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Um Bolinho É Só O Começo
Um Bolinho É Só O Começo
Um Bolinho É Só O Começo
E-book145 páginas2 horas

Um Bolinho É Só O Começo

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Sobre este e-book

Ela está longe dos padrões, mas caminha pela selva de pedra com muros fortificados, ignorando os olhares que recebia. Tinha todo o direito de estar ali, de olhar cada pessoa nos olhos e de ser feliz. Estava conformada, sabia que era uma peça especial e que estaria sempre solitária. O destino, no entanto, tinha outros planos e fez com que fosse de encontro a um homem mais que disposto a servi-la eternamente. Agarrou-se a um bolinho de consolo, uma pequena recompensa em sua dura vida. Mas o bolinho era só o começo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de mar. de 2013
Um Bolinho É Só O Começo

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    Um Bolinho É Só O Começo - Ara Mystake

    Um bolinho é só o começo

    Ame-me como sou

    Ara Mystake

    1ª edição

    Rio de Janeiro – 2013

    1

    Capa: Mara Sicca

    Revisão: Tainah A. Cintra

    Contato: umbolinho@hotmail.com

    Se exponho a você minha nudez como pessoa,

    não me faça sentir vergonha.

    Viva com vontade

    Acorda sem vontade, arruma-se sem vontade, sai sem

    vontade, espera sem vontade, dá sinal sem vontade, sobe

    sem vontade, paga sem vontade. Procura um lugar com

    vontade, senta com vontade, abre a janela com vontade.

    Até a hora de levantar pra descer e chegar ao seu tão

    querido trabalho. Sem vontade. Enquanto não chega,

    somos obrigados a fazer algo insuportável para os

    animais que rondam a selva de pedra, o humano da

    cidade, dividir espaço físico íntimo. Somos obrigados a

    sentar encostados num estranho! Sentamos, mas a

    mente se isola, o olho procura logo a janela, o horizonte,

    quer estar longe. O corpo falando que preferia estar livre.

    Pessoas duras, pouco contato visual. Eventualmente, se

    olha pra uma mancha de suor, pra a bunda da gostosa,

    pra o cobrador coçando o nariz com a unha do mindinho,

    curiosamente não cortada. E a vida se dá num monólogo.

    Não entre o ser e ele mesmo. O ser fica calado ouvindo

    os caprichos das falsas necessidades. E isso é o padrão.

    E, enquanto estivermos no padrão externo, o padrão

    interno se perpetua. "Precisamos da iluminação divina, de

    um Buda! Ou de um crente pra quebrar o silêncio do

    ônibus e entregar a palavra!" Mas isso já está no padrão.

    Assim, a vida se passa sem definição, como um borrão, a

    passos largos, sem perceber o universo de cada dia.

    Precisamos do curinga! Do Caos! Explosões! Mas calma.

    Talvez (como sempre) coisas estranhas aconteçam

    debaixo dos nossos narizes, ou dos nossos padrões. O

    curinga urbano existe e é mais sutil. Quando um jovem

    desce do ônibus para ajudar uma velhinha a descer, por

    exemplo, o caos se estabelece! E se estabelece aonde

    importa, nas mentes. Os monólogos dos seres dormentes

    se quebram, o ser timidamente olha para aquilo e se

    pergunta "Como? Ele parou de ouvir as suas

    necessidades! Um altruísta! Quero ser como ele! Cala a

    boca, outdoor, quero ver este jovem!". Subitamente, um

    adulto trabalhador, que fingiria um sono pra deixar a

    velhinha passar, dá seu lugar com um sorriso, o cobrador

    canta algum samba, o motorista para fora do ponto por

    pura gentileza. Exemplos são inúmeros. A quebra de

    padrão é uma sacudidela. Como quando o elevador para

    e todos que estavam dentro saem conversando, como se

    fossem velhos amigos. O caos momentâneo faz esquecer

    a falsa impressão que temos que nos proteger de todos.

    Coisa legítima da selva de pedra. Mas que não se

    sustenta com a realidade que é maior que a cidade. Ah,

    se os gurus pop soubessem disso, que a cidade tem um

    Deus gentil para ser cultivado. O grande acaso! O

    quebrador de padrões. Se a vida fosse pregada como

    uma liturgia anti-marasmo para manter o ser acordado,

    começaríamos a ver o acaso em todos os lugares, sinais

    e mais sinais, que antes eram sinais para engatilhar

    padrões, poderiam ser sinais para fugir deles. Rotina,

    repetição, ciclo, responsabilidade, deem o nome que

    quiser. Esta é a breve fórmula, meio zumbi, de ser do

    homo sapiens moderno. Uma vida de sinais, que

    engatilham rotinas, sem sinal nenhum de vida. Sem

    nenhum sinal de novo. Uma eterna ode ao mesmo, à

    vontade de ser o que não se pode ser. Sem vontade. E as

    linhas de escape acabam fazendo o mesmo. Ninguém

    pode ser Jesus, ninguém pode ser Buda, mas podemos

    ser aquele jovem que ajuda a idosa, o cobrador cantor de

    samba, podemos ser o cara que dá bom dia pra quem

    senta ao lado dele no ônibus. Podemos, sem medo, ser

    diferente, sair dos padrões, propagar a desordem,

    despertar seres. Somos presas na selva de pedra, mas

    podemos viver com vontade.

    Texto original de João Gabriel Farias Lima

    Adaptação de Karla Gonçalves

    Fonte: papodehomem.com.br/apatia-vontade-e-explosoes

    Dedico este livro à selva de pedra.

    Bolo de Sorvete

    Compras. Devia ser divertido, mas não era. Não para ela.

    Fernanda passeava pelas ruas cheias de lojas, procurando o

    cinto que a amiga queria de aniversário. Sol, calor, pessoas

    olhando-a de esgueira, olhares torcidos, reprovativos e de

    pena. Não tinha nada de bom nisso. Lana merecia o

    sacrifício, mas estava tão quente. Suas pernas já doíam de

    tanto procurar o maldito cinto. Tinha que caber a ela o

    presente mais difícil. Merecia um belo sorvete com muita

    calda de chocolate depois disso. Sim, merecia sim.

    Parou, precisava parar, precisava sentir um pouco do ar frio

    da loja antes de continuar sua busca. Deteve-se na entrada,

    recompondo-se um pouco, deliciando-se com a brisa gelada

    do ar condicionado da loja, fingindo observar a vitrine.

    Deslizou os olhos pela rua movimentada, os apressados

    passos, parando nos dois homens que olhavam em sua

    direção. Seguiu com os olhos a mulher que passou a sua

    frente. Jeans apertado, blusa modelando a cintura... Era

    óbvio o que os homens olhavam e não era ela e seus muitos

    quilos acima do peso. Mas, por um instante, imaginou ser o

    objeto da admiração dos homens que lançavam olhares de

    desejo em sua direção. Principalmente, do moreno alto e

    musculoso, cujo olhar era tão quente que a fez sentir-se

    desejável, mesmo através de sua fantasia.

    Com um suspiro, voltou-se para a loja. Era hora de continuar

    sua jornada, parar de fantasiar, parar de sonhar e continuar

    vivendo sua vida. Talvez o dia não estivesse tão ruim se

    aquilo que estava vendo fosse o cinto que procurava.

    Respirou fundo, não conseguindo evitar olhar, mais uma

    vez, para os dois homens. Queria guardar só mais um pouco

    daquela sensação. Ao virar-se, encontrou os olhos escuros

    ainda a encarando. Procurou a mulher, mas não a

    encontrou, nem ninguém digno daquele olhar. Olhava-a?

    Questionou-se, inundando-se em mortificação ao notar o

    quão tolo era esse pensamento. Estava enlouquecendo já.

    O sol devia estar fazendo mal a ela.

    Dando as costas a bela e musculosa ilusão, entrou na loja,

    caminhando diretamente para o cinto. Ignorou a vendedora

    que a olhou do balcão, verificando os muros que construíra

    ao longo dos anos. Aquele olhar era o que mais odiava.

    Pura reprovação, como se ela não tivesse o direito de estar

    ali, de sair pelas ruas, de existir. Podia não caber naquelas

    roupas, naqueles perfeitos padrões, tinha tentado duramente

    e desistido depois de tantos fracassos, mas tinha todo o

    direito de viver, de olhar qualquer pessoa nos olhos. Aquelas

    roupas podiam estar longe de seu alcance, mas o mundo

    pertencia a ela também. Não precisava da aprovação de

    ninguém para caminhar livremente por ele, para ser feliz

    vivendo nele.

    Com a confiança renovada, pegou o cinto escolhido, pronta

    para levá-lo ao caixa, assim que a pessoa que tinha se

    posto a sua frente lhe permitisse passar. Ergueu o rosto

    para encontrar os olhos escuros e o rosto corado, junto com

    um sorriso sem jeito, do homem a sua frente.

    – Ricardo.

    Ela não tinha certeza se ele estava se apresentando ou

    falando com alguém atrás dela, por isso se virou. Fernanda

    analisou a vendedora que encarava o belo homem, sorrindo

    sugestivamente. Cabelos castanhos, longos, corpo esguio,

    proporcional, coberto pela alta moda que compunha a loja.

    Estava no caminho, mas já sairia. Primeiro, confirmaria se

    aquele era mesmo o cinto que Lana indicara com tantos

    detalhes, desnecessários detalhes. Então, bastava pagar e

    poderia tomar seu sorvete antes de ir pra casa. Mas, para

    seu espanto, o homem ainda estava a sua frente e quase foi

    de encontro a ele.

    – Quer tomar um café? _ Ele perguntou.

    Devia ser para a vendedora. Não entendia porque não

    passava por ela, tinha espaço suficiente para ele alcançar a

    vendedora e parar de impedi-la de pagar o cinto. Ele estava

    tão corado que começava a preocupá-la. Por isso, ignorou

    que estava de empecilho entre ele e sua próxima conquista,

    levou a mão ao rosto dele. Estava quente.

    – Você está... _ Começa a vendedora, espantada.

    – Bem? _ Completa Fernanda, ainda tocando o rosto dele.

    – Não costumo lidar com moças tão bonitas. _ Ele lhe sorri o

    mesmo sorriso sem jeito. – Estou meio sem prática, acho.

    – Claro. _ Murmura, retirando a mão do rosto dele.

    Tinha que pagar pelo cinto, pensou, decidida a passar por

    ele e ir embora. E diria a amiga que lhe devia uma por fazê-

    la passar por isso. Devia ter ido pra casa, estaria muito

    melhor no consolo e na segurança de sua cama. Mas, não,

    tinha que decidir caminhar, se aventurar um pouco pela

    selva de pedra, sair para o mundo que a via apenas como

    uma bola de carne que não podia comer ou jogar fora, que

    só queriam esconder. Fernanda não se escondia em casa,

    não, de jeito nenhum. Em casa, ela se rearmava. Preparava-

    se para enfrentar a todos que queriam confiná-la, escondê-la

    como se fosse um erro, uma deficiência da sociedade.

    Com o cinto pago e um sentimento de revolta borbulhando

    dentro dela, vira-se para ir embora. Mas o homem estava lá

    de novo, como se a aguardasse. Por que seguia olhando-a

    como se esperasse algo dela?

    – Não tomo café. _ Respondeu, tentando passar por ele,

    com medo de não ser isso o que ele esperava e passar por

    idiota, mas ele não saiu de sua frente, não a deixou passar.

    – Outra coisa então. _ Insistiu.

    – Talvez um bolinho. _ A vendedora diz maldosamente,

    recebendo dele um olhar severo como resposta.

    – Um bolinho seria ótimo. _ Responde.

    – Sim. _ Ele confirma, voltando seu olhar a Fernanda,

    sorrindo. – Em sua companhia, qualquer coisa seria ótima.

    Ricardo só queria ir pra casa e descansar, ele tinha que

    trabalhar na segunda, tinha uma empresa pra

    administrar e não queria ter saído de casa. Mas isso era

    algo que seu irmão ou não entendia ou se recusava a

    entender. Era tão difícil aceitar que ele não gostava de

    sair para azarar, como dizia seu irmão? Era o tipo de

    pessoa que encontra o amor no mercado, não em

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