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Famiglie
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E-book306 páginas4 horas

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Sobre este e-book

No início da década de 40, um pequeno erro, uma má escolha de atitude, ou apenas um descuido são coisas simples, mas necessárias para mudarem completamente a realidade de quatro famílias inteiras. Cada família envolvida de maneiras diferentes com a máfia italiana se vê em um efeito dominó em que suas situações podem melhorar ou piorar da noite pro dia . Antes mesmo de se darem conta, uma luta por sobrevivência começa diante de seus olhos. Cada escolha conta.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de nov. de 2016
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    Famiglie - Paolo Pasanisi

    Famiglie

    O início da guerra

    1

    2

    Paolo Pasanisi

    Famigli e

    O início da guerra

    Ilustração Iara Vignon

    3

    Pasanisi, Paolo, 2016

    Famiglie: o início da guerra / Paolo Pasanisi – São Paulo: Agbook, 2016. 293 p.: 14,8x21cm

    4

    Família Agarelli

    Sentado em uma mesa redonda mal iluminada por apenas uma janela fechada no quarto, o Senhor Lorenzo Agarelli deu um últi mo trago em seu charuto, o apagou em seu cinzeiro e concluiu :

    – Desta vez eu abro a exceção, você poderá pagar metade, porém, mês que vem, é o dobro .

    – Senhor Agarelli, as vendas não estão indo bem! – suplicou Ângelo – Eu não prometo...

    – Se estiver insatisfeito com a nossa administração, você tem duas opções – cortou Lorenzo – pode sair do bairro ou perder a nossa segurança, mas isso, claro, uma vez que terminar de pagar a dívida que começou hoje.

    – Senhor Agarelli! Eu...

    Lorenzo levantou a mão e o homem instantaneamente parou de falar :

    – Você tem algo a mais para me dizer ou posso encerrar a discussão?

    Ângelo preocupadamente olhando para baixo, respirava ráp ido, quase que ofegante, suspirou e afirmou que a discussão já podia se r encerrada, e escoltado por dois seguranças, saiu da sala de Lorenzo.

    O conselheiro, Anair, que ficou encostado com os braços atrás das costas a reunião inteira, aproximou-se e inclinou-se para pergunta r se estava certo cobrar o dobro, uma vez que as vendas da loja 81 já não rendiam o esperado, ao que Lorenzo respondeu que no próximo mês

    5

    Ângelo terá arranjado um jeito de aumentar as vendas. O conselheiro , antes de se afastar, relembrou :

    – Hoje às 20 horas devo mandar o Michael ou Andréa levá–lo à formatura dos seus filhos?

    – Michael. Andréa tem me irritado um pouco no trânsito, muito lento. – diz isso sorrindo como se tivesse feito uma piada.

    O conselheiro sorriu por educação e pediu permissão para retirar-se da sala. Uma vez concedida, saiu com os outros homens ali presentes, deixando Lorenzo Agarelli sozinho.

    O homem se levantou, soltou um pequeno gemido de incô modo causado por uma dor nas costas, andou em direção à janela pela qual entrava toda luz que havia na sala e observou Ângelo andando até os portões de sua casa. Enquanto observava atentamente, abriu o terno, puxando outro charuto e o acendeu. O silêncio no quarto foi quebra do com um bater na porta. Ele deu mais um trago e em seguida pediu para entrarem. O segurança, então, abriu a porta para Maria e perguntou mecanicamente :

    – Devo fechar, senhora Agarelli?

    Ela fez que não com a cabeça e, em seguida, virou-se para o marido e perguntou :

    – E então? Como foi com Ângelo?

    – Ele tinha só metade do dinheiro, eu dei uma segunda c hance de se redimir mês que vem.

    – Fez bem, Lorenzo! Ângelo pode ser meio desajeitado, mas é um bom rapaz. O que acontecerá se ele não conseguir pagar no mês que vem?

    – Eu posso dar uma segunda chance, mas, uma terceira? Segunda chance é demonstração de misericórdia... terceira, de fraqueza.

    – Mas as vendas não vão bem. Poucas pessoas estão indo à sapataria ultimamente, estão todos indo para as guerras nos outros países. Não acha que deveria diminuir o aluguel nesse tempo difícil? A guerra não vai durar muito.

    6

    – Maria, eu te amo, mas tem alguém que eu pago pra ouvir conselhos.

    – Anair, eu sei, mas ele às vezes pode ser muito rigoroso, não estou te aconselhando, só peço que pense sobre isso.

    – Já pensei – disse Lorenzo Agarelli em um tom autoritário e seco.

    Maria decidiu parar de insistir. Ela ia se retirar do quarto, mas ao respirar fundo, fez uma careta e comentou sobre a enorme quanti dade de fumaça que havia lá .

    – Posso abrir a janela?

    Lorenzo concordou e fez um simples gesto com a mão para que ela a abrisse .

    – Por que sempre deixa fechada a janela durante as reuniões?

    – Vem muito barulho lá de fora. Pedro fica praticando aquela luta besta com a espada, como é o nome? Esprim, sei lá, nome estúpido.

    Esgrima. E não é idiota, o nosso filho adora, ele se sente poderoso sabendo lutar.

    – Em primeiro lugar, ninguém luta com espadas hoje em dia . Em segundo, quem ainda luta com espadas hoje em dia, não luta daquele jeito afeminado, parece um ritual de acasalamento entre dois pações .

    A mulher sorriu e o corrigiu: pavões. Os dois sorriram e Lorenzo fez um gesto gentil com a mão, apontando para a porta, com uma expressão facial que sugeria que ambos saíssem do quarto. A mulher foi à frente e o marido a acompanhou em direção à saída da mansão para o jardim .

    No caminho, o homem comentou em um tom satisfeito:

    – Seus cabelos estão mais encaracolados do que o normal hoje.

    – Sim, eu fui ao salão de beleza do bairro e não cobraram absolutamente nada para fazer isso! – disse entusiasmada, quase orgulhosa, enquanto passava os dedos pelos novos cachos, acariciando -

    7

    os. Mostrou também as unhas recém-pintadas de vermelho e voltou a falar – Por favor, não deixe com que eles fechem, fazer as unhas e o cabelo de graça é um luxo que não posso perder !

    Os dois riram e ele concordou com a cabeça. Ao chegarem n a porta da casa, Lorenzo se despediu de Maria com um beijo e seguiu em direção ao filho mais velho, Pedro, que estava na área gramada do jardim onde costumava praticar esgrima .

    Sentou-se em uma mesa coberta por um guarda-sol e ficou observando atentamente o filho lutando esgrima com o professor. Lu ta estúpida... comentou consigo em um tom quase que surdo, enq uanto reacendeu o charuto que havia apagado. Sua mulher o chamou de dentro da casa ao longe, e perguntou o horário da formatura. Lorenzo pediu para ela estar vestida às 19 e 30, pois Michael ia passar pra buscá - los. Ela fez que entendeu com a mão e entrou na mansão.

    Lorenzo então voltou a observar o filho acertando e desviando os golpes. Ficou ouvindo os sons metálicos dos encontros entre espadas enquanto sentia a suave brisa que passeava por seus cabelos meio grisalhos, meio castanhos, aproveitando cada trago de seu ú ltimo charuto. Assoprou a fumaça, apoiou a mão com o charuto na mesa e inspirou fundo, como se isso aumentasse a tranquilidade que sentia no jardim de sua mansão. Tranquilidade na qual parecia que a cada piar de pássaro por entre os sons metálicos, o tempo se distorcia e se prolongava proporcionalmente à paz que o homem sentia, paz que , infelizmente, foi quebrada quando alguém lhe deu dois toques nas costas. Lorenzo então suspirou tristemente e se virou, vendo seu filho Pietro, com feição entusiasmada :

    – Pai! Você viu o que anunciaram no rádio? Rebecca, a mulher inesquecível vai passar nos cinemas!

    – Aquele romance?

    O garoto fez que não com a cabeça.

    – Suspense. – disse com os olhos arregalados.

    8

    – Mas esse filme é para meninas, a sua irmã Daniela que deveria querer assistir isso. Por que você não quer ir assistir... não sei, Mágico de Oz, deve estar passando ainda, é mais para a sua idade.

    – Mas eu já tenho idade pra assistir suspense, pai, eu vou me formar hoje!

    – Não é como se estivesse indo para o colegial, Pietro. – di sse apagando infelizmente seu último charuto – Você está indo da quarta pra quinta série, eu nem sabia que tinha formatura pra isso!

    O garoto não ficou feliz com o comentário.

    – Pai, é formatura sim, pergunta pra Dani! Ela vai se formar também e ela disse que é a mesma coisa que qualquer formatura.

    O pai levantou-se lentamente devido à dor em suas costas, e afirmou com um sorriso que ter gêmeos é foda.

    O garoto riu e repetiu o palavrão em voz baixa: F oda.

    – Ei, eu que posso falar palavrão, afinal, eu já me formei de verdade. Faculdade, Pietro. Ainda falta muito para você.

    Novamente o garoto se entristeceu com o comentário e afirmou que vai contar irmã que a formatura deles não seria de verdade. Lorenzo sorriu e insistiu que ele contasse. Com isso, o garotinho correu para dentro da casa.

    O homem começou a rir, mas a risada transformou-se em uma tosse. Após duas tossidas, ao retomar o fôlego, respirou fundo e começou a caminhar pelo jardim, analisando as flores rosas e azuis cuidadosamente plantadas e separadas nos diferentes espaços por algum jardineiro escolhido por Anair. Olhou também a piscina, onde o reflexo do sol que a iluminava era de tal intensidade que para poder vê- la Lorenzo tinha que contrair os olhos. Enquanto seguia seu caminho, sentindo a brisa suave suficiente para refrescar um homem nesse dia ensolarado, ouvia o canto dos pássaros e fechou seus olhos por alguns segundos, para se imaginar em outro lugar... um parque. Ele respirou fundo algumas vezes, enquanto se imaginou sentado à beira de um lago, ao lado de sua mulher, Maria, com um vestido vermelho. Ah aquele vestido vermelho, como ele o adorava .

    9

    Mas toda tranquilidade do ambiente foi quebrada com uma discussão vinda da garagem. O homem voltou à realidade e começou a andar em direção ao barulho, quando dois seguranças vieram correndo e lhe perguntaram se ele precisava de ajuda. Ele fez que não com a cabeça, agradeceu e seguiu seu caminho, fazendo com que os dois ficassem para trás.

    Entrando na garagem pelo portão aberto, viu seu irmão, Tomás , discutindo com um dos empregados da casa.

    – Senhor Tomás, eu lhe imploro, não estava roubando nada, pare de fazer essas acusações!

    – Não estava porra nenhuma, eu vi você colocando a mão na gaveta de relógios !

    Lorenzo então entrou na discussão e perguntou o que ocorria . Tomás começou a explicar em voz alta, apontando para o empregado:

    – Esse desgraçado aqui estava roubando os meus relógios ! – Senhor Agarelli! – disse o empregado – é mentira !

    Tomás então o empurrou em seu Packard Super Saloon estacionado na garagem e o segurou pela gola de seu uniforme cinza. Lorenzo foi apressado em direção aos dois antes que o irmão o pudesse socar.

    – Me chama de mentiroso mais ...

    Lorenzo o puxou para longe do pobre empregado e perguntou a o irmão, com voz elevada:

    – Bater no homem é jeito de conseguir o relógio de volta?!

    O empregado ajeitou o colarinho do uniforme e agradeceu Lorenzo, que apontou para ele e disse :

    – Vou chegar em você em um instante!

    – Bater em alguém para conseguir o que quer... – Tomás d isse em um tom sarcástico – De quem eu já vi isso?

    Lorenzo respirou fundo, engoliu a raiva e respondeu :

    10

    – Eu não bato em alguém para conseguir o que quero. Eu arranco o que alguém me deve. Algo que alguém me prometeu. Bater é o que você faz como algum ato egoísta. Amadorismo, coisa de criança descontrolada. Você ainda precisa evoluir muito pra chegar no MEU nível de bater.

    Tomás tentou pensar em algo para ofender o irmão, mas ficou calado. Ele reconheceu que era verdade, então, no lugar de responder algo ofensivo que não levaria a lugar nenhum, engoliu o ódio pelo irmão, apontou para o empregado e disse olhando no fundo de seus olhos, como que para mostrar que falava a verdade :

    – Você pode achar que foi uma reação infantil, mas aquele desgraçado ainda estava mexendo na minha gaveta. Ele quem...

    Lorenzo, encarando seu irmão mais novo não entendeu o motivo de ele ter parado de falar :

    – Tomás?

    – Filho da puta! – gritou Tomás ao empregado.

    Ouviu-se então o som da porta de um carro fechando. L orenzo olhou para trás e viu o empregado abaixar o freio de mão e girar a chave do Packard .

    – Ei! Ei! Sai daí! – Ele gritou enquanto correu até o carro, mas o homem pisou no acelerador, e após derrapar um pouco, saiu em disparada na direção da saída .

    Lorenzo e Tomás saíram correndo para fora da garagem gritando diversos xingamentos, enquanto seguranças que assistiam a cena sacavam suas pistolas.

    Da janela de seu quarto, Maria viu o carro de Tomás passar por cima do jardim florido que ela tanto gostava e se enfureceu com o cunhado, acreditando que era ele quem estava dirigindo bêbado, e ntão ficou gritando diversos xingamentos, até que viu viu o verdadeiro dono do carro correndo atrás do veículo :

    – O que está acontecendo?!

    11

    – Maria, você estacionou seu carro onde?! – gritou Tomás enquanto corria em direção ao carro roubado .

    – Ao lado da piscina! Eu não queria estacionar para ter que andar tudo até...

    – Tanto faz! – gritou Lorenzo – Cadê as chaves?

    – Eu deixei em cima da roda!

    Os dois homens então correram em direção à piscina para pegar o carro de Maria, quem começou a gritar para os guardas quando viu o empregado aproximar-se do portão da saída. Os mesmos sacaram suas armas e apontaram em direção ao Packard .

    Os irmãos chegaram ao Rolls Royce vermelho da mulhe r. Lorenzo pulou sobre o capô para o lado esquerdo do carro, buscando rapidamente as chaves, só que Tomás as encontrou e jogou para o irmão. Ambos entraram, mas antes que pudessem colocar os cintos, ouviram barulhos de tiros seguidos por um estrondoso barulho de batida.

    – Filho da puta! – gritou Tomás enquanto Lorenzo dava ré – Aquele empregadinho vai destruir meu carro! Acelera Lorenzo, anda!

    O Rolls Royce então acelerou e saiu da casa em direção ao Packard .

    Aproveitando que a mansão ficava no fim de uma rua reta, os dois homens conseguiam ver o carro roubado ao longe. Tomás abriu o porta-luvas e retirou uma Glisenti M1910.

    – Puta arma velha! Sua mulher realmente gosta desse lixo? Lorenzo pisou ainda mais fundo no acelerador, sorriu e afirmou

    que a mulher gostava do estilo clássico.

    Ao se aproximar do Packard, Tomás colocou parte de seu corpo para fora da janela e instantaneamente o chapéu que usava saiu voando de sua cabeça, fazendo seus cabelos loiros chacoalharem com o vento . Ele se enfureceu ainda mais, apontando a arma com dificuldade em direção ao carro :

    12

    – Aquele chapéu era um Zegna! – afirmou com raiva e d isparou seu primeiro tiro em direção ao carro.

    Lorenzo tentou aproximar-se ainda mais do carro e gritou com dificuldade pelo vento que entrava pela janela aberta:

    – A roda! Atira na roda! Eu ajudo a pagar o cons erto! – Está falando sério?!

    O homem, com pouca paciência, gritou que sim, então Tomás tristemente abaixou sua mira e puxou o gatilho, acertando a roda traseira do carro, o qual derrapou e saiu da pista em direção a uma pequena praça, onde, ao encostar a roda dianteira em um banco desocupado, capotou três vezes até bater em uma árvore que caiu com o impacto.

    Tomás guardou a arma na calça e olhou assustado para seu irmão mais velho, buscando algum auxílio sem saber o que falar. Os dois se entreolharam com os olhos arregalados, silenciosamente, por alguns segundos e então saíram ao mesmo tempo do carro .

    Na praça, uma senhora que descansava saiu correndo em desespero, gritando por ajuda. Lorenzo pediu para Tomás ir atrás do carro enquanto ele ia atrás da senhora tentar acalmá-la e este o obedeceu .

    O irmão mais novo seguiu em direção ao carro que, por sorte , havia parado de pé. Ao se aproximar, puxou a Glisenti M1910 da calça e avançou lentamente em direção à porta do veículo, apontando a arma para a janela.

    – Ok! Agora desce do carro com as mãos para cima que talvez eu não mate você !

    Sem ouvir resposta, ele repetiu .

    Silêncio.

    Aproximou-se mais e olhou pela janela do veículo destruído , enxergando o estrago em todo o carro.

    13

    Repentinamente, levou um susto, sentiu o corpo inteiro gelar em uma sequência que ia da cabeça aos pés. Apoiou-se nas pernas e vomitou no chão. Ainda olhando para o vômito no meio da grama do parque, ouviu sons de sirene. Desesperou-se e, por impulso, jogou a arma dentro do carro pelo vidro quebrado.

    Dois policiais estacionaram e desceram da viatura indo em direção ao carro destruído.

    – Deus do céu, o que aconteceu aqui? – perguntou um deles com a mão na arma ainda no coldre .

    – Eu não sei, eu estava andando de carro e de repente esse homem passou como um trem ao meu lado, quase batendo no meu carro – disse isso apontando para o Rolls Royce vermelho estacionado – a cho que ele perdeu o controle!

    – E como o senhor explica esse tiro na porta do carro?

    Tomás engoliu seco e afirmou que não fazia ideia do que seria aquilo, talvez fosse um buraco causado pelo acidente. Os policiais começaram a discutir entre si, então ele sugeriu que o revistassem, já que não acreditavam nele. Os dois concordaram. Um revistou, en quanto o outro olhava para dentro do Packard .

    – É, ele não tem nenhuma arma consigo .

    O outro policial chamou o parceiro para perto da janela do carro e apontou para a Glisenti. Os dois começaram a conversar em voz baixa e após parecerem concluir algo voltaram-se para Tomás.

    – Veja, nós vimos dois carros em perseguição aqui na rua, quando corremos para nossa viatura. Acontece que além de um carro preto – apontou para o carro destruído – vimos também um com uma cor muito mais chamativa... vermelho, como aquele que o senhor nos disse que era o seu .

    Tomás gaguejou um pouco e reafirmou que não tinha nada a ver com a história.

    14

    Um dos policiais olhou para o parceiro, o qual fez que sim com a cabeça, e então tirou a arma do coldre e pediu para o homem se ajoelhar e colocar as mãos atrás da cabeça.

    Ele obedeceu .

    O parceiro puxou as mãos de Tomás para as costas e o algem ou. O outro policial guardou novamente sua arma no coldre, pegou a Glisenti no Packard e disse que procuraria pelo seu número de série.

    Ouviu-se então um grito vindo de trás dos homes:

    – Ei! O que estão fazendo com o meu irmão?

    Um dos policiais já foi dizendo:

    – Senhor, isso é uma zona de crime. Por favor...

    Ao se virar ele se calou. O parceiro olhou para ele com uma cara estranha e terminou a sentença:

    – Afaste-se ?

    Ignorando-o, o policial voltou-se para Lorenzo :

    – Senhor Lorenzo! Mil perdões, não sabia que era seu irmão.

    Dito isso, o policial foi até Tomás e tirou as algemas. O seu parceiro perguntou indignado o que ele estava fazendo, mas foi novamente ignorado.

    Na medida em que Lorenzo aproximava-se de Tomás, o policial indignado sacou a arma e apontou para o homem:

    – Senhor, já pedimos que se afaste, não quero ter que pedir de novo!

    Lorenzo então encarou o homem armado, olhou para o outro policial e apontou para seu parceiro como quem estivesse pedindo algo. O policial então se dirigiu ao parceiro e sussurrou :

    – Esse é o Senhor Lorenzo Agarelli, o chefe da família Agarelli .

    Imediatamente, o policial abaixou a arma e pediu desculpas a Lorenzo, que estendeu as mãos de forma humilde e afirmou que não havia problema, afinal, ele só estava fazendo seu trabalho.

    15

    O policial sorriu, forçosamente, e agradeceu, devolvendo a Glisenti. Lorenzo enfiou a mão no bolso de seu terno, retirou um punhado de Liras em notas e deu aos policiais pelo bom trabalho que tinham feito. Os dois agradecera m.

    – Agora só fiquem por perto fingindo que estão vendo a cena do crime enquanto falo com meu irmão, está bem?

    Os dois policiais se separaram, um foi olhar a árvore e o outro, os rastros que o pneu deixou na terra. Lorenzo sussurrou para o irmão de forma indignada :

    – O que a arma da minha mulher estava fazendo na mão do policial ?

    – Eu ouvi as sirenes e no desespero, não sei! Tentei me livrar!

    O irmão deu uma risada irônica, que se transformou em uma tosse molhada, e após retomar o fôlego, o repreendeu por tal ingenuidade, guardando a arma no bolso interno de seu terno .

    – E o que aconteceu com o empregado?

    Tomás apontou para o carro destruído e pediu para que ele olhasse pela janela. Lorenzo o fez, e ao ver o estado deu dois passos pra trás e perguntou :

    – Como é possível que alguém se destrua tanto em um acidente de carro?!

    – Bom, talvez ele não estivesse usando cinto, já que saiu na pressa de casa.

    O irmão mais velho então ligou para um guincho de confiança da família e pediu que viessem ajudá-lo a rebocar o carro de volta à casa.

    Os dois homens, em pleno sol de sábado, no meio de uma praça, ficaram em pé ao lado do carro esperando o guincho chegar, enquanto pensavam em um jeito de limpar um pouco do sangue que havia no vidro.

    – Você tem alguma ideia, Lorenzo?

    16

    – Sim, não fazer nada e deixar o carro como está. Nós estamos passando por inocentes, não por uma dupla de assassinos que estão tentando limpar o local do crime em praça pública.

    O caçula, então, parou um segundo para pensar e concordou. Minutos depois, o guincho chegou, e ao descer, o motorista fez um sinal com a cabeça para o senhor Lorenzo e foi falar com os policiais para que liberassem o veículo. Quando este retornou, perguntou:

    – Então, Senhor Agarelli, o que temos aqui hoje?

    O homem apontou para o carro todo destruído, e o trabalhador foi examiná-lo. Ao ver o estrago, olhou para os dois irmãos e perguntou com um tom cômico:

    – O que o coitado fez para ter uma morte tão brutal?!

    – Não era pra ter sido uma morte brutal, aliás, não era para ele ter morrido de qualquer jeito... Era apenas para ele ter encostado o carro para nós resolvermos isso de forma civilizada.

    Sem

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