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Mabel: adeus, Davi
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Mabel: adeus, Davi
E-book83 páginas59 minutos

Mabel: adeus, Davi

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Sobre este e-book

Nunca é fácil dizer adeus. Pois é, não foi fácil para Mabel, que, depois de muitas perdas, se viu sem seu melhor amigo. Certa de que faltavam peças neste quebra-cabeça, Mabel decide encontrá-las com as próprias mãos e, acompanhada de Danilo, seu segurança, parte em busca da verdade. Prepare-se para uma aventura cheia de surpresas e reviravoltas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de fev. de 2022
ISBN9786588686065
Mabel: adeus, Davi

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    Mabel - Ju Cardoso

    Impactos mortais

    Endireitou a cabeça sem tirar os olhos ou a caneta do papel, esticou os dedos para se livrar da sensação de formigamento.

    Já era o final da última aula antes do intervalo, não que fizesse muita diferença. Hoje Mabel se levantou da cama no modo automático. Não prestou atenção ao tráfego ou à lotação no ônibus. Não deu bom-dia ao segurança nem ao zelador. Não olhou ninguém nos olhos nem ninguém lhe dirigiu a palavra. Sequer abriu a mochila. Sua atenção estava direcionada a um sentimento familiar, a uma melancolia que precede más notícias. Um presságio de luto.

    – É isso aí, pessoal. Ficamos por aqui hoje. Os grupos restantes se apresentarão semana que vem – o professor Dinho disse, enquanto a manada saía apressada atrás de comida.

    Dinho, que um dia foi Geraldinho, que um dia foi Geraldo, já não retinha mais o respeito de seus alunos, mas vivia em negação. Tentou abordar a silenciosa menina de um jeito descolado e descontraído, mas se atrapalhou e acabou derrubando vários livros no chão. Nem o barulho foi suficiente para chamar a atenção de Mabel.

    – Hmhum – o professor pigarreou e se abaixou para ficar no nível da carteira. – Senhorita Borges, isso aqui não é aula de artes – ele disse batendo o dedo na mesa.

    Sem causar nenhum efeito, Dinho decidiu mudar de estratégia, o ato do professor compreensivo.

    – Eu sei que minha matéria não é a mais querida do curso, mas, se não focar nas aulas, terei que vê-la novamente no próximo semestre.

    Mabel seguia desenhando sem esboçar reações.

    – Fazemos assim: eu vou deixar você apresentar por último na próxima semana. Está bem? Só deixa eu achar a folha, a folha… a folha com a lista… cadê aquela lista? – Dinho tropeçou nos próprios pés, derrubando a papelada e o copo que estavam em cima de sua mesa. – Ow, não. Não é essa folha, nem essa – abaixou-se para recolher suas coisas. Com os braços cheios de exercícios amassados, tentou, sem sucesso, pegar o copo. Alguém o pegou e o colocou de volta em cima da mesa.

    – Ah, obrigado! Muito gentil da sua par… eu não o conheço. Não é um de meus alunos, é?

    – Não, só estou de passagem.

    Mabel parou. Seu fúnebre anunciante havia chegado.

    – Será que podemos conversar em particular? – Danilo perguntou.

    – Que horas saímos? – Mabel respondeu, sem olhar para ele.

    Danilo franziu o cenho, aproximando-se. Olhou com atenção para o bruto esboço na folha de papel.

    – Como você sabia?

    – Não sabia – Mabel levantou a cabeça pela primeira vez.

    – Eu sinto muito.

    A menina não respondeu. Apenas juntou seu cabelo em um coque e prendeu com a caneta.

    – Seu Vicente?

    – Estava descansando quando eu deixei a casa. Ele não levou a notícia muito bem.

    – Quero passar lá antes de irmos.

    – Com todo respeito, senhorita, eu não acho que deveria ir.

    – Não é pago para achar nada, Danilo, é pago para acatar ordens.

    – Não as suas. Não sou seu empregado.

    – Não assino seus contracheques, mas eu consigo fazê-los parar de chegar com apenas um pedido – Danilo engoliu em seco. – Então ligue o carro, me leve para a mansão e, quando puder, me diga que horas vamos sair.

    Mabel entregou o desenho ao professor e disse:

    – Obrigada pela folha, professor Geraldo.

    Quando saía, Danilo segurou seu braço.

    – Eu só acho que não é assim que você deveria se despedir.

    Mabel conteve suas lágrimas e levou a mão ao queixo de Danilo, fazendo com que a olhasse nos olhos.

    – Me despedi seis meses atrás. Hoje eu o trarei para casa.

    Danilo suspirou.

    – Saímos em uma hora.

    O professor viu sua aluna deixar a sala escoltada pelo estranho de sobretudo preto. Deixou a folha cair em um susto e fez o sinal da cruz.

    – É cada coisa que me aparece – pegou sua maleta, apagou a luz e fechou a porta.

    O desenho de um caixão rústico ficaria no chão, sem rosto ou importância, para a zeladora da noite jogar fora.

    ◢◥◣◤◣◢◥◣◤◣◢◥◣◤◣◢◥◣◤◣◢◥◣◤◣◢

    Duas batidas singelas na porta. Mabel ouviu pode entrar, seguido de três tosses secas.

    – Oi, vô Vicente.

    – Minha pequena Mabel.

    – Não mais tão pequena assim.

    – Para mim será sempre aquela menininha que costumava correr pelo quintal catando pedras para jogar nas lagartixas da parede.

    – Haha, nunca acertei, porém.

    – Era fofa, mas a mira era HORRÍVEL – o velhinho brincou, sorrindo na tentativa de também fazê-la sorrir.

    Vicente fez um sinal para que a jovem se sentasse na ponta da cama. Uma nuvem de tristeza pairava pelo quarto, mas as lágrimas não ousavam cair dos olhos de Mabel.

    – Sabíamos que essa ligação chegaria, mas, ainda assim, minha pressão a tomou de surpresa.

    – Eu tinha esperanças de que ela não viria.

    – Eu também, minha querida.

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