A vida é uma estrada
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Sobre este e-book
1975. A recessão está acabando, mas para a pequena cidade de Beulah, Illinois, a vida nunca será a mesma. Um acidente industrial ceivou a vida de cinco trabalhadores, deixando suas viúvas e filhos com sérios problemas, e a companhia luta para não ter que pagar uma indenização por homicídio culposo.
Oi, sou Janet e você deve estar se perguntando por que eu me importo. Eu administro um bar, certo? Mas minha irmã, Thea, é uma das viúvas. Ela está lutando para criar seus dois filhos sozinha. Estou ajudando, bem como minha filha, Brandy, e meu namorado, Rick, mas ela está passando por um momento difícil. E mesmo que sua atitude esteja me incomodando, ela ainda é minha irmã. Não posso deixá-la enfrentar todos os problemas sozinha.
Para piorar as coisas, o gerente não cansa de causar problemas. Talvez seja o melhor para todos que nós façamos uma viagem não programada para outro estado, onde possamos construir uma nova vida. Todos queremos um novo começo, longe das memórias terríveis. Se conseguirmos sobreviver à viagem.
Simone Beaudelaire
In the world of the written word, Simone Beaudelaire strives for technical excellence while advancing a worldview in which the sacred and the sensual blend into stories of people whose relationships are founded in faith but are no less passionate for it. Unapologetically explicit, yet undeniably classy, Beaudelaire’s 20+ novels aim to make readers think, cry, pray... and get a little hot and bothered. In real life, the author’s alter-ego teaches composition at a community college in a small western Kansas town, where she lives with her four children, three cats, and husband – fellow author Edwin Stark. As both romance writer and academic, Beaudelaire devotes herself to promoting the rhetorical value of the romance in hopes of overcoming the stigma associated with literature’s biggest female-centered genre.
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A vida é uma estrada - Simone Beaudelaire
CAPÍTULO 1
Western Illinois, 1975
Oi, Janet. Uma Schlitz, pode ser?
Pediu Buck ao passar pesadamente pela porta e se largar na cadeira de sua mesa favorita no canto.
É pra já
concordei quer uma vodca junto?
Não.
Passando a mão sobre o rosto cheio de desgosto. A mulher disse que eu preciso beber menos. Só uma cerveja, sem vodca.
Deu tapinhas na grande barriga sob o macacão gasto.
O bar caiu na gargalhada enquanto motoqueiros, caminhoneiros e mecânicos davam tapinhas em seu ombro. No meio da noite, ele terá triplicado a dose e a mulher não ficará nada satisfeita.
Fui até a geladeira atrás da bancada cheia de riscos e peguei uma garrafa âmbar. Abri a tampa com o chaveiro-abridor do bar, atravessei os quinze passos do salão, esquivando dos clientes, e coloquei a bebida em frente a Buck.
Tomou um gole. Obrigada, querida. Notícias do julgamento?
Neguei com a cabeça. Não consegui falar com Thea o dia todo. Ela chegou tão tarde que eu saí correndo. Não tivemos tempo para conversar. Espero que tenha boas notícias… e logo. Ela não está bem.
Que inferno.
Buck se solidarizou depois de longo gole em sua cerveja. Todos sabem que a Fertilizantes Ruxton tem histórico com a falta de segurança. Todos esses trabalhadores leais deram sua alma pela companhia.
E a vida
fui irônica. Uma merda que as viúvas precisaram abrir um processo para receber uma indenização.
Você está certa, docinho.
Buck balançava a cerveja.
Normalmente não permito que os clientes me chamem de docinho, mas Buck passou dos sessenta, estava muito acima dos cem quilos. Ele não tinha ilusões.
A porta abriu de novo, revirei os olhos e me apressei, ansiosa para colocar o balcão entre mim e meu cliente menos favorito.
Janet! Como vai? Ainda saindo com aquele mecânico engordurado?
Apertei os lábios. Não que seja do seu interesse, Bill, mas, sim. Ainda estou namorando o Rick.
Dá um pé na bunda dele. Fuja comigo.
Ergui uma sobrancelha. Claro, eu abandonaria meu homem para fugir com um pirralho que não pode comprar uma vodca, só cerveja. Tão imaturo que ainda era aprendiz do mecânico que cuida dos caminhões de fertilização. "Se o Rick te ouvir me incomodando, ele vai te dar um pé na bunda… por todo caminho cidade afora."
O rosto de Bill ficou vermelho. Michelob
murmurou, sentando enquanto meus outros fregueses riam e vaiavam.
Buck colocou a mão rechonchuda no ombro de Bill. Eu entendo, rapaz. Se eu fosse vinte anos mais jovem, tentaria algo com ela também, mas você não vai conseguir nada.
Observei meu domínio: um bar furrequento num barraco caído nos limites da cidade. Não é nada chique, mas paga as contas para mim e minha filha de nove anos desde que eu cheguei na cidade, grávida e sozinha. Coloquei meus últimos dólares nesta garagem aos pedaços e criei um agradável e minimamente respeitável negócio. Meus fregueses juram que vêm para cá porque o Red, no centro da cidade, era um pouco exagerado para pessoas com graxa debaixo das unhas. Para ser justa, eles são um pouco grosseiros, mas eu não me importo. Eles ajudaram uma estranha em necessidade. Agora, são minha família.
A melhor família que já tive. Para acabar com a melancolia, brinquei com Buck ao entregar a Bill sua Michelob. Vinte? Velho, você teria que dar cabo de uns trinta anos, no mínimo.
Ele bufou piscando para mim.
Qual o problema com seu olho, Buck? É bom a sua senhora lhe levar ao oftalmologista.
Buck soltou uma gargalhada. Nessa você me pegou, querida.
Percebi um movimento pelo canto do meu olho e desviei antes que Bill conseguisse agarrar a minha bunda. Olha a mão boba, fedelho.
Afastei sua mão atrevida e escapuli para trás do balcão.
Bill amuou. Não é justo
resmungou.
O que você quer dizer com isso?
Exigiu Buck.
Ela flerta contigo e me humilha.
Esfrego um pano no balcão, fingindo não escutar.
A voz brincalhona de Buck ficou séria. Menino, escuta aqui. Janet não o humilhou. Você fez isso consigo. Sabe por que ela brinca comigo? Porque ela sabe que eu estou brincando. Ela tem certeza de que eu não vou exagerar. Se ela soubesse que você manteria suas mãos no lugar, talvez se tornasse amigo dela também. Mas você sabe, eu sei, e ela sabe que você falou sério, por isso ela o precisa colocar no seu lugar. Não fique resmungando sobre justiça. Está tudo certo no entendimento de todos, menos no seu.
Bill respirou fundo. Pegou sua garrafa e saiu porta à fora.
Senhorita Miller?
Olhei e vi Walter Gustavson acenando para mim do canto mais próximo ao bar.
Mais do de sempre, Walt?
Ele concordou, erguendo o copo. Percebi que os gelos estavam quase intactos, peguei a garrafa de Jack Daniels e me dirigi ao trintão de fala mansa. Ele me olhava com franqueza, seus olhos turvos e avermelhados atrás dos imensos óculos-aviador. Seu cabelo ralo e bagunçado despontava em todas as direções. Sua pele pálida e amarelada. Um sopro de CC e produtos químicos me atingiu, junto com um cheiro estranho e adocicado que ele desenvolveu nas últimas semanas. Pobre Walter.
Coloquei dois dedos de uísque, nenhuma gota a mais, em seu copo.
Tome cuidado com o Bill,
ele disse sério não acho que ele seja muito correto quando está atrás do que deseja.
Seus olhos baixaram até meu colo exposto pelo colete antes de retornar para o meu rosto. Ele faz isso com muita frequência. Como sempre, suas bochechas ficaram vermelhas.
Obrigada pelo aviso.
Era o suficiente para mim. Muita coisa na cabeça para aguentar as besteiras de sempre. Conferi meu relógio. Certo, rapazes. Última rodada. Quem quer a saideira?
Está cedo, Janet
Buck protestou. Eu nem terminei minha única cerveja.
Bem, termine
retruquei. Olha, sei que é um pouco cedo, rapazes, mas … tem sido uma semana difícil.
Um ano difícil, melhor dizendo.
Walter emendou com gentileza. Você não está cuidando dos filhos da sua irmã durante o dia e trabalhando metade da noite?
Conforme ele ia falando, eu juro, senti cada dia, desde que o estoque da fertilizadora explodiu com meu cunhado dentro, atingir-me de uma vez. Todas as manhãs, estou em pé cedo para que Thea possa ir ao escritório do distrito escolar. Organizo o livro-caixa. Ganho um pouco de dinheiro. Todas as tardes, enquanto ela está no tribunal esperando que o juiz faça a coisa certa. Todo entardecer, quando arrasto meu traseiro cansado até o bar para fazer o meu trabalho, de modo que não deixe de pagar a Thea o aluguel por estacionar o meu trailer na propriedade dela.
Estava sustentando uma família de três além da minha filha, e eu estava cansada.
Acho que sou um pai ruim.
Gracejei.
Ninguém disse nada – não eram novatos — todos engoliram suas bebidas e saíram apressados.
Dez minutos depois, trancava o cadeado e me dirigia aos fundos do bar até meu Silverado 1971, azul e branco lustroso.
Janet?
Hoje não, Bill
falei por cima do ombro, entrando na cabine.
Mas…
Fechei a porta, dei a partida e dirigi, revirando meus olhos. Claro, menino. Dezenove anos e, sem dúvidas, ainda virgem. Tenho certeza de que recebe um mundo de propostas. Billy bobinho.
Nunca direi na cara dele, claro. As três cervejas por semana que ele paga são tão importantes quanto a de qualquer outro. Só queria que ele pegasse leve com o flerte… antes que Rick lhe desse uma surra.
Numa cidade pequena como Beulah, Illinois – a uma hora ao leste de St. Louis, no meio do nada – eram necessários alguns minutos para eu chegar em casa. Uma cabana pequena em um terreno amplo, com uma árvore grande que faz sombra para a casa e um trailer Avion 1969 prateado, que brilhava sobre a luz do luar.
Apesar da minha exaustão, a visão do meu trailer minúsculo colocou um sorriso nos meus lábios. Estacionei minha caminhonete no círculo grande de cascalho, aproximei-me da casa principal, espiando por uma janela, na lateral, para um quarto de hóspedes pequeno.
Como esperado, minha filha, Brandy, estava aninhada debaixo de um lençol branco, e, se o tufo de cabelo loiro saindo do lençol era um indício, meu sobrinho, Mikey, rastejou para a cama com ela novamente.
Uma organização que fez sentido quando Mike Sênior morreu - deixar o trailer estacionado onde Brandy e eu moramos por anos e nos mudarmos para que minha irmã e eu pudéssemos, com