Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Espezinhador
O Espezinhador
O Espezinhador
E-book251 páginas3 horas

O Espezinhador

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Da irônica comédia presente nas relações, à temida carência causada por tempestades amorosas. Escrito em primeira pessoa, o narrador é verborrágico, açoita e é açoitado por si próprio. Pelo walkman do personagem surge a trilha musical para as desventuras de quem descobre a ruína da inocência quixotesca, através de um vírus predador. Repleto de energia jovem e trilhas roqueiras, e de menções a grandes personagens da literatura - de Dostoievski a Wilde - “O Espezinhador” harmoniza lembranças constantes de imagens e relações, e universos mágicos de fantasias do pensamento. Sexo, política, música, vallium, romantismo crônico, Jean Seberg, hipnose, Buda, Jenival Lacerda - tudo se torna fonte para os “desaforismos”, em uma busca frenética por redenção pelos labirintos de Curitiba. Para quem assistia Bozo, mascava Ploc e ouvia músicas em fita k-7, foi adolescente nos anos noventa, e hoje sofre para entender a efemeridade das relações do novo século. Nota do autor: Este livro foi concebido durante a composição do disco “Seres de 5ª Categoria num Ranking de 5 Categorias”, de minha banda “Leis do Avesso”. Portanto não posso dissociar uma obra da outra pelas interferências e inspirações mútuas, embora sejam obras com objetivos distintos e por isto não haja qualquer menção direta a eventos do livro. Algumas canções do disco surgiram nas divagações do personagem principal, inclusive a música título. As influências musicais são um fio condutor do livro, como um filme com trilha sonora criando a ambiência de momentos chaves. Desta forma, pude inserir um caleidoscópio de referências do que me formou na música pop, assim como pela literatura. Para ouvir o disco “Seres de 5ª Categoria num Ranking de 5 Categorias” acesse: https://soundcloud.com/leis-do-avesso/sets/seres-de-5-categoria-num Sobre o Autor: Leo Scholz é curitibano, arquiteto, compositor e vocalista da banda “Leis do Avesso”, com a qual possui três discos lançados. Sua narrativa tem ao centro temas existenciais e cômicos, através de uma voz em primeira pessoa de personagens aos moldes de anti-heróis da literatura clássica. A realidade é distorcida por uma visão de mundo ao mesmo tempo cínica e esperançosa, por ideais românticos e utópicos em um mundo corrompido. facebook.com/oespezinhador leosscholz@gmail.com 2015
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de ago. de 2015
O Espezinhador

Relacionado a O Espezinhador

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de O Espezinhador

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Espezinhador - Leo Scholz

    Capítulo 1:  A escada de ferro

    C:\Users\Leonardo\Desktop\livro\Livro draws 2_02.jpg

    Mais uma vez de frente para a escada de ferro. Piso de assoalho de ônibus pintado de preto. Tudo é frio por aqui. Sem vida. Uma miragem da aridez do deserto contorcido em ferro. Nunca me senti vivo neste lugar. Não pertenço a ele. Flores que não surgem no meio do asfalto, detergentes, carrocinhas, toda terça e quinta. Qual a verdadeira natureza das coisas? Volto pra dentro de mim. Aqui em Cú-ruim-tiba as pessoas são assim, também como ferro. Também como detergentes... Conseguem me deter. Frias como o inverno. Pelas minhas contas passei da milésima vez subindo esta mesma escada, pra entrar na mesma sala, pra ver as mesmas pessoas, dizendo as mesmas coisas. Tão perto, tão distante. Pra onde será que eu achava que estava indo na primeira vez? A esperança vai se despedaçando pouco a pouco, mostrando o quanto era ingênua. Às vezes faço contas idiotas, quantas vezes, quantos passos, quantos carros vermelhos, quantos barrigudos casados com uma mulher bonita, quantas mulheres de bolsa Louis Vuitton, quantos metaleiros com cabelo meio de Jesus. Então posso espezinhar, esquecer de mim mesmo, por um pouco. Porque é ruim quando olho no espelho. Não tenho piedade da imagem que vejo, por dentro, por fora. Talvez a vida fosse muito enfadonha se ninguém tivesse defeitos. Não haveria desafio. Pra onde chegar?  Tédio com um T bem grande. Do meu lado de dentro tudo é mais fantástico. Perigoso como o fogo, estou ardendo dentro de mim querendo cuspi-lo como um dragão ridículo do Senhor dos Anéis. Chegar ao ponto onde não se pode mais voltar. Não poder mais sorrir livre como uma criança. Uma aberração. Tudo o que os animais não fazem. Jogar-se em uma cidade em chamas. Eu acendi o fogo. O espezinhador... Para cada buraco dos meus pensamentos confusos. Parece tudo antinatural e idiota. Quantas palavras idiotas existem pra pensar coisas idiotas? Vou postar a pergunta no maldito Tontosbook pra meu um e meio amigo virtual me explicar. Uma defesa, sei lá. Uma barricada da minha mente pra não pensar que tudo está uma porcaria do lado de fora. Coisas que eu não consigo por completo, sonhos, amor, sexo, amizade... Tudo o que depende de outras pessoas. Quando a cabeça para de pensar surge o vazio. Tenho vozes dentro de mim. O que sai da minha boca veio das vozes da minha torre de Babel de dentro. Todas elas ao mesmo tempo me deixando confuso. Cada uma delas disparando acelerada para um lado diferente... Meus macaquinhos da floresta pulando descontrolados de galho em galho, de sonho em sonho, de futuros, de passados. Cada um, um personagem diferente que poderia representar em um monólogo se eu pudesse exterminar todos os outros. Os sete anões. Pra onde diabos cada um deles quer me levar? O que eu vou deixar aqui? Tenho sempre meu walkman no bolso pra quando não aguento mais pensar. Uma trilha sonora para a minha vida que às vezes acerta em cheio. Como nos filmes. Os palavrões dentro da minha cabeça... O primeiro professor... Padre Baby... Rezar... Eu costumava ser um bom menino... Antes da culpa... Sempre um fone de ouvido do lado esquerdo. Só me concentro pela metade nas pessoas. Elas são previsíveis. Não são tão interessantes quanto pensam. Entendo gente que finge atender o celular pra fugir de gente chata... Fugir. Vou te encontrar daqui a pouco... Mas hoje será a última vez que eu subo, então estarei livre. A liberdade é assustadora. Cada uma das vozes me puxando para um lado diferente. Tentei entender o que Sartre queria dizer... mas não consegui. A liberdade é só mais uma utopia, como a história toda do comunismo. A primeira pessoa que quis cuspir no olho eu disse bom dia!, outra vez. Pelo menos não sorri. Não tenho conseguido direito, desde a primeira vez que entrei aqui. A polidez é uma grande merda. Uma represa da minha hidrelétrica de sentimentos que não boto pra fora. A náusea. Como fazer qualquer coisa que se queira sem deixar de pensar sobre tudo? Hoje em dia todo mundo com tanto medo. Tanta gente perdida esperando alguma história começar. Carentes da mesma segurança que só sentiram no colo dos pais. Transferindo toda a insegurança para religiões falsas, carros, casamentos muleta, rotinas da novela ou do jornal mentiroso das 20hs na TV, sites de compra, pornografia, viver para o trabalho. Não viver para si mesmo. Ouvir qualquer puto arrogante o suficiente pra ter a pretensão de dizer aos outros o que eles devem fazer pra não se sentirem totalmente perdidos em vidas inseguras. Não fico sem ar... todos precisam tanto acreditar em algo, por mais absurdo que seja, só pra se livrar do terror da liberdade. Vou anotar. Eu, na antessala de um dentista. Quem sabe algum dia, alguém me leia num desaforismo em uma sala de espera de um dentista, do lado da revista sobre o iate do Chiquinho Scarpa. Sonhar com alguma glória... Sonhar e sonhar é igual a sofrer e a sofrer. Nada pode ser exatamente como nos sonhos. Sempre há um ponto fraco na realidade. Tudo muda o tempo inteiro, não é Buda?! Por que está escrito que você vai partir? Por que está escrito que eu vou me partir? Eu até que queria ser assim. Acreditar. Mas a fé me parece tão ingênua. É essa a armadilha da liberdade. Pisar em falso. Um chão de tábuas podres onde não há ninguém pra te apontar um caminho seguro. Descobrir sozinho. Pra onde vou sozinho? Neste momento, Apenas subir a maldita escada de ferro, por enquanto. Pela milésima centésima quinta e meia vez. Tudo na minha cabeça no sopro de um segundo. Tantas vozes ao mesmo tempo. Apenas por olhar o primeiro degrau outra vez. Toda a casta dos macacos gritando de galho em galho. Talvez queiram uma parceira. Correr atrás e perpetuar a espécie. Também preciso me perpetuar. Curto-circuito. Chega! Ela desce, alguém que poderia mudar minha vida?! Abaixo os olhos de timidez. A impressão toda num olhar de meio segundo. Seguro o corrimão e subo.

    Touuf Touuf Touuf... Maldita escada barulhenta, parece um sino de Igreja anunciando minha chegada. O metal vibra com meu peso e contrabalança com o peso dela na metade do caminho. Uma luz que cega meus olhos, o que chamam de timidez. Sempre tenho que segurar o corrimão vermelho com medo de cair. O banheiro masculino é logo ali em cima... Ogros não lavam as mãos e é sempre perigoso encontrar algum deles querendo me cumprimentar. Mas hoje sinto um perfume de maçã no ar, um rastro no ar em direção contrária. Uma pista pra eu encontrar alguma coisa. Por um segundo penso em correr no sentido oposto, atrás do rastro da escada. Já estou no topo.

    - E aí rapaz?! Hoje é o grande dia, me deixa ver o que cê fez?!

    Dou de ombros... Digo que não vou mostrar tudo agora, pra não bagunçar, e pergunto:

    - Não sabia que você era fã do Robert Smith?

    - Como é que é?!

    - The Cure, anta! Esses olhos pintados de preto aí, esse cabelo arrepiado. Que cara é essa?!

    - Hihi! Nem te conto! Passei a noite em claro pra terminar essa porcaria... Tive uma treta feia com o cachorro, o Jeremias, o temperamental que gosta de você! Já o Tobias é um santo! Eu tava fazendo o modelo colando cada pedacinho... Passei a noite à base de café... O Jeremias começou a puxar a minha meia... Mandei parar... Não enche Jeremias, vá dormir já!... Voltou 1x voltou 2x, voltou 3x... Sabe aquela raiva que você passa com um único pernilongo invisível que não te deixa dormir?!... Pois é... Por causa disso forcei a mão sobre o estilete... Jeremias me puxou outra vez e... Slaaaap... Uma poça vermelha na cartolina branca e perdi a tampa do dedo – me mostra o dedo como uma bola branca enfaixada -... Aquele cachorro mala!... Surtei cara!!... Peguei a bola de tênis dele taquei pela janela do 5° andar... Mas não acaba aí... Putz! Ouvi um barulho de vidro estilhaçando... Quebrei a janela do carro do vizinho!! Tudo por causa do Jeremias!! Vou esconder meu crime do síndico!... Daí fui ao banheiro pra conter a hemorragia... Quando voltei, a porra do cachorro tava mijando em cima da minha tentativa de maquete... Nem sei como o FDP vingativo subiu na mesa... Agora to eu com esta porcaria bege nas mãos... Vou falar que quis dar um ar retro sépia, Bauhaus.

    Fico zonzo com aquela história toda, contada tão rápida. Dez palavras por segundo ou sei lá. Como minhas vozes todas dentro de mim. Processo o ridículo daquilo tudo, e a grande sacada Bauhaus. Ele sempre me diverte tanto. Riso chato parecido com soluço.

    - Não ria de mim caramba! Passei um sufoco desgraçado! Quase não chego aqui a tempo! Quase perco minha chance de sair daqui!

    A grande fuga de Alcatraz. Gosto do Robert, Robert Smith, sempre o chamei assim dentro da minha cabeça. Só agora é que dei uma pista. Cabelo arrepiado de noite mal dormida, não deu pra segurar. Ele veio de um intercâmbio da França, Paraguai ou Cuzaquistão, sei lá. Da primeira vez que o vi pensei no Plácido Domingo, que reviravolta hein... Imaginei que ele tinha um vozeirão, cantando num teatro francês para gordas de peruca e pó de arroz... Uma ópera de Wagner... Na verdade nem que conheço nada de Wagner, conheço melhor o Vagner Montes soltando o porrete com notícias que provam a origem do ser humano... Devia ter pesquisado melhor vendo aquilo. Mas o verdadeiro gênio do porrete é o da minha terra e merecia um nome de uma praça, com um porrete de cinco metros de ferro retorcido. É uma porcaria, se eu fosse um alemão burro acho que na infância já saberia o nome das óperas dele em ordem alfabética. Robert tem sotaque leve do interior, e aquela pureza toda de quem não sofreu bullyng em colégio católico. Ele confia nos outros, simples assim. Confia também na cerveja, cigarro e ressaca. E no manual do Homer Simpson. Forró e Jetro Tull, e todo o papo de gente que diz que gosta de tudo um pouco, que é eclética. Sempre achei um porre essa história de eclético... No fundo não conhecem é nada e tentam fingir que conhecem tudo! Charlatões. Ele gosta de mim, vai ver que sente como eu me sinto ameaçado. Eu não consigo confiar, desde aquela janela. Ele até tenta diminuir minha reputação de ET, e traduzir meu dialeto pros humanos da moda fascista. Eu não gostava de todos eles... Acho que descobri o motivo com o Paullie. Era porque eu não gostava mais ainda de mim. Por isso eles me machucavam. Quando entendi parei de julgar todo mundo, como achava que faziam de mim. Uma grande hipocrisia. Não há prisioneiro melhor que o outro, todos nós encarcerados no fundo de si mesmos, exibindo a casca do abacaxi cheia de espinhos... Cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando um pouco de afeição...... O walkman trilha sonora dos piores momentos do galã ao contrário Eric. Adoro tanto ele. Olho a maquete bege de mijo canino lembro-me dele falando da Bauhaus, tudo fica leve... A criatividade mais brilhante sempre surge quando precisamos nos safar, até pras antas... Ele não é uma anta, exagero mesmo! Bauhaus foi boa! Sou grato, mas muito orgulhoso pra falar. Ele espantou meus macacos loooonge, me deixou leve dentro de mim... E esqueci meu desafio por um instante. Gosto da voz fina e da risada de criança hihihi. Não preciso espezinhar nada. Mas ele aprendeu comigo também:

    - Esse seu modelo aí tá quase parecendo um bolo de aniversário de criança capeta hihi!!... Se empurrar um pouquinho desmorona. Até lembrei daquelas mesas de um quilômetro de aniversário de cidade hihi!! ... Seres humanos evoluídos destruindo tudo em um segundo!!

    Passa um cara que queria cuspir no olho... Sinto-me idiota por perder o que pode ser a última chance. Volto ao chão pra pegar um pedaço do modelo que voou com uma rajada de vento. Inseguro e mal colado, a minha cara, como reparou Robert. Lembro do meu teste de fuga.

    - Preciso ir lá pegar minha pesquisa, e rápido! – dois dedos colados de superbonder apontam para o mesmo corredor. Ele ri, mas as piadas já perderam a graça pra mim.

    Capítulo 2:  O walkman

    Subo a escada pela primeira vez. Atravesso um corredor árido. Vou encarar a mesma escada, o mesmo corredor, por não sei mais quantos anos. Melhor não pensar. Aguardo sozinho e distraído no fundo da sala pela chegada de algum Aristóteles de manta branca, ou um Sócrates, ou alguém que more em algum desses prédios modernos com colunas gregas cafonas, ou algum guru indiano se estiver com mais sorte. E que não me venham com alguma história de equações de ciência chata, mas que me tragam alguma explicação pra esse sufoco todo, ou então pro aquecimento global do lado de dentro das pessoas. Alguém que chegue logo pra que todos ao redor possam parar de tentar me decifrar. Prefiro que ninguém consiga, não me tenho em grande conta. Então talvez eu possa parar de fingir que tenho algum charme, como um ator francês charmoso e solitário, olhando pro lado e fingindo que sou do tipo não-preciso-de-ninguém-meio-existencialista. Melhor nunca proferir essa palavra em voz alta por aqui. Poderia ouvir um o quê!? Flamenguista!... E me sentir mais sozinho nessa vida, colecionando culturas que são tão inúteis pra todos eles. Só o walkman me salva de pessoas da outra espécie. ET, minha casa. Fingir atender um telefone pra desviar do contato humano. Sempre um fone na orelha esquerda. Só o walkman salva. Eu, antessala do dentista. Algumas vezes o k7 toca a música exata, para o momento exato, como nos filmes... Dia após dia, sozinho na montanha... O homem com o sorriso tolo permanece imóvel... Mas ninguém quer saber dele... Podem ver que ele é apenas um tolo. Que nunca dá resposta alguma... Mas o tolo na montanha... Vê o sol se pondo... E os olhos em seu rosto... Veem o mundo girando ao redor.

    Dia após dia. Dia após dia do alto de uma montanha que eu nem sei porque diabos eu fui inventar de subir, ou se me empurraram pra lá, como uma Sibéria por tanto eu pensar no que não devia. O tolo não pode dar resposta alguma, só coleciona mais perguntas, mais incompreensões. Não quero perder tempo e ouvir sobre flamenguistas. País do futebol, país do carnaval. Do alto da montanha se vê tudo e a paisagem não é consoladora. As malas ficam mais pesadas. Dois lados. Do alto do Cristo Redentor é que vi a beleza do Rio, e que talvez em algum lugar encontre a minha. Se puder me ver bem de longe. Cristo Redentor olhando tudo da montanha.

    Anexo à sala, um aquário de trabalhos nível mais ou menos dos que saíram de Alcatraz no ano passado. Como deixar porta retratos em uma estante. Fotos anguladas pra não mostrar quem se é. Carteiras rabiscadas com a contagem dos dias que ficaram presos por aqui. Levanto e volto ao corredor, cansado de tanto pensar e não querendo mais fingir atender telefones pra fugir de mim mesmo.

    - Ei!? Essa música aí é da fase pós-visita-do-Paul-ao-primo-George-e-pós-viagem-com-a-câmera-manual-de-rollsroice-por-Portugal!... legal!

    O que seriam dos javalis se não andassem juntos na floresta perto de leões famintos?!

    - Oi, não sabia disso tudo! Só gosto da música e dos tolos. Também achava que o Rolls-royce era do John!

    Abaixo o walkman estourando no meu ouvido esquerdo, de onde ele pôde escutar a música pós-tudo. Fico feliz de o outro javali ter escutado o meu zumbido de socorro. Estou escoltado contra ataques.

    Tática de chato sabe-tudo, dizer alguma coisa no meio pra nos testar. Acho que passei no teste. Baixinho da Kaiser magro e sem bigode... Cabelo encaracolado meio Gal Costa, antes da invenção do pente e do condicionador. Quase isso, mas nada disso. Como ver as pessoas em caricaturas mal feitas. Não poderia descrever retratos falados. Pra um leão deve ser uma oportunidade de espezinhar vista de longe, um javali meio Ian Curtis, um javali meio Gal Costa. Presas fáceis. Pontos fracos por todos os lados. Sem charme. Baixo os olhos e vejo a camiseta dele do A-Ha.

    - Que máximo essa sua camiseta!! Adoro o A-Ha desde o período pré-infância, haha! – minha vez de espezinhar, só um pouco.

    - Eu também! Tenho a coleção de todos os singles em compacto simples, desde a fase Stay on this Roads até a fase pré Rodeio de Barretos. Depois dessa fase acho tudo uma grande porcaria. Não perdoo esses carnívoros assassinos que estão metanizando o planeta com peido de bois em campos de concentração. Ainda por cima organizam essas grandes porcarias de festas de merda pra ficar montando em cima deles. – O fone de ouvido só na orelha da esquerda... Tratando as meninas como se fosse lixo... ou então espécie rara... que é só um objeto... pra usar e jogar fora... depois de ter prazer - Queria ver se fossem eles que ficassem no campo de concentração em regime de engorda, pra ver se não iriam soltar um metano também. Até me cadastrei no site do PETA depois de ver um documentário sobre isso. Rodeios de merda!... Ah! Mas da minha camiseta, iria vir com a do V hoje, mas derrubei groselha no almoço... E tirei essa pra hoje mesmo, antes da fase rodeio. Sou o Serguei! Toca aqui!

    Toco sim... Me sinto em casa com papos estranhos. Mas que tipo de gente toma groselha ou água com gás?! Acho que um dos meus macacos pensa a mesma coisa e achou um irmãozinho. Inquietação acumulada transformada em análise do mundo o tempo todo. Ele é assim também. Grande porcaria de subir montanhas... Como chutar quinas de armário no dedo mindinho todos os dias. A dor dos tolos. Raiva acumulada... Chutado por dentro todos os dias, eu e ele, por si mesmos... Petróleo... A reserva das pessoas que mudam o mundo. Hoje o walkman está acertando... Posso subir com você... A raiva é uma energia... A raiva é uma energia... A raiva é uma energiiiia...

    - Sabe?! Acho que uma camiseta diz muito sobre uma pessoa. Acho até que já conheço você. Você também quer espezinhar com eu?! Muito massa essa do A-Ha... Uma boa provocação pra esses hipsters de merda por aí, que não sabem que a música realmente catártica só vem dos corações, e dos partidos de preferência!

    - Que história é essa de espezinhar gente de barba de pescador?

    Achei mesmo genial essa camiseta. Coisa meio contracultura hoje em dia. Provocações que ninguém vai ligar. Lembro-me do ginásio com o meu walkman ouvindo Legião até estourar os ouvidos... Quando descobri que tinha alguma coisa maior que ele estava tentando dizer. Lembro do Paullie me levantando e do meu primeiro

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1