Sobre a Universidade: o declínio da sociedade atual
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Sobre a Universidade - Oscar Edgardo N. Escobar
Introdução
Esta pequena produção sobre a universidade representa um estudo continuado que o autor desenvolve na instituição pública de ensino superior¹. No presente trabalho inicialmente é feito um levantamento teórico sobre o método que fundamentará a discussão como um todo; no segundo capítulo, o leitor encontra uma digressão histórica da origem da universidade; no penúltimo capítulo, abre-se espaço para uma discussão sobre o ensino superior no Paraná e, na última parte, estão os apontamentos para novas perspectivas e estudos sobre o assunto tratado. Neste sentido, embora haja muitas referências bibliográficas que discutem a trajetória desta importante instituição, a sociedade tem procurado constituí-la num local que abrigue o coletivo, um lugar de massa, mas que nem sempre foi assim. Ao corroborá-lo, Umberto Eco na sua obra, Como se faz uma tese, afirma: antigamente, a universidade era uma universidade de elite. Apenas os filhos dos formados tinham acesso a ela
(2001 p. XIII). Por seu lado, o que se verifica atualmente é que o cenário sociopolítico resulta mais favorável a oportunizar governos com democracias populares mais representativas, que, por sua vez, não têm poupado esforços em ampliar a socialização dos conhecimentos e saberes produzido por esta instituição. Embora a mundialização da economia tenha permitido gerar profundos desafios para as sociedades, reafirmam que a educação deve ser um eixo central para o desenvolvimento dessa mesma sociedade.
1 O autor é professor adjunto e desenvolve suas atividades de trabalho na Universidade Estadual de Ponta Grossa-Paraná.
Capítulo I
O método na produção de conhecimento
A experiência na pesquisa nos ensina que, para compreendermos e interpretarmos corretamente os fenômenos físicos e sociais, devemos nos orientar por um sistema realmente científico de interpretação da vida social. O pesquisador precisa de tal sistema de apreciação do mundo, tal apreciação, não somente para explicar as causas dos acontecimentos em geral, mas também para determinar seu próprio lugar no mundo e adquirir a consciência de que pode influenciar e contribuir nas mudanças que sempre estão em curso numa dada sociedade.
Sabe-se que os traços que caracterizam nossa contemporaneidade transitam num horizonte de contradições e de mudanças contínuas. Não é sem razão que cada vez mais o ser humano está procurando conhecimentos que possibilitem a ele tornar-se agente de sua própria transformação. Assim, uma orientação ou um método que permita orientar-se nesse mundo social é de fundamental importância. A pesquisa mostra que o trabalho de investigação não pode deixar de ser complexo e delicado: exige uma análise muito fina e sobriedade intelectual. Porque é muito fácil deixar-se prender pelas semelhanças exteriores e não ver as semelhanças ocultas e os nexos necessários camuflados
(GRAMSCI, 1974: 116). Não há dúvida de que a afirmação de Gramsci é assertiva e verdadeira. Portanto, há muitas formas de compreender as questões sociais e educacionais. Em tal sociedade, destarte, não pode haver uma única concepção de mundo, pois ela se baseia em classes, o que gera inúmeras visões sociais e, consequentemente, os indivíduos têm na sua vida real interesses totalmente distintos.
Isto quer dizer que a produção de conhecimento não pode ser neutra, uma afirmação contrária do positivismo não crítico, pois, quando se pesquisa, invariavelmente, o investigador vê-se envolto neste problema gnosiológico²É por isso que, em todas as épocas da história, sempre houve diversas percepções sobre ela. Assim, convém salientar que o sentido científico da produção de conhecimento é, com muita frequência, revelado ou deturpado. Por trás do cenário social, existe toda uma realidade socioeconômica, toda uma luta de interesses, um constante conflito entre as classes distintas, que não podem ser negados pelos cientistas sociais e educacionais. O que devemos considerar, portanto, como o problema fundamental da produção de conhecimento?
O estudo e compreensão do mundo também dependem do método de cognição utilizado por este ou aquele pesquisador. Todos os fenômenos da natureza e da vida social são de grande significado para o campo da educação e da produção do saber ou do conhecimento na ciência. A própria palavra método deriva do grego e significa caminho que conduz algures
, direção a seguir
. Se tivermos escolhido o caminho certo, ou seja, se formos guiados pelo método científico correto, para o estudo da educação, podemos contribuir de uma forma viável e segura para a interpretação e apreensão da realidade. Se o método não for adequado, teremos dificuldades de superar e não poderemos alcançar os objetivos que derivam de nossas investigações. Portanto, os conhecimentos são sempre relativamente determinados sob certas condições ou circunstâncias, dependendo do momento histórico, do contexto, das teorias, dos métodos, das técnicas que o pesquisador escolhe para trabalhar ou de que dispõe
(GATTI, 2010:11-12).
Precisamente por isso, que a prática humana é o ponto de partida e a base do conhecimento humano, O que não quer dizer, no entanto, que a simples teorização da realidade revele o verdadeiro sentido dela. A cognição da realidade dada pelo pensamento encontra-se em ligação e interação direta com outros fenômenos e processos do mundo real e concreto e, dessa maneira por isso, desenvolve-se de forma social. Ao mesmo tempo, as possibilidades concretas não permanecem imutáveis, inalteráveis ou fixas. À medida que as condições mudam, elas transformam-se em abstratas, isto é, o pensamento se apropria da realidade no nível de cognição para depois voltar à própria realidade pensada.
No decurso de seu trabalho e de suas atividades cotidianas, o homem descobriu constantemente novas propriedades, ignoradas até então, chegou à convicção da existência das coisas, da realidade objetiva, independente de si, de sua consciência, de suas sensações. Na atividade prática do cotidiano, os homens têm perante si o mundo objetivo e, por isso, chegam necessariamente à ideia de que este mundo existe fora e à margem da sua consciência. Todavia, tem uma história bastante longa o problema das relações entre a consciência humana e o mundo objetivo, entre as nossas sensações e ideias sobre a realidade circundante e esta mesma realidade, para Spirkine:
A história da humanidade é a continuação da história da natureza. Laços íntimos ligam-nos ao meio geográfico e a nossa vida seria impossível sem ele […] apesar de todas as diferenças qualitativas, a sociedade continua uma parte de um todo mais vasto que a natureza. A história da natureza e a da sociedade, agindo uma sobre a outra, dependem uma da outra e estão estreitamente ligadas uma à outra. O homem não é apenas um habitante da natureza: ele transforma-a. Desde a sua aparição, e cada vez mais em seguida, a humanidade modificou a natureza ambiente. Uma quantidade incalculável de trabalho humano foi dispensada (SPIRKINE, 1977: 14).
Portanto, os indivíduos constantemente estão alterando a sua realidade, procurando construí-la de acordo com as suas necessidades, é claro, que não a seu desejo, mas segundo aquilo que as circunstâncias historicamente colocaram. Daí a importância de interpretá-la de um modo adequado. Assim, captar o elo principal como ponto de partida numa investigação torna-se essencial, de fato, Ir além dos acontecimentos é um pressuposto importante na apreensão do real, da verdadeira caracterização do ser, da sua gênese, movimento e contradições
(MASSON, 2009: 25). Em tempos pretéritos os nossos antepassados meditaram sobre isto, mesmo quando não concebiam claramente a estrutura social de sua organização nem podiam explicar fenômenos de desigualdade, pauperização, catástrofes naturais etc. As suas tentativas de explicação levaram-nos à ideia de que existe outra realidade não terrena de caráter sobrenatural, na qual a consciência, de natureza imortal, vive e atua separada do mundo real.
Os filósofos da antiguidade levantavam estas questões; o que é o mundo sensível? E qual o seu fundamento? Qual é a fonte dos nossos conhecimentos sobre a realidade?, ou seja, qual é a origem de seu desenvolvimento?. As respostas a estas perguntas estavam vinculadas, no plano filosófico, a certos conceitos sobre a matéria, isto é, ao problema