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Comunicação em transformação
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E-book788 páginas9 horas

Comunicação em transformação

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Sobre este e-book

O Grupo de Pesquisa "Comunicação, Mídia e Sociedade" foi criado em 2011 com o propósito de ser um espaço de discussão, produção e publicação dos estudos desenvolvidos pelos pesquisadores e estudantes dos Cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas da Universidade do Sagrado Coração.

Ao longo dos 11 anos de existência os pesquisadores e estudantes participantes do grupo dedicaram-se à elaboração e publicação de artigos e tiveram inúmeras oportunidades para socializar seus conhecimentos em encontros e congressos da área. Também, como resultado dos estudos e pesquisas desenvolvidos por docentes e alunos, o grupo produziu duas publicações, uma em 2013 e outra em 2018.

Na atualidade, no âmbito da instituição Unisagrado, o grupo disponibiliza para os interessados e estudiosos da área "Comunicação em transformação", uma obra que aglutina as pesquisas produzidas no contexto da pandemia do Covid 19.

Esperamos com essa publicação contribuir com aqueles que têm interesse nos temas abordados em cada capítulo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de dez. de 2021
ISBN9786586030815
Comunicação em transformação

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    Pré-visualização do livro

    Comunicação em transformação - Canal 6 Editora

    Comunicação na Contemporaneidade

    As transformações do jornalismo e o futuro da profissão

    Amanda Ferreira Medeiros*, Daniela Pereira Bochembuzo**

    * Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário Sagrado Coração, Bauru - SP. E-mail: amandafmed@hotmail.com.

    ** Orientadora da pesquisa e docente do Centro Universitário Sagrado Coração, Bauru - SP. Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, graduada em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: daniela.bochembuzo@unisagrado.edu.br.

    INTRODUÇÃO

    Este capítulo é um recorte da iniciação científica intitulada O futuro do jornalista: um estudo sobre a prática profissional em face à formação acadêmica, realizada no biênio 2019-2020, a qual foi subsidiada pelo Fundo de Amparo à Pesquisa do Centro Universitário Sagrado Coração (FAP/UNISAGRADO).

    Como pressuposto da pesquisa, tem-se o panorama das relações sociais atuais, amplamente impactadas pela internet e pelas redes sociais digitais (BIANCO, 2004; FERRARI, 2010; JENKINS, 2009; COSTA, 2014). Em decorrência disso, o Jornalismo, como a expressão física de um espírito de um determinado tempo (MARCONDES FILHO, 2009, p. 212), também sofreu transformações, o que justifica identificá-las e compreendê-las em suas implicações à profissão no decorrer dos anos.

    Para tanto, utilizou-se das pesquisas bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa bibliográfica constitui-se como a coleta de material bibliográfico produzido até o momento (LAKATOS; MARCONI, 2010) e, no caso deste estudo, foi avaliada como útil para a produção de um retrospecto histórico da evolução do Jornalismo e das alterações de funções do jornalista desde sua implantação até a desregulamentação em solo brasileiro.

    Já a pesquisa documental, fonte que coleta informações que estão restritas a documentos (Ibidem, 2010, p. 173), foi utilizada especificamente para apanhar dados da pesquisa intitulada Perfil do jornalista brasileiro: características demográficas, políticas e do trabalho: síntese dos principais resultados, realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), no ano de 2012.

    A partir desse referencial, pretendeu-se criar um panorama acerca da realidade profissional do mercado até então para, posteriormente, comparar com os resultados obtidos por meio das entrevistas em profundidade com os profissionais da área.

    Essa técnica integra a etapa de pesquisa de campo, tipo de documentação direta, ou seja, constitui-se no levantamento de dados no próprio local onde os fenômenos ocorrem (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 186). Além disso, a pesquisa de campo se divide em três grupos: quantitativo-descritivo, exploratório e experimental, situando-se este estudo no grupo exploratório, visto que tem como objetivo [...] a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 188). Todavia, o grupo dá origem a outros subgrupos do tipo exploratório-descritivo combinado, estudo que usa procedimentos específicos para a coleta de dados e estudos de manipulação experimental. No caso desta pesquisa, está inserida no primeiro subgrupo, em que o foco é a descrição de algum fenômeno sobre o qual são realizadas análises teóricas e empíricas (Ibidem, 2010).

    De todo modo, existem três fases a serem cumpridas quando se adota a pesquisa de campo: a realização de pesquisa bibliográfica; a determinação das técnicas que serão empregadas na coleta de dados e a escolha das técnicas de registro e de seleção da amostra. Assim, o método escolhido para coletar os dados foi a entrevista em profundidade com jornalistas atuantes em meios de comunicação não noticiosos, o que se caracteriza por ser um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer (DUARTE, 2005, p. 62). Seu objetivo remete à compreensão de uma situação por ser uma técnica dinâmica, útil para a apreensão de uma realidade tanto para tratar de questões relacionadas ao íntimo do entrevistado como para descrição de processos complexos nos quais está ou esteve envolvido (Ibidem, 2005, p. 64).

    Entre os três tipos de entrevista passíveis de serem realizadas - a aberta, a semiaberta e a fechada, esta pesquisa se utiliza do segundo tipo. A entrevista semiaberta tem uma abordagem qualitativa, é semiestruturada e possui abordagem em profundidade com respostas indeterminadas (Ibidem, 2005).

    Por esta etapa envolver seres humanos, em fevereiro de 2020, foram submetidos todos os documentos exigidos pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) - Plataforma Brasil, para entrevistar os jornalistas, e o processo foi aprovado sob o parecer nº 3.908.722.

    A fim de realizar a pesquisa em profundidade, foram selecionados seis participantes, adotando-se como critérios de inclusão o fato de trabalharem em agências de comunicação, assessorias de imprensa, empresas de marketing, que fossem freelancers e/ou possuíssem o próprio negócio, de idades diferentes e que atuassem em áreas que não são as mídias clássicas, ou em funções cujos atributos e técnicas vão além do aprendido em cursos de graduação de Jornalismo.

    Como requisito do CEP, todas as entrevistas foram realizadas mediante a assinatura prévia de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que garante, entre tantos itens, o sigilo absoluto da fonte de informação.

    As entrevistas foram realizadas por aplicativo de mensagens e/ou por e-mail, tendo em vista que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendavam o isolamento social no momento de pandemia de coronavírus, contexto no qual a pesquisa se encaixava.

    Dado o exposto, a seguir, é apresentado um breve percurso histórico do Jornalismo, seguido dos dados do estudo documental e dos resultados da pesquisa de campo.

    DESENVOLVIMENTO

    O termo Jornalismo tem origem do latim diurnalem, que significa diário, do dia, e encontra derivativo no francês journalisme, que, por sua vez, refere-se ao conjunto de jornais ou jornalistas, de acordo com explicações do Dicionário da Comunicação (JORNALISMO LITERÁRIO, 2009).

    A etimologia, portanto, aponta para uma área de conhecimento, profissão, que se refere tanto ao presente, identificado pelo valor da novidade, quanto ao futuro, pela periodicidade de sua difusão, expresso pela mercadoria que chegará às bancas. É também força e intelecto quando se consideram seus agentes, definidos por Nilson Lage (2009, p. 23) como inteligentes, ou seja, capazes de selecionar e transmitir ao público aquilo que pareça ser interessante ao receptor. Tal capacidade, explica o autor, somente é possível se o jornalista for autônomo, possuir habilidade social, competência comunicativa, for reativo e apto a cumprir sua tarefa quando nela perceber senso de responsabilidade.

    Tais competências foram esculpidas ao longo do exercício profissional, imerso em tempos e espaços diferentes, sob a égide do arbítrio, razão pela qual Adelmo Genro Filho (2012) também define o jornalista como agente, porém um agente histórico, que irá realizar a seleção de fatos a partir de uma realidade contínua. Corrobora dessa perspectiva Luiz Beltrão, que, citando o jornalista espanhol Rafael Mainar (1906), define o Jornalismo como a história que passa.

    O objeto do Jornalismo é a atualidade de interesse abrangente, que se projeta dos limites espaciais em que se origina para atingir vastos círculos de pessoas e instituições que, sem o seu conhecimento, seriam alvos indefesos e inadvertidos dos efeitos da ação desencadeadora, quer lhes fossem, ou não, benéficos. (BELTRÃO, 1980, p. 11).

    Na perspectiva filosófica de Beltrão, olhar para a atualidade envolve, obrigatoriamente, realizar a seleção dentro de uma variedade de ocorrências, submetê-las à interpretação de forma periódica, atendendo à satisfação de seu receptor, mas sem que se perca de vista os objetivos de informar, orientar e promover o bem comum.

    Tais ensejos fazem do Jornalismo uma área essencial à sociedade, contribuindo para aperfeiçoar o homem e para que a vida social se mantenha longe do caos que se instalaria, nas palavras do autor, em lugar da informação jornalística real e objetiva, orientadora e educacional [...] a ficção do boato, a desorientação dos espíritos, o pânico do desconhecido, o mergulho no precipício e o vazio na incerteza (Ibidem, 1980, p. 14).

    Investigar, pois, a evolução do Jornalismo sob a perspectiva histórica e do exercício profissional no Brasil, considerando o olhar de profissionais atuantes no mercado de trabalho, mostram-se salutares para compreender as transformações observadas nessa profissão tão importante à vitalidade do organismo social (Ibidem, 1980, p. 15), propósito deste trabalho, apresentado a seguir.

    UM BREVE RETROSPECTO SOBRE A EVOLUÇÃO DO JORNALISMO

    O Jornalismo reflete a aventura da modernidade, nas palavras de Ciro Marcondes Filho (2009), tendo seu surgimento forjado a partir do questionamento sobre o poder da Igreja, da criação das universidades e da difusão dos valores da Revolução Francesa.

    A instituição desse espírito crítico, em verdade, ganha corpo com a criação da prensa. Foi entre 1444 e 1456 que o alemão Johann Gensfleich zum Gutenberg criou um método de impressão de conteúdo através de moldes de letras em chumbo, estanho e antimônio. Tal invenção era o suprassumo da época, já que a impressão xilográfica, utilizada até então, era morosa, e os materiais necessários para a produção desgastavam-se rapidamente (SOUSA, 2008). Essa prensa propiciou a difusão do livro, das folhas volantes com novidades e informações sobre a burocracia, avisos de taxas dos reinos e estados emergentes, bem como as notícias das igrejas, ciências e letras.

    Um de seus efeitos foi o desenvolvimento do espírito crítico (MELO, 2003), que, mais tarde, lançaria luz sobre a tirania de governos e colocaria o homem no centro do universo, combatendo a fé e elegendo a razão como propulsora do desenvolvimento.

    É nesse contexto que se tem o embrião do Jornalismo. Na fase denominada como Pré-História do Jornalismo, as notícias sobre fatos curiosos eram veiculadas em jornais que ainda se assemelhavam a livros com páginas reduzidas (MARCONDES FILHO, 2009).

    O Pré-Jornalismo erige-se, assim, como o embrião de uma prática que iria inaugurar o acesso à informação daquele cenário. A figura que, após anos de evolução, seria o jornalista, baseava-se em empreendedores isolados, com poder monetário, interessados em buscar dados em nome da notícia (Ibidem, 2009). Tais características são observadas de maneira predominante entre 1631 e 1789, ano do lançamento do jornal belga Gazette e marco da Revolução Francesa.

    Posteriormente, surgiu o Primeiro Jornalismo, ainda de acordo com categorização criada por Marcondes Filho (2009). Nesse contexto, as inquietações político-sociais estavam em evidência, e o jornal criticava as autoridades e veiculava folhetins, evidenciando seu caráter político-literário. Os fatos tinham como prioridade questionar a realidade e frisavam a transparência para com a população, que não tinha os mesmos privilégios que as figuras monárquicas e religiosas. Com características mais robustas, políticos, escritores, críticos e cientistas tornaram-se produtores de conteúdo.

    O aspecto operacional das empresas jornalísticas também avançou, tanto que houve o aparecimento de uma estrutura redacional, de uma divisão de cargos e funções e do investimento financeiro (Ibidem, 2009).

    Nessa esteira, a mídia e seus produtos, por serem impulsionados e materializados por criações tecnológicas, evoluíram significativamente no ano de 1830, com a Revolução Industrial. O fortalecimento do neocolonialismo e o surgimento dos jornais como grandes empresas capitalistas marcaram, assim, o início do Segundo Jornalismo (Ibidem, 2009). As publicações passaram a contar com uma equipe de produção profissional, porém submissa à direção da empresa jornalística, com espaços publicitários a serem comercializados, já que se compreendia que o produto também deveria gerar lucro.

    No mundo, a imprensa organizava-se em torno das características da fase denominada como Segundo Jornalismo, em que houve significativo avanço dos valores jornalísticos, como o furo, e uma maior preocupação com os aspectos editoriais e gráficos da capa (MARCONDES FILHO, 2009). Essa fase, que durou cerca de 70 anos, encerrou-se devido às consequências da própria Revolução Industrial, como a formação das metrópoles a partir do êxodo rural, abertura de novas estradas e aprimoramento dos meios de comunicação a distância.

    O Jornalismo praticado nessa época era protagonizado por profissionais já experientes, contudo a imprensa tornou-se ainda mais refém do capital, abandonando de vez uma abordagem romântica que se poderia ter sobre o fazer comunicacional jornalístico. Ainda nessa fase, surgiram discussões acerca do papel social do jornal, uma vez que os espaços publicitários passaram a dominar as folhas das edições.

    Em 1900, surgiu o Terceiro Jornalismo, segundo Marcondes Filho (2009), calcado por uma imprensa monopolista e pela atuação de profissionais da Comunicação (Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas) na redação, os quais podiam oferecer à sociedade produtos informativos de maior volume e segmentados.

    Nessa perspectiva, a partir dos anos 1920, uma ideia se intensificou e penetrou na sociedade: a de que o ser humano contribui com a construção da sua própria realidade. Consequentemente, aspectos como a subjetividade da percepção fizeram-se presentes na produção e recepção do conteúdo jornalístico (SCHUDSON, 2010).

    Além disso, com o aumento da concorrência e da demanda por informação, a imprensa viu-se obrigada a renovar seu material. Reflexo disso foi o barateamento dos jornais e a produção de capas com notícias chamativas, representações características do Jornalismo sensacionalista (MARCONDES FILHO, 2009).

    É a partir do Terceiro Jornalismo, portanto, que se observou o enfraquecimento da prática jornalística no quesito questionamento das autoridades políticas e até mesmo da verdade (Ibidem, 2009). Com o investimento nas redações, a equipe que integrava os jornais da época era formada, além de jornalistas, por publicitários e profissionais de Relações Públicas, e dava a entender, cada vez mais, que o jornal se tornara uma mercadoria.

    Com a indissociabilidade da tríplice mídia-imprensa-publicidade, observa-se uma modificação drástica das características da imprensa, entre as quais a de que o jornalista não é mais aquele profissional do Primeiro e Segundo Jornalismo, pois o questionamento político passa a dividir espaço com o entretenimento focado nos nichos de mercado (MARCONDES FILHO, 2009).

    É sob a indústria da consciência, ainda sob a perspectiva de Marcondes Filho, e em um contexto de avanços tecnológicos e globalização que, já nos anos 1970, no Brasil, parte-se para o Quarto Jornalismo. Novos hardwares e softwares levam à modernização das redações e, juntamente com a difusão de informação eletrônica e interativa, eles tornaram-se características básicas dessa fase, tanto que a figura do jornalista, enquanto agente social, foi substituída por sistemas informatizados, pessoas em interfaces, freelancers e executivos de negócios.

    Também nessa fase, os valores jornalísticos ampliam-se e se assemelham com alguns dos critérios de noticiabilidade utilizados na contemporaneidade, que auxiliam na escolha de uma quantidade finita e diária de notícias a serem desenvolvidas (WOLF, 2008).

    Luka Brajnovic, citado por Mário Erbolato (1985, p. 22), já antevia o que chamou de divórcio entre o trabalho jornalístico e sua materialização, com consequentes transfigurações no trabalho jornalístico a partir das mudanças na imprensa escrita.

    Tal visão seria confirmada décadas depois com o estabelecimento das redes digitais e a consequente precarização da imprensa escrita (jornais e revistas), o que contribuiria, de fato, para uma transformação na atuação profissional. Para Marcondes Filho (2009), diante da imaterialidade do digital, é difícil caracterizar o que é o (a) jornalista, pois o mesmo indivíduo pode ocupar diferentes cargos (repórter, editor de texto, chefe de redação etc.), a despeito de cada um deles possuir demandas e práticas distintas.

    Em razão da data de lançamento da sua obra, Marcondes Filho (2009) limitou-se a dividir o Jornalismo em uma pré-etapa e quatro fases, abordando a última delas a partir do contexto observável à época. Apesar de ricas, estas não compreendem mais a realidade da profissão, uma vez que é possível notar o avanço do advento da internet e do mobile, bem como suas adesões e influência no cotidiano das redações jornalísticas de todo o mundo.

    Desse modo, utilizando-se de arcabouço teórico disponível sobre o tema até então, as autoras avançaram na proposta de Marcondes Filho e apresentaram um modelo do que seria o Quinto Jornalismo (MEDEIROS; BOCHEMBUZO, 2021), observando, para tanto, fenômenos registrados entre os anos 2000 e 2020 e que não foram trazidos até então, como: agências checadoras de informação em face à proliferação de fake news; crescimento de mídias independentes e financiadas por leitores; e aparecimento de um novo modelo de negócio para o Jornalismo em decorrência da presença da internet nas relações sociais.

    O que esses dois casos (publicidade e marketing) têm em comum é que ambos assumiram integralmente um conceito de negócio que não tem mais como núcleo a função jornalística tradicional: em ambos os casos, a produção e distribuição de notícias se faz como parte de múltiplas atividades de serviços baseados em relacionamento. O produto jornalístico passa a ser considerado um elemento importante, mas não exclusivo, para adicionar valor aos serviços em rede. O que há em comum nessas duas organizações é que elas assumiram integralmente as características de empresas multiplataformas, nas quais a tecnologia define o negócio. (COSTA, 2012, p. 1).

    A partir de tais fenômenos e contextos, observou-se como relevante a elaboração de uma nova fase da profissão (Quadro 1), que sintetiza o momento atual vivenciado pelos jornalistas e possibilita a comparação com o que Marcondes Filho (2009) propôs em sua obra.

    Quadro 1 – Características do Quinto Jornalismo

    Fonte: Medeiros; Bochembuzo (2021).

    Nessa fase, o aspecto hipermídia está vinculado a diferentes formatos de conteúdo, muitas vezes misturados em um único produto, como o texto, as fotografias, os áudios e os vídeos. A respeito dos valores - a transparência, presente no Primeiro Jornalismo e a atualidade do Segundo - pode-se afirmar que reaparecem. Isso se explica, segundo as autoras, devido à criação de leis que ampliam o debate do Estado para com a população.

    A atualidade se insere no Quinto Jornalismo pelo fato de o indivíduo poder consumir conteúdo onde e quando quiser. [...] A empatia, o engajamento e a hipertextualidade são valores jornalísticos inéditos nessa fase. O primeiro, pois o receptor de conteúdo, no cenário atual, também pode ser produtor, o que provoca a reavaliação dos temas a serem abordados. O engajamento também está presente, uma vez que a mensuração de dados de acesso ao conteúdo, seja via redes sociais digitais ou via pesquisas de campo, dita as formas de produção e divulgação que tal informação terá em vista à quantidade de interações. [...] A hipertextualidade [...] pois normalmente há a inserção de hiperlinks de acesso a outros conteúdos [...] e a releitura da hierarquização da informação, por exemplo. (MEDEIROS; BOCHEMBUZO, 2021, p. 9293).

    Ao assumir que aqueles que recebem conteúdo também podem produzi-lo, os aspectos funcionais e tecnológicos da profissão se alteram. As lives via diferentes dispositivos e a evolução de recursos gráficos possibilitam que o jornalista exerça a profissão sem estar vinculado a um emprego.

    Em busca da autossuficiência de produtos, veículos ou como profissional autônomo, jornalistas lançam mão de planejamento e estratégias de Marketing. Tratar a Comunicação e seus produtos como um negócio é uma necessidade sentida na pele por aqueles que não podem contar com uma renda fixa, dessa forma não é raro encontrar profissionais especialistas em Marketing Digital e que são responsáveis por tudo (MEDEIROS; BOCHEMBUZO, 2021). Tal traço distingue o atual profissional de Jornalismo dos perfis dos agentes de suas fases anteriores, como indicado no Quadro 2.

    Quadro 2 – Relação entre períodos históricos e o jornalista

    Fonte: Marcondes Filho (2009).

    Ao cruzar as informações dos Quadros 1 e 2, amparando-se no breve relato da evolução histórica do Jornalismo, é possível constatar que, na contemporaneidade, o presente e o futuro da profissão se desenham lado a lado com os aparatos tecnológicos e as possibilidades de produção de conteúdo que eles propiciam.

    Para observar tal fenômeno de forma prática, considera-se pertinente complementar tais contribuições que deram origem ao Quinto Jornalismo, proposto por estas autoras, à pesquisa mais recente disponível no Brasil sobre a atuação de jornalistas, elaborada em 2012, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), cujos principais tópicos são abordados a seguir.

    REFLEXÕES SOBRE O PERFIL DO JORNALISTA BRASILEIRO

    Referência documental deste capítulo, o estudo intitulado Perfil do jornalista brasileiro: características demográficas, políticas e do trabalho: síntese dos principais resultados, que teve abrangência nacional, tomou como base dados coletados em 2012 e compilou características demográficas, políticas e de trabalho. Para isso, as instituições de pesquisa envolvidas entrevistaram 2.731 jornalistas via e-mail ou telefone.

    No geral, a pesquisa pôde constatar que, ao final daquele ano, os jornalistas brasileiros eram, em grande parte, mulheres brancas de até 30 anos (MICK; BERGAMMO; LIMA, 2012). Em contrapartida, indígenas, amarelos e negros correspondiam a apenas 1%, 2% e 5%, respectivamente. Além disso, nove em cada dez entrevistados possuíam diploma de Jornalismo e, desses, quatro em cada dez possuíam diploma de pós-graduação. Quanto às questões políticas, um a cada quatro jornalistas era filiado a algum sindicato do ramo da Comunicação, embora houvesse um cenário que possibilitava uma ampliação desse índice (Ibidem, 2012).

    Questionamento pertinente e abordado na pesquisa foi a necessidade de formação acadêmica para o exercício da profissão jornalística. O estudo foi publicado em 2012, três anos após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a não obrigatoriedade do diploma de Jornalismo a partir de então (UOL NOTÍCIAS, 2009). A esse respeito, na amostra, 55,4% defendiam que era necessária a formação específica, e apenas 6,1% posicionaram-se contra essa exigência. (MICK; BERGAMMO; LIMA, 2012).

    Outro ponto instigante do estudo são os dados acerca das características do trabalho jornalístico, os quais revelam que três em cada quatro jornalistas possuíam registro no Ministério do Trabalho, em sua grande parte, como jornalista profissional e que apenas um em cada quatro não havia sido estagiário (Ibidem, 2012). Em relação à carga horária de trabalho, 40,3% responderam que a jornada laboral diária variava entre oito e doze horas.

    Entre os jornalistas que trabalhavam, principalmente, com a mídia, 63,9% atuavam em meios impressos, 44,6% com a internet, 33,6% com TV, rádio ou cinema e 20,5% com outras mídias. A despeito dos dados, 75% tinham seu trabalho integralmente, ou em grande parte, divulgado pela internet (Ibidem, 2012, p. 37).

    Quanto às atribuições, foi verificado que esses jornalistas executavam, em sua maioria, reportagens, pautas e edição. Comparando as funções realizadas por jornalistas de séculos passados, como foi mencionado no item anterior, com o trabalho praticado atualmente, primeiramente, tem-se um avanço na mensuração de dados qualitativos acerca do perfil do profissional da comunicação, o que auxilia a traçar linhas de raciocínio.

    No geral, a parcela da população que trabalha com Jornalismo é formada por indivíduos mais privilegiados se comparados à média do trabalhador brasileiro e que, consequentemente, possui mais acesso à informação e domínio de tecnologias, como é o caso das elites dos séculos XIX e XX e da hegemonia branca encontrada na pesquisa da UFSC, em parceria com a FENAJ.

    Por outro lado, indígenas, amarelos e negros são sub-representados como autores de produções de conteúdo profissional, o que pode ser um reflexo histórico da desigualdade social que persiste perante esses povos e que, por exemplo, dificulta o acesso deles ao ensino superior. Desse modo, não se pode inferir que há heterogeneidade expressiva nesse quesito.

    Uma vez que a legislação permitia o exercício de profissionais com diploma ou com experiência, isto é, não graduados, os fatos trazidos, como a não necessidade de diploma para exercer a profissão e o registro profissional, são elementos inéditos documentados por tal pesquisa.

    A respeito das funções praticadas, a diferença mais notável deve-se ao surgimento do rádio, da televisão e internet no século XX. Por outras palavras, a atuação da imprensa não se restringe à mídia impressa, por conseguinte alguns aspectos do papel social do jornalista transformaram-se frente aos avanços tecnológicos que impactam na profissão. Em síntese, de acordo com o estudo da UFSC e da FENAJ, os princípios e a essência jornalística são os mesmos, o que muda são as plataformas e os formatos.

    Tendo em vista as perspectivas apresentadas pela pesquisa bibliográfica e documental, mostrou-se importante checar a opinião de profissionais graduados em Jornalismo a respeito da profissão, refletindo sobre o presente e o futuro da profissão do jornalista a partir de sua experiência no mercado de trabalho. O resultado dessa terceira etapa do percurso metodológico é apresentado a seguir.

    PESQUISA DE CAMPO

    A pesquisa de campo, cujo percurso metodológico foi descrito na Introdução deste artigo, consistiu em entrevista de caráter qualitativo com seis jornalistas atuantes no mercado de trabalho não noticioso, fora das mídias consideradas tradicionais (jornal, revista, rádio e televisão).

    A seguir, é apresentado um perfil geral dos entrevistados (Quadro 3), que terão seus nomes mantidos em sigilo, conforme acordado com os participantes por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do protocolo autorizado pelo Comitê de Pesquisa em Seres Humanos do UNISAGRADO. Esclarece-se que a finalidade é meramente descritiva, tendo em vista que a pesquisa em profundidade não tem função quantitativa.

    Quadro 3 – Perfil dos entrevistados

    Fonte: Elaborado pelas autoras.

    O roteiro pré-estruturado de perguntas foi definido no momento da submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e a transcrição completa de todas as entrevistas encontra-se sob responsabilidade das autoras. O que se apresenta agora é uma síntese sistematizada das respostas.

    Para melhor compreender os resultados e para possibilitar a realização de breves inferências, as perguntas do roteiro de entrevista foram divididas em categorias, sendo elas: Funções desempenhadas e Presente e futuro da profissão.

    Em Funções desempenhadas, estão abarcadas as questões Área de atuação, Quais funções você exerce na empresa? e Existe outro(a) funcionário(a) na empresa que exerce as mesmas funções que você? Se sim, qual a profissão dele(a)?.

    Já na categoria Presente e futuro da profissão, têm-se as questões Quais diferenças você percebe no processo de produção antes e depois do advento da internet? Isso é perceptível ao jornalista ou também ao cliente?, De acordo com a sua percepção, o Jornalismo no geral mudou se comparar o ano em que você se formou até os dias atuais? e Como você vê o futuro da profissão?.

    Ao abordar a primeira bateria de questões, obteve-se que o Pesquisado 1 trabalha com assessoria de imprensa, marketing digital, processo criativo (junto a um publicitário) para gravação, roteiro e publicação de textos e vídeos, enquanto a Pesquisada 2 é fundadora de uma agência de comunicação, produz matérias, é social media, trabalha com atendimento no setor financeiro e traça estratégias digitais, além de atuar como designer e auxiliar em certas tarefas. Quanto ao Pesquisado 3, já trabalhou em um jornal impresso e em uma editora de revistas, sendo, atualmente, sócio de uma empresa e consultor de Estratégia e Marketing. Um dos seus sócios também atua como consultor e é proprietário de uma agência de marketing. A Pesquisada 4 já trabalhou em um jornal impresso e como freelancer de revistas, sendo, hoje, proprietária e editora de uma editora de livros, onde não há ninguém para exercer as mesmas funções que ela. Por sua vez, o Pesquisado 5 trabalha e é sócio em uma agência de publicidade na área de atendimento, planejamento de comunicação e criação de conteúdo, sendo o único responsável, embora possua assistentes. Também é criador de um evento que debate a comunicação e as redes sociais em diferentes cidades e ministra aulas como professor convidado em cursos de pós-graduação. Por fim, a Pesquisada 6 é, no momento, coordenadora de Comunicação e Marketing e tem um estagiário sob sua supervisão, mas já trabalhou em jornal impresso, revistas e assessorias de comunicação.

    Ao realizar breves inferências sobre o que foi obtido até então, pode-se afirmar que o contato com o ambiente digital, seja via marketing, redes sociais ou produção de conteúdo, é elemento presente no cotidiano dos seis jornalistas. Todos também já tiveram experiências profissionais em diversos tipos de mídia, inclusive as tradicionais e, de certa forma, foram pioneiros, ora criando suas próprias agências de comunicação, ora sendo freelancers. Contudo, em alguns casos, existe outro profissional que exerce as mesmas funções, enquanto em outros, não.

    A partir dessa trajetória profissional, foi questionado aos participantes sobre suas visões a respeito do presente e do futuro da profissão. O Pesquisado 1 acredita que o cenário mudou completamente e que o jornalista deve combater as fake news. Para ele, promover a adaptação de linguagens e formatos e ser um profissional multitarefas são novas realidades: Hoje, as pessoas não têm paciência para nada. A internet veio para deixar a gente mais conectado, porém mais ansioso. Hoje, nem precisamos ir atrás das informações, elas pipocam" na nossa cara. Vivemos a tecnologia, tudo muito rápido. Acredito que alguns veículos convencionais vão acabar ou vão migrar totalmente para a internet. O jornalista tem que sempre estar atento. O mundo não vai parar de se comunicar e se informar, então é preciso entender isso e estar aberto às mudanças", pontua.

    A Pesquisada 2 concorda com o fato de que a internet impactou diretamente na profissão e que o jornalista deve combater notícias falsas que são divulgadas via WhatsApp. Isso serve, em seu modo de entender, para reforçar o papel social e a importância do jornalista. Quando eu comecei a fazer estágio, a internet nos ajudava muito já, mas tudo isso era muito diferente do que é hoje, principalmente, porque os smartphones ainda estavam chegando de mansinho. Agora, em 2020, ganhamos mais funções na palma das mãos. A notícia ficou mais rápida e acessível para todo mundo. Todo mundo se sente um pouco produtor de conteúdo ao compartilhar uma ‘mensagem do zap’. E acrescenta: Como jornalista, percebo que temos que nos redobrar para mostrar a verdade e mostrar nosso papel, que é de buscar por fontes, pesquisar, entrevistar, e não apenas ‘soltar uma notícia’. O jornalista sempre vai ter espaço, na minha opinião. O funcionamento da nossa cabeça, de prezar pela imparcialidade, buscar fontes, checar as informações é diferente do de outros profissionais. E precisamos desses profissionais em nosso dia a dia para termos conhecimento do que anda acontecendo no mundo. No futuro, acho que o profissional terá que fazer ainda mais escolhas, em saber que pode atuar em diversas áreas, mas sempre ter em mente o que é a veia jornalística.

    Já segundo o Pesquisado 3, para o público, não importa mais o volume de informação elaborada, mas o imediatismo e a velocidade, por isso existiriam leigos nos lugares que antes eram ocupados por jornalistas. Entretanto, embora tenha sido modificada a maneira como se produz e consome notícia com o advento da internet, considera que o Jornalismo, em si, não mudou, ao contrário, seguirá existindo e com relevância. Em suas palavras: "Mudaram as plataformas, mudou a tecnologia, e isso mudou a maneira como se produz notícia e como se consome notícia. O Jornalismo, em si, não mudou, entende? As novas ferramentas mudaram a produção de informação e o consumo delas. O Jornalismo seguirá existindo e com relevância, mas é preciso se modernizar e entender que as gerações passam. Leitores de jornal de papel, de revista estão morrendo e não há público entrante que vá suprir esse ‘buraco’. A TV aberta, em seu formato clássico, também vai acabar nos próximos anos, perdendo espaço para o YouTube, redes sociais e plataformas de streaming, nas quais o público faça a sua programação. É preciso acompanhar a evolução tecnológica e não ficar para trás, porque as pessoas adotam rapidamente novos hábitos, as gerações mais novas dominam o mercado, e quem não aceitar isso vai ficar fora", explica o jornalista.

    Em contrapartida, a Pesquisada 4 postula que tudo mudou com o advento da internet. O acesso à informação de forma rápida e prática foi revolucionário, e isso fez com que tudo no Jornalismo se tornasse mais frenético. Para ela, o futuro será atrelado à geração de conteúdo para o universo digital, sendo o foco o celular, pois, em algum tempo, até notebooks irão desaparecer.

    O Pesquisado 5 acrescenta a essas considerações uma pequena análise em que abarca a publicidade, pois, para ele, com a internet, o consumidor não quer apenas receber uma informação, mas também deseja trocar, colaborar, construir junto e ser conquistado pelas marcas. Isso muda completamente a relação entre veículo e telespectador, ou ainda entre marcas e clientes.  Em ambos os aspectos, para ele, o ouvinte ganhou relevância com o surgimento da internet, portanto passa a ser necessário entender esse cenário e abrir novos caminhos para construir a comunicação eficaz. "Ainda havia uma expectativa muito grande de se formar para trabalhar em grandes redações de impresso, rádio ou TV. Atualmente, o aluno de Jornalismo já sabe que as possibilidades se ampliaram no mundo digital e você pode trabalhar em uma agência, prestar consultoria, fazer freelance e, por outro lado, o mercado tradicional diminui consideravelmente. Em relação ao Jornalismo, também vejo uma mudança profunda. Nos últimos dez anos, as pessoas entenderam que poderiam buscar informação em outras fontes, veículos independentes, sem tradição ou até mesmo em grupo de WhatsApp. Concordando ou não, é assim que o processo evoluiu e as pessoas escolheram se informar. A partir desse momento, a mídia tradicional começou a ser vítima de acusações e desconfianças que fizeram com que a sua credibilidade fosse abalada. É comum ver pessoas dizendo que preferem se informar através de WhatsApp ou canal do YouTube. Agora, com a pandemia, os órgãos de imprensa voltaram a ser considerados e a confiança volta a subir", apontou o Pesquisado 5.

    O mesmo Pesquisado disse acreditar que o jornalista passará por um período de integração entre todas as funções até que as universidades possam avaliar suas grades e oferecer uma formação mais completa. Com a agilidade com que as coisas no mercado são transformadas, é inevitável dizer que o aluno se forma um pouco desatualizado. Isso não é um problema em si. Cabe aos alunos também buscar experiências externas, cursos, participações em congressos que aumentem seu repertório e apresentem diferentes possibilidades de carreira, complementou. Entretanto, finaliza dizendo que "Diálogos como esses são importantes para que a Universidade, os alunos e o mercado possam entender como preparar o profissional do futuro. Muito se fala sobre o desenvolvimento de habilidades que serão requeridas, e ainda não vemos isso dentro da academia. Por outro lado, não acredito que a academia esteja à disposição apenas do mercado. Ela tem matérias necessárias para a criação de repertório dos estudantes para uma formação integral. Por isso, o diálogo é importante. Precisamos entender o que o mercado espera e o que ele não sabe que precisa. Assim, vamos formar profissionais ricos na teoria, experientes na prática e abertos para um cenário que ainda não conhecemos".

    Enfim, a Pesquisada 6 vai ao encontro dessas reflexões e pondera que a forma com que se busca e obtém a informação mudou completamente devido à expansão das redes sociais digitais, entendendo que todas as pessoas são emissoras. Um ponto positivo, em sua visão, é o crivo para as postagens de tragédias diante das fake news. Isso, segundo ela, tem feito com que as empresas tenham a percepção de que a comunicação deve ser estratégica e feita com profissionalismo. Em suas palavras: "Acredito que, hoje, a forma com que se busca e obtém a informação mudou completamente devido à expansão das redes sociais. Hoje, todo mundo acaba sendo emissor. E muitas vezes vemos notícias sendo disseminadas sem uma fonte fidedigna ou, para o primeiro a divulgar o fato, a notícia vem incompleta".

    Em seguida, completou com a perspectiva no ambiente empresarial: "No mundo corporativo, não dá para brincar, um passo em falso pode arranhar a imagem que levou anos para se construir. Ou uma falha na comunicação pode deixar de divulgar algo que traria bons resultados. Acredito que as áreas se complementam e, por isso, é importante ter equipes compostas por jornalistas, publicitários e RP (quando se juntam as especialidades, cada um com seu conhecimento, o resultado é melhor). A busca por conhecimento e especializações não pode parar. Nós precisamos conhecer tudo o que surgir, mas também ter filtro e crivo para trazer à nossa realidade. Não dá para só seguir a onda do momento. É preciso análise e, por isso, nós, de Humanas, também precisamos saber ler dados, trabalhar com métricas e indicadores. Penso que as pessoas à frente desses departamentos têm que estar muito bem preparadas, ter sede de conhecimento e entender o contexto da organização, ter ciência e participar do planejamento estratégico, pois esses dados é que ditarão o caminho e posicionamento da marca", finaliza a Pesquisada 6.

    A síntese das respostas é apresentada no Quadro 4.

    Quadro 4 – Presente e futuro da profissão

    Fonte: Elaborado pelas autoras.

    Ponto convergente em todas as respostas é o fato de a internet ter impactado o profissional. Seja com a maior proliferação das fake news ou com o aumento da produção de informação digital, o jornalista deve estar atento às novas realidades e se adaptar.

    Nesse cenário, a Comunicação erige-se como ferramenta estratégica para as empresas. O fato de todos estarem conectados evidencia que se comunicar é um fator que permeia tudo e que essas experiências não podem ser ignoradas.

    No geral, avalia-se que os profissionais escolhidos, por trabalharem em diferentes ramos da Comunicação e por enxergarem a profissão de formas ora convergentes, ora divergentes, contribuíram para o debate.

    Outro elemento destacado é o fato de o jornalista dever ser um profissional multitarefas, que possui um papel social consolidado, mas que desenvolve, por vezes, funções similares às do publicitário e do profissional de Relações Públicas. Nota-se que o diálogo aqui iniciado pode gerar desdobramentos para estudos futuros.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Nesta etapa, são retomados os resultados obtidos no percurso metodológico, a fim de realizar inferências, bem como identificar o que indicam para o presente e o futuro do Jornalismo. Nos estágios das pesquisas documental e bibliográfica, em que foram abordados um breve retrospecto da evolução do Jornalismo e o jornalista na contemporaneidade, tem-se que a evolução tecnológica e o advento da internet são as principais causas das transformações.

    Em razão de os dispositivos móveis, os aplicativos e as redes sociais digitais terem modificado a mediação das relações sociais, que antes eram concentradas nos meios de comunicação clássicos (jornal impresso, revista, rádio e televisão), surgem novos fenômenos comunicacionais.

    Além disso, durante o desenvolvimento da iniciação científica que originou este artigo, entre 2019 e 2020, houve a identificação de jornalistas que trabalham como profissionais informais (youtubers, bloggers, produtores de conteúdo autônomos etc).

    A pesquisa da UFSC, em parceria com a FENAJ, sobre o perfil do jornalista brasileiro serviu como norteadora por ter representado uma quantificação de profissionais nunca feita de forma tão detalhada anteriormente. Contudo, por haverem se passado nove anos desde sua publicação, os resultados encontrados podem divergir do que ocorre no mercado de trabalho atual, como o número de jornalistas ativos sem diploma universitário e suas áreas de atuação. Sugestivo disso é o fato de que as tarefas mais executadas pelos jornalistas, de acordo com o estudo, referem-se a pautas, reportagens e edição, não havendo menções sobre marketing e social media, por exemplo.

    Tal lacuna será suprida em 2021 com a segunda edição da pesquisa, que promete trazer dados relevantes sobre a atuação do jornalista, uma vez que perpassa o cenário pandêmico de Covid-19. Nessa atualização, também serão contemplados aspectos referentes à saúde, como condições laborais, segurança e exposição perante o vírus. Portanto, a continuidade desse tipo de análise torna-se viável após a divulgação dos resultados do estudo.

    Assim como a criação da prensa e dos aparelhos de rádio e televisão representaram grandes saltos e desafios para o fazer comunicacional da época, a internet dita essas transformações no século XXI. E para o futuro, as percepções sobre campos de atuação e técnicas de produção de conteúdo vão continuar se alterando. O fato de a profissão ter se adaptado não causa e nem causaria a perda de uma ethos tão rica. Nesse sentido, as tecnologias digitais não provocaram mudanças profundas na concepção de Jornalismo a ponto de alterar valores consagrados.

    A segunda etapa dos estudos, correspondente à pesquisa de campo com jornalistas, complementa as premissas verificadas no decorrer das pesquisas documental e bibliográfica. Devido à função qualitativa da entrevista, foi identificado que a graduação apresentou lacunas quando os jornalistas tiveram experiências com assessorias de imprensa e agências de publicidade e comunicação que atuavam com internet. Esse é um dos prováveis motivos para que alguns deles tenham se enveredado para o ramo de Marketing Digital.

    Os resultados mostram também que criar e gerenciar o próprio negócio é uma direção viável para os entrevistados, tanto para quem possui oito anos de profissão quanto para quem tem 22.

    Desse modo, acredita-se que o objetivo proposto pelo artigo foi atingido, pois foi possível identificar as mudanças ocorridas no Jornalismo e no que concerne à profissão no decorrer dos anos, por meio da junção de metodologias.

    Encarar o mercado comunicacional digital e a constante necessidade de adaptações e atualizações como realidade é essencial para se manter ativo no mercado de trabalho, em face aos fechamentos de postos nos meios tradicionais.

    Seja em aspectos qualitativos ou quantitativos, entender como o Jornalismo e o jornalista se fazem presentes na sociedade atual, reforçando seus novos papéis e funções, é fundamental para quem deseja se enveredar nessa área do conhecimento.

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