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Terrorismo: Um Estudo sobre os Operadores da Jihad
Terrorismo: Um Estudo sobre os Operadores da Jihad
Terrorismo: Um Estudo sobre os Operadores da Jihad
E-book567 páginas6 horas

Terrorismo: Um Estudo sobre os Operadores da Jihad

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Sobre este e-book

O livro Terrorismo: um estudo sobre os operadores da jihad é um estudo aprofundado sobre "os operadores da jihad", que praticam terrorismo para impor, por meio da força, o que acreditam ser a base de sua religião. Com isso, o estudo ora apresentado se propõe a esclarecer e ainda fornecer ao leitor o conhecimento necessário para entender como funcionam o convencimento, o recrutamento, o treinamento, a preparação e a formação de um indivíduo que irá praticar um ato terrorista. A escrita foi feita assentada em pesquisas realizadas no campo acadêmico e na literatura, sendo reunido um farto material para que o leitor obtenha um bom conhecimento sobre o assunto. Dessa forma, é possível entender como um indivíduo faz a sua radicalização. Com a leitura, entenderemos como é feito o engajamento em um grupo terrorista, como o indivíduo está suscetível a uma doutrinação que lhe é ensinada por uma liderança que possui uma visão subjetiva do islã e, muitas vezes, distorcida dos ensinamentos de Maomé ou dos regramentos do alcorão, como pode ser influenciado por meios internos, chamados de fatores de atração ou por meios externos, chamados de fatores de impulsão. Ao término da leitura, é presumível que o leitor tenha conhecimento suficiente para entender toda a ordenação que é capaz de transverter um cidadão em um terrorista, mitigando dúvidas e fornecendo dados para entendimento. É lamentável que esses conhecimentos apenas os recrutadores e treinadores dos futuros operadores da jihad possuem e seguem atuando, conforme planejamento prévio, de forma eficaz, efetiva e eficiente conseguindo angariar centenas de milhares de voluntários. Está na hora de o cidadão também conhecer.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de fev. de 2022
ISBN9786525016191
Terrorismo: Um Estudo sobre os Operadores da Jihad

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    Terrorismo - Edson Pereira Campos

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Quem enfrentará os maus, senão aqueles que vivem se preparando para isso?

    Quando vierem, que tenhamos conhecimento para enfrentá-los e a força necessária para neutralizá-los e, assim, consigamos preservar a paz e os oprimidos.

    (O autor)

    A todos os Soldados, independentemente de graduação ou patente, que, persistentemente, se doam para combater, no mundo inteiro, que o caos se instale, levando segurança a quem necessite e a força da lei a quem mereça.

    (O autor)

    PREFÁCIO

    O mundo globalizado, com as facilidades de transporte, de comunicações e de intenso comércio, possibilita as ações de terror em qualquer nação inserida nessa nova ordem mundial.

    Nas últimas décadas do século XX, testemunhamos a inserção do terrorismo na era da globalização. Grupos terroristas ampliam as suas áreas de atuação, contando com a tolerância política e a cooperação logística de extremistas e radicais em várias partes do mundo.

    A origem do termo terrorismo vem da institucionalização do terror praticado na Revolução Francesa, na era dos ideais iluministas antiterroristas e contra terroristas. O combate ao terrorismo possui duas grandes vertentes: o antiterrorismo e o contraterrorismo.

    O antiterrorismo compreende medidas eminentemente defensivas, que objetivam a redução da vulnerabilidade aos atentados. O contraterrorismo abrange medidas ofensivas, tendo como alvo os diversos grupos identificados, a fim de prevenir, dissuadir ou retaliar seus atos.

    Com a adaptação do terrorismo na era da informação, em que há o recrutamento de membros pelo espaço cibernético e o temor da presença dos chamados lobos solitários. Há a necessidade de se buscar conhecimento e investimento para melhorar tanto o setor antiterrorista quanto o contra terrorista.

    A sociedade permanecerá vulnerável à ameaça representada por guerrilheiros, terroristas e facções armadas, enquanto desconhecer os objetivos, métodos e peculiaridades que distinguem a guerra irregular das tradicionais formas de beligerância. Sem esse entendimento, a opinião pública dificilmente apoiará políticas governamentais de defesa impopulares, lentas e dispendiosas. Sem o respaldo da opinião pública e o incondicional apoio da população não se vence o combate irregular.

    O terrorismo de tipo jihadista é uma das ameaças mais perigosas para a nossa segurança, na Europa e também em Portugal. E é talvez a mais complexa, a mais difusa e a mais difícil de combater. A gravidade dessa ameaça atinge agora uma dimensão sem precedentes, em virtude das milhares de pessoas que partiram, e/ou pretendem partir, para palcos de conflito jihadista.

    Este é um livro deveras importante, quer pelo interesse e atualidade do tema, pela problemática particular e multifacetada que envolve, quer pela demonstração do profundo conhecimento haurido pelo autor ao longo de sua carreira profissional. Ele traz, de maneira didática, uma abordagem realística e atual, que só poderiam ser oferecidas por alguém que conhece e se dedica a estudar constantemente o assunto.

    Esta obra é para ser lida por todos aqueles que se interessam pelo tema e buscam conhecer um assunto atual e com poucas referências para consulta.

    Parabéns ao Major Pereira da Polícia Militar do Estado de São Paulo pela iniciativa e pela transmissão do conhecimento em uma área tão carente para estudo, mas que, com este seu trabalho, terá, daqui para a frente, mais uma fonte de consulta para socializá-lo nesse contexto.

    Boa leitura a todos!

    Wanderley Mascarenhas de Souza

    Especialista em Gerenciamento de Crises, Negociação, Explosivos e Sequestros

    www.radiografiadosequestro.com.br

    Sumário

    1

    INTRODUÇÃO 11

    2

    O ISLÃ 13

    2.1 MAOMÉ 19

    2.2 O ALCORÃO 25

    3

    DOUTRINADORES 31

    3.1 JAMAL AL-DIN AL-AFGHANI 31

    3.2 ABUL ALA MAUDUDI 35

    3.3 SAYYID AL-QUTB 37

    3.4 ABDULLAH YUSUF AZZAM 41

    3.5 AYMAN AL-ZAWAHIRI 46

    3.6 ABU MUSAB AL-ZARQAWI  52

    3.7 OSAMA BIN MOHAMMED BIN AWAD BIN LADEN 57

    3.8 WAHHABISMO 66

    3.9 SALAFISMO 69

    3.10 A IRMANDADE MUÇULMANA 73

    4

    O TERRORISMO 79

    4.1 TERRORISMO E POLÍTICA 112

    4.2 TIPOS DE APOIO 119

    4.2.1 APOIO ECONÔMICO 119

    4.2.2 APOIO DO ESTADO 128

    4.3 ESTRATÉGIAS 131

    5

    O OPERADOR DA JIHAD 143

    5.1 CARACTERÍSTICAS ENCONTRADAS 151

    5.1.1 Executores 157

    5.1.1.1 Jovens 157

    5.1.1.2 Sentimento de exclusão social 159

    5.1.1.3 Preocupados com a própria imagem 159

    5.1.1.4 Obedientes às palavras dos religiosos 160

    5.1.1.5 Alienação social 160

    5.1.2 Lideranças 161

    5.2 FATORES DE ATRAÇÃO 165

    5.3 FATORES DE IMPULSÃO 181

    5.4 RECRUTAMENTO 185

    5.5 LOCAIS E FORMAS DE RECRUTAMENTO 189

    5.5.1 Presídios 189

    5.5.2 Meio estudantil 199

    5.5.3 Locais de estudo religioso 203

    5.5.4 Meios digitais 207

    5.6 TREINAMENTO 218

    5.7 CAMPOS DE TREINAMENTO 221

    5.8 ORGANIZAÇÕES TERRORISTAS 227

    5.8.1 Talibã 230

    5.8.2 Al Qaeda 233

    5.8.3 Boko Haram 243

    5.8.4 Estado Islâmico 247

    5.9 EVENTOS TERRORISTAS 262

    6

    A JIHAD 265

    6.1 A JIHAD E O FUNDAMENTALISMO 276

    7

    O BRASIL NO CONTEXTO JIHADISTA 279

    8

    CONCLUSÃO 299

    REFERÊNCIAS 303

    ANEXO 319

    1

    INTRODUÇÃO

    Atos de violência sempre estiveram presentes na sociedade. As guerras e enfrentamentos por motivos religiosos também. Contudo um grupo religioso judaico denominado de Sicarii optou por combater os romanos utilizando, entre os anos de 66 e 73 a.C., uma nova forma de força que causava o terror em seus rivais: o mundo conhecia a manifestação terrorista. O fundador do Islã, Abu al-Qasim Muhammad ibn ‘Abd Allah ibn ‘Abd al-Muttalib ibn Hashim, conhecido como Maomé, nasceria aproximadamente 500 anos depois. Portanto os atos terroristas surgiram antes do islã.

    Assim, o terrorismo não é um tema recente: há muito tempo faz parte da vida humana. Desde a revolta Zelota, protagonizada pelos Sicarii, utiliza-se esse meio sistemático da violência, de forma ilícita, para gerar terror e, com isso, buscar objetivos específicos previamente planejados. Para entender como ocorre o terrorismo e quais os fundamentos que levam a isso, houve vários estudos, nem sempre muito divulgados, que tentaram delinear conceitos e definições sobre o terrorismo, procurando liame com psicopatias, com fatores biológicos, sociais ou psicológicos e, também, se havia nexo entre a rotina de uma vida social e os fatores que atraem ou impulsionam alguém a ser tornar um terrorista.

    Ao serem realizadas as pesquisas, encontrou-se uma sustentação de que não se pode definir o perfil de um terrorista, pois a busca de um perfil padrão envolveria muitos fatores e informações pela periculosidade do assunto, dificuldade na obtenção de depoimentos, impossibilidade de avaliações presenciais feitas por profissionais específicos, entre outros. Porém é possível verificar que existem características comuns que podem ser encontradas entre eles. Também não foi possível encontrar na literatura um estudo que possibilite conhecer, com clareza e de forma definida, os caminhos que um indivíduo percorre até se tornar um executor em uma ação terrorista praticando esse ato de forma voluntária, nem tampouco o que o impulsiona para o convívio com o terrorismo, revelando pouca compreensão sobre todas as variáveis que o envolvem. Constata-se que a supressão de conhecimento gera a dificuldade no entendimento.

    Cônscio dessa lacuna no conhecimento, o livro demonstra de forma sólida, quais são os motivos que conduzem alguns voluntários ao fundamentalismo radical, quais são seus objetivos pessoais, como ocorre o recrutamento dos voluntários, quais as características comuns entre eles, como possuem capacidade para operar armamentos e explosivos etc.

    Quanto mais conhecermos a estrutura que envolve um assunto, mais condições teremos para opinar e tomar decisões a seu respeito e adotar posturas com relação a ele. Países, governos, forças de segurança e cidadãos buscam entender, coibir e evitar o terrorismo, mas possuem pouco conhecimento sobre o seu principal protagonista, o operador da jihad. Hoje, essa realidade pode ser mudada, com as informações contidas nesse labor. É um ganho em conhecimento, um suporte para nossas pesquisas e uma fonte de consulta.

    2

    O ISLÃ

    Quando se ouve falar em Islã muitas pessoas podem, de imediato, entenderem de que se está falando de uma religião, seita ou cultura voltada para a imposição de seus entendimentos por meio da força. Isso não é uma verdade.

    O islã é uma religião voltada à submissão e obediência a um único Deus e seus seguidores entendem que devem viver e agir segundo as visões e revelações que o profeta teve durante o tempo que viveu.

    O nome islã está relacionado com a paz. Seja proporcionando a paz ou procurando se manter em paz, sempre alicerçado ou obediente a Deus.

    Alguns autores o definem da seguinte forma:

    O Islão ou islamismo é uma religião monoteísta que surgiu no século VII na Península Arábica, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Maomé e numa escritura sagrada, o Alcorão.

    O monoteísmo é a ideia central do Islão, que advoga a crença num Deus único e omnipotente (Alá). Resumidamente, para o Islão, Deus criou o Universo e compete-lhe também mantê-lo. Aliás, Deus desempenha quatro funções fundamentais no Universo e na humanidade: criação, sustentação, orientação e julgamento, que se conclui com o dia do Juízo Final, no qual a humanidade será reunida e todos os indivíduos serão julgados de acordo com seus actos. A natureza, por sua vez, está subordinada ao homem, que a pode explorar e dela beneficiar. O objectivo humano último consiste porém em existir para o serviço de Deus.

    O termo Islão (em árabe al-islām) deriva da quarta forma verbal da raiz slm, aslama, e significa submissão (a Deus), ideia que inspira o fundamento desta religião — o crente (muçulmano) aceita render-se ou submeter-se à vontade de Alá.

    A palavra Alá (em árabe Allāh ou Allah: Deus) designa o único e verdadeiro Deus do Islão. A palavra Allah é uma contracção de Al-ilāh, ou seja, o Deus, sendo a sua tradução mais correcta de Deus, com maiúsculas, dado que se refere ao Deus único. A palavra deus com minúsculas, que se refere a qualquer outra divindade, é ilāh (no plural ilāhāt).

    O termo Muçulmano deriva da palavra muslim (pl. muslimún), particípio activo do verbo aslama, designando aquele que se submete ou, textualmente, submisso. O muçulmano submete-se ao Corão (ou Alcorão) e à palavra de Alá, ou seja, à vontade de Deus. Há ainda quem defenda que sendo Muslim uma derivação do verbo aslama, palavra especializada no árabe moderno com o sentido de se tornar muçulmano, ou converter-se ao Islamismo, de facto, a verdadeira etimologia da raiz implicaria uma diferença subtil: a raiz slm tem um significado primordial de ausência de contestação, daí o sentido bem conhecido da palavra salâm — paz, saúde — e, no hebraico (língua próxima) — shalom; assim, o verbo derivado aslama deveria significar pôr-se de paz com ou fazer a paz, em vez de meramente submisso. Em conformidade, num sentido mais abrangente, o muçulmano seria, portanto, aquele que se põe de paz com Deus e que coloca a existência de Deus e o seu poder acima de tudo. (PAIVA, 2009. p. 3).

    Historicamente o islamismo iniciou na Pérsia e Síria, crescendo posteriormente no Egito, Turquia, Magrebe Africano, e em sua última grande expansão, Espanha, Sicília e Partes da França, Índia, Indonésia e China. Estendia-se então [...]dos confins da Tartária e Índia até as praias do Oceano Atlântico, nas palavras de Edward Gibbon em History of The Decline and Fall of the Roman Empire em 1776.

    Uma expansão tão expressiva como essa, entre os anos 632 e 732, de uma cultura completamente diferente da cultura ocidental, com razão, provocou medo ao mundo cristão. E desde este momento a expansão islâmica passou a representar, para o mundo cristão, a devastação e o terror do mundo ocidental. É neste momento que os orientalistas passaram a reinventar o conceito de oriente baseado em um novo método científico puramente Europeu, através de seus moldes racionalistas e secularistas, se afastando de toda a originalidade oriental. (SAID, 2007).

    Biblicamente a origem dessas religiões, começa junto com a história de Abraão, pois dele nasceram Isaque e Ismael, estando no último a origem do islã, e no primeiro, a origem do cristianismo. Durante a vida de Ismael, existe uma narrativa em que sua mãe fala com um anjo de Deus, ao ir embora da casa de Abraão para o deserto, e este anjo faz uma promessa a ela. Veja como a bíblia cristã relata esta promessa: E ouviu Deus a voz do menino, e bradou o anjo de Deus a Agar desde os céus, e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está. Ergue-te, levanta o menino e pega-lhe pela mão, porque dele farei uma grande nação. (Gênesis 21:17-18).

    O lugar onde essa promessa ocorreu é conhecido atualmente como Meca, e é nesse local e momento que se iniciam as tradições islâmicas. A história da religião islâmica nos conta que o último profeta islâmico, Mohamed ou Maomé, foi precedido por Jesus, Moisés, Davi, Jacó, Ismael e Abraão.

    Sobre o crescimento e expansão do islã, devemos tomar nota de alguns pontos. Após a morte do profeta Maomé, três foram os impérios que deram continuidade às diferentes vertentes do islã. O primeiro foi o Império Otomano, que se expandiu pelas áreas correspondentes atualmente ao Iraque, Síria e Norte da África, e que fazem uma interpretação sunita e radical do Alcorão; o segundo foi o Império Safávida, correspondente ao atual Irã, de interpretação Xiita, e; o terceiro foi Império Mongol, correspondente ao território da Índia, apresentando a vertente mais tolerante do islã, pregando um racionalismo filosófico. (ARMSTRONG, 2009). (SOUZA; REIS, 2017, p. 302).

    A expansão global do islã se tornou tão imensa, que possui adeptos na grande maioria dos países, chegando aos milhões de adeptos, conforme podemos visualizar na figura a seguir que mostram os resultados obtidos no ano de 2010.

    Fonte: CRAZYISLAM, 2010, s/p

    O islã, como toda religião, tem suas estruturas filosóficas, doutrinárias e dogmas que precisam ser seguidos. A seguir, estudaremos os cinco pilares que norteiam a religião e que, curiosamente, apresentam grandes características comuns ao cristianismo europeu, sendo eles:

    1) Shahada: esse pilar nos esclarece que não há divindade além de Deus. É repetido várias vezes nas sunas do alcorão sobre a existência de um único Deus e Maomé é o último mensageiro de Deus na terra;

    2) Salat: este é um pilar dogmático que auxilia no contato continuo e pessoal de um islâmico diretamente com Deus. É a regra que diz que o islâmico deve orar cinco vezes em horários específicos durante o dia;

    3) Zakat: o zakat nos demonstra como a religião islâmica prega a pacificidade e amor ao próximo. Ele diz que o islâmico não pode ser mundano. Seus atos devem ser baseados, sempre que possível, na doação e auxilio a pobres e necessitados;

    4) Ramadan: outro costume dogmático que representa a purificação do islâmico. Deve ser feito jejum no mês específico do Ramadan;

    5) Haaj: este pilar remete o islâmico à vida de Maomé. Deve ser feita viagem de peregrinação à Meca pelo menos uma vez na vida do islâmico, repetindo simbolicamente a mesma viagem que Maomé fez durante a sua vida. (SOUZA; REIS. 2017, p. 304-305).

    Dentro do islã, existem duas grandes correntes: xiitas e sunitas. Essa divisão ocorreu juntamente com seu início e persistiu no tempo, gerando grandes conflitos, separações e sectarismo.

    Para entendermos melhor, os estudos a seguir nos mostram o seguinte:

    Após a morte de Maomé houve uma divisão dentro do islã, formando duas correntes, gerada por um conflito baseado na busca pela liderança do islã. A maioria dos islâmicos, estimado em 90% da comunidade, é Sunita. Palavra derivada de sunna, que se refere aos preceitos baseados nos ensinamentos de Maomé e defende que qualquer fiel poderia suceder o profeta, desde que houvesse consenso na comunidade islâmica.

    A minoria da comunidade é xiita, que significa partido de Ali. Eles defendem que o sucessor deveria ser Ali ibn Abi Talib, primo e genro de Maomé, casado com sua filha, Fátima. Em outras palavras, defendiam um ideal de hierarquia, uma linha sucessória.

    A interpretação dos Sunitas sobre a morte do profeta explica que ele teve uma morte natural. Como as últimas orações de Maomé foram sucedidas por seu discípulo e amigo Abu Bacre na mesquita, essa corrente se apoia a ideia de que seus discípulos deveriam seguir liderando o islã.

    A versão xiita, no entanto, narra um conflito ocorrido entre os dois discípulos na presença de Maomé. São eles discípulo Abu Bacre e discípulo Omar. Ocorre que diante do ocorrido Maomé, preocupado com o futuro da religião devido ao conflito entre os dois, nomeou Ali Ibne, seu primo, para ser seu sucessor. (SOUZA; REIS. 2017, p. 305).

    É difícil generalizar a respeito do islã. Para começar, a própria palavra é usualmente empregada com dois significados relacionados, mas distintos, equivalendo tanto a cristianismo quanto a cristandade. No primeiro sentido, indica uma religião, um sistema de crença e culto; no outro, a civilização que cresceu e floresceu sob a égide daquela religião. Assim, a palavra islã denota mais de 14 séculos de história, 1,3 bilhão de pessoas e uma tradição religiosa e cultural de enorme diversidade.

    Em termos espaciais, o domínio do islã estende-se do Marrocos à Indonésia, do Cazaquistão ao Senegal. Temporalmente, retrocede a mais de 14 séculos, ao advento e à missão do profeta Maomé na Arábia, no século VII d.C., quando criou a comunidade e o Estado islâmico.

    No período que historiadores europeus vêem como um negro interlúdio entre o declínio da civilização antiga — Grécia e Roma — e o surgimento da moderna, ou seja, da Europa, o islã era a civilização que liderava o mundo, marcada por seus grandes e poderosos reinos, pela riqueza e variedade da indústria e do comércio, por suas ciências e artes engenhosas e criativas. Muito mais que a cristandade, o islã foi o estágio intermediário entre o antigo Oriente e o moderno Ocidente, para o qual contribuiu de modo significativo.

    O fundador do islã foi seu próprio Constantino, e fundou seu próprio Estado e império. Assim, ele não criou — nem necessitou criar — uma igreja. A dicotomia entre regnum e sacerdotium, tão crucial na história da cristandade ocidental, não tinha nenhum equivalente no islã. Durante a vida de Maomé, os muçulmanos tornaram-se, ao mesmo tempo, uma comunidade política e religiosa, tendo o Profeta como chefe de Estado. Como tal, ele governava um lugar e um povo, propiciava justiça, recolhia impostos, comandava exércitos, declarava guerra e fazia a paz. A primeira geração muçulmana do período de formação do islã, cujas aventuras constituem sua história sagrada, não foi posta à prova continuamente por perseguições e nem tinha uma tradição de resistência a um poder estatal hostil. Ao contrário, o Estado que os regia era o do islã, e a aprovação de Deus à sua causa manifestava-se para eles sob a forma de vitória e império neste mundo.

    Durante o governo dos califas, a comunidade de Medina, onde havia governado o Profeta, transformou-se num vasto império em pouco menos de um século, e o islamismo tornou-se uma religião universal. Na experiência dos primeiros muçulmanos, tal como preservada e registrada para as gerações vindouras, a verdade religiosa e o poder político eram indissoluvelmente associados: a primeira santificava o segundo, e este sustentava aquela.

    Por mais de mil anos, o islã forneceu o único conjunto universalmente aceitável de regras e princípios para a regulação da vida pública e social. Mesmo durante o período da máxima influência européia, nos países governados ou dominados por poderes imperiais europeus, bem como naqueles que permaneceram independentes, as noções e atitudes políticas islâmicas continuaram a exercer profunda e disseminada influência. Nos anos recentes, tem havido muitos sinais de que essas noções e atitudes podem estar retornando ao padrão anterior de dominância, embora sob formas modificadas.

    É no terreno da política — interna, regional e internacional — que podem ser vistas as diferenças mais marcantes entre o islã e o resto do mundo. Os chefes de Estado ou ministros de Relações Exteriores dos países escandinavos e do Reino Unido não se reúnem, de tempos em tempos, em conferências de cúpula protestantes; nem foi jamais uma prática dos governantes da Grécia, Iugoslávia, Bulgária e União Soviética, esquecendo temporariamente suas diferenças políticas e ideológicas, promover encontros regulares com base em sua adesão prévia ou atual à Igreja Ortodoxa. Do mesmo modo, os Estados budistas do leste e do sudeste asiático não constituem um bloco budista nas Nações Unidas nem em nenhuma outra de suas atividades políticas. No mundo moderno, a própria idéia de tal grupamento baseado na religião pode parecer anacrônica e até absurda. Mas em relação ao islã, não é anacrônica nem absurda. Ao longo das tensões da Guerra Fria, e após aquele período, mais de cinqüenta governos muçulmanos — incluindo monarquias e repúblicas, conservadores e radicais adeptos do capitalismo e do socialismo, partidários do bloco ocidental e do bloco oriental, e toda uma gama de graus de neutralidade — construíram um elaborado aparato de consulta internacional e, em muitos casos, de cooperação.

    Um dos locais de adoração e culto utilizados pelos muçulmanos é a mesquita. Mas não se pode falar a Mesquita como se fala a Igreja — ou seja, uma instituição com sua própria hierarquia e suas leis, em contraste com o Estado. Os ulemás, lideres religiosos, (conhecidos como mulás no Irã e nos países muçulmanos influenciados pela cultura persa) podem ser descritos como sacerdotes no sentido sociológico, pois são homens de religião por profissão, reconhecidos como tal por treinamento e certificado. Mas não há um clero no islã — nenhuma mediação clerical entre Deus e o fiel, nem ordenação, sacramentos ou rituais que apenas um sacerdote ordenado possa realizar. No passado, ter-se-ia acrescentado que não há concílios ou sínodos, nem bispos para definir a ortodoxia e inquisidores para fazê-la cumprir. Pelo menos no Irã, isso já não é inteiramente verdadeiro. (LEWIS, 2003, p. 17-20).

    O islã, há décadas, é a religião que mais cresce no mundo e tende a ser a religião com maior número de seguidores, ainda nesse século. Estudos demonstram isso: os muçulmanos são em torno de 1,8 bilhão (24% da população) de adeptos enquanto os cristãos, maior grupo religioso da atualidade, são 7,3 bilhões (31% da população). Entre 2015 e 2060, o crescimento populacional mundial está estimado em 35%, enquanto os muçulmanos projetam um aumento populacional em torno de 73% (CUNHA, 2014, s/p).

    2.1 MAOMÉ

    Ao se estudar o islã, seus entendimentos e cultura, um nome sempre aparece como figura central: Maomé. A dissociação de Maomé do islã quase se torna impossível, uma vez que o primeiro é o responsável pela gênese do segundo.

    De comerciante a profeta, Maomé exercia liderança social local por ser conhecido como sincero, autêntico e possuidor de habilidades em finanças (atributo muito procurado na época). Seus ensinamentos eram baseados em visões que tinha do anjo Gabriel, que lhe transmitia as mensagens de Deus.

    Para entendermos um pouco mais sobre Maomé, vejamos como transcorreu sua vida até a ascensão em ser um ápice religioso.

    Criador das normas, estudos e entendimentos que norteiam a matéria o nome de Muhammad é usualmente transliterado como Maomé. Seu nome completo, no entanto, era Abu al-Qasim Muhammad ibn ‘Abd Allah ibn ‘Abd al-Muttalib ibn Hashim. Vale esclarecer que os nomes árabes são compostos em geral de cinco elementos: nome principal (chamado de ism); nome do primogênito (kunya), que geralmente precede o nome próprio; patronímico (nasab); adjetivos descritivos da pessoa (laqab); e a ocupação ou tribo da pessoa (nisba), equivalente ao nome de família. Seguindo essa lógica, o nome do profeta poderia ser transliterado e traduzido para o português como "Muhammad, pai (abu) de al-Qasim, servo de Deus (Abd Allah), filho de Abdullah Muttalib, da família Hashim". Nessa tese, em sinal de respeito, far-se-á uso do nome original do Profeta, em árabe.

    Quando mencionado pelos muçulmanos, é um requisito religioso mostrar respeito fazendo-se acompanhar o nome de Muhammad com a expressão ora transcrita (ISRA, 2014). Assim se faz para o fiel cumprimento do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, que assim prescreve no capítulo 33, versículo 56: Em verdade, Deus e Seus anjos abençoam o Profeta. Ó fiéis, abençoai-o e saudai-o reverentemente. Nessa primeira referência, faz-se então uso da expressão respeitosa. Contudo, diante do número de vezes em que o nome será repetido, nas passagens seguintes far-se-á uso do nome próprio ou da palavra Profeta, apenas para abreviar as menções, e não por desrespeito.

    Inicialmente, Ele ajudava seu tio no comércio, inclusive acompanhando-o em viagens de negócios. Aos 25 anos, casou-se com Khadija bin Khuailid — uma viúva mais velha, descendente de família nobre, muito próspera e respeitada na cidade, com quem viria a ter seis filhos — e passou a administrar o comércio que fora deixado à esposa (HOURANI, 2013). Por suas práticas e pela retidão de sua conduta, Muhammad, mesmo antes de despontar no plano religioso, já era reconhecido em sua comunidade como comerciante muito próspero e honesto (ISRA, 2014; JOMIER, 1993).

    Por esses atributos, Muhammad era publicamente conhecido como as-sadiq (que se poderia traduzir como o verdadeiro ou o sincero) e al-amin (o confiável ou o fidedigno) (ISRA, 2014). Para muitos autores, sua prosperidade se devia à grande habilidade no manejo de práticas que, mais tarde, seriam retomadas como paradigmas para a formatação das finanças islâmicas. (JANTALIA, 2006, p. 14,15)

    Nascido em Meca no ano de 570, já órfão de pai, Muhammad perdeu a mãe aos seis anos de idade e passou a ser criado por seu tio Abu Talib, que exerceria grande importância pessoal e política em sua vida. Pertencente a uma importante tribo da península arábica (Quraish, transliterada como Coraixita), Muhammad trabalhou desde os doze anos como comerciante.

    Segundo os muçulmanos, Muhammad assim teria agido em obediência a um comando de Deus, evidenciado no Corão (26: 214-125): E admoesta os teus parentes mais próximos./ E abaixa as tuas asas para aqueles que te seguirem, dentre os crentes.

    Em 610, quanto já tinha quarenta anos, Muhammad fez um longo retiro no Monte Hira, próximo de Meca. Durante essa jornada, o Profeta teve uma visão (para alguns, um sonho), na qual um anjo (mais tarde identificado como o anjo Gabriel) lhe revelou que ele seria um enviado de Deus e ordenou que ele recitasse um texto. (JOMIER, 1993). Essa primeira aparição é considerada como o marco fundamental do chamado período de revelação divina (em árabe: wahy), que durou até 632 e compreendeu uma série de visões e aparições, nas quais o anjo Gabriel transmitiu diversos textos a Muhammad.

    Considerados pelos membros do Islã como mensagens de Deus enviadas por intermédio do anjo para o Profeta, esses textos foram registrados apenas na memória do próprio Muhammad durante muitos anos (KAMALI, 2012). Em termos gerais, as mensagens continham a exortação aos homens para que acreditassem em um único Deus (Allah)33 e continham mandamentos ou prescrições de condutas que deveriam ser observadas por todos para o bem da humanidade.

    Apesar de inicialmente assustado, Muhammad acabou se tornando convicto de sua missão e de sua condição de profeta. Ainda assim, inicialmente, não pregava publicamente as mensagens que recebera: durante três anos, Muhammad se limitou a exortar apenas seus familiares e os integrantes de seu círculo íntimo a crer em Deus e na mensagem.

    Segundo registros históricos, o primeiro a aceitar o Islã, depois de sua esposa Khadija, teria sido seu primo, Ali ibn Abu Talib, a quem Muhammad teria, em decorrência, prometido que faria seu sucessor (AL-TABATABAÍ, 1997).

    Passado esse lapso inicial, o Profeta passou a anunciar publicamente o que lhe vinha sendo revelado (KAMALI, 2012). Formou-se em torno dele um pequeno grupo de crentes e seguidores, composto por alguns membros jovens de influentes famílias de sua tribo, alguns membros de famílias menos nobres, bem como artesãos e escravos (HOURANI, 2013). Muhammad e seus seguidores passaram a transmitir a Mensagem à comunidade local. Naquele momento, o Islã despontava como uma nova religião, caracterizada fundamentalmente pela submissão voluntária dos homens à vontade de Deus, em busca do caminho para a paz. Aqueles que se convertiam à religião, assumindo o compromisso de fé e de submissão à vontade de Deus passaram a ser conhecidos como muçulmanos.

    Não obstante o grande prestígio de que gozava Muhammad em sua comunidade, o surgimento e a rápida disseminação da nova religião despertou reações hostis das principais famílias de Meca, que se insurgiam contra a condição de mensageiro de Deus sob a qual o Profeta passou a se apresentar, e o acusavam de amaldiçoar os deuses até então cultuados (HOURANI, 2013).

    Crítico do que considerava ser um estilo de vida suntuoso e fútil, Muhammad instava os muçulmanos a criar uma sociedade justa e igualitária, bem como a respeitar e ajudar os pobres, o que incomodava especialmente os ricos comerciantes de Meca (BÍSSIO, 2013, p. 104).

    Analisando o contexto da época, Huston Smith afirma que a hostilidade enfrentada pela nova religião se devia basicamente a três fatores:

    1-Seu monoteísmo irredutível ameaçava as crenças politeístas e a renda considerável que entrava nos cofres de Meca com as peregrinações a seus 360 santuários (um para cada dia do ano lunar);

    2-seus ensinamentos morais exigiam o fim da licenciosidade a que se agarravam os cidadãos; e

    3-seu conteúdo social desafiava uma ordem injusta. (SMITH, 1991, p. 221) Após uma tentativa fracassada de acordo, os líderes coraixitas passaram inicialmente ridicularizar Muhammad e seus seguidores. Em seguida, passaram a dirigir-lhes difamações e calúnias e toda ordem de boicotes, que tinham por objetivo evitar a conversão de novos fieis. Posteriormente, passaram a agredir e atacar violentamente os seguidores do Islã, chegando ao ponto de articular uma conspiração para matar Muhammad. Embora tenha inicialmente resistido a deixar a cidade, o Profeta, fragilizado pela perda de sua esposa e de seu tio no mesmo ano de 619, viu-se desprovido de apoio em seu próprio clã. Com medo de ser assassinado, fugiu de Meca e foi se refugiar na cidade de Yathrib, situada a cerca de 450 quilômetros dali.

    Aceito pelas principais tribos locais, que se converteram à religião e o alçaram à condição de seu novo líder, Muhammad lá fixou sua residência e organizou a migração de seus partidários de Meca para a nova cidade, o que ocorreu em 622. Esse movimento migratório em massa ficou conhecido como hégira e representa o marco mais importante da história do Islã — justamente por isso, o calendário muçulmano considera o ano de 622 como o primeiro ano de sua era.

    Eleito governador de Yathrib,

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