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Novelas de Faroeste: Volume I
Novelas de Faroeste: Volume I
Novelas de Faroeste: Volume I
E-book645 páginas8 horas

Novelas de Faroeste: Volume I

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Sobre este e-book

No Velho e Selvagem Oeste, o saloon era o local mais movimentado e frequentado da cidade. Ali aconteciam shows, dança, jogo e muitas brigas. Ali se encontravam mocinhos e bandidos, pistoleiros e desafiantes, mulheres bonitas e perigosas. A maior parte das histórias de faroeste passava por ele. Dos ambientes mais simples e rudes aos mais sofisticados, todos, indistintamente acolhiam moradores e forasteiros, cada um com sua história, cada um com seu destino.Famosos pistoleiros criaram fama nesse local. Outros ali encontraram a morte, na boca esfumaçada de um Colt. A fumaça da pólvora negra era o manto lúgubre que cobria mais um morto. Um punhado de serragem era jogado sobre a poça de sangue. Uma rodada gratuita de uísque barato era servida e minutos depois ninguém mais se lembrava do ocorrido.Afinal, o Oeste era mesmo um lugar selvagem e as Novelas de Faroeste mostram isso.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de mar. de 2022
ISBN9781526052612
Novelas de Faroeste: Volume I

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    Novelas de Faroeste - L P Baçan

    NOVELAS DE FAROESTE

    Volume I

    L P Baçan

    Copyright © 2021 L P Baçan

    L P B Edições

    Todos os direitos reservados. Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido ou usado de qualquer outra forma nem divulgado sem a expressa autorização do autor, exceto o uso de partes para referência ou comentários.

    Denuncie as publicações piratas.

    Londrina, junho de 2021

    ÍNDICE

    O Velho e Selvagem Oeste

    As Armas de um Pistoleiro

    Coiotes da Fronteira

    Covil de Facínoras

    Justiça de Pistoleiros

    Justiça Pelas Armas

    O Herói Renegado

    L P Baçan

    Outros Livros do Autor

    saloon.jpg

    O Velho e Selvagem Oeste

    No Velho e Selvagem Oeste, o saloon era o local mais movimentado e frequentado da cidade. Ali aconteciam shows, dança, jogo e muitas brigas. Ali se encontravam mocinhos e bandidos, pistoleiros e desafiantes, mulheres bonitas e perigosas. A maior parte das histórias de faroeste passava por ele. Dos ambientes mais simples e rudes aos mais sofisticados, todos, indistintamente acolhiam moradores e forasteiros, cada um com sua história, cada um com seu destino.

    Famosos pistoleiros criaram fama nesse local. Outros ali encontraram a morte, na boca esfumaçada de um Colt. A fumaça da pólvora negra era o manto lúgubre que cobria mais um morto. Um punhado de serragem era jogado sobre a poça de sangue. Uma rodada gratuita de uísque barato era servida e minutos depois ninguém mais se lembrava do ocorrido.

    Afinal, o Oeste era mesmo um lugar selvagem e as Novelas de Faroeste mostram isso.

    As Armas de um Pistoleiro

    001.jpg

    Frank Spade já começava a se sentir incomodado, após alguns dias de permanência em Frisco, aguardando noticias.

    Steve Grant devia-lhe uma informação preciosa, talvez a mais importante de toda a vida de Frank.

    Aquele distintivo especial, de agente da Pinkerton, havia pesado tempo demais em seu peito. Precisava saber da solução de seu processo de anistia.

    Tão logo fosse considerado um homem livre, partiria para o sul. Um lugar especial o esperava no Texas. Lá planejava se estabelecer e esquecer para sempre aquela vida de pistoleiro a serviço da lei.

    Penduraria suas famosas armas e tentaria se tornar um homem comum, com desejos e aspirações comuns, numa comunidade pacata, sem atropelos, mortes, perseguições e toda sorte de atribulações de um homem da lei, especializado em caçar bandidos.

    Sua espera era amenizada pela bela e fogosa corista do Saloon Aces, que agora repousava, seminua, ao seu lado, na cama do hotel.

    A cabeça perfumada, de longos e ondulados cabelos, pesava gostosamente no seu peito másculo, de músculos definidos e fortes.

    — Posso sentir sua impaciência, querido — ronronou ela, erguendo a cabeça.

    Frank aproveitou para girar o corpo, apanhar um cigarro e acendê-lo. A garota beijou-lhe o peito, depois sentou-se na cama. Começou a se vestir preguiçosamente.

    Frank continuou deitado, o trono nu coberto de pelos reluzindo algumas gotas de suor.

    — Não suporto ficar muito tempo no mesmo lugar — respondeu ele, acomodando melhor a cabeça para olhá-la.

    — Quando pretende partir?

    — Assim que receba a informação que estou aguardando.

    — Estou sedenta. E você?

    Frank olhou para a janela. O sol se refletia nas ondas da baía.

    Sorriu preguiçosamente para a garota, que estava terminando de se vestir.

    — Por que não vai até o bar e apanha uma garrafa pata nós? — propôs ele.

    — Oh, não! Está muito abafado aqui. Quero algo gelado — pediu ela, fazendo beicinho.

    Frank esmagou o cigarro no cinzeiro, depois espreguiçou-se ruidosamente.

    — Vamos, querido, eu o ajudo — disse ela, apanhando o cinturão dele.

    — Está bem, você me convenceu — concordou ele, finalmente, levantando-se.

    Vestiu-se preguiçosamente. A garota passou-lhe o cinturão. Frank o prendeu à cintura. Verificou as armas. Depois vestiu o paletó elegante, ajeitou o chapéu e saíram. Enquanto caminhavam pelo corredor, Frank podia ouvir as vozes exaltadas no saloon. Quando chegaram no final do corredor, no topo da escadaria que conduzia ao amplo salão, no entanto, um silencio mortal pairou no ar.

    Conhecia aquela reação e, instintivamente, desabotoou o paletó e empurrou-o para trás, liberando o cabo do Colt.

    Desceu a escada com os olhos cinzentos atentos aos movimentos dos presentes.

    Um grupo de homens junto ao balcão o olhava ostensivamente. Um deles dobrou vagarosamente um pedaço de papel, pondo-o no bolso do colete.

    O clima pesado que pairava no ar mantinha os instintos do pistoleiro em alerta.

    — Um uísque e duas cervejas geladas — ordenou ele, cuidando para que a garota ficasse a sua esquerda, mantendo livre sua mão direita.

    O barman atendeu-os rapidamente, afastando-se para um canto mais seguro do balcão.

    O homem que Frank vira dobrando o papel aproximou-se passo a passo, medindo-o dos pés à cabeça.

    Frank encarou-o, intrigado. O outro parou junto dele, olhando fixamente.

    O pistoleiro conhecia aquele tipo de olhar. Significava provocação e encrenca.

    — O que posso fazer por você? — indagou, entornando o copo de uísque de uma só vez.

    Apanhou, em seguida, a cerveja e bebeu um generoso gole, sempre mantendo os olhos no homem ao seu lado.

    — É Frank Spade? — indagou o outro.

    — Quem quer saber? — retrucou, terminando a cerveja e fazendo um gesto para o barman lhe servir outra.

    O homem ao lado dele sorriu provocadoramente, depois se voltou para dois outros atrás dele. Os homens estavam imóveis e portavam espingardas de cano curto.

    — Vejo que ainda conserva sua famosa dupla de Colts? — observou o outro, apontando para o cinturão do pistoleiro a serviço da lei.

    — O que quer, afinal? — insistiu Frank, aborrecido com aquela atitude.

    Percebeu que o barman fazia sinais para a garota se afastar do balcão. Ele entendeu o que se estava para acontecer e recuou vagarosamente.

    Os dois homens atrás daquele que interrogava Frank se afastaram para o lado. Suas espingardas apontavam para os joelhos do pistoleiro.

    Frank conhecia aquele tipo de arma. Sabia do estrago que poderiam causar.

    — Há um monte de gente em Abilene querendo sua pele, sabia? — comentou o homem ao lado de Frank.

    — Não tenho mais contas a ajustar com a lei. Já cumpri minha parte no acordo. Sou um homem livre agora. Trabalho para a lei — disse ele, retirando cautelosamente o distintivo do bolso interno de seu paletó.

    O homem inclinou-se para olhá-lo. Um sorriso cínico desenhou-se em seus lábios.

    — Deve ter matado alguém para roubá-lo — comentou, provocando risos nos homens que portavam as espingardas.

    Frank sentiu seus músculos tensos, seus sentidos aguçados ao máximo.

    Seu corpo retesou-se como o de uma fera prestes a dar o bote. Seus olhos cinzentos cintilaram. Ele analisou rapidamente sua situação.

    Já estivera em encrencas piores. E já tivera mais paciência, também.

    — Escute, seu idiota — rugiu. — Sei o que está pretendendo fazer. Muitos já tentaram antes de você e se arrependera...

    — Ouviram isso, rapazes? — indagou aos demais. — O nosso homem aqui é valente.

    Todos riram no saloon. A mão de Frank desceu na direção da coronha do Colt direito.

    — É melhor ficar quietinho, Frank Spade. Você vale muito mais vivo do que morto, mas não hesitarei em matá-lo, se não se comportar. Não se mexa. Mantenha suas armas nos coldres e tudo ficará bem. Solte seu cinturão. Quero ver de perto essas armas. Aposto que conseguiu esses serrilhados nas coronhas matando galinhas por aí — zombou o desconhecido.

    Frank respirou fundo, apoiando-se no balcão. Ficou imóvel, aguardando o próximo movimento de seu oponente.

    — Não vão colaborar, não é? Não tem importância. Eu mesmo tiro suas armas — disse o outro, dando um passo à frente.

    Apoiado ao balcão, Frank jogou as pernas para o alto. O salto de uma das botas atingiu o nariz do seu adversário, fazendo o sangue jorrar generosamente.

    As espingardas de cano curto soaram ao mesmo tempo, abrindo um rombo no balcão.

    Frank girou o corpo em pleno ar, caindo em pé, diante dos dois, que tentavam remuniciar suas espingardas.

    Os Colts deixaram o abrigo de seus coldres e cuspiram chumbo e morte. Cada um disparou duas vezes, certeiramente.

    Atingidos na testa e no meio do peito, os dois homens deixaram cair as espingardas e tombaram para trás, os olhos esbugalhados refletindo a surpresa.

    O pistoleiro se voltou, então, para o outro provocador, que ajoelhado no assoalho, tentava estancar com as mãos o sangue que escorria de seu nariz estraçalhado.

    — Tem as respostas para as minhas perguntas agora? — indagou-lhe Frank, agarrando-o pelo colarinho e jogando-o contra o balcão.

    — Clemência! — gemeu o homem, perdendo toda sua pose e sua arrogância.

    — O que queriam comigo? — indagou Frank, erguendo-o e apoiando-o no balcão.

    — O cartaz... Ganhamos num jogo de pôquer de um caçador... Ele disse que nós o encontraríamos aqui...

    Frank retirou o papel dobrado do bolso do colete do homem que sangrava.

    Começou a desdobrá-lo, aparentemente distraído. Um sorriso de triunfo surgiu no rosto coberto de sangue de seu desafiador.

    Sem olhar para ele, Frank sacou uma das armas e disparou certeiramente, metendo uma bala no centro da testa do homem que estrebuchou, apoiando no balcão.

    À medida que a vida se esvaía de seu corpo, ele foi deslizando para o assoalho, onde ficou imóvel.

    Frank ia terminar de desdobrar o cartaz, quando a porta do saloon se abriu e o xerife, juntamente com dois ajudantes, surgiram, de armas engatilhadas em punho.

    — Fique aí mesmo, homem — ordenou o xerife.

    — Está tudo certo, xerife. Sou agente da lei e estes homens me provocaram. Foi legítima defesa...

    — Ele não é homem da lei coisa nenhuma — disse o barman. — É um foragido da justiça. Está naquele cartaz...

    — É verdade o que ele está dizendo? — insistiu o xerife.

    — Já fui um homem procurado, xerife, mas paguei minha divida servindo à justiça. Sou um agente da Pinkerton, fui anistiado pelo governador e pelo próprio presidente, em Washington.

    O xerife sondou-o desconfiadamente. Baixou os olhos para os Colts que Frank trazia à cintura. As coronhas eram de madrepérola, com serrilhados marcando suas vitimas.

    — Essas não são armas de um homem da lei. Costuma marcá-las sempre que mata alguém?

    — Há muito parei de fazer isso, xerife. Agora, se me deixar provar, posso mostrar-lhe minhas credenciais...

    — Mesmo que seja um homem da lei, acabou de matar aquele ali a sangue-frio, xerife — disse o barman, apontando o homem ao pé ao balcão.

    O xerife se aproximou lentamente. Frank suspirou resignadamente. Aquela era a historia de sua vida.

    — Deixe-me ver esse cartaz aí — pediu o xerife.

    Frank passou-lhe o cartaz, após desdobrá-lo. Depois retirou suas credenciais e estendeu-as para o xerife.

    — Há junto um documento de anistia provisória, xerife. O bastante para me livrar de aborrecimentos como este — explicou, pacientemente.

    — Pode ser — ponderou o xerife. — Mas o barman o acusa de matar um homem a sangue-frio.

    — Esse homem é um idiota completo, xerife, que não consegue enxergar um palmo adiante do nariz — disse Frank, com rispidez.

    — É verdade, xerife, eu vi — insistiu o barman. — Todos viram. Ele não deu a menor chance ao outro.

    — Vá até o defunto e olhe em sua mão direita, xerife — disse Frank, com tranqüilidade.

    O xerife fez o que Frank lhe pedira. Levantou o braço direito do morto. Da maga do casaco escorregou uma afiada faca.

    Frank olhou na direção do barman, que empalideceu e recuou, assustado.

    — Tudo explicado agora, xerife?

    — Está tudo certo... Só que não gosto de encrencas em minha cidade e um homem como você é encrenca pura, Frank Spade.

    — E o que se há de fazer, xerife? — indagou-lhe Frank, olhando-o resignadamente.

    Os olhos do xerife se fixaram nos olhos cinzas do pistoleiro. Por trás daquele brilho mortal havia um homem solitário.

    — Limpem esta bagunça — ordenou o xerife aos seus ajudantes. — Vejam se eles tem algum valor consigo. Confisquem tudo para as despesas do funeral.

    Um empregado do saloon surgiu com um balde de água e uma vassoura.

    — Quanto lhe devo? — perguntou Frank ao barman.

    — Dez dólares — respondeu o outro, secamente.

    — Dez dólares por estas bebidas? — surpreendeu-se o pistoleiro.

    — Um dólar pela bebida e o resto pelos estragos — cobrou-o o barman, aborrecido por ter sido contrariado ao perceber que acusara Frank injustamente.

    — Cobre o prejuízo deles — disse Frank, jogando uma moeda sobre o balcão.

    — Não é o bastante — insistiu o barman.

    Frank respirou fundo e debruçou-se sobre o balcão, olhando a prateleira de garrafas diante de si.

    — Quanto custa aquela garrafa de bourbon? — indagou.

    — Cinco dólares!

    — Dê-me — ordenou, retirando um bolo de notas do bolso do paletó e separando algumas.

    O barman depositou a garrafa diante dele.

    — Cinco dólares pela garrafa, um pela bebida, nove pelos estragos e mais cinco para os curativos — disse Frank, enquanto depositava as notas sobre o balcão.

    — Curativo, que curativo? — indagou o barman, com a cara de tolo.

    — Estes! — respondeu Frank, estendendo o braço e agarrando-o pelo pescoço.

    Como se fosse um boneco de trapos, Frank o trouxe por cima do balcão até diante de si. O homem tremia como uma vara verde.

    — Piedade! — suplicou, perdendo toda a pose.

    — Eu teria, se não fosse tarde demais para isso — murmurou Frank, entredentes.

    Seus olhos cinzentos cintilaram. Seu rosto se manteve impassível, como que talhado na pedra mais fria e dura do deserto.

    Seu punho abateu-se pesadamente na boca do barman, que foi jogado para trás, contra o balcão.

    Ele tossiu, engasgando, antes de cuspir alguns pedaços de dente e sangue.

    — Lembre-se disso da próxima vez que provocar um homem — intimou-o Frank, dando-lhe as costas e rumando para a porta.

    A corista correu pendurar-se no braço dele.

    — Onde vai? — indagou ela.

    — Ao posto do telégrafo.

    — Posso esperá-lo?

    — Depende das noticias que receber — respondeu ele, desvencilhando-se dela e saindo para a rua.

    Foi até o posto telegráfico. Assim que entrou, o encarregado levantou-se com um papel na mão.

    — Acabou de chegar — disse, passando-o ao pistoleiro.

    Frank leu com interesse o conteúdo, apesar de seu rosto demonstrar um certo descontentamento.

    — Carson City — murmurou em voz alta. — Aquele bastardo me espera em Carson City — repetiu, guardando o telegrama.

    Foi até o hotel e arrumou sua bagagem.

    — Precisa mesmo partir? — indagou a garota.

    — Sim, preciso — respondeu ele, como se não mais a conhecesse.

    Algum tempo depois deixava o hotel. Seu cavalo, selado, alimentado e escovado o esperava na frente. Um garoto sorridente segurava as rédeas.

    Frank prendeu o alforje com as roupas na garupa da sela. Sorriu para o garoto, atirando-lhe uma moeda.

    Quando montou, levantou os olhos para as janelas do hotel. Atrás de uma das vidraças, a corista lutava para disfarçar as lágrimas.

    Frank esporeou seu cavalo e galopou pela rua principal.

    002.jpg

    Em alguma parte do sul de Carson City, ao pé das montanhas, reinava uma grande agitação num acampamento mineiro, oculto entre as rochas, num pequeno vale.

    Homens armados patrulhavam ostensivamente o local. Vigias atentos mantinham-se em alerta, enquanto cavaleiros iam e vinham a galope.

    Alguns tiros soaram ao longe. Algum tempo depois, um bando a cavalo retornou ao acampamento, parando diante da construção principal, abrigada junto à encosta rochosa.

    Um homem envergando um sobretudo do exercito confederado surgiu à porta.

    Era algo de impressionante aquela figura alta e magra, de espessas barbas brancas e olhar sem brilho.

    Trazia um chicote curto na mão direita e brincava com ele, girando-o entre os dedos.

    — Encontraram aquele maldito amarelo? — indagou, a voz soando grave e forte.

    — Sim, chefe, nós o pegamos e lhe demos uma lição definitiva — disse o homem que parecia comandar os outros, enquanto desmontava de seu cavalo suado.

    — O que fizeram com ele?

    — Está morto, chefe. Nós o teríamos trazido para servir de exemplo, mas ele despencou numa ravina e não nos demos ao incomodo de resgatar o que sobrou de sua maldita pele.

    — Está certo. Não podia ser de outra forma. Servirá de lição aos outros.

    — Pode deixar que faremos com que todos saibam o seu destino e o daqueles que tentam fugir do acampamento.

    — Faça-os trabalhar dobrado agora. Estamos chegando perto daquele veio. Sei que ele está lá, esperando por mim. Precisamos de mais gente...

    — E de mais suprimentos.

    — Vá a Carson City. Fale também com o xerife. Veja se ele conseguiu mais trabalhadores para nós.

    — Certamente, chefe.

    — E traga a dinamite também. Ela vai ajudar a apressar as coisas — recomendou o velho.

    Os homens se dispersaram. Ele ficou ali, olhando orgulhosamente ao seu redor, respirando fundo o ar quente daquela tarde seca.

    Gritos imperativos ecoavam, vindo da mina. Ele caminhou até uma encosta, descendo por uma trilha escavada na rocha solida, até o local de onde vinha todo aquele movimento.

    A entrada da mina parecia uma boca escancarada na montanha, engolindo os homens que entravam por ela, empurrando vagões.

    Chicotes estalavam. Gemidos e gritos de dor se misturavam às ordens ríspidas. O velho se sentia em casa.

    Passou por entre homens molambentos, com as costas cortadas por chicotadas impiedosas.

    Havia muitos chineses entre eles, alguns negros e homens brancos também, todos exibindo em seus corpos as marcas da crueldade e do sol inclemente.

    — Piedade! — gemeu um deles, correndo atirar-se nos pés no velho.

    Um dos guardas se adiantou, brandindo o chicote. O velho fez um gesto, detendo-o.

    — O que há, meu bom homem? — indagou ao farrapo humano caído a seus pés.

    Sua voz soava com uma falsa brandura.

    — Por favor, senhor... Estamos morrendo...

    O velho se abaixou, até que seus olhos pudessem encarar o outro de frente.

    Segurou-o pela garganta, com uma das mãos, e apertou com força.

    A mão inclemente continuou apertando. Os olhos do preso se injetaram, tintos de sangue. Sua língua se estendeu, azulando-se. O velho empurrou o corpo frágil para trás, na poeira.

    — Nunca mais me toque — vociferou, num fio de voz indignado. — Nunca mais me toque porque vou arrancar seus dedos e enfiá-lo goela adentro. Vá trabalhar, miserável vagabundo. Vá trabalhar ou mandarei matá-lo de pancadas — prometeu o velho, erguendo-se, aprumando-se e caminhando na direção das estrelas, onde minério era triturado e lavado.

    Olhos atentos examinavam o cascalho que descia, carregado pela força da água, sobre estrados inclinados de madeira e tela.

    — E então, Mark, estamos chegando perto do veio? — indagou a um jovem de boa aparência, que fiscalizava todo o trabalho.

    — Tenho absoluta certeza que sim, papai. Estudei muito estas rochas. Não há mais dúvida. É o veio mais rico de todo o oeste e vamos atingi-lo em breve.

    — Que acha de usarmos a dinamite?

    — É cedo para pensar nisto, pai. Veja isto. Estamos próximos demais para ter pressa — disse o rapaz, fechando a mão sobre um largo recipiente.

    Aproximou-se do velho. Estendeu a mão fechada e, lentamente, foi abrindo os dedos.

    Enormes pepitas de ouro surgiram, fazendo com que os olhos do velhos se arregalassem.

    — Eu sabia... Eu sempre soube... Teremos tudo de volta, meu filho. Tudo. Eles voltarão a sentir a força desta mão — disse o velho, fechando com força o punho e erguendo-o contra o sol.

    — Vamos precisar de mais gente, pai — disse Mark.

    — Você terá todos os homens que precisar — prometeu o velho, apanhando as pepitas de ouro da mão do filho.

    Retornou à casa principal do acampamento. Sua sombra alongada espalhava respeito e temor. O velho general sulista tinha um coração duro como as pedras que o rodeavam.

    A sorte lhe havia sido adversa. A guerra tirara-lhe tudo que tinha no sul. A fazenda fora confiscada para cobrir os impostos. Seus outros filhos estavam mortos. Sua filha morrera. Só sobrava ele, Mark, o filho mais novo, que estudava no Norte, quando a guerra explodira.

    De volta ao seu quartel general, o velho John Scottsfield olhou a garrafa de uísque aberta sobre a escrivaninha. Era seu consolo. Era o que embrutecia seu coração e o mantinha firme e decidido na busca daquele veio de ouro, o filão mais rico do oeste, aquele que resgataria de novo a velha tradição do nome Scottsfield, outrora poderoso.

    Abriu a garrafa.

    — Brindo a você, montanha maldita, que vai parir de suas entranhas o veio mais rico de todo o oeste — disse ele, mordendo a rolha e cuspindo-a para longe.

    Bebeu vorazmente. O uísque tinha um sabor adocicado de sangue e John Scottsfield adorava isso.

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    Frank não gostou da maneira como aquele homem o olhava, no interior do melhor saloon de Carson City.

    Estava na cidade havia uma semana e não conseguira falar com o maldito Steve Grant, seu superior para os trabalhos sujos e legais que fazia para a Agencia Pinkerton de Detetives.

    — Outra cerveja — pediu ele, ao barman, mantendo sob vigília, através do amplo espelho a sua frente, o homem que o encarava ostensivamente.

    Conhecia aquele tipo de olhar. Conhecia aquela tensão que se estampava nos rosto daqueles que o identificavam.

    Carregava consigo a maldição de um erro da juventude. Tivera sua cabeça a prêmio. Cartazes haviam sido espalhados pelo Oeste em todas as direções.

    Alguns sabiam de sua anistia. Outros não. Aquele homem no fundo do saloon parecia estar longe da civilização por um longo tempo. Tempo demais.

    Frank apanhou a cerveja, tomou um gole e depositou o copo no balcão. Desabotoou o paletó. Jogou as abas para trás, descobrindo as coronhas serrilhadas de seus Colts.

    Virou-se. Apanhou o copo de cerveja com a mão esquerda e caminhou na direção do homem no fundo do saloon.

    Parou diante dele. Tomou um gole. Seus olhos cinzentos se fixaram nos olhos escuros e repuxados do homem sentado diante dele. Pelos traços, parecia um mestiço índio. Sangue ruim, o pior deles. Seguramente um caçador de recompensas.

    — Sou Frank Spade e estou anistiado. Se você carrega um daqueles malditos cartazes, está perdendo seu tempo.

    — Quem perguntou? — retrucou o outro, a voz soando daquela forma que Frank tão bem conhecia.

    Sentiu vontade de dizer ao outro que ele falava como um homem morto, mas desistiu. Retornou ao balcão, mas manteve seus olhos fixos no espelho, observando seu oponente.

    Viu quando ele se levantou, empunhando um rifle de caçar búfalos.

    Sem se voltar para seu oponente, Frank tomou um gole de cerveja e disse:

    — Quer tentar a sorte?

    O caçador de recompensa pareceu analisar a situação. Viu o espelho. Percebeu que Frank o vigiava.

    Pesou suas possibilidades. O rifle estava engatilhado, mas o cano estava abaixado. Bastava erguê-lo e disparar. Se a bala atingisse Frank, sua espinha seria partida ao meio como um graveto pelo projétil calibre cinqüenta.

    — Tenho um papel que diz que sua pele vale mil dólares — disse o mestiço.

    — Tenho outro que diz que sou um homem livre — respondeu Frank, sem se voltar.

    — Papéis se sepulturas não discriminam. Aceitam o que você puser neles.

    Frank terminou a cerveja. Depositou o copo numa mesa a seu lado. Virou-se para seu oponente.

    O mestiço era frio. Frank já vira aquele tipo de olhar antes. Ficavam muito bem em cadáveres.

    O ambiente do saloon se modificou. As pessoas se afastaram da linha de tiro dos dois contendores.

    Um silencio de morte pairou no ambiente. Ninguém respirava. Frank sabia que teria que matar aquele idiota a sua frente. Por isso amaldiçoou Steve Grant.

    Estava ali havia uma semana e não conseguira falar com o bastardo.

    Não gostava de ficar tempo no mesmo lugar. Dava-lhe nos nervos. tirava-lhe a paciência. Punha comichão em seus dedos.

    E se não bastasse tudo isso, sempre havia um idiota com um maldito cartaz no bolso, querendo ganhar mil dólares que jamais seriam pagos.

    — Eu lhe dou uma chance — disse Frank, de olho no rifle calibre cinqüenta.

    Sabia o estrago que uma arma daquelas podia fazer. Mas era uma arma pesada. Jamais dispararia com a rapidez de seus Colts.

    Qualquer homem inteligente, que conhecesse a fama de Frank, analisaria isso. Pesaria isso. Mas não se arriscaria. Aquele rifle era a única opção do caçador de recompensa. Tinha de ser um único e certeiro tiro, de uma arma mortal e devastadora.

    Só que Frank confiava mais em seus Colts.

    Tudo parecia ser uma repetição de cenas anteriores. Olhando nos olhos do mestiço, Frank antecipava todos os acontecimentos. Sabia que o rosto do outro ficaria tenso. Um tique nervoso qualquer demonstraria o momento do disparo.

    — Não desperdice sua chance. Pode ser a última de sua vida — insistiu Frank.

    Suas palavras calaram fundo no mestiço. Frank percebeu a vacilação. O mestiço tinha medo.

    — Que diabos está acontecendo aqui — indagou um dos homens que entrava acompanhado de meia dúzia de outros.

    Todos pararam, observando a cena. De um lado, no meio do saloon, Frank mantinha as mãos relaxadas, mas ao nível de suas pistolas mortíferas.

    De outro lado, o mestiço apertava a coronha do rifle, pesando suas possibilidades.

    O olhar cinza e frio de Frank venceu.

    — Não terminamos ainda — disse o mestiço.

    — A qualquer momento, em qualquer lugar, a qualquer hora — respondeu Frank, virando-lhe as costas e caminhando na direção do balcão.

    O mestiço ergueu o rifle. Frank viu o movimento no espelho. Moveu o corpo para o lado.

    A bala passou zumbindo ao lado ao lado de seu corpo e foi espatifar o espelho. O mestiço soltou o rifle e levou a mão à cintura.

    — Você está morto — disse Frank, sacando com a esquerda e disparando.

    A bala atingiu o centro do pescoço do mestiço, que ficou indeciso entre sacar o Colt e estancar o sangue que esguichava de sua garganta.

    Frank viu seu oponente olhá-lo com surpresa, refletindo nos olhos embaçados a perplexidade daqueles que sabem que vão morrer.

    Ele já tinha visto aquele olhar antes.

    Muitas vezes.

    Amaldiçoou Steve Grant por ter de passar por tudo aquilo de novo.

    Um dos homens que havia chegado com o grupo que os interrompera se adiantou, encarando Frank.

    — Você é rápido com os Colts.

    Ninguém se movia no saloon.

    — Não conheço outra forma de usá-lo — disse Frank.

    — Procura trabalho?

    — Não, estou de passagem.

    — É uma pena. Um homem como você poderia ser útil.

    — Útil, com certeza, mas caro demais para vocês — disse Frank, irritado, deixando o saloon.

    O grupo de homens se aproximou do balcão. O chefe deles indagou ao barman:

    — Quem é a boneca sensível, afinal?

    — Frank... Frank Spade, o assassino de Joshua Tree!

    Os homens se entreolharam.

    — Ele? — indagou surpreso, o chefe.

    — Ele — confirmou o barman, olhando nos olhos nublados pela morte do mestiço, que rouquejava, expelindo o resto de sangue que sobrava em seu corpo.

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    Frank estava deitado no catre da cela, sentindo o suor escorrer pelo seu corpo, molhando suas roupas. O xerife não lhe dera trégua. Prendera-o na saída do saloon e não o soltaria até que estivesse satisfeito com as investigações.

    O pistoleiro não cessava de amaldiçoar Steve Grant por fazê-lo esperar.

    Detestava ficar muito tempo em um mesmo lugar. Já estava em Carson City havia tempo demais.

    Tempo suficiente para ter sido localizado por mais um daqueles caçadores de recompensa desatualizados.

    Ouviu barulho. Sentou-se preguiçosamente. O xerife parou diante da porta da cela.

    — Parece que você disse mesmo a verdade — comentou o homem da lei. — Além disso, há alguém que fala por você — emendou.

    — Ninguém fala por mim — afirmou Frank, enraivecido, pondo-se em pé.

    — Ora, ora! O mesmo esquentado de sempre — comentou Steve, surgindo por detrás do xerife.

    — Seu maldito bastardo! — rugiu Frank, avançando na direção dele.

    Não fossem as grades, que o prendiam, Frank teria agarrado Steve e esmurrado seu rosto sorridente.

    — Se quiser, eu o mantenho aí dentro até se acalmar — ponderou o xerife.

    — Não se preocupe, Connors, Frank me adora. Pode soltá-lo — pediu Steve.

    O xerife o atendeu. Steve estendeu a mão. A contragosto Frank a apertou.

    — Você se fez esperar por uma semana nesta maldita cidade — vociferou Frank.

    — Trabalho, meu amigo. Trabalho!

    — Não importa. Agora que está aqui, só quero que me dê a maldita anistia e pegue isto de volta — disse Frank, estendendo a carteira com suas credenciais e o distintivo da Pinkerton.

    — Calma, Frank! Não se precipite. Antes de finalizarmos isto, há algo que preciso mostrar-lhe. Aliás, há duas coisas que preciso lhe mostrar.

    Frank olhou-o desconfiadamente. Conhecia aquele tom de voz. Steve estava preparando algum coisa.

    O xerife apareceu novamente, trazendo as armas de Frank, entregando-as.

    — Estas armas são famosas — comentou.

    — Apenas me deram dor de cabeça, xerife. Por mim eu as penduraria numa parede e as esquecerei para sempre — disse Frank, prendendo o cinturão.

    — Depois você pensa nisso. Agora venha comigo — pediu Steve, deixando a cadeia.

    Frank o seguiu pela rua principal de Carson City, até a casa do médico.

    Assim que entraram, Steve apontou um homem estendido num canto da sala, que funcionava como uma espécie de ambulatório médico e enfermaria.

    — Veja aquilo — disse o detetive.

    Frank foi até a cama onde gemia fracamente um velho chinês. Seu corpo estava horrivelmente torturado. Havia cortes por toda parte. Braços e pernas pareciam fraturados.

    — O que houve com ele? — indagou Frank.

    — É o que gostaríamos de saber. Foi encontrado se arrastando nas proximidades da cidade. Não pode nos contar nada, mas há algo que nos chamou a atenção. Observe isto! — disse Steve, descobrindo o tornozelo do ferido.

    Frank se debruçou. Conhecia aquele tipo de marca. Era feito por algemas.

    — Prisioneiro? — surpreendeu-se.

    — Talvez escravo.

    — Escravo? Do que está falando?

    — De gente que anda sumindo em Carson City. Este velho passou por aqui, vindo de San Francisco, há coisa de uns dois meses. Sumiu de uma hora para outra e reaparece agora, neste estado. Curioso, não acha?

    — Está bem — disse Frank, tentando se manter neutro.

    Já havia feito sua parte. Queria apenas finalizar o trato que tivera com Steve e partir para o Texas o mais depressa possível.

    — Frank, vamos precisar de você novamente — disse Steve, com ar suplicante.

    Frank o encarou. Sabia que havia alguma coisa por trás de tudo aquilo.

    — Nada feito, Steve. Temos um trato. Eu cumpri a minha parte. Estou deixando a Pinkerton. Dê-me o que me prometeu e irei embora para sempre.

    — Frank, o oeste é uma terra difícil, precisamos de homens como você.

    — Há outros.

    — Problema de seu patrão. Tenho meus próprios problemas e quero resolvê-los o mais depressa possível e ir embora. Se um china levou uma surra, nada posso fazer.

    — Ainda não lhe contei tudo...

    — Desista, Steve. Não vou poder ajudá-lo. Tenho meus planos feitos...

    — Está bem! Pedi para mostrar-lhe duas coisas. Uma é este velho. Vamos ver a outra. Se não mudar de idéia, eu lhe darei o que veio buscar e você poderá partir.

    — Está certo!

    — Só que apenas poderei fazer isto à noite, durante o jantar.

    — O que está tramando, afinal? — indagou Frank, irritado com Steve.

    — À noite você vai saber. Aproveite o tempo para fazer a barba, tomar um banho e pôr uma roupa limpa — ordenou Steve.

    — Vá para o inferno, homem. Quer parar de me dizer o que fazer?

    Steve riu.

    — Vá para o inferno você, Frank Spade. Faça o que estou mandando ou ponho todos os xerifes do oeste atrás de você novamente — prometeu Steve.

    — Faça isso e será um homem morto.

    — Será? — ironizou Steve, com um olhar de desafio que irritou definitivamente o pistoleiro.

    — Não me provoque, Steve!

    O detetive da Pinkerton sorriu e virou as costas para o pistoleiro.

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    Mark Scottsfield recolheu as pepitas de ouro e depositou-as num saquinho de ouro. Fechou-o e rumou para a casa principal do acampamento.

    A tarde morria lentamente, com o sol projetando sombras na muralha de pedra que se sobressaía sobre o acampamento.

    Enquanto caminhava, o jovem sulista refinada ainda se fazia presente.

    Pensou que não precisava ser daquela forma. Era poderoso agora. Tinha ouro, muito ouro e, em breve, teria mais, muito mais.

    Comandava um pequeno exército. Trabalhava bastante, tinha direito de se divertir e compensar todo o tempo que perdera estudando no Norte.

    Sim, merecia isso. Merecia começar a gastar um pouco daquele ouro que tanto sacrifício lhe custava.

    — Acho que vou à cidade, pai — disse, assim que entrou.

    John Scottsfield olhava a garrafa vazia diante de seus olhos, como se buscasse ver alguma coisa em seu interior.

    — Só não vá sozinho — recomendou. — E traga-me uma caixa deste uísque, se eles tiverem recebido mais lá no saloon.

    — Farei isso, pai.

    Foi até o enorme cofre, num canto da sala. Abriu-o. Lá dentro havia diversos saquinhos de couro iguais aos que tinha na mão.

    — As pepitas estão ficando cada vez maiores, pai... Em poucos dias chegaremos ao veio principal.

    — Sim, ele está lá, nos esperando. Não vejo a hora de topar com ele...

    Mark fechou o cofre. Ao se levantar, seu ombro resvalou no coldre militar pendurado na parede.

    Apanhou-o e prendeu-o à cintura. Abriu-o, sacando um velho Colt.

    — Precisa me ensinar a atirar um dia, pai — pediu ele.

    — Não, filho, você não precisa saber atirar. Basta ter dinheiro e sempre terá quem atire por você — ponderou o velho.

    Mark brincou rapidamente com o Colt, depois guardou-o no coldre. Pendurou-o de volta na parede.

    — Mesmo assim, acho que vou comprar uma nova para mim. Há uns Colts com coronhas de madrepérola, modelo novo, que calça balas de Winchester. São muito práticos porque podem ser remuniciados com rapidez e...

    — Faça como quiser, Mark. Compre dois, os melhores que encontrar. Afinal, é para isso que serve o ouro.

    Algum tempo mais tarde, Mark chegava à cidade, acompanhado de mais meia dúzia de capangas. Foram direto para um dos saloons.

    Assim que entrou, Mark foi saudado pelo proprietário, que o levou para uma sala, nos fundos.

    — O uísque de seu pai chegou — disse Robertson, o proprietário do saloon.

    — Ótimo, meu pai vai adorar.

    — E como estão as coisas lá na mina?

    — Estamos próximos do veio. As pepitas já são do tamanho de ovos de pombas.

    — Grandes assim?

    — Haverá maiores, tenho certeza. Mas precisamos de mais gente, Robertson.

    — Está difícil, Mark. Ninguém aparece por aqui. Há apenas um pistoleiro, perigoso demais para que se mexa com ele. Ainda ontem ele matou um mestiço aqui dentro do saloon.

    — Não precisamos de mais um encrenqueiro. E o china, como está?

    — Pode considerá-lo morto. Não falará, pode ficar tranqüilo quanto a isso.

    — Viu novamente aquela garota de que lhe falei? — indagou Mark, demonstrando todo o seu interesse.

    — Sim, ela continua na casa do xerife. Mas descobri algo que não vai agradá-lo, Mark.

    — E o que foi?

    — Lembra-se daquele rapaz louro e forte, que capturamos há cerca de uns três meses?

    — Sim, é um dos melhores escravos que temos.

    — É irmã dele.

    — Não!

    — E tem mais.

    — O quê?

    — Ela contratou um homem da Pinkerton para tentar localizar o irmão. Parece que ele escreveu uma carta para ela daqui, antes que o pegássemos e o mandássemos para a mina.

    — Não importa. O acampamento é inexpugnável e, além disso, muito bem vigiado. Se o agente da Pinkerton chegar por perto, vai sumir sem deixar pistas. Tente arrumar-me mais alguns homens. Meu pai quer usar a dinamite, mas acho arriscado. Estamos perto demais para uma ação tão drástica agora.

    — Verei o que posso fazer.

    Deixaram a sala e foram para o saloon. Assim que entraram, a atenção de Mark foi atraída por aquele homem vestindo um elegante paletó, encostado no balcão, bebendo.

    As abas do paletó estavam presas para trás, nas coronhas de dois reluzentes Colts, com cabos de madrepérola.

    Aproximou-se, interessado, vigiando por seus capangas, espalhados pelo saloon.

    — Belas armas — comentou.

    Frank desviou seus olhos cinzas para o rapaz, encarando-o.

    — As melhores — respondeu, depois terminou o copo de uísque, num só gole.

    Impacientava-se. Steve ficara de apanhá-lo no saloon às sete da noite e meia hora já se passara desde então.

    — Posso lhe pagar um drinque? — ofereceu Mark.

    Frank sondou o rapaz. Não parecia ameaçador e, além de tudo, estava desarmado. parecia um bom garoto.

    — Se faz questão.

    Mark fez um sinal para o barman, pedindo o uísque especial que lhe era reservado.

    — A sua saúde! — brindou Mark.

    — A nossa! — respondeu Frank, entornando.

    Saboreou a bebida, melhor que a que lhe era servida.

    — Você deve ser alguém muito especial — comentou para o rapaz. — Estou aqui há uma semana e só tenho bebido álcool puro, da pior qualidade.

    — Robertson, sempre que o cavalheiro aqui pedir, sirva-lhe o melhor — disse Mark, ao dono do saloon, com certa arrogância.

    — Claro que sim, Sr. Scottsfield.

    — Neste caso, permita-me que lhe retribua o drinque — ofereceu Frank.

    — Nada feito. Você é meu convidado nesta noite — devolveu Mark, envaidecido.

    Nova rodada foi servida. Mark fixou seu olhar no serrilhado da coronha de um dos Colts.

    — Essas marcas representam o que estou pensando? — indagou ao pistoleiro.

    — Sim e não me orgulho disso.

    — É um pistoleiro?

    — Não gosto de ser chamado assim. Já fui um. Hoje gostaria de ser esquecido.

    — E essas armas, não gostaria de vendê-las?

    — Por que pergunta?

    — Adoraria tê-las para mim.

    Frank tomou mais um gole. Lembrou-se de quando era jovem e de como desejara um par de pistolas como aquela. Só que o preço que tivera de pagar fora alto demais.

    Matara Joshua Tree numa luta limpa. Joshua Tree era o xerife de uma cidadezinha. Seus ajudantes caçaram Frank. Matou três deles numa luta limpa também, mas espalhou-se que fora numa emboscada. Afinal, Joshua Tree era considerado o mais rápido pistoleiro do oeste e jamais fora batido.

    — Esqueça isso, rapaz. Armas só atraem encrencas e nada mais.

    — Quantos homens já matou?

    — E o que isso importa? — retrucou, incomodado com aquele tipo de conversa.

    — Não se ofenda, por favor! É apenas curiosidade. Vamos beber, não está aqui mais quem perguntou — descartou Mark, apanhando a garrafa e servindo mais uma dose para o pistoleiro.

    Neste momento Steve chegou. Bateu nas costas de Frank, que se voltou sem surpresa. Havia acompanhando sua chegada pelo espelho a sua frente.

    — Você não muda, Frank. Sempre diante de espelhos, vigiando as costas — observou o homem da Pinkerton.

    — Está atrasado — disse Frank, aborrecido.

    — Vamos lá, então.

    Frank agradeceu Mark pela bebida e saiu, acompanhado de Steve. Quando estava na rua, Mark lhe gritou da porta do saloon.

    — Se mudar de idéia e desejar vender as pistolas, eu as compro.

    — Acho que não tem dinheiro o bastante, rapaz — respondeu Frank, sem se voltar.

    — Não gostaria de descobrir isso? — devolveu Mark, surpreendendo o pistoleiro.

    — Quem é esse? — indagou Steve.

    — Um garoto pretensioso — respondeu. — E agora, qual é a surpresa?

    — Vamos a um jantar.

    — Jantar? Onde?

    — Na casa do xerife.

    — E o que há de especial lá?

    — Uma pessoa que você precisa conhecer.

    Frank parou.

    — Vamos lá, Frank. Você não perde nada. Depois poderá ir embora.

    — Acho bom que seja assim mesmo — murmurou o pistoleiro, acompanhando Steve.

    Momentos depois chegavam à casa do xerife, que estava no alpendre. Havia algumas cadeiras ali e uma pequena mesa, com uísque e copos.

    — Vamos beber alguma coisa, rapazes, enquanto as senhoras se aprontam.

    Frank olhou interrogativamente para Steve, que não lhe deu atenção e tratou de servir um uísque.

    — Dia quente! — comentou o xerife.

    Frank suspirou resignadamente e foi se servir de uísque. Sentou-se e ficou olhando a rua deserta e escura.

    De longe vinha a música de um dos saloons ali nas redondezas. Aquela era uma parte calma da cidade, com casas sem cercas e jardins floridos.

    Jamais se vira morando numa casa como aquela. Sua vida atribulada sempre fora um inferno.

    Agora, com a anistia, podia começar a pensar nisso. Acharia o seu lugar no Texas. Uma boa mulher. Paz, afinal.

    Risos femininos vieram do interior da casa. Frank se voltou. Duas mulheres se aproximavam, conversando alegres.

    Uma era de meia idade, mas ainda conservando no rosto traços de uma beleza sem igual.

    A outra era jovem e, quando parou na porta e encarou o pistoleiro, Frank sentiu-se estremecer.

    Aqueles olhos

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