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Vigiando a observadora
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E-book287 páginas4 horas

Vigiando a observadora

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Sobre este e-book

A psíquica Selene Johansen é uma excelente policial investigativa, capaz de determinar culpa através do primeiro aperto de mão.


Enquanto seu talento pela busca dos fatos a mantém ocupada, sua vida pessoa é solitária. Afinal de contas, quem quer namorar uma garota que pode ler mentes? Mas a solidão que a consome se dissolve quando ela descobre que seu amigo de longa data Brandon Price sabe sobre o poder psíquico dela...e de seu amor secreto por ele.


Enquanto a relação deles esquenta, Selene ousa a baixar sua guarda, não percebendo que um perseguidor implacável está determinado a pôr um fim na paixão do casal – e às suas vidas.


NOTA: conteúdo sexual gráfico.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de abr. de 2022
Vigiando a observadora
Autor

Simone Beaudelaire

In the world of the written word, Simone Beaudelaire strives for technical excellence while advancing a worldview in which the sacred and the sensual blend into stories of people whose relationships are founded in faith but are no less passionate for it. Unapologetically explicit, yet undeniably classy, Beaudelaire’s 20+ novels aim to make readers think, cry, pray... and get a little hot and bothered. In real life, the author’s alter-ego teaches composition at a community college in a small western Kansas town, where she lives with her four children, three cats, and husband – fellow author Edwin Stark. As both romance writer and academic, Beaudelaire devotes herself to promoting the rhetorical value of the romance in hopes of overcoming the stigma associated with literature’s biggest female-centered genre.

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    Vigiando a observadora - Simone Beaudelaire

    CAPÍTULO 1

    Selene Johansen agachou-se e pegou uma pesada caixa de papelão. Sua longa trança branco-loira escorregou por cima do ombro e balançou sobre a caixa, as pontas deixando rabiscos na grossa poeira. Ela ergueu a caixa e a carga mal distribuída lá dentro se moveu desconfortavelmente. Içando o peso, ela fez seu caminho através do estridente assoalho de madeira em direção à porta do pequeno quarto rosa e verde. Ela teve que se afastar um pouco para o lado enquanto sua amiga Maggie passava, balançando seu rabo-de-cavalo preto, para pegar outra caixa. Restavam apenas mais algumas caixas.

    Enquanto Selene se movia através da porta atrás de Maggie, descendo pelo estreito corredor de cor terracota, seus tênis faziam as tábuas cor de mel rangerem. Sujos como seus calçados estavam, ela não queria imundar o tapete verde vibrante que estava no centro do corredor. Enquanto caminhava lentamente, seus pensamentos estavam na garota que estava ajudando a mudar e como elas tinham se conhecido.

    Já tinha se passado oito anos, Selene tinha apenas vinte anos naquela época: era idealista e procurava usar seu dom para ajudar as pessoas.

    — Ei, Johansen, você está pronta? — Bill perguntou, levantando-se de sua mesa bagunçada, cheia de papéis espalhados e derrubando uma avalanche de documentos amassados, um grampeador e uma xícara de café. Selene encolheu-se. Eu sei que não deveria criticar um supervisor, mas o jeito desmazelado dele realmente me incomoda.

    Segurando um comentário sobre os arquivos confidenciais, agora ilegíveis sob um rastro de líquido marrom, ela o seguiu para fora da sala e desceu o saguão onde o seu primeiro cliente estava esperando.

    — Essa é a garota perfeita para você ter sua primeira vez, docinho. — Ele disse a ela, deixando-a impaciente mais uma vez. Evitando proferir uma resposta amarga sobre o assédio sexual, ela começou a estudar a arte abstrata pendurada nas ofuscantes paredes brancas, acima do tapete industrial acinzentado. Triângulos vermelhos e amarelos. Esse lugar é cheio de cores fortes e ângulos agudos. Como alguém pode relaxar em tal ambiente?

    — Por que, Bill? — Ela jogou a juba loiro-prateada sobre um ombro e desejou ter acordado mais cedo para ter a arrumado. Ninguém me leva a sério com todo esse cabelo solto.

    — Ela é jovem como você. As gurias devem ter muito em comum.

    Gurias? Você não sabe onde vive, seu jacu? Ninguém diz isso aqui. Ela balançou a cabeça e o seguiu até a sala de aconselhamento. Dois sofás estofados, ambos em um tom suave de azul, descansavam em ângulo reto ao longo da parede interior. Acima deles, uma janela deixava entrar uma visão do céu cinza-aço de inverno e ela podia ver uma bétula de rio despida, sua casca dourada contrastando com as cores pálidas de fevereiro.

    Uma garota com cabelo quase tão longo quanto o de Selene se sentava no sofá. Selene sorriu. Poderia ser uma maneira de iniciar a conversa, embora o cabelo da menina fosse preto-azulado, não loiro. Ela virou-se, revelando a pele cor de cobre e maçãs esculpidas do rosto de uma nativa americana. Que garota bonita. No entanto, ela não chegava nem perto da idade de Selene. Reparando sua aparência poderia se dizer que mal tinha entrado no ensino médio, se tivesse. Ela usava um jeans azul desbotado e um suéter roxo. A tristeza contornava seus olhos de vermelho.

    — Oi — disse Selene, escolhendo um tom neutro, embora beirasse o simpático. Ela estendeu a mão. A garota olhou de soslaio, franziu as sobrancelhas e aceitou o aperto.

    Imediatamente, um rio gélido de luto circulou Selene torrencialmente à beira do desespero. Lágrimas arderam em seus próprios olhos e um suspiro trêmulo foi preso na sua garganta. — Eu realmente sinto muito — ela disse suavemente, sabendo que era insignificante.

    — Por quê? — a garota zombou. — Você sabe como é perder uma mãe?

    Selene assentiu com a cabeça. — Eu sei. Mas não assim.

    — Assim como? — Uma pitada de curiosidade fez seu caminho pela expressão e tom da garota.

    — A minha morreu quando era ainda era bebê. Nunca a conheci. E não foi câncer.

    A cliente fechou rapidamente os olhos com uma mistura de fúria e confusão. — Como você sabe disso?

    — É um dom que tenho — admitiu Selene, suprimindo o desejo de se contorcer em desconforto. Será que alguma vez me acostumarei a dizer isso às pessoas?

    Os olhos escuros cheios de raiva da menina se arregalaram. — Dom? Você pode ler minha mente? — Ela rapidamente puxou sua mão. — Sua aberração. Não me toque!

    — Tudo bem — Selene disse, lutando para manter a calma apesar de escutar – novamente – o insulto que mais odeia. — Não irei. Qual é seu nome?

    — Maggie.

    —Diminutivo de Margaret? — Selene perguntou gentilmente.

    — Não. É Maggie mesmo. Maggie Price.

    — Eu sou Selene Johansen. Importa se eu me sentar?

    Maggie sacudiu os ombros e se afundou no sofá. Sob a supervisão de Bill, Selene passou a próxima hora tentando falar com Maggie sobre algumas formas de se lidar com o trauma, ajudando a criança a lidar com sua perda.

    No final da sessão, que durou uma hora, uma batida soou na porta. Selene levantou-se para abrir e viu algo que lhe fez segurar completamente o fôlego. Um homem: cabelos e olhos escuros, olhando para ela com uma expressão quase correspondente ao luto de sua filha, mas apesar disso não estava com raiva. Ele e Selene se olharam nos olhos por um momento interminável, compartilhando empatia para além das palavras. Selene não ofereceu sua mão. Não havia necessidade.

    E assim foi o início da relação delas. Eventualmente, o contato frequente afastou a animosidade, e agora Maggie tinha se tornado um dos poucos amigos de Selene que não eram da polícia. Enquanto a garota mais nova amadurecia, ela deixou de ser uma antiga cliente com quem Selene ainda mantinha contato e se tornou uma amiga. Agora, oito anos mais tarde, Maggie tinha vinte e dois, e a diferença de sete anos das idades delas já não parecia importante mais.

    Selene chegou à picape branca enferrujada e pôs a caixa pesada na cama quase cheia. Que bom que já quase acabamos aqui.

    Ela olhou ao redor pelo jardinzinho arrumado. A grama bem aparada dava forma a uma fileira de arbustos, cuidadosamente contornados, ao longo da frente da casa. Um carvalho envelhecido sombreava as janelas do quarto da frente, através do qual ela mal conseguia ver a área confortável de se sentar. O tapume limpo, pintado de branco, de um dos pequenos andares combinava atrativamente com seus vizinhos maiores, se não tivessem exatamente o mesmo tamanho. Ela sorriu. Parece uma casa-bebê brincando com seus irmãos mais velhos.

    — Vamos, Selene — Maggie chamou do portal. — O dia não vai esperar por nós. Pare de cheirar as flores e volte ao trabalho.

    Selene sorriu para a impaciência de sua amiga. Mas Maggie está correta sobre uma coisa: o perfume inebriante do lilás vale a pena que se pare por um momento.

    Enquanto Selene voltava para dentro da casa, uma breve explosão de música de um violino com sintetizador, vindo de seu bolso, acompanhou seu percurso pela sala de estar. Ela fisgou o celular e se afundou no sofá para atender a ligação.

    — Não se atreva! — Maggie exclamou, arrebatando o telefone da mão de Selene e percorrendo o dedo pela tela.

    — Ei! — Selene protestou, se levantando com um salto. — Era provavelmente trabalho.

    — Você não está de plantão. — Maggie replicou, imperturbada. — E o destino do universo não depende de você.

    Selene balançou a cabeça. — Já te falei antes. Você sabe como é importante para mim fazer o que faço. Por minha causa, vidas, que poderiam ser perdidas, são salvas. Eu sou importante, Maggie.

    — Sim, eu entendo isso, — Maggie respondeu, devolvendo o telefone — mas você é uma pessoa também. Você merece um dia de folga de vez em quando, e você só tem um fim de semana por mês que não está de plantão. Por favor, não o desperdice por causa de trabalho. Existem outros policiais, Selene. Dê a um deles a oportunidade de brilhar. — E com isso ela se afastou.

    Abalada, Selene olhou para a tela do seu telefone. Maggie tem razão, uma pequena voz em sua cabeça lhe lembrava. Você tem trabalhado turnos de dez a doze horas todos os dias nas últimas três semanas. Se sentindo determinada de repente, Selene guardou o telefone de volta no bolso e voltou para o quarto para pegar outra caixa.

    Maggie passou se apertando por Selene carregando uma caixa de... alguma coisa com grande facilidade. Isso não significa que a caixa era leve. O trabalho de Maggie como preparadora física a deixou incrivelmente forte. Isso se mostrava em sua forma esbelta, tonificada, braços cinzelados e pelo estômago perfeitamente liso. O rosto dela, é claro, acompanhava sua figura. Seu excelente condicionamento fez com que suas exóticas maçãs do rosto e nariz forte se destacassem em perfeito relevo. Seu cabelo preto brilhante, amarrado hoje em um rabo de cavalo bem prático, se pendurava elegantemente em seu ombro.

    Selene voltou para o quarto e ergueu a penúltima caixa. Seu peso, momentaneamente, desequilibrou a moça. Então foi aqui que Maggie guardou os livros de Anatomia e Fisiologia depois que terminou a faculdade.

    — Me lembre por que estamos fazendo isso. — ela reclamou em tom de brincadeira com Maggie enquanto esta entrava no quarto e içava a última caixa. — Você sempre disse que fazia sentido uma mulher solteira ficar em casa, especialmente porque você queria fazer companhia para seu pai.

    Maggie deu de ombros. — Não sei — ela respondeu. — Eu só senti que precisava de uma mudança. Este parecia ser um bom momento para fazer algo diferente. Agora se cale e me deixa passar. Esta caixa está pesada.

    Provavelmente halteres, pensou Selene. Graças às horas de treinamento que ela gasta toda semana na academia do departamento de polícia, ela carregou a caixa até a velha caminhonete enferrujada de Maggie, a qual vinha se arrastando atrás com a última caixa.

    — Senhoritas, — uma amigável e acolhedora voz veio por trás delas — antes de irem, alguma das duas gostaria de algo para beber?

    Selene se virou. O pai de Maggie, Brandon, estava atrás dela segurando dois copos do que só podia ser sua limonada caseira.

    — Obrigada, pai — Maggie disse, agarrando um e o esvaziando em três goles.

    — Sim, obrigada — Selene ecoou timidamente. Eu sempre gostei do pai de Maggie, talvez um pouco até demais, mas nunca me senti completamente confortável em torno dele. Não tenho certeza se ele sabe do meu dom, mas espero que não. Eu quero que pelo menos uma pessoa acredite que sou normal, e se pudesse ser Brandon Price, bem, isso seria perfeito.

    — Não posso acreditar que vocês já acabaram, — ele comentou — eu ia ajudar.

    — Eu acho que você está ficando devagar com a idade, pai. Nós, garotas, somos rápidas demais para você.

    — Me desculpe, eu fiquei agarrado.

    — Sabe, pai, você poderia ter falado para a vovó que retornaria a ligação.

    — Sim, claro, Maggie. Se eu tivesse feito isso, ficaria ouvindo reclamações sobre isso por um mês.

    — Você está certo. — Maggie sorriu ironicamente. — Mas está tudo bem, pai. Selene e eu cuidamos de tudo.

    Os olhos escuros de Brandon encontraram os de Selene por um breve momento.

    Ela desviou o olhar, estudando os canteiros do jardim com grande interesse. Para disfarçar o movimento nervoso, tomou um gole de limonada. Ela amava o gosto azedo e refrescante, e enquanto saboreava a bebida fresca espiou Brandon e Maggie, os dois em pé perto da entrada da garagem. O notável par parecia tão semelhante. Eram ambos altos, com cabelo preto lustroso, maçãs do rosto esculpidas e olhos escuros quentes. Ao vê-los juntos, Selene brevemente pensou em quem poderia ser seu pai.

    Não há nenhum benefício em sentir pena de si mesma. O destino decretou que você vai viver sem uma família, e honestamente, seria uma distração do trabalho. Mentalmente sacudindo a cabeça, ela jogou o resto de sua limonada goela abaixo e devolveu o copo para Brandon com um sorriso tímido. Ele sorriu de volta, seus dentes brancos piscando contra o cobre de sua pele. Selene sentiu uma onda de calor no rosto e esperou que não estivesse corando.

    — Posso oferecer às senhoritas um jantar? — Ele sugeriu. Selene encontrou os olhos dele novamente e ele piscou para ela. Desta vez ela sabia que estava corando.

    — Não há tempo, pai, — Maggie respondeu. — Ainda tenho que descarregar as caixas no apartamento.

    Selene tentou esconder seu desapontamento. Depois de um dia de trabalho duro como este, comer uma das deliciosas refeições de Brandon teria sido a recompensa perfeita.

    — Mas talvez Selene gostaria de comer com você — Maggie continuou, surpreendendo Selene e tirando-a de sua contemplação.

    — Não quer minha ajuda lá do outro lado? — Ela perguntou.

    — Na verdade não, — Maggie respondeu com um olhar atrevido — já ouvi sugestões demais vindo de você. Eu sei onde quero as minhas coisas, e não quero passar os próximos seis meses procurando por elas porque você teve uma ideia melhor de onde elas devem ficar!— Ela plantou as mãos nos quadris e sorriu.

    Selene sorriu com a provocação. — Se você tivesse qualquer lógica nessa pequena ervilha de cérebro, — ela provocou de volta — saberia que eu as coloquei nos melhores lugares e você deve procurar lá primeiro.

    Maggie balançou a cabeça. — Sabe, Selene, você seria uma péssima companheira de quarto.

    — Por que acha que vivo sozinha? — Selene respondeu. As duas mulheres riram.

    — Então, Selene, — Brandon disse, levando os olhos dela de volta ao rosto dele — gostaria de ficar para jantar? Tenho um peito de frango recheado com cogumelos gritando seu nome.

    A boca de Selene se encheu de água pelo simples pensamento de que a comida não vinha congelada e embrulhada em papel celofane. Você realmente deveria ir para casa. Você nunca sabe quando vão te chamar para trabalhar. Mas... este é o Brandon. — Claro — ela disse, sorrindo de novo.

    Maggie se despediu, saltou em sua picape desgastada e saiu dirigindo, deixando Selene e Brandon observando as caixas, precariamente empilhadas, balançarem.

    — Você acha que ela vai chegar com todas as coisas intactas? — Selene perguntou enquanto o veículo desaparecera na esquina.

    — Ela vai ter sorte se tudo estiver ainda no carro quando chegar lá — respondeu Brandon.

    Os dois riram, virando em direção à casa. Ele a acompanhou até a porta e a guiou com uma mão em suas costas. Quando o dedo mindinho dele tocou um centímetro de pele nua entre a camiseta e o jeans dela, os sentimentos dele a inundaram. Tristeza tomava conta da maior parte, mas ela também pôde detectar algum alívio, e não era sobre o fato de sua filha ter ido embora. Me alegro de Selene ter ficado. Não estou pronto para encarar o jantar sozinho. Tenho estado sozinho por tanto tempo...

    Ela se afastou dele rapidamente, odiando poder sondar os pensamentos de pessoas inocentes. Eu gostaria de poder bloquear isto, desligá-lo exceto em momentos apropriados, mas, infelizmente, não tenho tal sorte. Sempre que a mão de uma pessoa tocava a pele nua dela, ela sabia exatamente o que essa pessoa estava pensando.

    — Não estou muito apresentável — ela disse a ele, olhando para a sua roupa suja.

    — Não se preocupe, — Brandon disse tranquilizando-a — não vou expulsar uma convidada por causa de um pouco de sujeira. Além do mais, para início de conversa, ela veio desta casa. Por que não vai se dar uma lavada? Vou arrumar a mesa.

    Selene se apressou até o banheiro. Por causa da idade da casa, era o único, mas seu grande tamanho mais do que compensava isso. De pé em frente a um espelho para maquiagem com duas pias embutidas, ela escovava o quanto conseguia a sujeira de sua antiga calça jeans e de sua camiseta desbotada, odiando a maneira com que caía e sujava o chão de ladrilhos preto e branco. Ela lavou as mãos com uma barra de sabão perfumado. O aroma de ervas e flores de pradaria pairava, era um cheiro amigável, acolhedor e aconchegante. Me pergunto onde ele encontra esse sabão. Não o encontrei em nenhuma das lojas onde já procurei.

    Ela jogou um pouco de água no rosto empoeirado. Sem maquiagem nenhuma, e parecia uma adolescente. O fraco resquício de sardas, que ela fingia que não existiam, se destacava na sua pele, que parecia mais pálida do que o habitual. Sabe, você parece um pouco doente. Ela franziu a testa para seu reflexo.

    Bem, eu me sinto bem, e um pouco de palidez não é nada para se preocupar demais. Encolhendo os ombros, Selene saiu do banheiro. Passando pelo estreito corredor até a cozinha, ela se sentou à mesa redonda de madeira em um canto. Ela olhou para Brandon, que estava de costas para ela, perto do fogão de aço inoxidável de seis bocas, mexendo algo em uma panela grande. O espaço de trabalho cavernoso, acabado com granito preto e dourado brilhante, se tornou um impressionante local para Brandon mostrar seus dotes culinários.

    Ele se aproximou dela, carregando dois pratos e pôs um na frente dela, depois se sentou enquanto ela apreciava o cheiro. O peito de frango tinha sido recheado com ricota e espinafre e servido com um molho rico em cogumelo, arroz temperado e aspargos cozidos a vapor. Ela garfou um bocado de carne tenra, levou à boca e fechou os olhos para se concentrar em seu sabor suculento. Deliciosa.

    — Sabe, — ela disse a Brandon após várias mordidas — se algum dia você decidir deixar de ser um conselheiro de carreira, você poderia fazer uma fortuna trabalhando em um restaurante.

    Brandon sorriu, inclinando o queixo no punho. — Obrigado, — ele disse. Em seguida, mais calmamente, acrescentou: — Estou feliz que tenha ficado. É sempre melhor cozinhar para outra pessoa.

    — Tenho certeza que sim, — Selene respondeu. — É por isso que nunca me dou o trabalho. Com mais ninguém para alimentar, por que ter todo aquele trabalho?

    Ele olhou para ela com seus olhos castanhos que derretem coração e não disse nada, mas sua expressão falou muito. Ela não precisava ser uma poderosa vidente ao toque para ler esse pensamento em particular.

    — É muito ruim ser sozinho não é? — Ela perguntou suavemente.

    Ele curvou o queixo, reconhecendo o comentário dela, parecendo só um pouquinho vulnerável. Selene pôs a mão na manga da camisa dele, a maneira dela de dar um toque reconfortante e respeitar a privacidade dele ao mesmo tempo. Ele deslizou o braço lentamente debaixo da mão dela até que a palma de sua mão tocou a dela. Selene tentou escapar, mas ele fechou os dedos, confinando-a as suas emoções.

    — Por favor, — ela disse suavemente — você não deveria fazer isso.

    — Você não quer saber? — Ele perguntou a ela.

    Selene olhou para seu guardanapo. Então ele sabe que sou uma aberração. — Estou tentando lhe dar privacidade. — Ela disse a ele.

    — Estou escolhendo compartilhar. A menos que você não queira...

    Não compartilhar pensamentos com Brandon? Pensamentos oferecidos livremente? — Não, fico feliz. É bom sentir emoções normais de alguém de vez em quando.

    Ela atou seus dedos nos de Brandon e deixou os sentimentos dele a inundarem. Dor, tristeza, solidão e um pouco de medo. Ele realmente não quer ficar sozinho. Ela fechou os olhos e então os abriu para olhar profundamente nos dele. Eles tinham, inconscientemente, se inclinado um no outro, mais perto do que ela se lembrava já ter ficado dele antes.

    Meu Deus, ele é bonito, e seus lábios carnudos estão tão próximos. Eu só teria que me mover alguns centímetros... Ela tentou se lembrar de que ele só não queria ficar sozinho, que as circunstâncias, não sua presença, o tornavam vulnerável. Mas também não quero ficar sozinha. Ela se moveu para frente, mas parou, tímida demais para continuar. Sua atenção estava voltada às sensações se passando por ela através das mãos unidas deles.

    Decepção? Seus olhos se arregalaram. Ele moveu o queixo para baixo novamente, uma ligeira virada. Sutil. Quase imperceptível, mas ela percebeu. As bochechas dela se inflamaram e ela olhou para baixo rapidamente. A mão livre dele tocou o queixo dela e a dose dupla de sensação a sobrecarregou. Ele levantou o rosto dela até que seus olhos se reencontrassem. Ela podia sentir o pulso duvidoso dele pelos dois lados. Ele também quer.

    Ele não pode ouvir meus pensamentos, ela percebeu. Meu Deus, como as pessoas que não são médium conseguem se comunicar? Brandon não saberá o que quero a não ser que eu faça ou diga algo óbvio. A compreensão inflamou a

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