Avôa

De Ronaldo Fernandes

"Este é um livro com memórias que deságuam em poemas.
Ronaldo tece sua história relembrando a vida no interior do Pernambuco, a relação com a avó e com a mãe, a vinda para a cidade grande, a relação como filho e como pai, a vontade de experimentar o corpo no teatro, a sexualidade que pulsa sem preconceito, a confiança absoluta na arte — e nós somos convidados a acompanhar o autor em cada acontecimento, em cada página. Nessa dança do cotidiano,
Ronaldo conduz o leitor com a intensidade de alguém que se provoca ininterruptamente, e com a generosidade de quem partilha o coletivo.

"Sigo resistindo às vitórias, às perdas, aos ganhos, aos fracassos, às lutas cotidianas. E, vivendo, vou tentando ser o homem que consigo: o pai disponível, o companheiro legítimo, o artista sincero, o executivo humano, o poeta em construção. Pisquei e lá se foram cinquenta anos. A vida é bela/ Só nos resta viver, já nos cantou a Angela RoRo. Ao homem que me tornei, agradeço."

• Idioma: Português
• Editora: Paraquedas
• Data de lançamento: 3 de jun. de 2022
• ISBN: 9786584764040

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PREFÁCIO

Ele nunca foi um só. Impossível. Até porque o caminho que Ronaldo Fernandes percorreu em cinco décadas de vida o encheu de dores, cores, desejos, angústias e delírios em quantidades suficientes para criar e fazer voar muitos Ronaldos.

Doçura de infância? Bom, os sabores dos primeiros anos de vida não foram tão doces assim. Mas ninguém que se atrevesse a cravar que ele não teria combustível suficiente para sonhar. E fazer sonhar. Tristezas? Algumas. Mas teve o colo da avó, dona Josefa, a Vôa que o inspirou a transformar em arte o que muitos de nós colocaríamos na prateleira do sofrimento.

Foi assim que ele aprendeu a lidar com as trancas do coração, expressão que ouviu a Vôa repetir muitas vezes: Ronaldo, tranca essa porta para não entrar a poeira da rua, ela pedia ao neto. Fechar as portas. Se isolar do mundo.

É por essas e outras lembranças que percebemos quanto o olhar de artista o salvou. Sorte dele. E nossa! Assim ele segue, passeando por muitos papéis: filho, neto, ator, pai, apaixonado, diretor, dramaturgo, executivo. Os textos deste livro mostram que emoção é para ser sentida, vivida e escancarada: no palco, nas redes sociais, na vida. Ronaldo faz isso de peito aberto. Se joga sem rede de proteção. Como ele mesmo se descreve no poema A vida sempre vence:

[...] me desfiz./ Mas me reconstruí./ Mesmo sabendo que perdi./ O que isso muda?/ Perdendo.../ Vou vivendo...

E é a vida o elemento mais presente neste livro. Não no sentido de continuar vivo, respirando. Mas, sim, de existir. Ronaldo é daqueles que faz questão de saborear cada minuto da existência.

Em Amâncio,¹ espetáculo solo em que mais uma vez se desafiou como artista ao somar teatro, vídeo e arte, ele narrou sua chegada a São Paulo, aos dezesseis anos, vindo de Pernambuco. Olhos grudados na janela do ônibus, tentando reviver aquelas cenas de filmes em que ouvimos uma trilha sonora emocionante enquanto o personagem captura o que vê pela primeira vez. E acredite: seguimos juntos, em uma espécie de estreia rumo à nova fase