Reflexões sobre miséria e violência no Brasil
De Isabel Pitta
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Reflexões sobre miséria e violência no Brasil - Isabel Pitta
Autora
Isabel Pitta é gaúcha, natural de Porto AlegreRS.
É Formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em Porto Alegre, foi colaboradora do jornal Correio do Povo, nas décadas de 60 e 70, e da Revista do Globo nos anos 60. Trabalhou como jornalista em assessorias de imprensa e de comunicação social em órgãos governamentais estaduais e municipais - do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre - nas décadas de 70, 80 e 90.
Residiu durante nove anos na cidade do Rio de Janeiro, onde atuou como jornalista em órgãos do governo federal e também foi colaboradora de diversas revistas, entre as quais Pais & Filhos.
É autora do livro Retratando a Educação Especial em Porto Alegre
, em parceria com Marlene Canarim Danesi, publicado no ano 2000 pela editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - EDIPUCRS. Além de dados históricos da criação de serviços para a área da Educação Especial, o livro aborda muitos outros aspectos e reflexões sobre a situação das pessoas portadoras de deficiência - como, por exemplo, sua inserção no mercado de trabalho.
Dedicatória
À MEMÓRIA de minha querida mãe, Clara Pitta,
Vítima da Violência aos 92 anos.
À MEMÓRIA de todas as Pessoas que foram
Vítimas da Violência no Brasil.
A todos os que sofrem e choram a perda das
Vítimas da Criminalidade neste imenso país.
CAPÍTULO 1
DESABAFO
Eu não queria escrever este livro. Comecei várias vezes e desisti, porque me desgosta escrever sobre um País que eu considero doente em muitos aspectos - o país onde eu nasci, cresci e vivo até hoje.
Ao mesmo tempo, sinto necessidade de escrever, é como se eu tivesse um grito trancado no peito. Um grito que precisa encontrar uma voz.
E por quê eu digo que é um país doente? Porque é um país mergulhado em muitas situações de violência e miséria, vítima de uma sigla que eu inventei, conforme publicado no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre-RS, em 13 de maio de 2006.
"Corrupção
Neste mundo globalizado, onde existem milhares de siglas, bem que se poderia criar mais uma: COI (corrupção, omissão e incompetência), por exemplo. Vale para muitos países do mundo que fazem dessa sigla até uma forma de vida, promovendo guerras militares e comerciais. Para muitos governantes, é interessante que haja omissão e incompetência, pois isso facilita o caminho da corrupção."
Essas três palavras – Corrupção, Omissão e Incompetência - formam um caldeirão de miséria, violência, sofrimento e medo. E a doença se agrava porque não é tratada. Há décadas ela cresce, se avoluma de modo assustador, implacável.
E, como se estivesse anestesiado, como se vivesse num planeta distante, o povo em geral tende a aceitar essa realidade, como se a miséria e a violência fossem normais, como se as duas situações degradantes não estivessem à sua frente, como se não fosse agredido por ela todos os dias.
Eu, porém, me sinto indignada e muito assustada com meu país. E penso que é possível mudar essa dolorosa realidade.
Com inicio em junho de 2013, Manifestações de protestos ocorreram em todo o .Brasil, clamando por reformas. Foram os mais diversos - contra a corrupção, aumento das tarifas de transporte público, críticas à situação da saúde, educação, segurança e contra os gastos públicos com a Copa do Mundo, que será realizada no Brasil em 2014.
Os protestos prosseguiram após o mês de julho, embora em menor escala. Foram manifestações pacíficas e também violentas, com depredações e roubos em prédios públicos e privados.
No meu entendimento, os protestos tiraram o brilho da Copa das Confederações, desde a sua abertura no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, em data de 15 de junho.
Eu publiquei no Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre-RS, em 10 de julho :
"Sem brilho
No interior do Maracanã, no final da Copa das Confederações, no Rio de Janeiro, vibração de jogadore s e torcedores. Fora, centenas de policiais impedindo que manifestantes se aproximassem do estádio, tensão e confrontos. E foi assim desde o primeiro jogo. Sem dúvida alguma, os protestos tiraram o brilho da Copa das Confederações. Além do futebol, houve e há muita preocupação e expectativa no ar."
Sim, há muita preocupação no ar. Mas que tipo de reformas desejam as milhares de pessoas que foram às ruas? Não foram detalhadas. E se fossem, como concretizá-las?
Eu afirmo que essas reformas e muitas outras necessárias para beneficiar o país somente poderão ser colocadas em prática através de um novo sistema político, com mudanças profundas e inovadoras. Do contrário, muito pouco será feito.
CAPÍTULO 2
HORROR NO BRASIL
Em 24 de Março de 1991, publiquei no jornal Zero Hora, de Porto Alegre-RS, o seguinte texto:
"Insegurança e Terror
No Brasil de hoje, nossos olhos, mentes e corações são agredidos diariamente por situações semelhantes a filmes de terror. Nas ruas, há medo de assaltos, sequestros, estupros e outras barbaridades, de estacionar carro ou de entrar num táxi dirigido por um desconhecido. As casas estão cobertas de grades, alarmes, cachorros ferozes, etc. Ninguém abre a porta para estranhos e tem gente com medo até dos vizinhos. Traficantes de drogas corrompem