Kalls
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Kalls - Diego Lincoln
Diego Lincoln Campos
KALLS
AMANHECER
EDITORA PROTEXTO
1a. Edição
2015
KALLS
Quando a noite cai sobre a terra que julgas ser tua. .
. .é por que o sol estás a se levantar na terra de outrem.
KALLS
AMANHECER
Para minha filha, Bella
que foi gerada enquanto escrevia esta Saga.
PRÓLOGO
A minha realidade estava chegando mais rápido do
que podia se quer imaginar, estava com frio e com medo. Não
podia fazer ideia de seria daquela forma que a minha vida
terminaria. Em um momento, tudo era bom, tudo era como
deveria ser sempre — estava nos braços dele e tinha uma
escolha, eu era a escolha dele para toda a imortalidade do ser
e do querer. Mas aquele preço, sinceramente — não esperava
que teria que ser pago tão rapidamente. A dor de morrer mil
vezes era o que estava sentindo, morria e voltava. Morria e
voltava — Voltava e morria de novo. Uma agonia sem fim.
De certo modo eu desejava aquilo, por mais louco
ou insano que pareça, eu queria — podem até me chamar de
masoquista, mas era bom; era bom demais para ser verdade
quando tocamos juntos o chão novamente. Ele tinha se
alimentado de mim e eu me alimentado dele — era tudo o que
eu queria. Parecia que eu estava prestes a conseguir tudo por
que vinha lutando deste sempre naquele maldito lugar.
"A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma
mulher sem ter a intenção de amá-la."
Augusto Branco
KALLS • Amanhecer • Capitulo I
SOMBRAS
DO PASSADO
Levou muito menos tempo do que eu podia se
quer imaginar — todo o medo não fazia mais sentido algum
em nossas realidades paralelas — enquanto os minutos
passavam mais lentamente, o tempo já havia se
desacelerado e só existia ela —, bem a minha frente, ao
toque contínuo das minhas mãos. No entanto; estava
estampado em nossos olhares; o perfume daquele medo a
que me lembrava com a perfeição de um relógio suíço, de
quando a tomei em meus braços pela primeira vez ainda
tão distante para mim, estava desaparecendo — o medo —,
como se nunca antes o tivera em min experimentado.
Embora eu já tivesse vivido aquele encontro no
mínimo umas mil vezes durante as últimas décadas, conter
toda a emoção do reencontro era praticamente impossível
— consciente ou não —, e embora eu quase tivesse certeza
de que tudo aquilo não se passava de um sonho bom, entrei
em pânico enquanto Kallena saia de trás da cortina,
caminhando em minha direção. Naquele instante, todo o
meu controle havia desaparecido tal como as palavras em
meus pensamentos. Senti aquele gosto intrínseco de quem
acaba de acordar em minha boca, era como se estivesse
com sede, uma sede quase que incontrolável no meio da
madrugada. Não conseguia mais me mexer, estava perplexo
com o quanto sua beleza me atormentava em a tantas e
tantas décadas.
Sabia que seu pai estava bem atrás de mim
tentando proteger sua prole com uma espingarda velha que
se quer seria capaz de realizar um disparo perfeito — o que
não pagaria para ver, claro —, pois temia pela vida dela e
deles quando o projétil atingisse minhas costas.
Mas, o que, em um contexto geral; eu estava
fazendo ali? Dentro de sua casa ainda, já deveria ter partido
a muito tempo, sem se quer ter sido visto por eles, tão
pouco; por ela — já os tinha salvo, todos estavam na mais
completa e certa segurança de quem fica — mas não
conseguia desviar meu olhar dos lábios dela, não podia
deixar de lembrar o quanto fomos felizes juntos, e
sucumbia àquela imensa vontade de a pegar em meus
braços, e juntos, desaparecermos por todo o sempre. Pois a
saudade era sufocante demais, o desejo era grande demais,
a vontade de contar tudo a ela estava explodindo dentro de
mim.
Mas então, o que ainda estava esperando, por
que não a tomar em meus braços e simplesmente
desaparecer daquele local com ela, para sempre. Seria tão
mais fácil. Seria tão mais rápido.
Eu tinha noventa e nove por cento de certeza de
que estava sonhando, mais uma vez. E que tudo aquilo não
era real, não poderia ser. Mesmo assim, era como se o
tempo, por alguns breves segundos, não existisse mais.
Os verdadeiros motivos para toda aquela
certeza cega que comprometia a minha própria capacidade
de discernimentos, eram bem simples:
Primeiro, eu estava de pé e completamente
atraído por um feixe de luz que me tornara cego por
completo, tão brilhante como o sol — o sol claro e ofuscante
que nunca luzia em uma noite chuvosa como aquela no Setor
19 — O que era aceitável se observado do ponto de vista
correto.
E, em segundo, eu estava olhando para Kallena,
eu sabia disto, eu sentia isto no fundo mais profundo do que
ainda restava de minha alma; mas por trás do ser e tão
perto do ter, do querer, reconhecia também toda a
delicadeza do rosto de Ketllin.
Ketllin tinha partido a quase 40 anos em meus
próprios braços; e isto inconscientemente, me levava à
prova mais concreta da teoria do sonho, no qual nunca
consegui a salvar por completamente.
Ketllin não havia mudado muito; estava ali
também, de certa forma; seu rosto era exatamente igual ao
que habitava as profundezas de minhas memórias e
pensamentos mais secretos, trancados a sete chaves em
minha mente, inacessível a qualquer outro. A pele ainda
mais branca e irradiante. Seus lábios rosados sempre ao
natural, como tanto os desejava; eu não conseguia mais
distinguir o que era sonho, ou o que era realidade.
A sua boca se mistura à minha no vazio do
tempo e eu — queria — seu cheiro percorria o vão entre
nossos corpos e parecia me tocar por dentro e eu também
— queria — e aquilo, era bom.
Podia a tocar em pensamentos entre um vão
sorriso de surpresa revelado em seu olhar, hora de espanto,
hora de contentamento. Exatamente ao mesmo tempo em
que se fazia, um ou outro, como em um espelho a refletir
toda a minha dúvida, todo o meu medo de que ela — de
alguma forma — não se lembrasse de mim, não se
lembrasse de nós; e assim, Bells jamais viesse a nascer.
Aparentemente, ela também não esperava me
ver — não ali, eu entendia isto — pois ela se quer sabia quem
eu era, muito menos, claro; o que eu era e por que estava ali,
parado; bem a sua frente — e conhecia o risco, sabia do
risco.
Foi então, preparado ou não; que as lembranças
começaram a se despencar em cima de mim, todas de uma
só vez — com o peso de uma vida inteira refletida em dor e
sofrimento; da mais fria e cruel perda na qual o tempo se
quer foi capaz de amenizar.
E aquilo, ardendo e me forçando a recordar do
exato momento em que a perdi, ainda em meus braços —
estava acordado eu sabia, mas não parecia. Pude tocar a
pele ondulada do seu