estivesse numa tela de cinema. Sons estranhos ressonavam em toda a parte enquanto tudo se desintegrava. Um choro em particular era ouvido, lágrimas de fogo escorriam na forma de lava, o choro desesperado de alguém, um clamor por ajuda, pelo término do apocalipse.

    Logo abaixo do topo do majestoso Olimpo, agora em ruinas, maremotos descomunais tão altos como o céu estrelado arrasavam a costa grega juntamente com os furações, incêndios gigantescos provocados pela lava que brotava do chão e o elemento que marcaria a Grécia por toda a eternidade, trovão e raios que estranhamente surgiam de nuvens mais negras que o breu, capazes de destruir países, castigavam a terra desintegrando tudo em seu caminho.

    O Olimpo jazia em ruinas, o povo grego em desespero não conseguia projetar o que visualizavam com suas mentes, os deuses eram vencidos por um exército poderoso de divindades invasoras desconhecidas em demasiado número sem precedentes com fúria total marchando até as encostas do Monte Olimpo seguindo para a decisão final.

    Na campina da Tessália os poderosos olimpianos que outrora dominavam a Grécia com mãos de ferro, os quais sempre banhados em glória eterna se encontravam sob a morte certa, ninguém sabia de onde foi que aqueles invasores vieram, mas entenderam que possuíam uma determinação sem limites para destruir tudo em seu caminho.

    Zeus estatelado no chão murmurava palavras sem sentido, sob uma poça de seu próprio sangue, ofegando com as forças minadas, mas quando tentou se levantar uma figura cheia de raios encoberta de escuridão desceu do céu com o pé em cima de seu peito, esmagando ossos, órgãos e o bronze de sua armadura. Zeus gritou de agonia e dor sem nada mais a fazer

    – Traiste-me! Maldito seja – Zeus murmurou – Ousaste me trair, pagarás caro!

    Não havia mais esperanças, era o fim. Para começo de conversa os deuses sofreram pesadas baixas antes dessa guerra começar.

    Tudo teve inicio com as mortes e desaparecimentos de divindades menores que deixaram o grande conselho dos 11, perplexos. Ninguém tinha a menor idéia do que estava acontecendo, Ares o grande deus da guerra, sempre violento ao extremo e topando qualquer parada, organizador do ódio, discórdia, desgraça, miséria, agora vivia aterrorizado, não queria sair do Olimpo de jeito nenhum e quando algum de seus companheiros perguntava o por que de evitar sair, Ares permanecia em silêncio.

    Desde que os desaparecimentos começaram, ele andava de forma assustada olhando por todos os lados como se esperasse algo vindo em seu encalço, depois vieram os gritos desesperados, vinham de todas as direções, mas nada se via, primeiro Hades, deus do mundo inferior, sua esposa Perséfone e todos os habitantes junto com seu próprio reino desapareceram sem deixar rastro, apesar disso as pessoas morriam e suas almas iam para algum lugar desconhecido aos deuses, depois o Deus Pã, senhor dos bosques havia sumido sem deixar rastro.

    Os sussurros entre os mortais aumentavam, eles diziam ouvir um ruído estranho como caudas se mexendo trazendo consigo algum tipo de fera monstruosa que matava deuses e ia embora, pânico, terror, medo e caos tomando conta de toda a Grécia. Os deuses iniciaram uma série de buscas, mas sempre o resultado era negativo, quando chegavam na cena do crime, o assassino já tinha fugido.

    A fúria de Zeus atingiu as alturas, esse ser deve ser desequilibrado pensou Zeus, por isso, decretou uma proibição imediata aos deuses de não perambular no mundo mortal até a eliminação desta besta.

    Todos os deuses seguiram suas ordens a risca, todos, exceto o belo deus Cúpido. O jovem deus descontraído continuava usando sua arma favorita, seu arco para atirar suas flechas apaixonadas nas pobres vítimas desatentas.

    Sua mãe Afrodite estranhamente não queria que seu filho saísse do Olimpo naquela noite que havia algo diferente perigoso, talvez fosse aquela famosa intuição de mãe, porém Cupido a ignorou completamente, tranquilizando-a, não havia nada com que se preocupar, afinal quem teria a petulância de perturbar um olimpiano?

    Então o belíssimo arqueiro foi visitar a terra mortal, bobagem, pensou ele, isso só pode ser brincadeira de algum deus em particular, mas antes que chegasse ao chão, Cúpido sentiu como se tivesse levado uma pancada muito forte no rosto.

    Uma jovem ninfa estonteante, brilhando como uma estrela caída do céu se encontrava deitava em uma pedra perto dos bosques do deus Pã, essa menina o chamava, quem era aquela perfeição feminina? Pensou Cúpido.

    Ele não pensou nem a metade de uma vez, aos avisos de sua mãe na qual evaporaram em sua mente. Ele a seguiu. Cúpido tomado por uma luxúria incontrolável continuou voando furiosamente com suas asas possantes descendo montanha abaixo afim de alcançá-la.

    Possuirei esta só para mim, pensou Cúpido, nem que eu tenha que correr o mundo inteiro pra isso. Porém, quando pisou em chão plano a linda ninfa desapareceu como fumaça, de repente ele percebeu uma inquietude estranha e assustadora e o mais estranho, Cúpido sentiu medo, deuses não sentiam medo, não possuíam essas emoções mortais, eram superiores, mas mesmo assim ele sentiu pânico, embora Oto não fosse atingido por nada sentiu o medo de Cupido lhe infestar como veneno no seu sangue.

    Havia uma pressão no ar, tudo no mais absoluto silêncio, Cúpido se armou com seu arco e flecha, se lembrou dos avisos de Zeus e os lamúrios de sua mãe. Preciso sair daqui pensou Cúpido o mais rápido possível. Foi quando um som terrivelmente familiar lhe chamou a atenção.

    O ruído de tentáculos se mexendo ia aumentando como se fosse aproximando cada vez mais, mais perto, Cúpido estava apavorado, seu coração iria sair pela boca, o suor começou a escorrer por seu corpo, juntamente com a respiração nervosa. Deuses não suavam, sentiu-se vulnerável ali sozinho sem ajuda ou aliados, seus olhos procuravam pelo que provocava o som, mas nada aparecia, porém do mesmo modo que o barulho chegou ele cessou rapidamente.

    Cúpido se levantou bruscamente, buscando a segurança do Olimpo, mas algo apareceu a dez metros de distância, uma forma estranha começou a emergir da escuridão da floresta, primeiro apareceu uma boca com dentes pontiagudos depois um corpo. Cúpido parou como uma estátua, seus pelos estavam arrepiados, o coração acelerado.

    A coisa seja lá o que fosse aquilo apareceu diante de Cúpido, era uma forma humana totalmente escura, sem pelos, cabelo ou olhos somente uma boca séria e fechada, o medo desapareceu de Cúpido, que ser é esse? Isso não assusta ninguém, pensava ele, porém foi nesse instante que Cupido sentiria seu último arrependimento.

    O bicho abriu a boca, libertando um urro aterrador que no mesmo momento fez o mar se levantar em direção ao céu, rios se tornarem furações rodopiantes, nuvens se quebrarem como jarros de cerâmica, montanhas tornarem-se líquido, estrelas se transformarem em vagalumes indo para a escuridão do universo, o rugido do monstro destruiu todo o poder de Cúpido, inclusive seu arco e flecha.

    Suas asas foram derretidas, sangue escorria de sua boca, sua força sumiu, sem recursos, sem defesas, desesperado por proteção, Cúpido voou para o Olimpo subindo a toda velocidade com a fera em seu encalço, a medida que ia alcançando os palácios reluzindo em ouro Cúpido olhou para trás e viu o ser tenebroso desistir de segui-lo, já avistava sua mãe Afrodite e os outros deuses preparados para a batalha, estava salvo pensou Cúpido e olhando novamente às suas costas viu que o bicho tinha desaparecido, mesmo assim parte dos vales, montanhas, florestas e mares se encontravam num caos total, talvez essa aberração não possuísse poderes perto do Olimpo por isso não ousava atacá-los lá, infelizmente esse pensamento permaneceu na mente de Cúpido, a falsa sensação de salvação veio e logo se foi.

    Bem a beira dos palácios quando Cúpido se achava em segurança, ou assim pensava ele tolamente, um novo rugido lhe chegou aos ouvidos como uma avalanche, era o monstro outra vez, só que estava maior, muito mais aterrador, do tamanho da própria montanha com a mesma forma escura sem olhos, porém com o rosto e forma de um animal sem os glóbulos oculares, com milhares de caudas se movendo caoticamente independentemente uma da outra.

    O jovem deus percebeu tudo tarde demais, veloz como um relâmpago, muito veloz para um ser daquele tamanho, a fera abocanhou sua perna o puxando para baixo o rasgando com garras afiadas como ferro, Afrodite pulou da montanha para tentar salvar seu filho, mas uma das caudas do bicho a atingiu em cheio, encerrando-lhe a vida instantaneamente e de súbito o sonho mudou.

    Oto estava em uma casa pequena e simples, sentado em um tamborete de construção rústica, as janelas e portas de madeira, Oto imaginou que estava no oriente médio, nessas casas de árabes feitas de barro, mas algo estava terrivelmente errado, estava muito quente, mas não era calor solar, havia uma luz vermelha repentina e então Oto deu um pulo, era magma, ele correu para fora da pequena residência e a visão na sua frente era inacreditável, imagine um oceano invadindo uma cidade, como um maremoto, agora imagine um mar de fogo, a lava destruía tudo o que tocava, por todos os lados haviam gritos desesperados das pessoas por salvação que eram inúteis, a lava se alastrava absurdamente rápido como se fosse uma enchente.

    Era um sonho pensou Oto, só podia ser um sonho, tinha de ser, o fogo se alastrava em todo lugar e queimava o que encontrava até mesmo o próprio oceano virou magma, ondulando como gigantescas ondas furiosas agindo como se estivessem vivas, nuvens mais negras que carvão bombardeavam o mundo com raios de cor vermelho vivo, trovões que pareciam querer arrancar sua audição.

    O sol não passava de uma bola apagada, a lua rachada em dois, além dos raios avermelhados as nuvens também expeliam gotas de magma que assolam tudo que era vivo, noutra situação Oto teria adorado e até ajudado o mundo a ficar desse jeito, desde que ele não fosse afetado, estrondos sem precedentes vindos do espaço sideral sacodiam o mundo, Oto virou-se bruscamente percebendo sem ao menos raciocinar sobre a situação que o mundo acabaria.

    Às suas costas numa distância infinita de um horizonte escuro sem fim encontrava-se um gigantesco precipício por onde um oceano composto de magma puro caía, puxando-o lentamente e perto do precipício a lava começava a subir, seus poderes não funcionaram, aquilo definitivamente era um sonho, uma vez ele tomou banho de magma no monte Etna que mais pareceu um banho quente, mas naquela hora estava indefeso, frágil e fraco, tão vulnerável quanto os seres humanos que tanto desprezava. Ao não conseguir imaginar um sonho pior ele se enganou, tudo mudou radicalmente.

    O sonho tornou-se uma campina, céu aberto e poucas nuvens e num azul intenso, um gramado verde esmeralda sendo varrido pelo vento, não era como os outros sonhos, ele sentia tudo, o cheiro forte de terra e grama, insetos, lesmas e os infinitos microrganismos do solo, a brisa tinha o gosto do mar, leve e agradável jogando salpicos de água por suas costas, o calor do sol pairando sobre tudo, mas aquele sol não era sua irmã, não, era apenas um sol comum.

    Um sonho mais realístico que um cinema 3D, ele não entendia o porque, nas raras vezes que dormia Oto tinha sonhos bem realísticos que geralmente não duravam alguns segundos por estar sempre dormindo ao lado da irmã, como não foi o caso deste sonho, em particular demorava mais, pelo menos ele não veria aquela figura horrenda sem rosto apontando o dedo para ele. A figura de alguém até hoje desconhecido e mesmo com todo o seu poder mental não conseguiu removê-lo e nem sua irmã, era a única coisa que lhe trazia o medo, a única coisa, exceto...

    – Irmãozinho, te achei.

    Oto não imaginou que fosse pego de surpresa por um sonho de sua cabeça, pior ainda, não conseguia sair-se dele como fazia, seu engano foi num primeiro momento, mas ao se virar e vê-la ele ajoelhou-se sem forças, o rosto banhado em lágrimas que escorriam por suas bochechas magras pingando em suas pernas, sua irmã estava de pé, extremamente pálida, expressão sem vida, um rombo imenso estava em seu flanco esquerdo jorrando muito sangue, nada daquilo era real, mas aquela lembrança persistia, ele nunca esqueceu, exceto de como a atacou e o que fizera antes e a única lembrança viva real encrustada de um monte de luzes coloridas explodindo no escuro, relembrar estes dias seria a sua tristeza eterna.

    Então a imagem dela evaporou-se, mais alguns metros a frente estava uma figura escurecida aparentemente sentada, Oto soube que não era a entidade que o atormentava até porque este ser falou.

    – Pequeno raio – A voz sussurrava sem um som claro de quem ou o que seria, mas o sussurro de tão poderoso movia todo o universo inteiro, estrelas e sóis explodiam, planetas e luas colidiam entre si, mas o local onde Oto estava não sofria nada, Oto não se mexeu um milímetro.

    – Pequeno raio – A figura continuou – Não mudarás tuas origens, fuja, você, sua Ziza e os outros seus, fujam de suas origens, apaguem suas memórias pelo fogo e pelas cinzas, fujam ao distante escuro, nós vós alcançaremos pequenos trovão e sol – Por que somente Oto estava só naquela loucura? A quem ou o que diabos essa coisa se referia? E de que adiantava refletir sobre isso quando não conseguia nem se levantar?

    Suas pernas estavam paralisadas de terror, a figura estranha sumiu, deixando-o sozinho vendo o universo ser despedaçado, entretanto, o mar de grama onde estava começou a ser obliterado. Colossais pedaços de terras elevavam-se aos céus, desaparecendo ao seu redor, o céu aos poucos escurecia, não por nuvens de tempestade, as trevas sem luz das estrelas engolfavam o lugar, Oto não queria ver aquilo, de novo não.

    Oto gritava, impotente, sem ninguém, sem seus poderes, um humano indefeso simplesmente, porém as sensações que sentia não podiam ser um sonho, o suor de seu corpo, o contato da terra fria nos pés descalços, o sentimento do medo lhe roendo as entranhas, destruindo tudo, no entanto Oto fechou os olhos e ao abri-los viu um rosto sussurrando coisas inaudíveis, era alguém conhecida como Aílsaie, embora não visse seu rosto ou nunca tivesse a conhecido em lugar nenhum.

    – Não – Gritou Oto de imediato com um nó na garganta para a pessoa encoberta em luz branca ofuscante destacando-se cada vez mais a medida que a escuridão avançava em tudo.

    – Não vá – Oto gritou novamente – Não morra, não desista, NÃO SE ENTREGUE, NÃO SE RENDA, ELÍSIAAAAAAAA – A jovem brilhante por fim apagou, as trevas engoliram tudo e ele caiu e ali sem sentidos, completamente cego, surdo, mudo e sem forças, flutuando, sendo levado por uma força invisível ao nada, ele sabia mais do que tudo que tudo aquilo era definitivamente um sonho, mas embora estivesse consciente disso, seu subconsciente não fez esta distinção, ele teve medo principalmente de perder a irmã e nunca mais a visse novamente.

    – DIGA QUE MORRI – Ele gritou, sem resposta novamente, para seu horror ele não tinha morrido, a cena mudou para uma grande área aberta cheia de pessoas morrendo ao seu redor, vivos e almas de mortos se misturavam entre si.

    – Não desista – Berrava Oto sem entender o porque de dizer aquelas palavras nem a quem dizia, ele nunca perdeu o controle nas raras vezes em que dormia e os sonhos eram controlados por ele, mas não eram visões embaçadas e sem sentido que ocorriam aos humanos, ali era real, cada sensação e ele por si só não controlava nada, só desejava estar com sua irmã, nada mais importava, mas ao invés dela aparecer ali surgiu ele.

    A presença desconhecida que atormentava seus sonhos, a figura de um garoto, a que ele de certa forma se incomodava em ver nas vezes que sonhava e por maiores que fossem seus poderes mentais não conseguia removê-la da cabeça. Com o passar do tempo ele aprendeu a conviver perto daquilo, tinha a mesma forma física que a dele, seu corpo era enevoado, portanto irreconhecível.

    Extremamentemagro e alto, mesmo com o rosto enevoado, Oto suspeitava de uma extrema força vinda desta outra entidade, nunca discernia uma só palavra, mas ele tinha certeza que esta presença misteriosa o observava, os olhos não eram vistos, mas Oto sabia que a figura olhava para ele porque ele podia sentir.

    A figura a sua frente era envolta por raios, Oto imaginava-o como um deus do trovão supremo acima dos outros deuses do trovão, para seu horror, o ser desconhecido fez o que nunca fizera, estendeu o dedo acusador para ele como se exigisse algo, não adiantava lutar ou fugir, ele desistiu, não sentia a irmã em lugar nenhum, ambos sempre foram conectados mentalmente, mas a presença dela não estava ali, por fim as luzes brilhantes iluminaram a escuridão, queimando seus olhos, milhões de pequenas luzes ofuscantes e coloridas estourando de  uma vez e então, o frio, o gelo, gélido penetrando sua pele retirando seus sentidos, seu sangue impedindo que fosse bombeado ao coração que parou levando embora suas emoções, todas elas e por fim sua alma, estava vazio, seco, oco sem nada, exceto por sua própria voz e o ser impassível diante dele, num mundo sem calor, um mundo sem o sol, um mundo sem vida, um mundo sem Ziza.

    – Ziza – Oto pensou – Minha irmã, se estiver ouvindo, me perdoe pelo que fiz, eu te amo, NÃO, EU..NÃO...MORRIIIIII – Curiosamente o ser em sua frente baixou sua mão e assentiu, erguendo as mãos para o céu e desvaneceu, foi como se um trilhão de bombas H explodisse em seu corpo, mais do que nunca, mais forte, mais do que jamais esteve seu poder retornou, cada célula de seu corpo acendeu de uma vez para nunca mais desaparecer afirmando uma coisa, Otórius não perseguia o poder, Otórius era puro poder, crescendo dentro de si absurdamente pedindo para sair, reunindo trovões e raios, atingindo tudo, abrangendo tudo, o escuro deu lugar as nuvens, a terra ocupou seus pés, um solo negro pelas nuvens escuras, não gostava de olhá-las certas vezes, mas estas faziam parte dele também, os mares ao redor desta terra respondiam ao seu poder  com fúria total.

    Sua psique normal, sem pesadelos, sem memórias sujas de humanos inúteis, faltava uma coisa, o sol, ele toleraria tudo, qualquer sofrimento, qualquer purgatório de tortura, qualquer ódio de qualquer um, mais a ausência de sua irmã não, isto não poderia ser tolerado, Oto ergueu a voz na escuridão e então o alívio mais reconfortante, vindo imediatamente através de arrepios pela nuca, a escuridão foi cedendo. Ah, o calor, a luz na forma de um sol gigantesco majestoso lhe banhando e ele sabia, tendo oscilações de surpresa, finalmente eles se encontraram, ela gritou em desespero.

    – Oto? OTO – E ele acordou gritando com o rugido dos trovões.

    Capítulo 1

    A madrugada de sexta-feira na grande São Paulo estava fria e úmida, uma tempestade surgindo de repente começou a castigar a cidade desde às duas horas da tarde causando enchentes que arrastavam árvores e casas trazendo nada além da destruição por onde passava, tudo isto provocado por Oto sem seu controle, mas bem longe de sua casa e sem seu conhecimento em uma rua escura e estreita na zona leste da cidade onde as luzes dos postes piscavam de forma estranha debaixo do toldo de um bar fechado um índio ofegava deitado com o rosto olhando para a chuva pesada na calçada, não era algo frequente um indígena dar o ar da graça na cidade de São Paulo.

    Era uma figura que usava um cocar de penas vermelhas, uma saia de folhas verdes junto com duas pulseiras de pé feitas de fibras de bananeiras, olhos negros como a noite, cabelos cumpridos selvagens tão escuros quantos os olhos e tendo um rosto sombrio e feroz seria um homem muito pouco atraente para qualquer atacante, esse homem era o deus Tupi Abaçai.

    Porém, a situação que ele se encontrava o distanciou muito do status de divindade, um corte profundo localizando em seu abdômen jorrava sangue como um poço recém-perfurado, haviam marcas profundas de garras em seu rosto, sua perna direita foi cortada jorrando mais sangue do que ele conseguia se curar e sua mão direita foi decepada, enquanto a chuva forte o levava para o esgoto próximo, Abaçai continuava se arrastando, tentando se levantar, mas a visão embaçada e a sensação de milhares de agulhas perfurando seu corpo obviamente não deixaram, sem contar as dores horríveis das feridas, a impossibilidade de se levantar, sozinho, sem aliados, impotente.

    O medo e desespero tomavam conta, junto às memórias de pessoas mortas, sofrendo e ele sentia cada pancada, cada sentimento ruim, a angústia, a sensação de impotência, o ódio, como se tudo isso se voltasse contra ele, vidinhas insignificantes que ele massacrou, humilhou, possuiu, destroçou tudo que elas vivenciaram de ruim ele sentiu, Abaçai o sentia todas as células até as moléculas de DNA sentiam a besta se aproximando, Abaçai podia ouvir a respiração do monstro e o sibilar de seu rosnado assustador.

    Mesmo nessa situação Abaçai tentou se levantar cuspindo sangue, ele fora um dos que escapou daquela dimensão milênios atrás, fora fácil, os outros deuses nunca se importaram com ele, nem os mortais inúteis, mas essa repulsa foi proveitosa, aqueles malditos se aproveitaram de seus poderes, se ele não tivesse sido tão ganancioso nada daquilo teria acontecido, Abaçai pensava até pouco tempo nestas lembranças como um passado distante e após ter se fortalecido com os sentimentos ruins, não só dos índios, mas dos descendentes brancos dos portugueses ele executaria sua conquista ao mundo inteiro.

    Sobrevoou muito a vontade o país onde sua dominação teria início como já fizera antes, entretanto seus desejos sofrem um impacto sem volta quando uma criatura emergiu escondida por entre as nuvens, rugia como um lobisomem e se assemelhava um pouco com um, exceto que lobisomens não possuíam tal poder, o monstro decepou sua perna com um movimento brusco de suas garras.

    Abaçai despencou dos céus, sendo tarde demais ao se virar e ver a criatura em cima dele enquanto caiam, agredindo-o, arrancando sua mão com uma mordida e judiando de seu corpo usando suas garras, quarenta metros acima do chão o monstro o liberou, apesar da altura Abaçai sofreu uma simples queda, uma força estranha suavizou seu pouso, mas seus ferimentos impediam um raciocínio mais criativo, ele sentiu medo daquela coisa, pensou em gritar por ajuda, apagou esse pensamento, deuses não imploravam ajuda, faziam os mortais insignificantes suplicarem por seu auxílio e não o contrário, de repente uma voz de menina lhe falou.

    É inútil se esforçar ainda mais, tu não consegues escapar dele, ninguém pode – Abaçai olhou pra trás, de todas as criaturas do mundo a perturbá-lo, de todos os seres vis tinha de ser uma menina, ela o observava de longe, a pele era pálida como neve com cabelos e olhos negros como piche usando um vestido do século dezenove batendo nos pés, combinando com a cor do cabelo, segurava um ursinho de pelúcia bege com um dos olhos desbotados, mas o que Abaçai mais prestou atenção foi o rosto dela, não havia expressão de ódio, medo, pavor, era simplesmente um rosto morto, estéreo de vida, a garotinha aparentava ter seis anos de idade foi na direção de Abaçai sem medo ou receio de ser alvejada, Abaçai entendeu a verdade, aquela criança sabia de sobre a sua identidade divina e mesmo assim avançava calmamente.

    Ele não descansará enquanto não destruir-te – Falou a menina com uma voz mais ronronante que um gatinho pequeno – Fizeste teu próprio destino e agora deverás ser extinto.

    Abaçai lhe deu um olhar banhado em fúria, mesmo sentido dores horríveis causadas pelos ferimentos em seu abdômen, não sabia como responder contra aquela afirmação, mas conhecia a origem daquele idioma muito bem para saber que sua situação não era boa.

    Só me faltava essa – Ele pensou, extremamente irritado, contudo, isso não o impediu de mostrar sua selvageria indígena – MALDITOS USURPADORES – Urrou Abaçai – VOCÊS OUSAM INVADIR MEUS DOMÍNIOS OUTRA VEZ COMO BARATAS ATRAIDAS PELO EXCREMENTO, ESSE É MEU TERRITÓRIO, MEUS SÚDITOS, SAIAM DAQUI.....

    Abaçai parou de falar, algo lhe chamou a atenção, ele olhou a mente da menina e o que viu não fez sentido algum, antigamente era possível ver os pensamentos de outros deuses, o que faziam seus objetivos, mas a mente daquela criança simplesmente era uma coisa sem lógica, não havia nada além um mundo cheio de espíritos flutuando num imenso buraco negro, sua mente não tinha mais nada, ao redor de onde estava pequenos tremores eram ouvidos, iam aumentando gradativamente.

    És um simplório ao me confundir com eles – Disse a menina estranha mudando seu idioma de grego para tupi – Ouvi tu se arrastando deploravelmente na calçada, deixaste-me aguardando os seis anos de minha iniciante jovem vida – A garotinha olhou para seu ursinho de pelúcia abandonando as palavras formais e apresentando um tom maroto.

    Estou sendo rude, Abaçai conheça meu amiguinho Neston, Neston, este é Abaçai, o pequeno índio, vai, diz um oi pra ele, Neston, mostra tua educação – Disse a menina balançando o braço do ursinho.

    Já passou da tua hora de ir ao outro lado – Falou a menina calmamente mudando o idioma de tupi para grego novamente – Seu tempo já passou desde que os humanos abandonaram tua crença – A ira sumiu do seu rosto dando lugar a curiosidade no rosto de Abaçai.

    – O que é você, ser desconhecido? Meu tempo está só começando, eu ainda est.....– Estou vivo – Disse a menina – Vivo sim, humano, tu estás......– Pare de me interromper, não sou humano – Cortou Abaçai – Eu sou......– Um deus – Interrompeu a garotinha mudando de tupi para brasileiro sem emoção – Não vejo diferença entre você e qualquer outra pessoa, seu sangue não me deixa mentir, estavas procurando ajuda de teus amigos deuses.

    – Sim – Disse Abaçai, embora odiasse admitir que precisasse de auxílio, mas ali se arrastando no asfalto lhe raspando o corpo, sem conseguir apoio para levantar-se, seus poderes destruídos, uma ajuda viria a calhar, mesmo que significasse sua humilhação, mas um deus não se rebaixaria perante uma garotinha tola.

    Eu sou um deus – Abaçai pensou – Não temo nada, os mortais me temem – Sua ira subindo novamente, algum poder havia lhe restado – Pare de mudar de idioma e não é da sua conta o que é eu.....– É de meu interesse quando tu estás em minha área – Disse a menina interrompendo Abaçai antes de algum som escapar de sua boca já aberta.

    Tenho raízes estrangeiras, é verdade, posso, no entanto proferir o idioma desejado, incluindo o teu, não sou igual a tu, pequeno índio – Abaçai teve a sensação de qual seria a resposta mas não queria ouvir.

    – O que quer de mim, demônio? – De tu não desejarei nada, tu me chamaste aqui e aqui me apresento – EU NÃO A CONVOQUEI – Abaçai berrou – JAMAIS A CONHECI, NÃO LHE CHAMEI ATÉ MIM PARA ME AJOELHAR PERANTE MIM – Em resposta a menina apontou para diversos pontos de seu corpo, Abaçai entendeu que ela apontava para suas feridas.

    Sim, chamaste-me – Garantiu – Tu me chamaste – Você prevê o futuro? – Só respondo tuas perguntas – Disse a menina educadamente – Aproveitas-te a oportunidade em conseguir poder e teus amigos deuses se perderam fora deste planeta, mas quanto a você, vim buscar-te – NÃO – Berrou Abaçai, horrorizado, não poderia ser verdade, impossível, aquela frase significava uma coisa.

    – Falácia, mentiras, profanações – Abaçai berrou – Deuses não morrem – No caso de sua espécie sim, morrem sim – Disse ela continuando com a voz mansa e sem emoção, seu rosto se tornou impassível, imóvel, não havia uma ruga sequer, um movimento no rosto, nada, ela não apresentava emoções.

    Todos eles foram derrotados e você foi o único fujão, escapou deles, mas não escapará de mim, pare de nos perseguir, pequeno índio – Disse ela, apertando seu ursinho.

    Aquilo era um ultraje, ele se encontrava gravemente ferido escutando uma inútil garota vomitando calúnias e mentiras sobre ele, tendo a audácia e petulância de chamá-lo de pequeno índio, uma humilhação total, maior que estar sangrando, ainda lhe restava um pouco de força.

    – EU PERSEGUINDO VOCÊS? – Rugiu Abaçai com as narinas infladas de raiva, quase rasgando a garganta – ISSO É ABUSO, SUA MENINA MORTAL, ESPERE ATÉ EU COLOCAR AS MÃOS EM VOCÊ, IREI TORTURÁ-LA PELA ETERNIDADE – DIZENDO ESSAS COISAS SEM SENTIDO SUA......... – Próximo a eles, o rosnado de um monstro surgiu ao longe, Abaçai guinchou de dor, se encolheu morto de medo.

    Ora – Disse a menina – Ele não me quer aqui – Ele quem? – Abaçai coaxou de novo, toda a sua valentia dissolveu-se em terror perante aquela coisa perto.

    A fera que te acertou no céu – Disse ela – Estava eu na gangorra de um parque próximo me balançando tranquilamente, mas desgraçadamente, como os seres humanos são irremediavelmente sujos, um bueiro perto do parque tapulhou-se de lixo, a chuva alagou todo o parquinho, é uma pena, mas é a vida, simplesmente segue até seu término, no seu caso já acabou a muito tempo, mas eu tenho de realizar minhas funções – A menina observou o efeito que o monstro causou a Abaçai, a garota continuou a falar, sua voz embora soasse calma, mais se assemelhava a um robô.

    – Se sabe o que aconteceria – Urrou Abaçai ainda demonstrando alguma coragem – Porque.....– Por que humanos amam as perguntas – disse a menina, com um último sopro de força Abaçai conseguiu levantar seu braço, não somente isso, ele estava de pé, seu pé estava no lugar, suas feridas haviam sumido, não se sentia com poder total, mas já era um começo, apontou a mão na direção da garotinha lançando uma rajada de fogo em sua direção.

    – CALE JÁ ESSA MALDITA BOCA SUA MALDITA INFERNAL ASSIM ORDENO – Gritou Abaçai enquanto as chamas encobriram a garota da cabeça aos pés – NÃO QUERO MAIS OUVIR SUAS BABOSEIRAS GAROTA MORTAL, VOCÊ FALANDO ESSAS IDIOTICES, DIZENDO QUE SOU HUMANO, É VOCÊ QUE ESTÁ QUEIMANDO, EU SOU UM DEUS, EU SOU ABAÇAI O QUE ATORMENTA E POSSUI AS ALMAS DAQUELES QUE DESEJO, QUE MORRAM TODOS, EU SOU A GUERRA E TRAGO A DESGRAÇA E MISÉRIA PARA FAZER DE PORCOS COMO VOCÊS MEROS HUMANOS REALIZAREM MEUS CAPRICHOS PARA ASSIM MORREREM NA TERRA ATÉ QUE SEUS OSSOS GERMINEM NA PRÓXIMA CHUVA EU SOU O DEUS DA PEST.......– Abaçai se calou de repente, lágrimas escorreram de seus olhos e cada gota que ia ao chão era uma humilhação terrível, caiu sentado sem alternativas.

    Impossível – Abaçai pensou, a garotinha abanou sua mão direita e as chamas sumiram, seu abano foi igual ao de uma garota que abanava uma flatulência, muito educadamente, contudo ela ainda está de pé e não se incomodou com as chamas, muito pelo contrário, ela encontrava-se intacta, até mesmo suas roupas não foram afetadas, Abaçai olhou incrédulo – O que é esta garota abominável?

    Não sou abominável Ela vê......Vejo seus pensamentos, tu não podes me matar, pequeno índio – Disse a garota solenemente sem vida – Por que já estou morta – A próxima frase da garotinha lhe foi pior que um milhão de mortes – Você já está morto – Mentira – Não podes mais ferir ninguém, asseguro-lhe, estas morto, o monstro já lhe pegou momentos atrás, olhe em volta – Ele não prestou atenção, a chuva parou, tudo ficou no mais absoluto silêncio, no lugar de pessoas havia uma massa infinita de espíritos flutuando de um lado ao outro.

    – O que é você? – Choramingou Abaçai furiosamente – Diga-me, demônio vestido de mulher – Abaçai não sabia mais o que fazer, sem ninguém para pedir auxilio ou socorro, ele fazia força com os dentes para não gritar, não queria parecer fraco, mas era inevitável, era o fim, ele sentia, milhares de anos de existência acabavam ali naquela rua deserta de vida.

    A humildade brota em você, veja só, ah, seres maravilhosamente extraordinários vocês são, mas se alto desprezam, chafurdam na arrogância, na busca pelo poder – A garotinha pegou o braço do ursinho e o apontou para Abaçai – Veja, Neston, ele só pensa em poder, até onde sei deuses são imortais – Lançando um olhando de desgosto para Abaçai.

    Perguntaste-me o que sou e responderei a vós – Não – Choramingou Abaçai, agora mais parecendo um menininho assustado – Sabe como é difícil para um deus como eu pensar em possibilidade de......morrer? Eu......– Deuses não morrem, pequeno índio – Disse a menina em resposta que fez Abaçai se calar.

    A menina fechou seus olhos por uns instantes, quando os abriu estavam totalmente negros, até as partes brancas dos olhos se tornaram escuras como um poço sem fundo, parecendo estar possuída, de repente, ela começa a brilhar, uma luz ofuscante e poderosa emanou de seu corpo e para mais horror de Abaçai, uma sensação de vazio completo tomou conta, quando a menina começou a falar uma segunda voz se juntou a sua, uma voz grossa e horripilante, de homem, então a garotinha com as duas vozes recitando em uníssono como um advogado do diabo:

    Eu sou a passagem para o mundo dos espíritos, eu sou os espíritos, eu controlo os seres vivos do universo, eu influencio as almas de todas as galáxias, eu sou a destruição da grande explosão, sou aquele que termina a vida, sem mim a existência não teria sentido, eu sou o término, eu sou o fim, eu sou o ponto final, eu sou a última voz, eu sou o último suspiro, eu sou o fim dos tempos, eu sou o apocalipse, eu sou o ragnarok, eu sou a destruição da matéria, eu sou o guardião da espiritualidade universal, eu sou os buracos negros do universo, eu sou o final de tudo, eu sou a passagem – E apontando o dedo para Abaçai ela exclamou.

    Eu sou a morte – Falou em tom definitivo – Requisito tua presença no além – Quando terminou de recitar essas palavras fantasmagóricas, seus olhos voltaram a ser normais olhos negros, seu corpo parou de brilhar e seu sorriso leve havia voltado.

    Hoje de manhã vi um casal de gêmeos que desconhece totalmente sua origem assim como outros mais, perdidos, desorientados – Ela apontou para Abaçai sem mostrar irritação, mas de certa forma o acusava – Por causa de seres como vocês, eles não sabem o que são nem o que representam, por causa de sua imundiçe – Apesar das palavras duras ela manteve o tom de voz sem alteração.

    Bem-vindo, humano, ao mundo dos espíritos, fico imensamente grata por amolecer este ameaçador, o outro mais antigo é pior de lidar – A garotinha ergueu a pequena mão, uma foice de cinco metros materializou, a lâmina negra sedenta por uma alma, num movimento rápido a foice golpeou Abaçai, suas feridas sumiram, seus membros decepados retornaram, ele levitou, majestoso novamente, mas ele não controlava sua levitação e continuou subindo e subindo, seu corpo se tornou fluido e translúcido, compreensão e medo atingiram Abaçai como uma paulada.

    – Estou, eu estou.......– Já vos disse, tu morreste – Disse a garotinha simplesmente – Sim, tu estás morto, aproveite, tua estadia será bem curta – disse ela apontando para ele.

    Retornai aos deuses pequeno índio – Disse a garotinha a Abaçai acenando para ele – αντίο – a menina se tornou uma nuvem de poeira e se foi, Abaçai foi puxado em direção ao céu gritando maldições inutilmente enquanto era puxado ao espaço cada vez mais rápido, o planeta terra não passava de uma bolinha azul minúscula, a lua, os planetas e o sol do nosso sistema solar se tornaram pequenos, nada além do espaço cideral cheio de estrelas e galáxias.

    De repente sua mão direita virou em um pó dourado e sumiu, depois um rachadura surgiu em sua coxa esquerda, antes que ele se desse conta rachaduras apareceram pelo seu corpo todo, era o fim, ele gritava em desespero desaparecendo no vazio escuro.

    A garotinha seguiu de volta ao parque com seu ursinho Neston, o sol começava a apontar no leste lançando seus raios graciosos na grande São Paulo enquanto as nuvens sumiu no horizonte, por causa da chuva intensa o parquinho ficou todo alagado, o que não foi problema para a garotinha que continuou em direção ao parquinho, enquanto caminhava a água acumulada se dissipou imediatamente assim como toda a sujeira que a enchente trouxe, a menina sentou-se no balanço encarando seu ursinho.

    Pobre Neston, o olho desbotou – disse a menina em voz baixa – A previsão do tempo mencionou um dia ensolarado hoje – Disse a menina em voz alta novamente inexpressiva apesar do volume mais alto na voz.

    Uma figura estava sentada em cima de uma nuvem, parecia um homem, lá no alto ainda podia ser visto de longe além de estar no fim do horizonte perto do sol, qualquer um que visse poderia achar que ele era um gigante querendo voar ou algo do tipo, então ele se levanta e faz o inacreditável, andando em pleno ar, o homem foi na direção da cidade de São Paulo, porém enquanto andava ao invés de aumentar de tamanho por causa da impressão por parecer um gigante de longe seu tamanho não se alterou, a imagem dessa pessoa ia cada vez ficando mais nítida enquanto ele se aproximava em direção ao parquinho olhando diretamente para a menina no balanço.

    Definitivamente era um índio, vestia uma camisa marrom, calças jeans básicas com um sapato simples, tinha um cabelo comprido e liso de cor negro, os olhos azuis tempestuosos com raios faiscando pelo corpo todo, seu rosto era suave, sem cicatrizes ou qualquer coisa do tipo, mas sua expressão era tão terrível e séria que mandava a mensagem clara, fuja senão você morre, mas a garotinha não esboçou expressão alguma, apenas o observou com seus olhos negros, apesar da aparência um tanto ameaçadora o índio foi educado, segurou as cordas do balanço onde ela sentava e empurrou bem devagar.

    Uma chuvinha nunca é demais e como você sabe não sou responsável por este temporal hoje – Disse o homem franzindo o cenho enquanto a menina ia para frente e para trás no balanço – Foi Israelita, está presa naquele lugar, está tentando alcançá-los, assim como o Cosmopolita, ambos presos tentando alcançar seus amigos, eles não tem tanto poder, mas são poderosos, eu admito, eles não os querem mortos, são ainda humanizados demais para isso, não querem vê-los separados, logos de saudades, eles os amam demais, tolos perdidos tentando ajudar outros tolos perdidos – Nesse momento o céu escureceu de repente, trovões anunciavam a chegada da chuva que caiu pesadamente, um raio atingiu uma árvore próxima ao parquinho, mas a menina continuou concertando o olho desbotado de Neston, a chuva não a molhava nem ao ursinho.

    Tenho acesso aos acontecimentos do passado, vi o que o rapaz separado da irmã pode fazer – Disse a menina calmamente – Na ocasião em especial a fera quebrou as memórias dele, seus feitos são notáveis, ele é mais poderoso do que você.

    Outro deus morto – Disse o índio indiferente ao comentário, ele não se importava quem era mais poderoso, já bastava representar o raio – Observei muito ansiosamente sua entrada triunfal, vocês jovens saem acelerados da fábrica Hum – Confirmou a menina também indiferente a isso – Me parece que o ameaçador será substituído em breve, está longe, preso também, coitado – A garota falou calmamente – Ele precisa de um descanso mais do que merecido, este outro é jovem, o primeiro mais antigo trabalhou intensamente nesses últimos milênios e está sem seu aliado, mas a influência do terceiro mais velho está vindo, mais velho, mais rancoroso, mais poderoso, mais perigoso – Disse a menina direcionando seu olhar para o homem grande.

    O mundo não é mais o mesmo de milênios atrás, a energia mística para a reconstrução dos deuses está mais forte aqui nestas terras tupiniquins, os outros virão para cá e se lembre, existem os outros antigos de outras eras e dimensões, desejam a supremacia no universo, se continuar assim os Aprimorados de sangue mais fraco irão se envolver, os mais fortes mesmo fora do planeta estão cada vez mais inquietos nas profundezas espaciais, há também os ocidentais ansiosos por sua antiga glória e os loucos daqui sedentos por sangue, poder, conquista e vingança os dois, logo, logo o ciclo inquebrável se reiniciará, este planeta se tornará pequeno ao poder que logo chegará – Disse o índio severamente com a voz baixa – Esses coitados acham que este país é a chave para sua salvação, irão ser destruídos um por um pela sua teimosia.

    Tudo no seu devido tempo – Disse a menina – A ascensão daqueles seres diabólicos manipulando as cordas começará logo, vamos apenas atender ao pedido dos seres supremos deste universo, a nova safra de crianças fará a iniciação Estes arrogantes loucos pelo poder se extinguirão em sua própria ambição desmedida, os antigos donos da terra retornarão senhora morte – Disse o índio no idioma original da menina – Enfim os mortos poderão descansar em paz, os novos iniciados renascerão para governarem o universo outra vez, senhor trovão – Disse a menina no idioma original do índio.

    Capítulo 2

    – Oto – O grito desesperado de sua irmã foi um alívio e a visão de sua aura dourada foi colírio a seus olhos.

    – Ziza – Oto gritou desesperado por sua irmã mais velha, agora podia senti-la sem conter o alívio, agora era real, o alívio desceu por sua cabeça, frio e bom, mas veio a dor, uma terrível pancada rachando sua cabeça, fortíssima e repentina, espirrou sangue pelo nariz e boca, foi uma sequela do sonho e no mesmo instante ele se curou um pouco, não havia tempo para suas feridas quaisquer que fossem, só queria ver a irmã, tocá-la, rodou os calcanhares para a porta do quarto indo ao seu encontro e se esbarrando com ela.

    – Zizi – Oto falou, espantado – Irmãozinho – Ela falou esbaforida, ofegante, concluindo que o tivesse perdido – O q-que foi q-.......– Eles se olharam por um tempo, ela tremia, bastante assustada, o cabelo bagunçado, seus lindos olhos brilhantes se moviam como se ela temesse algum perigo oculto terrível viesse, eles se abraçaram, Oto negava a veracidade do pesadelo, mas contra fatos não haviam argumentos, o pesadelo foi intenso o suficiente para abalar os dois e julgando o modo de como sua irmã estava ela sonhou a mesma coisa ou algo pior, começou a tatear o corpo dele desesperadamente.

    – Meu sol amado, tá ferido – Ziza gritou histericamente – Que qui houve? Fala pra mim, que qui aconteceu? – Foi um pesadelo para a moça vê-lo ainda se curando muito lentamente e o medo dela por ele, Oto nada podia fazer perante aquilo além de contemplar o medo e a tristeza da irmã.

    Sem esperar respostas a moça invocou sua poder, ao tocar nele sua força vital adentrou na cabeça do garoto, foram muitos danos causados por raios, Oto não se feria com raios, impossível, inconcebível, mas aconteceu, seu poder rapidamente acelerou o processo natural de cura que ele possuía, mas não demorou e logo ele já estava praticamente curado sem os sangramentos ou lesões cerebrais, pelo menos neste pesadelo ele não recordou de nada dos seus assombrosos tempos além dos resquícios desta época, Ziza se aliviou duas vezes, a mente dele continuava intacta.

    – Tá tudo inteiro em você? Me fala, tive um pesadelo horrível, te ouvi gritando........– Ela não terminou a frase, ambos estavam assustados demais para falar, aquela madrugada já ia pra lá de assustadora.

    Oto balbuciou alguma coisa, mas Ziza o apertou tão forte que Oto sentiu os seios dela se imprensarem nele e mesmo ela usando seu lindo vestido branco cheio de ursinhos decorado com uma gravatinha borboleta rosa não se excitou, ele acariciava seus cabelos, suas costas, ela não estava chorando, mas tremia procurando consolo apoiando a cabeça no ombro dele, Ziza olhou pra ele tateando nervosamente o corpo do irmão.

    – Tá tudo inteiro em você mesmo? – Aham – Inteirinho? – Sim – Ziza arfou, aliviada e muito pesadamente, não um suspiro de exaustão, criaturas como sua irmã e ele não se cansavam, não importava se tinham percorrido o mundo inteiro a pé.

    – Desculpa, irmãzinha, desculpa – Oto enfim suspirou, um sorriso miúdo, torto, adequado – Bom, vazo ruim num quebra, senta aqui comigo – Mas o sangue.......– Você preocupada é uma gracinha – Disse Oto carinhosamente enquanto os dois iam para cama dele sentar bem abraçados, agora sim, o calor sentido por ele e a eletricidade sentida por ela, ele olhou nos olhos dela agora mais calmo e raciocinando melhor.

    – Cê disse que me ouviu gritando foi? – Foi – Disse ela cabisbaixa – Antes disso eu tive um sonho doidaço sabe, Oto eu......mano, que qui houve aqui? Caralho......a ponte – Falou Ziza de olhos arregalados, por sua preocupação com o bem estar dela Oto não prestou atenção em seu feito, seu subconsciente desesperado forçou-lhe a invocar um raio poderosíssimo bem em cima de sua casa, ele só teve o tempo necessário para fazer o raio desviar e atingir a Ponte Octávio Frias de Oliveira, cartão postal famoso da cidade, matando centenas de pessoas num só ataque e deixando a ponte em frangalhos, ele não se arrependeu em ter matado pessoas, mas Ziza o perdoou porque ele não fez propositalmente, por mais que sentisse pena dos humanos ela preferia mil vezes mais Oto intacto, ele, no entanto sentiu desânimo neste caso por não o fazê-lo conscientemente, o número de vítimas mostradas no Brasil urgente no amanhecer traria outra pitada caótica às televisões Brasil a fora, ah, o caos, docemente atroz.

    – O sonho não me pega – Oto disse – Esses aí se fuderam – Meu quarto – Disse Ziza aos berros. Ela saiu correndo com Oto que saltou da cama e foi correndo atrás dela.

    – Pera aí, Zizi, espera – Ziza passou voando pelo corredor repleto de portas que acabava perto da escadaria, Ziza desceu o mais depressa que pôde com Oto nos seus calcanhares, seu quarto ficava por trás das escadas, quando ela chegou a porta do quarto nem precisou entrar pra ver o estrago.

    Ziza parou na porta e Oto veio quase escorregando na cerâmica esbarrando nas costas dela, a janela estada toda arrombada, uma mancha da cor de carvão começava na janela percorrendo a parede indo até o guarda-roupa encostando na cama, por onde a mancha percorreu estava tudo queimado, o reboco da parede ficou queimado, o guarda-roupa então ficou em pedaços.

    – Puta que pariu véio – Oto ofegou, horrorizado – Que porra foi essa aqui? – Oto notou que algumas partes da parede tinham pequenas chamas ainda acesas – Ziza, com o que você sonhô? Alguma coisa veio aqui e.......– Maninho – Interrompeu Ziza – O armário – Oto visualizou o armário destruído, no começo ele não vê nada de mais, mas depois reparando mais atentamente ele vê marcas estranhas como garras ainda fumegantes.

    Ele direcionou sua atenção para sua irmã que também o olha, o pijama dela estava com algumas partes queimadas também, ele ficou horrorizado, correu o olhar novamente para onde a mancha seguia.

    – Zizi – Disse Oto – Isso quase te pegô – Ele percebeu o olhar amedrontado dela, ele se sentia muito mal, ela não ficava assim desde a sua loucura tempos atrás, lágrimas começam a brotar de seus olhos, ela correu para os braços do irmão, os dois se abraçam novamente. A curiosidade de Oto aumentou, ele tinha que saber.

    – O que tu viu? – Perguntou Oto a irmã que ficou calada por uns segundos, estava reprimida e se esforçando para que ele não visse seja lá o que fosse – Já que......sabe.......os quarto dagente ta tudo detonadinho, que tal a gente ir no sofá? Lá te conto – Ziza agora mais calma, respirando fundo concordou, Ziza agiu por impulso e beijou o irmão na bochecha, o ato carinhoso elevou sua estima.

    – Então vem – Ela disse – Quero ficar com você – Os dois saíram do quarto de mãos dadas, se algo ocorresse, um perigo que fosse estariam juntos sobrevivendo ou morrendo, foram direto para o sofá que se situava bem no meio da sala bem grande, o móvel assemelhava-se a uma cama de verdade, mas tinha a cabeceira de um sofá, sendo largo o bastante para uma pessoa de três metros de altura dormir tranquilamente com as pernas esticadas em qualquer lado do sofá, onde ficavam os braços do móvel, haviam controles e abajur posicionados, ali residia o ninho dos dois irmãos, o lugar onde dormiam juntos. Oto foi se deitando e chamou sua irmã que não se demorou em aninhar-se nele, encostou-se à direita dele no encosto macio do sofá com seu pé se enrolando delicadamente em seu pé direito, deitando a cabeça em seu peito, Oto adorou, adorava protegê-la, confortá-la e em sua opinião mulher alguma merecia sua ternura, nenhuma, exceto sua irmã.

    – Vai, maninha – Disse Oto gentilmente – Desembucha aí vai, faz bem engolí isso não – Geralmente Ziza era a que sempre o consolava quando ele tinha algum problema, agora os papeis se inverteram.

    – Foi uma puta coisa ruinzona teu sonho – Oto disse – Vi umas coisa lokona sabe – Ziza se encolheu ainda mais no colo dele – Hum, não, não, conte primeiro, por favor – Oto suspirou, mas não como alguém cansado ou irritadiço, seus olhares se cruzaram, Ziza conseguia vencê-lo apenas com seu jeito doce de ser.

    – Sô doido de ir contra esse sorrisinho pidão? Hein? – Não, não é – Conto primeiro, mas depois cê diz sua versãozinha aí, fiquei doido de preocupação – Aham – Sussurrou Ziza concordando.

    Então ele começou a contar o sonho, Ziza o observava enquanto ele relatava o acontecimento olhando para o telhado, o olhar vazio, os deuses morrendo, o monstro terrível que matou Cupido, o grito choroso, a figura escurecida destruindo tudo responsável pela imagem de Ziza morta, (ela quase chorou ali, durante todos esses anos o subconsciente dele marcou essa memória para sempre), o ser enigmático de rosto obscurecido e a pessoa misteriosa que ele gritou para não desistir para ele, porém Oto não havia mencionado isso antes, Aílsaie, mas naturalmente que sua irmã a viu nos seus pensamentos e ambos debateriam esse assunto após relatarem seus pesadelos.

    – Quem é a guria? – Perguntou Ziza – Hummmm, é linda, não como eu, mas é linda – Eu sei lá – Respondeu ele – O sonho foi doidão – Hummmm, será que cê não sonhô mais umas partes picantes hein, moço? – De todas as maneiras, Ziza procurava formas de aliviar a tensão pelo ocorrido, Oto ficou agradecido pela irmã perguntar isso, qualquer coisa menos o pesadelo.

    Mano do céu, nada escapa dessa minha irmã bem queria eu.......– Nada de se enrrabichá nessa sirigaita – Eu sei......não foi, eu tava.......perdido, a piveta aí apareceu do nada – Falou Oto pensativo.

    – O que foi que tu viu nela hein? – Disse Ziza olhando-o bem preocupada. Oto não sabia bem como responder aquilo, mas tentou resumir o melhor possível.

    – Esse povo aí num são parecido com ninguém que eu vi até hoje não, nenhum humano, nem os como a gente são assim, sei lá, me arrepiô todo, esse abaitolado aí que aparece no meus sonho toda vez.

    – Maninho, meo, nós dois, tipo, a gente num é nenhum pingo humano, tendeu? Bom, um pedacinho pelo menos, tipo isso – Vendo a cara cética do irmão, Ziza emitiu um feixe de luz solar na mão, apontando o dedo para a luminária acima deles que se acendeu, iluminando toda a sala, Oto riu, seu adorado truque favorito, em sua infância Ziza criava muitas luzes minúsculas na forma de vagalumes, Oto tentava agarrá-las a todo custo sem êxito e ria com ela, ele apontou seu dedo para o nariz dela e lançou uma pequena fagulha de eletricidade, fazendo os cabelos dela se arrepiarem, algo que ela adorava.

    O sorriso dela se alargou mais, os dois riram, apesar do momento de loucuras estranhíssimas, rir parecia o melhor remédio para aliviar o estresse da situação e antes já ocorria pelo fato de finalmente conectarem suas auras novamente, com isso Ziza apagou a luminária e tudo voltou ao escuro confortável do sofá com Oto que ficou pensativo novamente.

    – Aílsaie – Murmurou Ziza – Caraca, nome doidão – Como foi que cê descobriu? – Disse Oto e Ziza respondeu sua dúvida – Hum, tô aqui mentalizando, é, isso é um anagrama de um nome próprio – Oto não havia pensado nisso, pensou no nome Aílsaie em sua mente, ele fez as combinações do nome alternando a posição das letras repetidas vezes, vários nomes vieram, Eílsaia, Líaeasi, Saelii, Aéliis, Oto estava considerando o último nome e não se importava, qualquer nome para ele descrevia muito bem a garota que ele viu, mas Ziza interveio.

    – Né esses não, Oto – Aéllis é irado – Esqueceu uma combinação seu cabeça dura – Mostra então – Pois veja – Ziza lhe mostrou de forma mental e lenta.

    O nome Aílsaie pairou na mente de Ziza e Oto via sua irmã modificá-lo, a letra E se tornou a primeira do nome, depois o L saltou para o segundo lugar, Elaísi, por enquanto o nome ainda não tinha uma consistência lógica, Ziza estava memorizando as letras devagar simplesmente para esfregar na cara de Oto que ele errou, Oto, no entanto não a interrompeu, quando sua irmã mentalmente deslocou a letra Í acentuada como a terceira letra da palavra, o S tornou-se a quarta letra e por último as letras I e A, de todos os nomes criados, Oto havia esquecido formular o mais fácil de todos, ele assobiou impressionado.

    – Elísia – Oto fez um ruído de aprovação – Quebra o galhinho, bem massa – Te falei num falei? Se liga, é esse o nome correto – Eu levo cê em conta na parada – Leva muito, há – Eu num me isqueci da combinação na porra do nome – Dã, esqueceu essa combinação seu cabeça oca – Alertou Ziza – É um nome lindo, Elísia, super perfeito – Como eu falava outro nome? – Aéllis – E como é? – Elísia – E como eu di-......... – Para, Oto, tu não é o Chaves – Oto riu – Que loucura, maninha, foda – Pois é, maninho – Pensa aí se essa mina existisse, ia ser mô lokura pra mim, qué dizê, pra gente – Ziza tomou-o nos braços observando sua expressão.

    Uma tristeza saia dela como veneno e após alguns minutos calada desapareceu, normalmente Ziza lhe daria um puxão de orelha quando seu irmão se interessava por outras garotas numa brincadeirinha, mas essa noite não, aquilo foi real, alguém tentou pegá-los, causar dor a ele, isso era intolerável para ela.

    – Loucura mesmo, maninho – Falou, fitando-o nos olhos contendo sua tristeza – Mas tô aliviada, porque cê ta bem, fiquei com tanto medo – Desculpa, foi.....uma bobêra, a gente vai dormir sempre junto – Sim – Sempre, nem que eu passe cola na gente – Sim – Ela sussurrou – Nada de separação – Agora é tua vez, conte tuas parada, é bom que isso alivia, já tô bem menos carregadão das parada ruim sabe – Ziza ficou em silêncio por um tempo, ela já estava mais calma agora por vê-lo inteiro, mas ele não, era mentira, Oto tentava esconder dela, seu corpo, expressões não demonstravam nada, mas sua aura eletrificada e pensamentos sim.

    – Fale – Disse ele – A madrugada é nossa, e também, sono é nada pra gente mesmo – Disse ele sorrindo, porém Ziza não correspondeu e o abraçou forte de olhos fechados, Oto podia sentir um profundo sofrimento vindo dela, mas Ziza decidiu confiar nele, em quem ela confiaria afinal para contar uma coisa dessas?

    Merda, o sonho dela foi pior que o meu tudo bem – Sussurrou Oto carinhosamente, somente com a irmã Oto não agia como pentelho – Se num prefere contá, beleza – Não, sem erro – Disse Ziza docemente – Ah, Oto, cê é tão carinhoso – Faço o que posso – Se eu num vomito isso agora, tipo, acho que explodo – Ela subiu mais pra perto do irmão encostado a cabeça no queixo dele.

    – O sonho foi tão ruim assim? – Sussurrou Oto se achando um bobo em perguntar, mas até as perguntas são bem-vindas num momento desses........– Hum-hum – Falou Ziza concordando, ela deu um leve suspiro que fez o coração de Oto disparar, enquanto conversavam, ele sentiu-se dormente, só prestava atenção na irmã depois de tudo o que houve, esse pesadelo foi aterrorizante para os dois, mesmo assim uma parte de seu corpo se mexia, no início ele não deu muita atenção pois sentia-se dormente, uma letargia fria atingiu seu corpo inteiro, mas agora uma pequena parte dele se movia, era seu membro enrijecido dela, ao passo que a vagina da garota se empapava aos poucos, era sinal de que estavam melhorando.

    Sua irmã passou a perna direita alcançando a perna esquerda dele levando sua mão direita até sua cabeça como se fosse puxá-lo mais pra perto de seu rosto, Oto achou aquela situação no mínimo difícil, mas decidiu se focar enquanto ela falava sobre o sonho, sua irmã obviamente não estava agindo por malícia, qualquer movimentação dela era apenas extintiva neste momento, o membro de Oto baixou enquanto ele ouvia a história da irmã, sentindo seu medo.

    – Terrível – Sussurrou Ziza – O engraçado é que o meu sonho é bem parecido com o teu, assim, só que o efeito desse foi bem mais potente – Por certo é por causa de tua visão – Isso – Mas num pode ser, mana, eu num vejo tão bem, mas cê tá ligada que eu sinto as parada melhor que você – Sim, mas assim, foi, algo, tipo, louco mesmo.

    – Se eu tivesse no teu lugar eu recebia os pesadelo ao invés de você – Oto disse com brandura, Ziza o beijou na bochecha com força e sorriu – Deixa eu ver pronde eu explico, primeiro veio uma luzona sabe, bem forte, essa luz me encandeou, aí depois tudo pegava fogo, o fogo subia muito alto no céu escurão.

    – Eu tava no sol – Disse Ziza falando um pouco mais entusiasmada – Eu fiquei dentro do sol, eu olhava tudo na terra, e de lá de cima eu vi uma mancha gigante perto da Grécia, do tamanho da Rússia inteira – Rússia? – Era – Tipo, da Rússia inteira? – Rússia, Rússia, eu num tive medo, só que essa macha era toda esquisitona, eu num sei o que diabo era, num sei se era uns tentáculo balançando, quando penso que não eu sou jogada do sol pra terra. Ziza olhou para Oto, ele a encontra com o olhar.

    – Despenquei do sol, cara, eu num consegui voar, fui caindo e caiiindooooo bem devagarzinho, eu fiquei igual uma rã sabe, foi um negócio assim, surreal, eu

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