Famiglie
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Famiglie - Paolo Pasanisi
Famiglie
O início da guerra
1
2
Paolo Pasanisi
Famigli e
O início da guerra
Ilustração Iara Vignon
3
Pasanisi, Paolo, 2016
Famiglie: o início da guerra / Paolo Pasanisi – São Paulo: Agbook, 2016. 293 p.: 14,8x21cm
4
Família Agarelli
Sentado em uma mesa redonda mal iluminada por apenas uma janela fechada no quarto, o Senhor Lorenzo Agarelli deu um últi mo trago em seu charuto, o apagou em seu cinzeiro e concluiu :
– Desta vez eu abro a exceção, você poderá pagar metade, porém, mês que vem, é o dobro .
– Senhor Agarelli, as vendas não estão indo bem! – suplicou Ângelo – Eu não prometo...
– Se estiver insatisfeito com a nossa administração, você tem duas opções – cortou Lorenzo – pode sair do bairro ou perder a nossa segurança, mas isso, claro, uma vez que terminar de pagar a dívida que começou hoje.
– Senhor Agarelli! Eu...
Lorenzo levantou a mão e o homem instantaneamente parou de falar :
– Você tem algo a mais para me dizer ou posso encerrar a discussão?
Ângelo preocupadamente olhando para baixo, respirava ráp ido, quase que ofegante, suspirou e afirmou que a discussão já podia se r encerrada, e escoltado por dois seguranças, saiu da sala de Lorenzo.
O conselheiro, Anair, que ficou encostado com os braços atrás das costas a reunião inteira, aproximou-se e inclinou-se para pergunta r se estava certo cobrar o dobro, uma vez que as vendas da loja 81 já não rendiam o esperado, ao que Lorenzo respondeu que no próximo mês
5
Ângelo terá arranjado um jeito de aumentar as vendas. O conselheiro , antes de se afastar, relembrou :
– Hoje às 20 horas devo mandar o Michael ou Andréa levá–lo à formatura dos seus filhos?
– Michael. Andréa tem me irritado um pouco no trânsito, muito lento. – diz isso sorrindo como se tivesse feito uma piada.
O conselheiro sorriu por educação e pediu permissão para retirar-se da sala. Uma vez concedida, saiu com os outros homens ali presentes, deixando Lorenzo Agarelli sozinho.
O homem se levantou, soltou um pequeno gemido de incô modo causado por uma dor nas costas, andou em direção à janela pela qual entrava toda luz que havia na sala e observou Ângelo andando até os portões de sua casa. Enquanto observava atentamente, abriu o terno, puxando outro charuto e o acendeu. O silêncio no quarto foi quebra do com um bater na porta. Ele deu mais um trago e em seguida pediu para entrarem. O segurança, então, abriu a porta para Maria e perguntou mecanicamente :
– Devo fechar, senhora Agarelli?
Ela fez que não com a cabeça e, em seguida, virou-se para o marido e perguntou :
– E então? Como foi com Ângelo?
– Ele tinha só metade do dinheiro, eu dei uma segunda c hance de se redimir mês que vem.
– Fez bem, Lorenzo! Ângelo pode ser meio desajeitado, mas é um bom rapaz. O que acontecerá se ele não conseguir pagar no mês que vem?
– Eu posso dar uma segunda chance, mas, uma terceira? Segunda chance é demonstração de misericórdia... terceira, de fraqueza.
– Mas as vendas não vão bem. Poucas pessoas estão indo à sapataria ultimamente, estão todos indo para as guerras nos outros países. Não acha que deveria diminuir o aluguel nesse tempo difícil? A guerra não vai durar muito.
6
– Maria, eu te amo, mas tem alguém que eu pago pra ouvir conselhos.
– Anair, eu sei, mas ele às vezes pode ser muito rigoroso, não estou te aconselhando, só peço que pense sobre isso.
– Já pensei – disse Lorenzo Agarelli em um tom autoritário e seco.
Maria decidiu parar de insistir. Ela ia se retirar do quarto, mas ao respirar fundo, fez uma careta e comentou sobre a enorme quanti dade de fumaça que havia lá .
– Posso abrir a janela?
Lorenzo concordou e fez um simples gesto com a mão para que ela a abrisse .
– Por que sempre deixa fechada a janela durante as reuniões?
– Vem muito barulho lá de fora. Pedro fica praticando aquela luta besta com a espada, como é o nome? Esprim, sei lá, nome estúpido.
– Esgrima. E não é idiota, o nosso filho adora, ele se sente poderoso sabendo lutar.
– Em primeiro lugar, ninguém luta com espadas hoje em dia . Em segundo, quem ainda luta com espadas hoje em dia, não luta daquele jeito afeminado, parece um ritual de acasalamento entre dois pações .
A mulher sorriu e o corrigiu: pavões. Os dois sorriram e Lorenzo fez um gesto gentil com a mão, apontando para a porta, com uma expressão facial que sugeria que ambos saíssem do quarto. A mulher foi à frente e o marido a acompanhou em direção à saída da mansão para o jardim .
No caminho, o homem comentou em um tom satisfeito:
– Seus cabelos estão mais encaracolados do que o normal hoje.
– Sim, eu fui ao salão de beleza do bairro e não cobraram absolutamente nada para fazer isso! – disse entusiasmada, quase orgulhosa, enquanto passava os dedos pelos novos cachos, acariciando -
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os. Mostrou também as unhas recém-pintadas de vermelho e voltou a falar – Por favor, não deixe com que eles fechem, fazer as unhas e o cabelo de graça é um luxo que não posso perder !
Os dois riram e ele concordou com a cabeça. Ao chegarem n a porta da casa, Lorenzo se despediu de Maria com um beijo e seguiu em direção ao filho mais velho, Pedro, que estava na área gramada do jardim onde costumava praticar esgrima .
Sentou-se em uma mesa coberta por um guarda-sol e ficou observando atentamente o filho lutando esgrima com o professor. Lu ta estúpida...
comentou consigo em um tom quase que surdo, enq uanto reacendeu o charuto que havia apagado. Sua mulher o chamou de dentro da casa ao longe, e perguntou o horário da formatura. Lorenzo pediu para ela estar vestida às 19 e 30, pois Michael ia passar pra buscá - los. Ela fez que entendeu com a mão e entrou na mansão.
Lorenzo então voltou a observar o filho acertando e desviando os golpes. Ficou ouvindo os sons metálicos dos encontros entre espadas enquanto sentia a suave brisa que passeava por seus cabelos meio grisalhos, meio castanhos, aproveitando cada trago de seu ú ltimo charuto. Assoprou a fumaça, apoiou a mão com o charuto na mesa e inspirou fundo, como se isso aumentasse a tranquilidade que sentia no jardim de sua mansão. Tranquilidade na qual parecia que a cada piar de pássaro por entre os sons metálicos, o tempo se distorcia e se prolongava proporcionalmente à paz que o homem sentia, paz que , infelizmente, foi quebrada quando alguém lhe deu dois toques nas costas. Lorenzo então suspirou tristemente e se virou, vendo seu filho Pietro, com feição entusiasmada :
– Pai! Você viu o que anunciaram no rádio? Rebecca, a mulher inesquecível
vai passar nos cinemas!
– Aquele romance?
O garoto fez que não com a cabeça.
– Suspense. – disse com os olhos arregalados.
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– Mas esse filme é para meninas, a sua irmã Daniela que deveria querer assistir isso. Por que você não quer ir assistir... não sei, Mágico de Oz, deve estar passando ainda, é mais para a sua idade.
– Mas eu já tenho idade pra assistir suspense, pai, eu vou me formar hoje!
– Não é como se estivesse indo para o colegial, Pietro. – di sse apagando infelizmente seu último charuto – Você está indo da quarta pra quinta série, eu nem sabia que tinha formatura pra isso!
O garoto não ficou feliz com o comentário.
– Pai, é formatura sim, pergunta pra Dani! Ela vai se formar também e ela disse que é a mesma coisa que qualquer formatura.
O pai levantou-se lentamente devido à dor em suas costas, e afirmou com um sorriso que ter gêmeos é foda
.
O garoto riu e repetiu o palavrão em voz baixa: F oda
.
– Ei, eu que posso falar palavrão, afinal, eu já me formei de verdade. Faculdade, Pietro. Ainda falta muito para você.
Novamente o garoto se entristeceu com o comentário e afirmou que vai contar irmã que a formatura deles não seria de verdade. Lorenzo sorriu e insistiu que ele contasse. Com isso, o garotinho correu para dentro da casa.
O homem começou a rir, mas a risada transformou-se em uma tosse. Após duas tossidas, ao retomar o fôlego, respirou fundo e começou a caminhar pelo jardim, analisando as flores rosas e azuis cuidadosamente plantadas e separadas nos diferentes espaços por algum jardineiro escolhido por Anair. Olhou também a piscina, onde o reflexo do sol que a iluminava era de tal intensidade que para poder vê- la Lorenzo tinha que contrair os olhos. Enquanto seguia seu caminho, sentindo a brisa suave suficiente para refrescar um homem nesse dia ensolarado, ouvia o canto dos pássaros e fechou seus olhos por alguns segundos, para se imaginar em outro lugar... um parque. Ele respirou fundo algumas vezes, enquanto se imaginou sentado à beira de um lago, ao lado de sua mulher, Maria, com um vestido vermelho. Ah aquele vestido vermelho
, como ele o adorava .
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Mas toda tranquilidade do ambiente foi quebrada com uma discussão vinda da garagem. O homem voltou à realidade e começou a andar em direção ao barulho, quando dois seguranças vieram correndo e lhe perguntaram se ele precisava de ajuda. Ele fez que não com a cabeça, agradeceu e seguiu seu caminho, fazendo com que os dois ficassem para trás.
Entrando na garagem pelo portão aberto, viu seu irmão, Tomás , discutindo com um dos empregados da casa.
– Senhor Tomás, eu lhe imploro, não estava roubando nada, pare de fazer essas acusações!
– Não estava porra nenhuma, eu vi você colocando a mão na gaveta de relógios !
Lorenzo então entrou na discussão e perguntou o que ocorria . Tomás começou a explicar em voz alta, apontando para o empregado:
– Esse desgraçado aqui estava roubando os meus relógios ! – Senhor Agarelli! – disse o empregado – é mentira !
Tomás então o empurrou em seu Packard Super Saloon estacionado na garagem e o segurou pela gola de seu uniforme cinza. Lorenzo foi apressado em direção aos dois antes que o irmão o pudesse socar.
– Me chama de mentiroso mais ...
Lorenzo o puxou para longe do pobre empregado e perguntou a o irmão, com voz elevada:
– Bater no homem é jeito de conseguir o relógio de volta?!
O empregado ajeitou o colarinho do uniforme e agradeceu Lorenzo, que apontou para ele e disse :
– Vou chegar em você em um instante!
– Bater em alguém para conseguir o que quer... – Tomás d isse em um tom sarcástico – De quem eu já vi isso?
Lorenzo respirou fundo, engoliu a raiva e respondeu :
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– Eu não bato em alguém para conseguir o que quero. Eu arranco o que alguém me deve. Algo que alguém me prometeu. Bater é o que você faz como algum ato egoísta. Amadorismo, coisa de criança descontrolada. Você ainda precisa evoluir muito pra chegar no MEU nível de bater
.
Tomás tentou pensar em algo para ofender o irmão, mas ficou calado. Ele reconheceu que era verdade, então, no lugar de responder algo ofensivo que não levaria a lugar nenhum, engoliu o ódio pelo irmão, apontou para o empregado e disse olhando no fundo de seus olhos, como que para mostrar que falava a verdade :
– Você pode achar que foi uma reação infantil, mas aquele desgraçado ainda estava mexendo na minha gaveta. Ele quem...
Lorenzo, encarando seu irmão mais novo não entendeu o motivo de ele ter parado de falar :
– Tomás?
– Filho da puta! – gritou Tomás ao empregado.
Ouviu-se então o som da porta de um carro fechando. L orenzo olhou para trás e viu o empregado abaixar o freio de mão e girar a chave do Packard .
– Ei! Ei! Sai daí! – Ele gritou enquanto correu até o carro, mas o homem pisou no acelerador, e após derrapar um pouco, saiu em disparada na direção da saída .
Lorenzo e Tomás saíram correndo para fora da garagem gritando diversos xingamentos, enquanto seguranças que assistiam a cena sacavam suas pistolas.
Da janela de seu quarto, Maria viu o carro de Tomás passar por cima do jardim florido que ela tanto gostava e se enfureceu com o cunhado, acreditando que era ele quem estava dirigindo bêbado, e ntão ficou gritando diversos xingamentos, até que viu viu o verdadeiro dono do carro correndo atrás do veículo :
– O que está acontecendo?!
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– Maria, você estacionou seu carro onde?! – gritou Tomás enquanto corria em direção ao carro roubado .
– Ao lado da piscina! Eu não queria estacionar para ter que andar tudo até...
– Tanto faz! – gritou Lorenzo – Cadê as chaves?
– Eu deixei em cima da roda!
Os dois homens então correram em direção à piscina para pegar o carro de Maria, quem começou a gritar para os guardas quando viu o empregado aproximar-se do portão da saída. Os mesmos sacaram suas armas e apontaram em direção ao Packard .
Os irmãos chegaram ao Rolls Royce vermelho da mulhe r. Lorenzo pulou sobre o capô para o lado esquerdo do carro, buscando rapidamente as chaves, só que Tomás as encontrou e jogou para o irmão. Ambos entraram, mas antes que pudessem colocar os cintos, ouviram barulhos de tiros seguidos por um estrondoso barulho de batida.
– Filho da puta! – gritou Tomás enquanto Lorenzo dava ré – Aquele empregadinho vai destruir meu carro! Acelera Lorenzo, anda!
O Rolls Royce então acelerou e saiu da casa em direção ao Packard .
Aproveitando que a mansão ficava no fim de uma rua reta, os dois homens conseguiam ver o carro roubado ao longe. Tomás abriu o porta-luvas e retirou uma Glisenti M1910.
– Puta arma velha! Sua mulher realmente gosta desse lixo? Lorenzo pisou ainda mais fundo no acelerador, sorriu e afirmou
que a mulher gostava do estilo clássico.
Ao se aproximar do Packard, Tomás colocou parte de seu corpo para fora da janela e instantaneamente o chapéu que usava saiu voando de sua cabeça, fazendo seus cabelos loiros chacoalharem com o vento . Ele se enfureceu ainda mais, apontando a arma com dificuldade em direção ao carro :
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– Aquele chapéu era um Zegna! – afirmou com raiva e d isparou seu primeiro tiro em direção ao carro.
Lorenzo tentou aproximar-se ainda mais do carro e gritou com dificuldade pelo vento que entrava pela janela aberta:
– A roda! Atira na roda! Eu ajudo a pagar o cons erto! – Está falando sério?!
O homem, com pouca paciência, gritou que sim, então Tomás tristemente abaixou sua mira e puxou o gatilho, acertando a roda traseira do carro, o qual derrapou e saiu da pista em direção a uma pequena praça, onde, ao encostar a roda dianteira em um banco desocupado, capotou três vezes até bater em uma árvore que caiu com o impacto.
Tomás guardou a arma na calça e olhou assustado para seu irmão mais velho, buscando algum auxílio sem saber o que falar. Os dois se entreolharam com os olhos arregalados, silenciosamente, por alguns segundos e então saíram ao mesmo tempo do carro .
Na praça, uma senhora que descansava saiu correndo em desespero, gritando por ajuda. Lorenzo pediu para Tomás ir atrás do carro enquanto ele ia atrás da senhora tentar acalmá-la e este o obedeceu .
O irmão mais novo seguiu em direção ao carro que, por sorte , havia parado de pé. Ao se aproximar, puxou a Glisenti M1910 da calça e avançou lentamente em direção à porta do veículo, apontando a arma para a janela.
– Ok! Agora desce do carro com as mãos para cima que talvez eu não mate você !
Sem ouvir resposta, ele repetiu .
Silêncio.
Aproximou-se mais e olhou pela janela do veículo destruído , enxergando o estrago em todo o carro.
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Repentinamente, levou um susto, sentiu o corpo inteiro gelar em uma sequência que ia da cabeça aos pés. Apoiou-se nas pernas e vomitou no chão. Ainda olhando para o vômito no meio da grama do parque, ouviu sons de sirene. Desesperou-se e, por impulso, jogou a arma dentro do carro pelo vidro quebrado.
Dois policiais estacionaram e desceram da viatura indo em direção ao carro destruído.
– Deus do céu, o que aconteceu aqui? – perguntou um deles com a mão na arma ainda no coldre .
– Eu não sei, eu estava andando de carro e de repente esse homem passou como um trem ao meu lado, quase batendo no meu carro – disse isso apontando para o Rolls Royce vermelho estacionado – a cho que ele perdeu o controle!
– E como o senhor explica esse tiro na porta do carro?
Tomás engoliu seco e afirmou que não fazia ideia do que seria aquilo, talvez fosse um buraco causado pelo acidente. Os policiais começaram a discutir entre si, então ele sugeriu que o revistassem, já que não acreditavam nele. Os dois concordaram. Um revistou, en quanto o outro olhava para dentro do Packard .
– É, ele não tem nenhuma arma consigo .
O outro policial chamou o parceiro para perto da janela do carro e apontou para a Glisenti. Os dois começaram a conversar em voz baixa e após parecerem concluir algo voltaram-se para Tomás.
– Veja, nós vimos dois carros em perseguição aqui na rua, quando corremos para nossa viatura. Acontece que além de um carro preto – apontou para o carro destruído – vimos também um com uma cor muito mais chamativa... vermelho, como aquele que o senhor nos disse que era o seu .
Tomás gaguejou um pouco e reafirmou que não tinha nada a ver com a história.
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Um dos policiais olhou para o parceiro, o qual fez que sim com a cabeça, e então tirou a arma do coldre e pediu para o homem se ajoelhar e colocar as mãos atrás da cabeça.
Ele obedeceu .
O parceiro puxou as mãos de Tomás para as costas e o algem ou. O outro policial guardou novamente sua arma no coldre, pegou a Glisenti no Packard e disse que procuraria pelo seu número de série.
Ouviu-se então um grito vindo de trás dos homes:
– Ei! O que estão fazendo com o meu irmão?
Um dos policiais já foi dizendo:
– Senhor, isso é uma zona de crime. Por favor...
Ao se virar ele se calou. O parceiro olhou para ele com uma cara estranha e terminou a sentença:
– Afaste-se ?
Ignorando-o, o policial voltou-se para Lorenzo :
– Senhor Lorenzo! Mil perdões, não sabia que era seu irmão.
Dito isso, o policial foi até Tomás e tirou as algemas. O seu parceiro perguntou indignado o que ele estava fazendo, mas foi novamente ignorado.
Na medida em que Lorenzo aproximava-se de Tomás, o policial indignado sacou a arma e apontou para o homem:
– Senhor, já pedimos que se afaste, não quero ter que pedir de novo!
Lorenzo então encarou o homem armado, olhou para o outro policial e apontou para seu parceiro como quem estivesse pedindo algo. O policial então se dirigiu ao parceiro e sussurrou :
– Esse é o Senhor Lorenzo Agarelli, o chefe da família Agarelli .
Imediatamente, o policial abaixou a arma e pediu desculpas a Lorenzo, que estendeu as mãos de forma humilde e afirmou que não havia problema, afinal, ele só estava fazendo seu trabalho.
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O policial sorriu, forçosamente, e agradeceu, devolvendo a Glisenti. Lorenzo enfiou a mão no bolso de seu terno, retirou um punhado de Liras em notas e deu aos policiais pelo bom trabalho que tinham feito
. Os dois agradecera m.
– Agora só fiquem por perto fingindo que estão vendo a cena do crime enquanto falo com meu irmão, está bem?
Os dois policiais se separaram, um foi olhar a árvore e o outro, os rastros que o pneu deixou na terra. Lorenzo sussurrou para o irmão de forma indignada :
– O que a arma da minha mulher estava fazendo na mão do policial ?
– Eu ouvi as sirenes e no desespero, não sei! Tentei me livrar!
O irmão deu uma risada irônica, que se transformou em uma tosse molhada, e após retomar o fôlego, o repreendeu por tal ingenuidade, guardando a arma no bolso interno de seu terno .
– E o que aconteceu com o empregado?
Tomás apontou para o carro destruído e pediu para que ele olhasse pela janela. Lorenzo o fez, e ao ver o estado deu dois passos pra trás e perguntou :
– Como é possível que alguém se destrua tanto em um acidente de carro?!
– Bom, talvez ele não estivesse usando cinto, já que saiu na pressa de casa.
O irmão mais velho então ligou para um guincho de confiança da família e pediu que viessem ajudá-lo a rebocar o carro de volta à casa.
Os dois homens, em pleno sol de sábado, no meio de uma praça, ficaram em pé ao lado do carro esperando o guincho chegar, enquanto pensavam em um jeito de limpar um pouco do sangue que havia no vidro.
– Você tem alguma ideia, Lorenzo?
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– Sim, não fazer nada e deixar o carro como está. Nós estamos passando por inocentes, não por uma dupla de assassinos que estão tentando limpar o local do crime em praça pública.
O caçula, então, parou um segundo para pensar e concordou. Minutos depois, o guincho chegou, e ao descer, o motorista fez um sinal com a cabeça para o senhor Lorenzo e foi falar com os policiais para que liberassem o veículo. Quando este retornou, perguntou:
– Então, Senhor Agarelli, o que temos aqui hoje?
O homem apontou para o carro todo destruído, e o trabalhador foi examiná-lo. Ao ver o estrago, olhou para os dois irmãos e perguntou com um tom cômico:
– O que o coitado fez para ter uma morte tão brutal?!
– Não era pra ter sido uma morte brutal, aliás, não era para ele ter morrido de qualquer jeito... Era apenas para ele ter encostado o carro para nós resolvermos isso de forma civilizada.
Sem