Os meios de comunicação vão à escola?
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Os meios de comunicação vão à escola? - Cláudia Chaves Fonseca
Cláudia Chaves Fonseca
OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
VÃO À ESCOLA?
Aos meus pais, irmãos e sobrinhos.
"A fórmula do poeta grego Eurípedes, que data de vinte e cinco séculos, nunca foi tão atual: O esperado não se cumpre, e ao inesperado um deus abre o caminho
. O abandono das concepções deterministas da história humana que acreditavam poder predizer nosso futuro, o estudo dos grandes acontecimentos e desastres de nosso século, todos inesperados, o caráter doravante desconhecido da aventura humana devem-nos incitar a preparar as mentes para esperar o inesperado, para enfrentá-lo. É necessário que todos os que se ocupam da educação constituam a vanguarda ante a incerteza de nossos tempos."
(MORIN, Edgar. Os sete saberes
necessários à Educação do futuro)
Prefácio
O desafio de compreender as interações e os impactos da mídia nos mais variados setores da vida social é um dos enfrentamentos que convocam a academia à reflexão. A escola tem sido tradicionalmente refratária aos conteúdos e às formas mediáticas porque esses entram em choque com as idéias de transmissão de conhecimento, típicas da cultura letrada e linear baseada em compêndios, e com pedagogias dependentes da interpretação do professor. De um lado, o mundo mediático invade e transforma as mentalidades, gerando um tipo de conhecimento prático da vida e, de outro, a escola resistindo a reconhecer a mudança e a incorporá-la na sua oferta de conhecimento.
O livro de Cláudia Chaves Fonseca revela as matrizes teóricas que ora aproximam ou distanciam a comunicação e a educação, o que contribui de forma exemplar para a compreensão tanto do problema como de sua superação. A questão aqui é analisada da perspectiva comunicacional, e deixa claro que não se trata de entender a presença da imprensa na escola como meio didático para enriquecer e ilustrar conteúdos específicos de história, geopolítica, ciência etc., como ficou em voga durante algum tempo.
Cláudia mostra que a inciativa aqui analisada tem sua origem nas empresas jornalísticas que apostaram seus refugos nas salas de aula do País, o que vai ao encontro dos ainda tímidos parâmetros curriculares do MEC (PCNs) que, no item Temas Transversais
, incentiva o desenvolvimento de projetos ligados à prática comunicacional. A articulação teórica deste livro demonstra os limites conceituais de interpretação da mídia na escola presente nas teorias da Educação, bem como naquelas da comunicação que apontam na mesma direção instrumental ou de suporte técnico do meios de comunicação.
Mas o interesse preciso da investigação se dá no conhecimento de como a entrada de processos comunicativos vai afetar a dinâmica comunicacional dos processos educativos. É essa originalidade que vai conduzir o olhar da pesquisadora ao registrar, durante três meses numa escola pública e numa escola privada, o cotidiano do trabalho com o jornal Estado de Minas na sala de aula.
Ao longo desses anos na vida acadêmica, tenho visto um sem número de pesquisas que raramente retornam aos seus lugares de origem para serem reapropriadas. Daí a importância desse tipo de investigação empírica, que propicia uma imagem como a de um espelho para aqueles que estão construindo esse novo conhecimento que pode transformar e aproximar os campos da Educação e da Comunicação. Este trabalho favorece tanto à correção de rumos quanto incentiva a continuidade desses programas por parte dos proprietários de jornais e revistas de grande circulação, serve como registro e material reflexivo para novas iniciativas e, principalmente, supre a enorme carência de referência bibliográfica para os agentes (professores e comunicadores), envolvidos nos projetos de mídia na Educação.
A hipótese da autora é a de que, ao se ampliar a dinâmica comunicacional nos processos educativos, a escola permite o surgimento de sujeitos comunicacionais, o que significa ampliar a capacidade de ler, interpretar, recriar textos e imagens de jornais. Essa autonomia seria decorrente da real apropriação, compreensão e domínio do jornal como bem simbólico. Considerando a equação do encalhe de jornais, da carência de material comunicacional nas escolas e a necessidade de aproximação entre os campos da Comunicação e da Educação, o texto reforça a importância do aprofundamento do programa Jornal na Educação, que possa permitir, como resultado, a demonstração ou a comprovação da hipótese enunciada, em maior escala.
Como diz Cláudia Fonseca, a presença dos meios de comunicação na escola deve ser vista com otimismo crítico
pelo potencial inerente às interações que eles permitem, mas também deve estar alerta à determinação das circunstâncias do que e a quem caberá o protagonismo. Publicada agora em livro, a pesquisa poderá ser um instrumento para a reflexão dos novos investimentos tecnológicos nas escolas, por meio do computador e da Internet, que aproximam cada vez mais ambas as dinâmicas comunicacional e educacional. A experiência aqui registrada poderá, por sua vez, ensejar novos estudos complementares para o desenvolvimento dessa instigante matéria.
Profa. Dra. Regina Mota
Departamento de Comunicação Social –
Universidade Federal de Minas Gerais
Introdução
Há cerca de uma década, chegou às minhas mãos o livro Comunicação e Educação – Caminhos Cruzados¹. Dois aspectos me chamaram a atenção: de início, o ineditismo do tema, uma vez que, àquela época (1986), não era disseminada no Brasil a consciência de que Comunicação e Educação poderiam seguir caminhos comuns e, principalmente, o fato de que a estrutura gráfica do livro, dividido em sete partes, cada uma com quase uma dezena de artigos, confirmava o distanciamento que, na prática, existia (e não cessou de existir) entre os dois campos: temas como Educação e Meios de Comunicação dentro e fora da Escola
, A Comunicação nas Faculdades de Educação
e A Educação nas Escolas de Comunicação
, constituíam-se em partes distintas da publicação.
De lá para cá, a área de Comunicação e Educação (ou vice-versa) vem se constituindo no Brasil, seja como campo de estudos acadêmicos, seja como prática de intervenção social. O desenvolvimento tecnológico, em especial da microinformática e sua conexão com as telecomunicações, veio de certa forma catalisar as discussões e as ações que já se vinham realizando desde a década de 1960.
O período pré-constituinte, na década de 1980, deu novo impulso ao diálogo Comunicação/Educação. Vários setores da sociedade civil, entre eles as organizações não-governamentais (ONGs), associações e sindicatos, mobilizados em torno das questões pertinentes ao desenho do sistema de Comunicação Social no País pela Constituição de 1988, reabriram a discussão sobre a importância dos meios de comunicação na sociedade brasileira e sua relação com a cidadania.
Esgotadas as possibilidades de mudanças significativas através da legislação, essas discussões se desdobraram em vários projetos de Educação para os meios, formação do receptor, uso de tecnologias de comunicação nas escolas, etc. As relações entre meios de comunicação coletiva e escola se tornaram cada vez menos exteriores.
A crise de um sistema escolar que não atendeu à demanda social pela educação formal, a necessidade de rever os paradigmas dominantes no ensino – num ambiente de presença cada vez maior dos meios de comunicação coletiva na vida cotidiana – forçaram de alguma maneira o encontro de perspectivas entre esses dois mundos – o da Educação e o da Comunicação – por longo tempo separados.
O próprio Ministério da Educação, ao estabelecer, em 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação (PCNs) para