O semelhante
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O semelhante - Elisa Lucinda
Índice
CAPA
ROSTO
CRÉDITOS
SUMARIO
DEDICATÓRIA
ABERTURA
1. A CADA DIA SEU VERSO
O POEMA DO SEMELHANTE
CAPRICHO DE POETA
A LUA CHEIA DEU NA CARA DELA
POEMENINA DOS OLHOS
FETTUCCINE AO GESTO
FUTURO DE ME LIVRO NA MÃO DA VIZINHA
COMUM DE DOIS
O CARRO
POLE POSITION
TINHA UMA RIMA NO MEIO DA MOQUECA
ANJO DE GUARDA E DE PAPEL
O POEMA DOS COLETIVOS
PENETRAÇÃO DO POEMA DAS SETE FACES
VIVER DE POESIA
BUMBO NO PEITO
CLÁUDIA NARCÓTICO
LINHAS DA MÃO
PRISÃO
GO HOME...M
A ESSE PAPO INDO-LENTE
RENOVAÇÃO DE ALUGUEL
À OBRA
SÓSIA
CONSTELAÇÃO
2. O AMOR DE DADÁ DAS ÁGUAS
O AMOR DE DADÁ DAS ÁGUAS
AMANHECIMENTO
AMAÑECIMIENTO
TOUR DA INQUIETAÇÃO
COBRE
COR-RESPONDÊNCIA
ESCOLHA
FUNDO SEM POÇO
GATO DE CASA
INSTRUMENTAL
LATE ILUSÃO
MEU REI MAGRO
MAPA DA MINA
MEDO
O CARTEIRO RIU
PAU DE AURORA
RECONSTITUIÇÃO
PARA UM AMOR NA RUA
RÉVEILLON COM VITOR RODOLFO
STAR FIX
SAUDADE
SAFENA
TERRA
TEXTO PARA UMA SEPARAÇÃO
SEM TELEFONE MAS COM-FIO
CAMISETINHAS DE VERÃO
CANTIGA
UM BONDE CHAMADO SEU BEIJO
LIGAÇÃO PERIGOSA
PEIXE NAMORADO
A VOZ DA RAÇÃO
3. PLANETA V’ENTRE E CONSAGRAÇÃO DA CRIATURA
AVISO DA LUA QUE MENSTRUA
CONSAGRAÇÃO DA CRIATURA
AS MULHERES GORDAS TOMADAS BANHO
CHUPETAS PUNHETAS GUITARRAS
DÁ LICENÇA, BASTIANA?
QUANTO MAIS VELA MAIS ACESA
INDICADOR DE LUZ
Ô MÃE
O BREU
SUJEITO BLUES
ODE DE AMOR AO FRUTO
CORTANDO CEBOLA
DEI UM GELO NELA (O poema da geladeira)
ANÚNCIO
NO MOMENTO NÃO ESTOU
CANTO MINADO
PODE CAFÉ
SÓSIAS DOS SONHOS
4. DESCOBRIMENTO DE BRASIS
ASHELL, ASHELL PRA TODO MUNDO, ASHELL
ZUMBI SALDO
COISA MAIS LINDA MAIS CHEIA DE GARÇA
APETITE SEM ESPERANÇA
MORRE UM BRASIL
MATABOLISMO
MULATA EXPORTAÇÃO
UM BRASIL FAZ 50 ANOS
ADOÇÃO
AU GRATIN
TOCAI TAMBOR SÃO PAULO
PERAÍ QUE VOU FALAR COM MAMÃE
POEMA PRA MINHA NAMORADA
POR MEA COPA, MEA MÁXIMA COPA
PROFECIA
5. DEUS, O CARA
NO ELEVADOR DO FILHO DE DEUS
O QUE O SENHOR ACHA
GOD’S VACATION
INCOMPREENSÃO DOS MISTÉRIOS
DEUS RI
ANEXOS
SUMÁRIO DE POEMAS
SOBRE ELISA LUCINDA
ESPELHO SEU
AGRADECIMENTOS
COLOFON
ELISA LUCINDA
Guide
SUMARIO
CAPA
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Lucinda, Elisa, 1958-
L971s
O semelhante [recurso eletrônico] / Elisa Lucinda. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Record, 2021.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5587-409-9 (recurso eletrônico)
1. Poesia brasileira. 2. Livros eletrônicos. I. Título.
21-74124
CDD: 869.1
CDU: 82-1(81)
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
Esta obra foi anteriormente publicada pela Editora Massao Ohno (1ª edição), Editora Pallas (2ª edição) e pela autora em edição independente (3ª edição).
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Direitos exclusivos desta edição reservados pela
EDITORA RECORD LTDA.
Rua Argentina 171 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 2585-2000
Produzido no Brasil
ISBN 978-65-5587-409-9
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ORDEM DO LIVRO
1. A CADA DIA SEU VERSO
2. O AMOR DE DADÁ DAS ÁGUAS
3. PLANETA V’ENTRE E CONSAGRAÇÃO DA CRIATURA
4. DESCOBRIMENTO DE BRASIS
5. DEUS, O CARA
ANEXOS
SUMÁRIO
À minha mãe, por toda a poesia
que a sábia voz de sua alma me soprou.
Respeitável Público:
Lembro-me de quando eu tinha onze anos e minha mãe, com sua alma lírica, para distrair meu desejo, que eu já dizia, de ser atriz de cinema, levou-me para um curso de Declamação
. Recordo-me de estar sendo levada para o meu destino pelas mãos de minha mãe. Da casa linda da mulher, professora poderosa portuguesa sem sotaque: Maria Filina Salles Sá de Miranda. Tinha uma atriz certamente lá no dentro dela. E muito laquê na armação do cabelo, que era emaranhado encadeado embaraçado propositalmente por baixo pra dar volume, altura. A menina de mim olhava-a de cima a baixo, e a rajada daquele olhar se misturava à casa, com seus tapetes vermelhos que pareciam vir ao encontro dos meus olhos, com a sua cor estupenda: tapetes vermelhos invadiam minha visão como se me anunciassem um futuro, como um bicho, um lugar de coisa viva que me assustava e seduzia. Suas peças raras, suas paredes de livros. O teto tinha pintura como um céu de templo, de catedrais, como um urdimento. Era cênica. Afora as pecinhas de igreja e da escola, eu nunca tinha ido a um teatro antes. Ela era o primeiro teatro de minha vida. Conversaram. Ela me olhou e disse à minha mãe que voltássemos uma hora depois. Ficamos as duas no silêncio sincrônico dos olhares, até que ela se inclinou, elegante, pegou meu queixinho com uma força mansa e disse: Gostei de seus olhinhos grandes verdes e vivos, menina!
E eu perguntei: Será que eu vou gostar de declamação?
Ela então, moderna: Não dou declamação. Dou ‘Interpretação Teatral da Poesia’.
Gostei. Aquele título era uma música para mim, e sorri. E entendi. Mostrou-me sua vastíssima biblioteca e disse que eu escolhesse. Peguei um com uma bela capa: Poetas malditos portugueses. Ela me mostrou então, já em página marcada, Cântico negro
de José Régio. Foi o primeiro poema que eu disse na minha vida. Começam os recitais. As escrituras dos fatos, as costuras do desejo, essa alfaiataria do tempo foi me transformando em atriz-escritora-poeta. Sempre a palavra a me rondar. Nunca mais pude-quis sair do palco poético.
Me perguntais tantas coisas: de por que escrevo, de como escrevo, de sobre o que escrevo, de qual o meu processo; se sou poeta, poetisa, feminista, feminina, e não sei o que mais. Acabo respondendo o que me surge na hora. Invento com fé cada resposta para que seja eu a primeira a acreditar, mas no fundo não sei mesmo. Escrevo porque não tem jeito. Escrevo porque é o jeito. O meu jeito de existir. Como uma respiração, como um vício numa embocadura de olhar. Não há descanso, não há final de expediente; há, às vezes, preguiça de pensar assim sempre, de continuar a fazer a ata infinita do universo toda em versos, como uma secretária ocupadíssima de um Deus igualmente ocupadíssimo. A gente dorme, acorda mas não passa. O universo das palavras vira uma civilização, uma raça, um povo simbólico à parte, para fazer a festa das versões. O banquete.
Este meu livro, O semelhante vem, na verdade, do fato de eu viver hoje entre um recital e outro por esse Brasil. Dizendo esses versos.