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A Ponte de Dorian
A Ponte de Dorian
A Ponte de Dorian
E-book220 páginas2 horas

A Ponte de Dorian

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Sobre este e-book

Dorian é um mendigo e mora numa ponte. Ele pede dinheiro no convés e dorme debaixo da ponte. Outros personagens ficam no viaduto. Tem uma freira que vai e volta pela ponte cobrindo a cara com um capuz. O senhor Model é um nobre em decadência que gastou toda sua fortuna em apostas, bordéis e álcool. Um casal desprezível formaod por uma mulher rabugente seu noivo submisso estão atrás do Lorde Mordel porque eles esperam que ele venda o seu palácio para eles. Dois policiais nada profissionais perturbam Dorian questionando-o bastante porque eles suspeitam que ele é o assassino de uma mulher. Lena, a florista, sempre é gentil com Dorian, assim como Arthur, o dono da barraca de lanches. Finalmente, Theodore também é um mendigo, mas é muito mais mau que Dorian. Este é um bom homem e um dia encontra uma nobre muito bonita que perdeu seu lenço. A mulher se apaixona por Dorian e o pede em casamento, mas ela nunca volta. O mendigo se sente triste e tem outro problema. Na verdade, ele sente que está gradualmente perdendo a memória, e parece que ele nunca deixou a ponte. Um dia, algo estranho acontece. Dorian percebe que a ponte está vazia exceto pela presença de dois gêmeos que misteriosamente transformam-se em monstros horríveis que perseguem Dorian, que consegue chegar a debaixo da ponte onde ele está a salvo. Além disso, ninguém mais reconhece o mendigo depois dessa experiência assustadora. O mendigo tenta entender os acontecimentos, mas quanto mais ele usa a lógica, mais ele falha.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento19 de dez. de 2023
ISBN9781667467504
A Ponte de Dorian

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    A Ponte de Dorian - Nicola Vallera

    Nicola Vallera

    1

    Era uma vez um homem e uma ponte. Os dois estavam de alguma forma relacionados, até o dia em que o homem entendeu que seu mundo não era o que ele achava que era.

    O homem era um mendigo cuja casa era a própria ponte. Seu nome era Dorian, e ele tinha tão pobre que não podia sequer comprar roupas novas, ter um lar e uma família, como qualquer ser humano decente. O mendigo era um homem muito bom, e coloca bom nisso. Infelizmente, o mundo nem sempre recompensa a bondade, a honestidade, a moralidade, a obrigatoriedade, a compaixão, ou você sabe o que mais

    O pobre mendigo com cara de cão vadio passou sua vida humilde flutuando no às vezes áspero, às vezes calmo mar da pobreza. Suas lembranças não tão boas eram uma mistura de momentos tristes, como a morte de sua querida mãe e da irmã mais nova, que morreram de tuberculose. A imagem de si mesmo soluçando veementemente ao lado da cama na qual o corpo minúsculo de sua irmã estava deitada tinha mexido com sua consciência e significou muito durante sua vida.

    Dorian tinha passado por inúmeras situações que, assim como rochas enormes que pesavam sobre seus ombros, representavam sua existência nada invejável. Quando criança - e que criança azarada - depois de ter tido que lidar com esses pensamentos difíceis, duramente pressionado pela responsabilidade de esperar por ninguém, Dorian tinha parado seus estudos para ajudar sua família.

    Ah, se o seu querido pai ainda estivesse vivo, Dorian, não passaríamos por isso! Lamento muito por você, meu querido filho! Sua mãe carente costumava dizer-lhe inúmeras vezes quando o pequeno Dorian trabalhava carregando cestas com um peso de quebrar os ombros cheias de carvão expesso, denso e com cheiro seco. As alças molhadas e cortantes pareciam chicotes na pele de um menino tão jovem, o que levaram a cobrir a parte do superior do corpo com vários curativos, parecendo uma pequena múmia. Aquele corpo pequeno e mal nutrido estava tão exausto que algumas pessoas que passavam derramavam lágrimas por ele.

    Depois, havia a ponte. Era uma ponte normal, como as outras bilhões de pontes que existem por aí. Algumas delas são intrigantes, enquanto outras são muito comuns. Bela vista, mas estranha à noite, urbana ou rural, algumas antigas, outras novas, são as pontes espalhadas pelo mundo. Da cidade ao interior, e mesmo nas montanhas, algumas abertas ao tráfego, outras destinadas apenas aos pedestres, as pontes representavam sonhos com os seus mistérios encantadores e sua natureza crepuscular. Ligações sólidas entre as margens, elas são de fato uma vitória sobre a selvageria das águas agitadas dos rios que guardam rancor delas e parecem dizer: Ei pontes, um dia vamos acabar com vocês! Vocês são apenas produtos humanos, e como toda estrutura não natural feita por eles, vocês estão condenadas! Mas as pontes são resilientes e indiferentes. Elas sustentam milhões de pessoas sem nem sequer perceber.

    Às vezes, as pontes podem nem ser notadas pelo grande número de pessoas pisando nelas todos os dias, porque as pessoas estão perdidas em suas rotinas, ou simplesmente porque elas já as viram demais e nem mesmo uma partícula de admiração surge em suas mentes urbanas que já foram reduzidas a cinzas. Por outro lado, quando alguém vive o suficiente em tais estruturas, eles podem ver mais do que só uma ponte, e um submundo desconhecido pode de repente ameaçá-lo.

    Algumas pontes são estruturas impressionantes que tiram palavras da sua boca, como Uau, Olhe pra isso!, Legal! Porém, algumas dessas estruturas suspensas podem significar muito mais do que um belvedere deslumbrante. Incrivelmente, as pontes são capazes de acolher a vida em diferentes formas, embora algumas criaturas vivas possam não corresponder à sua definição de vida.

    As pontes dão abrigo a seres vivos impensáveis e provocam sentimentos particulares àqueles que são sábios o suficiente pra desacelerar sua rotina diária e observar todos os detalhes escondidos incrustados no convés, no pilar, nas barreiras, nos pilares e nas vigas. Algumas pontes são o ponto de encontro, ou melhor, significam tudo para uma determinada comunidade.

    Aquela ponte, a de Dorian, tinha pisos. Acima de tudo, havia um corrimão elegante coberto de ônix que tinha vista para a camada inferior, um complexo marmoreal espesso. Mais abaixo, havia uma queda que, se não fossem os pilares, aquelas pernas grossas destinadas a segurar o caminho suspenso, a ponte pareceria ainda mais perigosa e de tirar o fôlego do que ela já parecia.

    À noite, sua imagem contrastava fortemente com sua aparência radiante e festiva diurna. Aproveitando a escuridão, os morcegos destacavam seus minúsculos corpos de seus poleiros e os corvos ficavam nas balaustradas. Durante o dia, no entanto, pombas brancas e tordos podiam ser vistos e pareciam cantar canções para os casais passeando. Em oposição, as noites eram iluminadas por lâmpadas austeras cuja luz não parecia autêntica, tão pálida e sombria que às vezes parecia distorcer a realidade como em uma tela retocada.

    2

    Algumas outras memórias ruins transbordaram e inundaram a mente do mendigo inúmeras vezes, e uma, em particular, tinha a ver com o fato de que ele não conseguiria se relacionar com o sexo oposto. Vamos deixar claro que Dorian não era tão feio, mas sua persona já tímida foi piorada por suas condições deploráveis. Todos esses problemas criaram um rapaz completamente pouco atraente que sempre mantinha as garotas longe.

    Eu nunca sairia com você, Dorian, porque você é um ninguém! Como se atreve a tentar fazer algo comigo, seu sujeitinho miserável? Uma garota chamada Alice gritou com ele uma vez, mantendo os braços graciosos cruzados enquanto se afastava de Dorian. As sobrancelhas curvadas de Alice tinham franzido a testa como as de um tigre irritado pronto para atacar a sua presa. A maneira como ela mantinha os lábios fechados, estreitos e atraentes era o resultado de um sacrilégio contra aquela jovem deusa perpetrada por aquele senhor de classe baixa, insolente e desempregado. O pé nervoso da menina induziu Dorian a se virar lentamente, mantendo seu corpo congelado como um manequim pelo constrangimento. Em seguida, o mendigo foi embora evitando olhar os muitos vizinhos intrometidos que já haviam se reunido para testemunhar aquela bronca alta.

    Algumas mulheres idosas estavam silenciosamente observando a cena de suas janelas. Alguns companheiros gordinhos (o açougueiro, o peixeiro rancoroso e o vendedor de frutas caseiro) estavam rindo pelos cotovelos enquanto comiam salsichas secas, grossas e gordurosas, sentados em bancos de madeira em frente a uma de suas lojas fedorentas. Do outro lado da rua, um grupo de maltrapilhos interrompeu a competição de pular corda para entender o que estava acontecendo.

    Dorian nunca se sentiu tão envergonhado em sua vida. O coração do menino rejeitado batia a uma velocidade incrível toda vez que ele esperava, pelo menos um pouco, que ele pudesse ter uma chance com as garotas da mesma idade de uma classe mais elevada. Ele já tinha visto a mesma cena inúmeras vezes ao longo dos anos, quando um número significativo de garotas bonitas, por uma razão ou outra, sempre revirava os olhos e deixava o pobre adolescente olhando para elas à distância. Infelizmente, o amor não pode ser apenas unilateral.

    Dorian vinha trabalhando há séculos respirando pó de carvão e comendo um pouco. Alguns dias, sopa com alguns pedaços de pão velho era mais do que suficiente para ele. Não demorou muito para que ele se sentisse como se seu corpo queimasse como fogo. Um sentimento terrível! Ele começou a sentir-se doente com febres reumáticas após a adolescência, e essa doença foi a causa de sua demissão. Então, uma crise atingiu e estrangulou o mundo, e Dorian, com seu corpo dolorido e fraco, e não mais uma criatura, não conseguiu mais ganhar seu sustento. Desculpe, amigo, mas não precisamos de novos trabalhadores aqui! Ele sempre ouvia isso toda vez que tentava obter um papel na sociedade.

    Dorian estava condenado, e depois que seus entes queridos morreram, ele não teve mais vontade de fazer nada além de se acomodar em um canto da ponte em questão. Mantendo os olhos baixos e seu braço erguido em direção aos pedestres, Dorian repetia a sua calção de ninar esperando a generosidade dessas pessoas: Esmolas para um pobre homem!

    Surpreendentemente, o pobre rapaz contava quase a mesma quantia de dinheiro todos os dias, quando, à noite, ele descia a ponte e dormia profundamente sob a estrutura estável envolta em tapetes quentes. Sua casa era uma península de pedra rodeada pelo poderoso rio que, se olhássemos para ele, ficaríamos fascinados com o seu poder. 

    Caldo enlameado trazendo galhos chafurdando pegos em redemoinhos engraçados e, cada gota e bolha sugeriam trocar de posição. Esses movimentos constantes originaram saltos inesperados para frente e para trás na superfície enrugada que parecia um fino tecido deslizante. Aqui e ali, o corpo liso de água foi interrompido por ondulações cremosas e espumosas, produzindo turbulências. Essa visão dinâmica lembrava aos espectadores que os rios são feitos de natureza tenaz.

    Os animais selvagens povoam estas águas da cabeça aos pés. Águias poderosas reinam nas tímidas nascentes das montanhas onde os riachos são gerados. Os cardumes de barbatanas-de-fio-amareladas obtêm o alimento de que necessitam do corpo de água e, agitando as suas barbatanas de cauda grandes e profundamente bifurcadas, fazem o possível para atrair fêmeas sedutoras para que reiniciem o ciclo repetidamente. É incrível como uma faixa de água corrente faz tanto.

    3

    Ocasionalmente, a memória de Dorian tinha alguns deslizes - demais, na verdade! - O mendigo culpava a sua doença por isso. O fato é que, de tempos em tempos, ele já não tinha tanta certeza de que tinha realmente passado por aquelas experiências de que ele se lembrava durante toda sua vida. Sua vida antes de sua aventura sem-teto, sua mãe morta, pai e irmã, as meninas hostis, o peso do carvão que envenenou seus pulmões em seus ombros, eles eram reais? Independentemente de uma infinidade de memórias terem sido geradas por sua mente ou não, Dorian precisava sobreviver, e o passado não era mais relevante.

    Minha lembrança dos acontecimentos foi prejudicada fortemente pelo meu desequilíbrio mental. No entanto, nunca vi ninguém que guarde em sua mente todo o seu passado e se lembre de tudo quando o investiga. Os pensamentos são fugazes por definição, e aquilo a que se chama memórias passadas são meras misturas de autenticidade com invenções; o vermelho fica azul, e deboches se tornam grandes sorrisos quando uma memória surge. Você não tem certeza das coisas, supera! Dorian havia se repreendido até cansar. 

    O resto da vida de Dorian tinha sido rotineira, até um dia em que Dorian se levantou mais cedo do que o de costume. O sol ainda estava empurrando as nuvens espessas para ganhar seu trono habitual no alto do céu. Naquela manhã estranha, alguém correu em direção ao parapeito da ponte, ao lado do local habitual de Dorian. Intrigado com aquela silhueta esguia, o sem-teto moveu lentamente suas pupilas azuis para o lado, manteve a boca retorcida, e se concentrou naquela presença maravilhosa que simbolizava um pedaço do céu no inferno. Uma ilha acolhedora e impossível-de-não-ser-admirada, cercada por águas escuras, essa era a mulher que ele acabara de ver.

    Sua longa saia violeta se movia ritmicamente tocada pelo vento suave. Acima dela, uma figura celestial esbelta estava de pé; pescoço longo e harmonioso, pele pálida, bonita e lisa, cabelo preto escuro levantado pela brisa e os olhos escuros mais melancólicos que Dorian já tinha visto, estava lá olhando da balaustrada como se tivesse perdido alguma coisa.

    A princesa ágil já tinha alcançado o parapeito antes de tentar pegar seu lenço voando com o vento, em vão. Tudo o que Dorian podia contemplar era um contorno magnético suavizando ao longo da luz do sol projetada através das rachaduras do horizonte da cidade no plano de fundo. Tudo o que se assemelhava à ilusão feita de uma sequência de flashes brilhantes cujo personagem principal era aquela senhora sedutora que brilhava de modo fantástico. 

    A curiosidade de Dorian se intensificou e absteve o homem de tirar os olhos ainda adormecidos daquela criatura paradisíaca que, de repente, virou-se para ele e perguntou enquanto segurava seu chapéu recheado de laços transparentes: Desculpe-me, senhor, você viu um lenço branco voando para longe? Lamento incomodá-lo, mas é muito importante para mim, e não devia tê-lo perdido. Foi um presente da minha mãe, há muitos anos. Ah, entendo! Lamento, minha senhora, mas não prestei atenção a isso porque... Dorian hesitou em falar e acenou a mão de uma forma que claramente significava: Infelizmente, é isso que faço para sobreviver. Seus olhos meio fechados ligados a esse movimento tocaram o fundo do coração delicado daquela nobre mulher.

    ...Eu tinha certeza que aquele pedaço de pano havia caído do rio na margem subjacente. Ele voou com uma rajada de vento agora há pouco, mas, de qualquer forma, receio que não haja muito que eu possa fazer agora. Disse a senhora. Dorian alargou um pouco o sorriso, empurrou a cabeça para a frente lentamente, e sua sobrancelha ergueu-se mostrando simpatia. Ele queria dizer algo, mas a boca não se mexeu nem um pouco. Finalmente, a mulher acrescentou: Você não precisa se sentir envergonhado pelo que faz, senhor, pois tenho certeza que existem motivos pelos quais você está aqui.

    Dorian se sentiu tão encorajado com essas palavras - ela era uma deusa falante, afinal - que disse: Tenho certeza de que se um homem como eu cuidasse de uma senhora gentil como você, ele não se sentaria nesta ponte do jeito que eu faço...Ops! Sinto muito, minha senhora, não quis insinuar... e ele perdeu as palavras novamente.

    Os lábios da senhora assumiram uma forma tão bonita porque as pontas apontavam alegremente para cima, suas bochechas ergueram e, como resultado, a mais fascinante obra de arte sorridente feita de carne e ossos acalmou a alma do mendigo mais do que qualquer outra coisa desde o seu nascimento.

    Por favor, permita-me encontrar o seu precioso lenço, doce senhora! Dorian disse ansiosamente. Oh, você é tão gentil! Mas tenho de ir agora. Se encontrá-lo, pode guardá-lo pra mim? Ela pediu. Claro, eu vou! Dorian respondeu em pé. O anjo aproximou-se dele, encarou-lhe os olhos e assumiu um sorriso sincero, o sorriso de uma alma pura. Essa onda de perfeição calorosa em direção a Dorian deu-lhe coragem. Por que é que aquela mulher se aproximou tanto dele?

    Mais alguns passos e a nobre mulher estava a poucos centímetros de distância dele, gerando tempestades poderosas com ondas enormes no oceano interior do mendigo. Eu nunca te vi antes, senhor, mas não sei por que, sinto algo por você! Ela disse isso com sua voz adorável e sincera quando ela gentilmente agarrou as mãos de Dorian. Dorian cambaleou e segurou a balaustrada com a mão esquerda, para não desmaiar como um tolo. Seu peito tinha alfinetes e agulhas brilhando por dentro, seus músculos sub-tróficos eram cordas puxadas por uma força enorme e poderosa chamada amor que silenciava os gritos de todos os vendedores ao redor, os sussurros enfadonhos dos transeuntes e as gaivotas irritantes também gritavam. Essa foi uma emoção poderosa e intensa, e

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