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Poemas de vida e de morte de um médico à noite
Poemas de vida e de morte de um médico à noite
Poemas de vida e de morte de um médico à noite
E-book53 páginas21 minutos

Poemas de vida e de morte de um médico à noite

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Sobre este e-book

O escritor e poeta Gustavo Nobre de Jesus, um médico habituado aos longos plantões no hospital da cidade de Lisboa, nos seus 14 poemas nos fala sobre aquilo que o assombra nas noites mais frias, sobre 'estar só / estar indelevelmente só', já que há sempre algo de dramático em escrever poemas. As noites são cativas, as solidões são desperdiçadas entre os barulhos da cidade, televisões, leituras e crianças que correm no andar de cima. 'Nós éramos um filme, Hollywood era Lisboa, eu sentia-me Bogart e junto aos lábios fiz o que pude'. Assim são os poemas - crus e de uma realidade arrebatadora - de Gustavo Nobre, um homem, um médico, que se depara com a crueza da vida nos corredores assépticos de um hospital e, paradoxalmente, é arrebatado nas páginas daquilo que escreve, com a assepsia do contato humano, sempre mediado por livros, telas, links do Youtube e aplicações de iPad.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de mar. de 2019
ISBN9789898938206
Poemas de vida e de morte de um médico à noite

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    Poemas de vida e de morte de um médico à noite - Gustavo Nobre de Jesus

    pós-moderno

    I

    Com um fulgor que me não pertence

    arrasto corpos pela mão

    numa noite que rasgo em explosões

    de álcool

    e sémen

    e som

    e sangue.

    E súo lânguidos corpos em feéricas saias

    que se movem entre os dedos.

    O toque de uma pele estranha

    mistura-se com alguma bebida

    que me arranha a garganta

    e me cega a consciência

    e a moral.

    Há nome que não se conhecem

    em beijos dados

    e caras que se descobrem à luz

    quando na noite eram apenas expressões

    de Baco.

    (A luz entra por uma frincha

    de uma janela de uma casa

    que não é minha

    e acorda-me.

    Há um peso

    que reconheço como familiar

    a escavar retroesternalmente

    e a sugar-me de encontro

    a mim próprio.

    Mantenho-me quieto

    e sinto os segundos

    num velho despertador preto

    baterem

    lentas

    badaladas

    ensurdecedoras

    e inquietadas.

    Aguardo e tento escutar algo

    de mim ou de outros.

    Nada.)

    II — Da solidão

    Eu vi o sexo da mulher desesperada.

    Provei o vinho directamente do gargalo

    ao som do desencanto mascarado de sensibilidade.

    Galguei o corpo de tesão desalinhado,

    falei ao pescoço, soube usá-lo,

    semeei meu esperma em campos de falsa espiritualidade.

    Vivemos as noites da falsa descoberta,

    de fingidas promessas de hedonismo

    da puéril libertação sexual de outras eras.

    Vivemos as noites de decotes alerta

    da disrupção ébria do puritanismo.

    III

    Tudo é dinheiro, tudo é lucro.

    Em todo o lado, notícias de paraísos fiscais

    misturados com misérias reais.

    Não existe mais nada.

    As pessoas são divididas

    entre o que ganham e o que têm.

    Nenhum outro tema interessa,

    a ninguém se ouve dizer que plano de vida tem,

    que ambições sonha,

    o que há a acrescentar.

    Valor acrescentado só ao valor do trabalho,

    única moeda no mundo que corre.

    Jovens de fato são o uniforme

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