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Cultura Profissional Docente
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E-book336 páginas4 horas

Cultura Profissional Docente

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Sobre este e-book

O livro Cultura profissional docente: como a descobrir e ressignificar no sentido da emancipação humana? Analisa como os professores pedagogos constituem sua cultura profissional enquanto trabalhadores da educação. Parte-se do pressuposto de que a cultura e o trabalho docentes são constituídos no cotidiano pelas relações estabelecidas nas diversas dimensões de convivência e que constituem o fenômeno educativo. Questões como a ideologia e a cultura de massas, entre muitas outras, interferem diretamente na constituição da cultura do pedagogo, e a função de intelectuais é essencial na constituição da consciência de classe.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de jun. de 2020
ISBN9786555235951
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    Cultura Profissional Docente - Roberta Ravaglio Gagno

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2017 do autor

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    A meu pai, Luiz Sérgio Ravaglio, minha mãe, Maria Christina, minha sogra, Tereza, meu marido, Renato Rubens Gagno Filho, meu irmão, Rodrigo, e meus filhos, Guilherme e André.

    AGRADECIMENTOS

    À minha família, razão do meu viver, àqueles que me apoiaram em todos os momentos (Renato, Christina, Sérgio, Guilherme, André, Rodrigo, Carline, Antônio, Tereza), sem o apoio de vocês este sonho nunca seria realizado.

    À minha orientadora de doutorado, minha mestra, Prof.ª Dr.ª Naura Syria Carapeto Ferreira, mentora intelectual e exemplo de vida.

    Aos professores pedagogos das Escolas Estaduais de Paranaguá, pelas ricas contribuições e reflexões.

    À Fundação Araucária e à Capes, que propiciaram condições para que a pesquisa ocorresse.

    Aos queridos amigos, de longe e de perto, que comungam comigo a busca de uma existência mais justa, digna e humana para todos.

    LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS

    APRESENTAÇÃO

    Este livro tem como tema a cultura profissional do pedagogo e suas formas de constituição, em especial o trabalho e a consciência de classe, no sentido de contribuir para que o próprio profissional da educação possa compreender-se em meio aos intervenientes econômicos, culturais, sociais, históricos e políticos. Também estabelece as relações presentes nas contradições do cotidiano e na constituição de um profissional consciente de sua profissão e da função social com seus educandos e com a sociedade em geral, responsabilidades inerentes à sua profissão.

    Analisamos a cultura do professor pedagogo, como ela se constitui e o constituiu, trazendo-o para o centro do debate, da investigação científica e das discussões que perpassam os gabinetes e onde as políticas para essa categoria são definidas. Investigamos, assim, quem é esse profissional, sua história e trajetória de vida, a forma como se constitui, como é tratado, avaliado, os conflitos que enfrenta, os espaços e tempos que fazem parte da profissão, seus gostos, ambições, e como essa cultura adquirida historicamente vai influenciar no exercício de sua profissão.

    A autora

    PREFÁCIO

    COMO RESSIGNIFICAR A CULTURA PROFISSIONAL DOCENTE EM UM MUNDO TÃO DESPROVIDO DE COMPROMISSOS?

    Prefaciar um livro é prefaciar um cérebro que fala, quando aberto! É prefaciar um amigo que espera, quando fechado! É prefaciar uma alma que perdoa, quando esquecida! É prefaciar um coração que chora, quando destruído. Sim, porque um livro é um cérebro, um amigo, uma alma e um coração. Possui a grandeza de cada um desses quatro elementos constitutivos da mais perfeita criação de Deus: o ser humano. São quatro elementos constitutivos de um ser que se expõe ao mundo, por meio da expressão escrita, o que pensa, sente e por que age. É uma elevada produção humana das mais laboriosas e, por isso, uma das mais valiosas.

    Assim, com esse sabor muito especial, recebi com alegria o convite honroso de Roberta Ravaglio Gagno para prefaciar Cultura profissional docente: como a descobrir e ressignificar no sentido da emancipação humana?, por considerá-la fruto de um cérebro brilhante, uma amorosidade intensa, uma alma que enleva e um coração que sente, com muita sensibilidade, a vida e o mundo! Aceitei com a ousadia de tentar expressar o que meu cérebro, meu amor, minha alma e meu coração podem expressar. Ao aceitar, pude ter o privilégio de, antes do público leitor, maravilhar-me com o que aqui, neste livro, vai escrito.

    Testemunho, dessa forma, sobre o livro de Roberta Ravaglio Gagno. O porquê de nesta obra a autora falar da cultura profissional do professor pedagogo e exercício do trabalho docente.

    Trata da cultura, complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano na família e como parte de uma sociedade da qual é membro. Trata da cultura também entendida como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração por meio da vida em sociedade. A autora parte do pressuposto de que a cultura e o trabalho docentes são constituídos no cotidiano pelas relações estabelecidas nas diversas dimensões de convivência e que constituem o fenômeno educativo (GAGNO, 2017, s/p). Dessa forma,

    questões como a ideologia e a cultura de massas, entre muitas outras, interferem diretamente na constituição da cultura do pedagogo, e a função de intelectuais é essencial na constituição da consciência de classe (GAGNO, 2017, s/p).

    Fala, mais especificamente, da cultura profissional do professor pedagogo e seu trabalho como profissional responsável pela educação dos que têm acesso à escola. Fala do professor pedagogo que exerce seu ofício, muitas vezes com o coração sangrando, com sua amorosidade amordaçada, sua alma quase descrente e seu coração despedaçado. Fala de um profissional responsável pela formação humana e que trabalha sem as condições materiais necessárias ao seu trabalho, impossibilitando-o de exercê-lo com a maestria que merece, penalizado por um salário precário, injusto e desrespeitoso.

    Só quem tem grandeza, sensibilidade de um cérebro, uma alma e um coração amorosos é capaz de intuir esse precioso tema que Ravaglio Gagno defendeu brilhantemente em sua tese de doutorado. Brinda, agora, o público com essa tese transformada em livro com toda a riqueza reveladora dos dados empíricos e da sólida fundamentação teórica, que compõem esta obra, tratados com o máximo rigor e respeito.

    Roberta Ravaglio Gagno, pesquisadora tenaz e comprometida com a qualidade da educação básica púbica, com a academia que prepara formadores de cidadania e a formação de profissionais da educação de qualidade para todos, vem desenvolvendo pesquisas sobre esses temas no sentido de contribuir para a qualidade da educação escolar e melhoria da qualidade da vida humana. Na verdade, pode-se considerar que o problema motivador das pesquisas de Roberta Ravaglio Gagno constitui-se na necessidade de compreender, em profundidade, como a cultura profissional do pedagogo – que se forma no desenvolvimento teórico e histórico de cada sujeito – constitui-se e influencia o seu trabalho docente e a formação dos novos cidadãos em formação. Sua intenção e seu contributo é fornecer subsídios para novas políticas públicas e gestão da educação, capazes de poder formar novas gerações capacitadas e felizes.

    As principais características da cultura são o mecanismo adaptativo e o mecanismo cumulativo. O primeiro consiste na capacidade dos indivíduos de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos. O segundo – mecanismo cumulativo – consiste em processos de sínteses das modificações trazidas por uma geração que passam à geração seguinte, na qual vão se transformando, perdendo e incorporando outros aspetos a fim de melhorar a vivência das novas gerações. Essa dinâmica da cultura consiste em um saboroso e contraditório sofrimento que está sempre em desenvolvimento, pelas influências, por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano e das sociedades. Trata-se, portanto, de uma atitude de interpretação pessoal e coerente da realidade, destinada às posições suscetíveis de valor íntimo, argumentação e aperfeiçoamento que cada sujeito em formação vai desenvolvendo a partir de suas convivências e compreensões. Mudar ou transformar hábitos, costumes, formas de pensar e agir, ideias, valores, e assim por diante, é uma dinâmica que necessita ser muito bem administrada pelo mediador que faz educação na escola, assim como pelos sujeitos que a essas transformações estão submetidos.

    Não se trata, portanto, de um ofício fácil que se possa ministrar aligeiradamente ou com fins mercadológicos, mas que exige uma sólida formação teórico-metodológica, ético-política, e um forte caráter que permitam gerir e gestar esse processo de formação humana em constante mutação. Saliente-se que mudar ou transformar hábitos, costumes, formas de pensar e agir, ideias, valores, dinâmica a que me referi acima, também se processa nos professores e pedagogos, nos gestores da educação que igualmente se encontram submetidos a esses processos culturais em mudança, em miscigenação e transformação.

    A escola e o sistema educacional, em seu conjunto, são instâncias de mediação cultural entre os significados, sentimentos e comportamentos da comunidade social e o desenvolvimento específico das novas gerações. Assim como a escola, os docentes e discentes, que constituem a escola viva, sofrem as consequências dessas mudanças e movimentos que se operam em todas as dimensões do tecido societário. Quando se pensa no significado da escola, seus compromissos e responsabilidades sociais e a natureza do trabalho pedagógico, como consequência dessas transformações e mudanças tanto no panorama econômico e político, como no âmbito dos valores, ideias e costumes que compõem a cultura ou as culturas da comunidade social, percebe-se que os docentes, de modo geral, mostram-se com pouca iniciativa, encurralados, deslocados pelo rolo compressor da força virulenta dos fatos, pela vertiginosa sucessão de acontecimentos no mundo que tornam obsoletos os conteúdos e as práticas pedagógicas. O global sobrepôs-se ao local, subsumindo-o com sua violência espetacular, em todas as dimensões, polarizando as atenções para um poder paralelo que nasce do ódio e que instaura no mundo o medo e a insegurança decorrentes do terrorismo e do genocídio que protagonizam o cenário mundial.

    Nosso maior patrimônio, nosso real tesouro, não são somente os livros que escrevemos, as inteligências que temos o privilégio de burilar, as aulas que damos e ouvimos, mas a capacidade de pensar por contradição e, desse modo, debater, poder e ter capacidade de discordar para construir. A universidade, quer no ensino, na pesquisa ou na extensão, necessita ser o instrumento para o aprendizado do debate governado pela civilidade que se pauta no respeito às diferenças, no respeito à consciência do outro, na solidariedade, no amor! Amor que acolhe para, pautado no respeito, entabular. Debate que necessita acontecer e ser desenvolvido, ancorado na convicção de que, se a derrota não liquida o perdedor, a vitória não legitima nenhuma arrogância por parte do vencedor. Debate que tem o teor do fazer crescer, para esclarecer questões, como refutar, verificar a validade de ideias, convencer, buscar a veracidade de um argumento; método de apresentar formalmente argumentos de uma forma disciplinada.

    Nesta obra, alguns questionamentos que inquietam Ravaglio Gagno são tratados pela autora com propriedade e profundidade: Como se dá a construção de uma cultura profissional docente? Como as condições de trabalho, as relações estabelecidas e os interesses se tornam constituintes de uma cultura profissional docente? Quais são os principais desafios enfrentados pelo professor pedagogo em um determinado contexto histórico-geográfico? Como a consciência de classe pode influenciar na compreensão dessas questões, em especial no que concerne à cultura docente em um determinado município? Como a consciência de classe se manifesta e intervém na cultura escolar? Quais as condições de trabalho, cultura, interesses e aspirações dos professores pedagogos que trabalham na formação? Que protagonismo tem a ideologia e a alienação no trabalho do professor no que concerne à formação para a cidadania e a emancipação humana?

    Com a pesquisa empírica, levantamento de significativos dados colhidos junto aos professores pedagogos, Roberta Ravaglio Gagno procede a análises muito ricas de determinações e proposições, tais como os saberes necessários à indissociabilidade de teoria e prática, e como converter essas sínteses teórico-práticas em políticas intencionais e operacionais, comprometidas com a promoção e o favorecimento da humanidade de forma geral (GAGNO, 2017, p. 215).

    Destaca, ainda, a necessidade de extinguir as questões que obstaculizam a realização plena do professor/ pedagogo na realização de um trabalho profissional de qualidade na formação humana de seus alunos, tais como a precarização, a desvalorização, o desrespeito, baixos salários, multifunções, entre inúmeras outras ausências de condições absolutamente necessárias ao atingimento dos objetivos expressos no estatuto teórico das ciências da educação e exarados na legislação educacional.

    Entre mais de uma dezena de questões propositivas que fornecem subsídios para as políticas públicas de formação de profissionais da educação em geral e de pedagogos para as escolas públicas de qualidade, destaco o que Roberta Ravaglio Gagno considera ser fundamental:

    envolver estudos da humanidade, conectando problemas científicos e filosóficos com a realidade das escolas e dos que nela atuam. É o pensar a teoria de maneira inseparável da prática política, da formação, da luta cultural e do desenvolvimento histórico (GAGNO, 2017, p. 216).

    Este livro contém, como afirmei acima, o cérebro, a amorização, a alma e o coração de Roberta Ravaglio Gagno, ser humano rico de virtudes e qualidades que lhe atribuem sua maneira de ser, profissional competente que com sagacidade luta pela verdade, liberdade, solidariedade e respeito ao profissional da educação e às crianças que a eles são entregues por seus pais, ou aos jovens e adultos que buscam nas universidades a melhor formação profissional para poderem exercer competentemente sua profissão e lutar por uma sociedade mais justa e solidária. Seus atributos extravasam a cotidianidade humana, que é mediana, para alçar voos no conhecimento, na vida, na profissão, nas relações, para expressar o que de melhor existe visando ao bem comum.

    Por essas razões, parabenizo a Prof.ª Dr.ª Roberta Ravaglio Gagno, aprovada com louvor em sua defesa de doutorado que, agora, desnuda ao público em geral, o objeto das loas recebidas. Por essas razões, agradeço à querida Roberta a honra que me atribuiu em seu livro.

    Cultura profissional docente: como a descobrir e ressignificar no sentido da emancipação humana? constitui uma obra de leitura imprescindível para todos que se interessam pela qualidade da vida humana das novas gerações e das que, hoje, vivem o conturbado mundo contemporâneo.

    É com muita gratidão pelo honroso convite a mim formulado pela minha ex-orientanda, que só dignificou o PPGED – doutorado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná –, assim como a mim que tive o privilégio de com ela debater polêmicos temas e problemas da educação brasileira, que reafirmo ser este livro, Cultura profissional docente: como a descobrir e ressignificar no sentido da emancipação humana?, um precioso instrumento intelectual formativo para professores, pedagogos, educadores de modo geral, políticos, decisores e legisladores da educação brasileira verdadeiramente comprometidos com a formação de um novo homem, com direitos e deveres plenos de cidadãos construtores de uma nova cultura brasileira, alicerçada na histórica cultura que originalmente traduzia, e que, ainda, parcialmente reflete a riqueza de nosso Brasil.

    Curitiba, inverno de 2017

    Naura Syria Carapeto Ferreira

    Professora doutora em Educação

    Sumário

    1

    INTRODUÇÃO

    2

    COMPREENDENDO A CATEGORIA CULTURA

    2.1 A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO TERMO CULTURA

    2.2 A IDENTIDADE PROFISSIONAL

    2.3 CULTURA E A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DO PROFESSOR PEDAGOGO

    2.4 DIMENSÕES DE CARÁTER ANTROPOLÓGICO

    2.5 DIMENSÃO INSTITUCIONAL

    2.6 OUTROS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO FENÔMENO EDUCATIVO

    2.7 A CULTURA PROFISSIONAL DOCENTE

    3

    COMPREENDENDO A CATEGORIA TRABALHO

    3.1 A ALIENAÇÃO DO TRABALHOR

    3.2 AS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO PARANÁ SOB A ÓTICA DA TEORIA DO TRABALHO

    3.3 A IDEOLOGIA NO TRABALHO DO PROFESSOR PEDAGOGO

    4

    CONSCIÊNCIA DE CLASSE

    4.1 CONSCIÊNCIA E PERTENCIMENTO DE CLASSE: O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO

    4.2 A FUNÇÃO DOS INTELECTUAIS NA CONSTRUÇÃO DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE E DA CULTURA

    4.3 O QUE ESTA INVESTIGAÇÃO APONTA COMO CONTRIBUIÇÃO

    REFERÊNCIAS

    1

    INTRODUÇÃO

    Este escrito pretende ser um estímulo ao pensar e ao operar; pretende ser um convite aos melhores e mais conscientes operários para que reflitam e, cada um na esfera da própria competência e da própria ação, colaborem na solução do problema, fazendo convergir para ele a atenção dos seus camaradas e de suas associações [...] Somente através de um trabalho comum e sólido de esclarecimento, de persuasão e de educação recíproca nascerá a ação concreta de construção (GRAMSCI, 1919, p. 1).

    Este livro tem como tema a cultura profissional do pedagogo e suas formas de constituição, em especial o trabalho e a consciência de classe, no sentido de contribuir para que o próprio profissional da educação possa compreender-se em meio aos intervenientes econômicos, culturais, sociais, históricos e políticos. Tal pensamento se coaduna com os anseios de Gramsci na epígrafe acima, escolhida por ser apropriada à matriz teórica da autora e pela pertinência da mesma. O leitor encontrará aqui também as relações presentes nas contradições do cotidiano e na constituição de um profissional consciente de sua profissão e da função social com seus educandos e com a sociedade em geral, responsabilidades inerentes à sua profissão.

    Para isso, torna-se necessário analisar a cultura do professor pedagogo, como ela se constitui e o constituiu. A análise realizada aqui tem a função de trazê-lo para o centro do debate, da investigação científica e das discussões que perpassam os gabinetes e onde as políticas para essa categoria são definidas. Investiga-se, assim, quem é esse profissional, sua história e trajetória de vida, a forma como se constitui, como é tratado, avaliado, os conflitos que enfrenta, os espaços e tempos que fazem parte da profissão, seus gostos, ambições e como essa cultura adquirida historicamente vai influenciar no exercício de sua profissão.

    Trata-se de uma cultura vivenciada, muitas vezes, por esse profissional no interior dos sistemas nos quais ele atua, que não pode ser silenciada; procurou-se desvelar a homogeneidade aparente expressada pelas formas de nivelamento com que as políticas, a sociedade e os meios de comunicação de massa¹ tratam essa profissão. Esse nivelamento se dá quando os sistemas não observam uma série de questões que afeta diretamente a constituição da cultura profissional, como a realidade diferenciada de cada escola e formação continuada padrão, por exemplo.² Uma compreensão que precisa se dar no cotidiano do trabalho no interior das escolas e das salas de aula, experiências que ultrapassam currículos, legislação, planejamentos e avaliações, mas que tratam do professor pedagogo em sua totalidade na construção da cultura profissional docente.

    Nesse contexto, a escolha da temática se justifica pela necessidade de examinar a cultura profissional docente, em especial do pedagogo no interior das escolas públicas do Paraná, visto que esta se encontra diretamente articulada aos aspectos legais das políticas educacionais que interferem na sua constituição. São elas que regulam a atuação desse profissional, a formação e a sua percepção das relações estabelecidas entre a prática e a teoria, questões pertinentes à especificidade do trabalho por ele desenvolvido.

    Tomou-se o pedagogo como referência devido à sua fundamental importância na formação para a cidadania, acentuada formação docente e as atribuições descritas em editais de concursos a esses profissionais, obrigações essas que, muitas vezes, escapam da realidade na qual atuam, o que sugere desinformação, ou ainda desinteresse do Estado pela efetiva condição de trabalho do professor pedagogo nas escolas. Pode-se ilustrar esse argumento citando o edital nº 17/2013³, que normatizou o último concurso público para pedagogos no ano de 2013, no estado do Paraná; as atribuições ficam definidas com base em atividades de suporte pedagógico, planejamento, orientação, supervisão e administração.

    A partir das premissas e exigências do referido edital, direciona-se para a construção de uma dada cultura profissional docente que atenda as finalidades. O trabalho, conforme prevê o edital e em conformidade com a realidade das escolas e do número de profissionais no trabalho pedagógico em cada unidade, pode isolar o profissional e gerar passividade com relação aos demais.

    Nessa via de raciocínio, o homem é tido na sua individualidade, não como um ser histórico, logo, passível de mudanças. Isso obscurece a consciência de se pertencer a uma

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