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Ludwik Fleck e o Círculo de Viena: História, Ciência e Linguagem
Ludwik Fleck e o Círculo de Viena: História, Ciência e Linguagem
Ludwik Fleck e o Círculo de Viena: História, Ciência e Linguagem
E-book213 páginas2 horas

Ludwik Fleck e o Círculo de Viena: História, Ciência e Linguagem

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Sobre este e-book

O livro Ludwik Fleck e o Círculo de Viena: história, ciência e linguagem pretende somar esforços a outras iniciativas atuais voltadas para a (re)descoberta das contribuições pioneiras dadas pela teoria da ciência do médico e microbiologista polonês Ludwik Fleck, cujas publicações em Epistemologia foram condenadas a mais de três décadas de ostracismo. Para tanto, o livro concentra suas atenções sobre uma questão de fundamental importância no processo de elaboração das ideias originais de Fleck: a contraposição do pensador polonês tanto ao Círculo de Viena quanto a um dos membros mais proeminentes do movimento intelectual, o filósofo e lógico alemão Rudolf Carnap. Mais especificamente, a obra propõe uma abordagem inovadora ao identificar os pontos de discordância entre Fleck e a orientação neopositivista como zonas de acesso privilegiadas a discussões caras ao autor trabalhado acerca de temas pertinentes à produção do conhecimento nas ciências, com especial destaque para o papel da linguagem como instrumento de mediação das interações cientista-mundo, assunto ainda muito negligenciado pela bibliografia especializada.
Fleck consegue avançar por onde as teorias da ciência tradicionais vigentes encontram graves limitações. Muitas dificuldades não foram sanadas satisfatoriamente por pesquisadores consagrados no mundo acadêmico contemporâneo (como Thomas Kuhn, Bruno Latour e David Bloor) e são superadas com eficiência pelos pontos de vista sustentados pelo pensador polonês. Portanto, o livro procura evidenciar como Fleck soluciona, com grande agilidade, antigos desafios enfrentados por interpretações destinadas a analisar a produção do conhecimento nas ciências. Dito de outra maneira, a obra avalia quais os mecanismos acionados por Fleck e com qual grau de competência o autor trabalhado equaciona aporias consideradas herdadas das tradições remanescentes dos mais de 30 anos sob a influência hegemônica da orientação neopositivista, em especial da divisão de Reichenbach, a principal consolidadora da distinção entre o contexto de descoberta e o contexto de justificativa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de fev. de 2022
ISBN9786525006024
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    Ludwik Fleck e o Círculo de Viena - Fernanda Schiavo Nogueira

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Com amor, para meu querido tio (irmão)

    Fernando do Espírito Santo Schiavo.

    Saudades eternas.

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de registrar meus sinceros agradecimentos a pessoas que foram fundamentais para que eu conseguisse chegar ao outro lado de uma das mais desafiadoras travessias da minha vida acadêmica: a publicação de um livro.

    À minha mãe, Isabella, pela generosidade da amizade verdadeira, pela grata segurança de ter sempre com quem contar em todos os momentos. Ao meu pai, Marco Antônio, falecido, mas presença constante em minha vida, por todo o orgulho que sempre sentiu por mim.

    Aos meus queridos familiares, meus avós, Celestino e Loreta, e meu tio, Rogério, pelo acolhimento amoroso de todas as horas, pelo apoio incondicional, do maternal à universidade. Ao meu tio, Fernando, criado comigo como irmão, privado de nossa convivência tão jovem, pela alegria de poder estar em sua companhia desde a infância.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Mauro Lúcio Leitão Condé, quem me apresentou os objetos de estudo que me fascinaram desde a graduação, pelo valioso incentivo para prosseguir na carreira acadêmica e por todas as grandes contribuições dadas ao longo de toda a minha trajetória como pesquisadora.

    Ao meu namorado Pablo, pelo amor incondicional, por todo carinho e companheirismo, pelo apoio e todo incentivo dado à publicação deste livro. Aos pais de meu namorado, Patrícia e Marco Túlio, pela amizade e pelo prazer da convivência que mantemos desde quando nos conhecemos pela primeira vez. À Natascha, companheira de velha data, mais do que uma amiga, uma irmã, o meu muito obrigada por compartilhar comigo tanto das minhas experiências vividas.

    A todos os profissionais competentes que cuidam com dedicação da minha saúde e foram os responsáveis pelo meu processo de restabelecimento quando adoeci gravemente, aos neurologistas Dr. Henrique Carneiro e Dr. Rodrigo Labruna, ao endocrinologista Dr. Fabrício Bíscaro, ao nefrologista Dr. Fernando das Mercês de Luca Júnior e ao gastrenterologista Carlos Alberto Mota Valadares e ao psiquiatra Dr. Flávio Menezes. Aos psicanalistas Marcelo Augusto Resende e Eduardo Augusto Sales, por todo o acompanhamento psicológico que demandei ao longo de toda a pesquisa que realizei e culminou na preparação deste livro.

    Ao departamento de História da UFMG, a todos os professores que colaboraram efetivamente para que eu tivesse uma formação intelectual consistente e aos serviços burocráticos prestados por todos os funcionários, principalmente ao Marinho (chefe do Colegiado de graduação de História) e ao Alessandro (antigo chefe do Colegiado de

    pós-graduação de História).

    Mais especificamente, ao Prof. Dr. José Carlos Reis e à Prof.ª Dr.ª Betânia Figueiredo, que reconheceram mérito neste livro desde o momento da concepção da ideia de minha pesquisa. Ao Prof. Dr. José Newton Meneses, que ministrou a disciplina Seminário de Dissertação, pelas discussões sobre meu tema de investigação. Ao Prof. Dr. Bernardo Jefferson de Oliveira e à Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Dourado, por todas as intervenções feitas para o aprimoramento da minha pesquisa durante minha banca de qualificação do mestrado.

    A todos os interlocutores que se propuseram a debater comigo assuntos pertinentes ao meu objeto de estudo nos eventos em que apresentei comunicações, em especial o Colóquio de História e Filosofia da Ciência [Ludwik Fleck] e o IV Simpósio Nacional de Tecnologia e Sociedade, nos quais pude expor resultados parciais da minha pesquisa, e no minicurso por mim ministrado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, intitulado A epistemologia histórica de Ludwik Fleck e a objetividade: história, verdade e realidade.

    Aos meus colegas dos grupos de pesquisa Scientia, Rede Fleck [Brasil] e Epistemologia e Historiografia da Ciência, todos sediados na UFMG, e aos meus queridos alunos da disciplina optativa que ofertei na graduação da mesma instituição. Ao prof. Dr. Carlos Alvarez Maia, que contribuiu muito com o desenvolvimento da minha pesquisa nas mais variadas situações, sempre com sugestões tão valiosas, inclusive quando compôs minha banca de defesa de mestrado conjuntamente ao Prof. Dr. Wagner Lannes, profissional ao qual, igualmente, gostaria de agradecer por todas as avaliações feitas do meu trabalho com dedicação e seriedade.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa concedida durante o mestrado, período durante o qual desenvolvi a maior parte da pesquisa que resultou na publicação desta obra. À editora Appris, pela equipe de excelência, pelo convite de transformar minha dissertação de mestrado em livro e por todo o apoio editorial, da primeira versão da escrita ao dia da publicação.

    As palavras em si não possuem um significado fixo e recebem seu significado somente no contexto, numa área de pensamento.

    (Ludwik Fleck)

    PREFÁCIO

    Este livro que o leitor ora tem em mãos, Ludwik Fleck e o Círculo de Viena: história, ciência e linguagem, de Fernanda Schiavo Nogueira, talvez seja o primeiro a ser publicado no Brasil sobre a obra de Ludwik Fleck surgido da pena de um único autor. Já temos várias dissertações e teses defendidas em diferentes universidades brasileiras que tomam a obra do pensador polonês como referência central para a análise de diferentes problemas históricos, filosóficos e educacionais, e mesmo algumas que mergulham no arcabouço conceitual fleckniano; eu mesmo publiquei um livro (coletânea) a respeito do autor de Gênese e desenvolvimento de um fato científico com colaboradores do Brasil e do exterior (CONDÉ et al., 2012). No entanto, como obra de uma única autora, este livro pioneiro pôde estabelecer uma reflexão de fôlego, aprofundando aspectos que os limites de um artigo ou capítulo não permitem. Livros que abordem o pensamento de Fleck com esse nível de profundidade há muito têm sido aguardados pelos leitores brasileiros, e, certamente, começar com o livro de Fernanda Schiavo Nogueira é um ótimo início. Meu desejo é o de que ele possa inaugurar uma longa série de livros sobre Fleck entre nós, dado o grande número de leitores que Fleck já conquistou no Brasil.

    Ainda que tenha sido inicialmente uma dissertação de mestrado e, assim, já ser de acesso público, sabemos que o livro circula de outra forma. A materialidade do objeto livro leva o conhecimento do seu conteúdo para outros circuitos, para outras perspectivas do que seja o saber público. Da biblioteca ou livraria à sala de aula ou à cabeceira da cama, o suporte livro estabelece outra relação com o leitor e a difusão do conhecimento. Ademais, como é sabido pelo público acadêmico, nem toda dissertação é merecedora de indicação da banca examinadora para a publicação. A banca considera primordialmente, para a sua avaliação da dissertação, o material de pesquisa apresentado e a densidade das análises ali desenvolvidas, muitas vezes de maneira bruta, deixando para o livro, além de todos esses aspectos materiais e argumentativos, também o modo da abordagem, o estilo da escrita, a metodologia didática e tantos outros aspectos que apenas uma obra já lapidada comporta, sendo por isso indicada ao público em forma de livro. A dissertação de Fernanda apresentou todos esses aspectos que apontavam, desde a defesa, o quanto estava pronta para ser transformada em livro¹. Por razões da vida, que fogem ao que é justo academicamente, a dissertação teve que aguardar alguns anos para vir, finalmente, à lume, sendo essa longa espera, além do conteúdo do livro, mais um fator a tornar tão especial e prazerosa para mim a escrita das linhas deste prefácio. Mais do que os desafios acadêmicos enfrentados com grande maestria por Fernanda, foi também preciso enfrentar difíceis obstáculos que a vida, por vezes, impõe-nos. Então, demorou um pouco, mas esse importante momento chegou, e ele é pura felicidade acadêmica e de vida. Com isso, ganha Fernanda e ganhamos todos nós, seus leitores.

    Ludwik Fleck e o Círculo de Viena: história, ciência e linguagem aborda a importante problemática da crítica de Fleck ao Círculo de Viena, em especial a Rudolf Carnap, estabelecendo a compreensão da linguagem em uma perspectiva muito mais ampla do que aquela defendida pelo Neopositivismo Vienense. Fernanda mostra-nos que a proposta de Fleck para entender a linguagem já comporta em si uma contundente crítica ao Neopositivismo e seus postulados de objetividade e lógica, sendo Fleck, dessa forma, ainda muito atual para solucionar problemas que a própria historiografia posterior, de autores como Kuhn, Latour e Bloor, não conseguiu responder adequadamente. Como nos mostra Fernanda, isso faz de Fleck um autor ainda muito atual.

    No primeiro capítulo, com o propósito de situar o leitor, Fernanda estabelece uma análise da vida e da obra de Fleck, enquanto no segundo capítulo, ela contrapõe o pensamento de Fleck ao de Carnap. Contra a linguagem logicista defendida por Carnap, Fernanda evidenciará que em Fleck a linguagem apresenta uma complexa e intricada rede de significados nas múltiplas interações de objetos e ações que constituem um fato científico. Em outras palavras, contrariamente à proposta do Círculo de Viena encabeçada por Carnap, para Fleck, a função da linguagem não é apenas operar na forma de um cálculo, pois, por trás de uma mera expressão científica, já existe toda uma cadeia de ações, objetos e linguagens entrecruzadas com tamanha sutileza em seus meandros que escapam ao logicismo formal inerente à concepção de linguagem neopositivista.

    Como elucida Fernanda, uma complexa rede de significados perpassa todo e qualquer estilo de pensamento no interior de um coletivo de pensamento. Tal rede é condicionada histórica e socialmente, sendo, assim, uma mera ilusão a pretensão neopositivista da linguagem lógica como o postulado de orientação das concepções científicas. O conhecimento, como afirmou Fleck, é um ato radicalmente social e, portanto, também histórico.

    O próprio Fleck estava convicto de que o Círculo de Viena, em especial Carnap, já teria se convencido de que era preciso abandonar essa concepção logicista. Entretanto, como aborda Fernanda no capítulo três, isso não será o fim do Neopositivismo, que encontrará na distinção entre contexto de descoberta versus contexto de justificativa – apresentada, em 1938, pelo também neopositivista Hans Reichenbach – uma sobrevida dessa concepção neopositivista por mais algumas décadas. Segundo essa distinção, não importa qual seja o contexto que nos conduza à descoberta de um fato científico – e aí nesse contexto poderiam se situar os diferentes meandros da linguagem, aspectos sociais e mesmo psicológicos –, pois o que vale, ao fim e ao cabo, não seriam essas circunstâncias da descoberta, mas sim o contexto da justificativa desses fatos e, nesse momento, uma linguagem logicista ainda continuaria a ser de grande valia.

    Assim, o autor de Gênese e desenvolvimento de um fato científico será esquecido e apenas autores como Thomas Kuhn, cerca de três décadas depois, irão procurar solucionar a dicotomia de Reichenbach. Ainda que tenha se inspirado em Fleck, o autor de A estrutura das revoluções científicas não percebeu toda a riqueza que a obra do pensador polonês apresentava para também solucionar problemas como o da dicotomia de Reichenbach. Aqui atingimos um dos pontos mais significativos do livro de Fernanda, isto é, o esclarecimento ao leitor do fato de que Fleck já apresentava robustos elementos para dissolver essa dicotomia com base no seu entendimento do que possam ser alguns conceitos caros à ciência, como verdade e objetividade. Com isso, segundo Fernanda, Fleck possibilita-nos – de um modo muito mais efetivo do que estabeleceu Kuhn – a

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