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Arma Branca Na Mão De Criança
Arma Branca Na Mão De Criança
Arma Branca Na Mão De Criança
E-book205 páginas2 horas

Arma Branca Na Mão De Criança

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Sobre este e-book

É um livro excepcional, daqueles que o escritor escreve, não imaginando a história, mas vivendo-a. Em todas as páginas deste livro encontramos relatos de acontecimentos espetaculares. Mesmo nos contos, há uma malícia do autor que nos leva a crer na veracidade dos fatos. Todas as narrativas desta obra nos faz refletir de maneira positiva. Muitas das vezes os contos são engraçados, porém, nos leva a ter outra ideia daquilo que cultuamos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de fev. de 2017
Arma Branca Na Mão De Criança

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    Arma Branca Na Mão De Criança - Francisco Faustino Dos Santos

    FRANCISCO FAUSTINO DOS SANTOS

    ARMA BRANCA NA MÃO DE CRIANÇA

    1ª edição

    Clube de Autores

    2017

    ARMA BRANCA NA MÃO DE CRIANÇA

    Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

    (Sistema de Bibliotecas Públicas Municipais de Maringá - PR, Brasil)

    ÍNDICE

    A TROCA

    APOSENTADORIA PRECOCE

    ARMA BRANCA NA MÃO DE CRIANÇA

    BEM E MAL

    CAIXÃO NOVO

    CALDEIRÃO DE FEIJÃO

    CANTEIROS DE BICHOS

    CARTA AO SENHOR 

    CERTOS NOMES SÃO UMA PIADA.

    CONSULTA DE TRINTA SEGUNDOS

    DEUS NÃO É RANCOROSO

    ERRO NA ACENTUAÇÃO

    ESCOLA DE CORRUPTO DO PROFESSOR LARAPINO

    EXAME DE CABRA MACHO

    FALSO PARAGUAIO

    IDEIAS CONFUSAS

    INSTINTO PROSTITUÍDO

    JOÃO BOCÓ

    JUIZITE

    LAMPEÃO REENCARNOU-SE EM MALDIOLAVIO

    LUANÁ

    ALCAGUETE

    INFIEL

    O LIVRO DO PASTOR

    O MILAGRE DA CINTA

    O ÚLTIMO DIÁLOGO

    ONDE NASCI

    PEGOU JESUS, IRMÃO? 

    POBRE SEM EXPECTATIVA

    POLITICAGEM NO VELÓRIO

    QUEM É VIVO SEMPRE APARECE

    QUEM MEXE COM LOUCO FICA LOUCO E MEIO

    REELEIÇÃO RIMA COM CORRUPÇÃO

    É MENTIRA OU VERDADE?

    SEMPRE PEQUENO

    SIVANILDO

    VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

    DEVOLVAM-ME OS MEUS NOVE MESES

    A TROCA

    Há estórias tão mirabolantes que, mesmo com testemunhos, não dá para acreditar! Muitas delas são contadas com tanta ênfase pelo narrador, que nos leva a êxtase, mas, de tão fantasiosas, fazem com que desconfiemos de sua veracidade. Foi o que aconteceu comigo ao ouvir uma dessas, narrada, até então, por um policial exemplar.

    Em uma confraternização da classe, encontrei-me com velhos companheiros, que a profissão e o tempo afastaram de meu convívio. Entre eles, estava um que há muito havia aposentado: Nego Doido. Crioulo corajoso e destemido, nunca temeu a ação alguma. Quando em serviço, era o homem de frente. Nos nossos campeonatos internos de tiro, nunca ficou em segundo lugar, sempre era o primeiro colocado. O seu jeitão de líder e a credibilidade que tinha diante dos delegados sempre o levaram aos cargos de superintendente ou chefe da seção de furtos das delegacias por onde passou.

    Neste reencontro, Nego Doido recordou o tempo que estava na ativa, narrando estórias que, segundo ele, fez parte.

    — Uma vez — disse ele ao grupo que o rodeava. — Fui convocado a levar um preso à capital do estado, pois ele havia sido julgado e condenado a doze anos de reclusão em regime fechado. E, segundo as nossas leis, preso condenado tem que cumprir a pena na penitenciária e não em delegacia. Quero acrescentar ainda — disse o experiente policial. —, naquele tempo, nos anos 1970, o policial era obrigado a escoltar os condenados ao presídio central, em Curitiba, de ônibus, não é como hoje, que têm veículos preparados, que vai de cidade em cidade recolhendo os internos. No dia em que fui escalado para levar esse criminoso para sua nova morada, eu estava um bagaço! Tinha trabalhado vinte e quatro horas sem pregar o olho, sem dar um cochilo. O plantão daquela noite tinha sido um inferno! Vários flagrantes, brigas de marido e mulher, gente baleada, mas, assim mesmo, o excomungado do delegado exigiu que eu viajasse quatrocentos quilômetros, escoltando um bandido de alta periculosidade. Um colega foi comigo até a rodoviária e me auxiliou a algemar o preso no acento do ônibus. No decorrer da viagem — continuou o policial. —, comecei a prosear com o condenado, que mostrava arrependimento de tudo que havia feito de errado. Segundo ele, se tivesse uma segunda chance, começaria a vida de uma maneira diferente: mais prestativa e solidária. Chegou a dizer que, depois que cumprisse a sua pena, iria criar uma ONG para dar apoio aos encarcerados e suas famílias. Achei bonita aquela intenção! Mas sabia que tudo aquilo era balela, conversa de pessoas simuladas.

    O ônibus que ia de Maringá a Curitiba fazia uma única parada no decorrer da viagem em um posto de gasolina, a cento e cinquenta quilômetros antes do destino final. Era uma parada rápida, de quinze minutos. Como eu estava um trapo, fui pego por um sono profundo. Adormeci de tal forma que não percebi essa paragem. Só acordei quando o motorista ligou o carro para seguir viagem novamente. Ao abrir os olhos, ainda atordoado de sono, deparei com a poltrona onde estava sentado o preso, vazia, e, no encosto de braço do assento, a algema aberta e dependurada, o pilantra não quis a levar, decerto a deixou para tirar uma com a minha cara. Sem muito afobamento, perguntei aos vizinhos de poltrona se tinham visto o homem que estava sentado ao meu lado se levantar; uma senhora, ainda nova, e um homem, já na segunda idade, disseram que o sujeito se levantou e foi ao banheiro há uns cinco minutos antes do ônibus parar. Com esse relato, corri ao banheiro na esperança que o infeliz ainda estivesse lá fazendo as suas necessidades, mas só encontrei a janela aberta. O desgraçado estava no mundo, liberto como as mariposas que se chocavam no para-brisa do ônibus... Continuei a viagem como se nada tivesse acontecido. Inclinei à poltrona e voltei a me encontrar com o sono que soltou o preso. Só acordei na rodoviária com o motorista batendo sobre o meu ombro e falando que a viagem tinha chegado ao fim.

    — E a fuga do preso, não deu bronca ao senhor?! — perguntou um policial recém-nomeado.

    — Não! — respondeu calmante Nego Doido, acendendo um cigarro.

    — Como não?! Fuga de preso, quando comprovado que foi negligência da gente, é demissão na certa!

    — E pensa que eu não sabia disso? — confirmou o tarimbado policial.

    — O que o senhor fez para sair dessa enrascada? Para se livrar da sindicância? — quis saber uma policial que segurava a filha no colo.

    — O comando da penitenciária nunca ficou sabendo que o preso fugiu, muito menos o delegado que me encarregou da incumbência da transferência do bandido. Tudo porque, quando desci do ônibus, por volta das cinco e trinta da manhã, fui tomar um cafezinho em uma lanchonete da rodoviária, que ficava no piso superior. Sentei próximo da janela e, dali, passei a observar a praça que dava de frente à estação. Nas corridas de olhos que dei no logradouro, vi muitos mendigos deitados sobre os bancos, no relento, sem nenhum conforto. Foi aí que Deus me deu uma ideia diabólica, dar o lugar que o preso fujão ia morar a um daqueles infelizes, que estavam jogados no mundo por conta da sorta.

    — Como assim?! — perguntou uma escrivã que assuntava a prosa, com certo espanto.

    Nego doido apertou a ponta do nariz, respirou fundo e continuou a sua estória:

    — Após tomar o café, fui andar pela praça e escolher quem iria substituir o criminoso que fugiu. Observei vários sem tetos que encolhidos tremiam de frio sobre aqueles bancos gelados. Eu tinha que levar ao CTP: centro de triagem da penitenciária um camarada que não desmentisse que não era o sujeito que eu ia dizer que era. Na minha ciranda pela praça, vocês não vão acreditar! Encontrei um mendigo que tinha o aspecto físico e a aparência do fujão! Perguntei ao miserável o seu nome, ele não respondeu; o colega dele, que dormia ao lado, disse que o sujeito que eu interrogava era doente mental e falava muito pouco. Revirei os bolsos e os pertences daquele coitado, não encontrei documento que o identificasse... Era o homem ideal para eu entregar no lugar do fugitivo, mas o danado fedia demais! Suas roupas estavam em farrapos! Como entregar aquele homem naquela situação? Esperei o dia clarear por completo e o comércio entorno da rodoviária abrir as portas. Fui a uma loja, comprei um par de roupas: calça e uma camisa das mais baratas que encontrei. Voltei à rodoviária com o sujeito já algemado e paguei um banho ao infeliz. Quando o traste saiu do banheiro vestido na roupa que eu havia comprado, pensei que o fujão tinha se arrependido e estava se entregando a mim, tanta era a aparência um com o outro!

    — Mas eles acreditaram que aquele era o preso?!

    — Minha filha, eles não iam acreditar por quê? Os agentes penitenciários não conheciam o preso que eu levava! Portanto, quem eu entregasse ali era a pessoa que estava descriminada no ofício!

    — E quando chamaram o mendigo pelo nome do preso que fugiu, ele não desmentiu? — quis saber Zé Cassetada, que no passado fora parceiro do Nego Doido.

    — Essa passagem foi até engraçada, Zé. Eu e o suposto condenado entramos numa saleta e ficamos aguardando o agente penitenciário. Quando ele chegou, dei-lhe o ofício com os dados do preto que estava entregando... — ao dizer essas palavras, Nego Doido parou para gargalhar de seu relato. — O agente chamou o infeliz pelo nome que estava no ofício, umas duas ou três vezes. Como o miserável não respondeu, levou traiçoeiramente um surdão que até hoje penso comigo que a cigarra canta no ouvido do desgraçado... Após ter dado a bofetada e não tendo a resposta que queria ouvir, o agente aproximou-se do indigente, olhou dentro dos seus olhos e, num tom intimidador, chamou-o de novo pelo nome que estava no papel. Aí, vendo que ia apanhar de novo, o abobado, falou:

    "— O sinhô ta falando comigo?!... O meu nome não é esse! Eu, eu sou o Caixa D’água!

    O agente pegou aquelas palavras como afronto a sua autoridade. Enfurecido, transformou-se na figura de um atroz e caminhou na direção do abestalhado, levando a mão fechada para que o resultado da pancada fosse destruidor. O infeliz, vendo a fúria que ficou o homem com a resposta que deu, encostou-se à parede com as mãos protegendo os ouvidos e disse apavorado:

    — Tudo bem sinhô, eu sô... eu sô o fulano que o sinhô tá dizendo que sô!

    Com a confirmação positiva, o agente pegou o sujeito pelo colarinho e o puxou a outra saleta, onde um homem vestido com o uniforme de preso, decerto preso de confiança — o quê ainda existe nos dias de hoje, em muitas delegacias —, aguardava-o com uma máquina de cortar cabelo... Assim, meus caros amigos, cumpri com a minha missão de policial e humanitária... Ra-ra-ra, eita tempinho bom que não volta nunca mais! — essa última frase o ex-policial pronunciou em resmungo, tomado por uma sequência de tosse seca, vinda após tragar a fumaça de um cigarro paraguaiesco.

    Após ouvir a narrativa do policial aposentando, a rodinha se desfez. Os incrédulos foram sorrir sarcasticamente fora da visão do narrador; os que acreditaram ficaram tão impressionados que formaram outras rodinhas e discutiram por um longo tempo, naquela noite, a audácia daquele homem.

    APOSENTADORIA PRECOCE

    Meu compadre Everaldo Matheus trabalhou trinta e cinco anos sem faltar um dia. Era um sujeito assíduo com os seus compromissos. Com chuva ou sol, estava ele lá, batendo ponto. Aposentou-se aos cinquenta e três anos, como funcionário Público Estadual.

    Essa aposentadoria precoce, ao em vez de trazer felicidade e gratificação pelos anos de labuta, inverteu-se, trouxe-lhe, sim, foi muitos aborrecimentos.

    A sua feição jovial não era de uma pessoa que já tinha trabalhado tanto tempo. Por conta dessa aparência, de homem novo, o padrinho da minha filha mais velha sempre entrava em enrascadas, principalmente quando entrava nas filas dos aposentados para pagar uma prestação ou simplesmente para gozar das prerrogativas que um aposentado tem por direito. Era ele enfileirar atrás dos velhinhos que já vinha o protesto.

    — Oh! Filho, aqui não é o seu lugar! Aqui é só para os aposentados e os vovôs; a sua fila é aquela grandona, aquela que se arrasta pelas escadarias até a calçada da rua! — orientava os bondosos velhinhos da fila.

    — Mas eu sou aposentado! Quer ver os meus documentos? — dizia o compadre, orgulhoso do benefício que recebera pelos anos trabalhados.

    Tinha que mostrar mesmo a carteira da previdência. Os sexagenários diziam que ele não tinha cara de aposentado. E não tinha mesmo! Não se via uma ruga em toda a sua face. Everaldo Matheus possuía um rosto de rapaz maduro, não de um velho aposentado. Quem não o conhecia dava a ele no máximo quarenta e cinco anos. Esse crédito de juventude já vinha desde a adolescência. Os que não o conheciam subestimavam a sua idade. Certo dia, eu e ele fomos ao cinema. Estava passando um filme proibido para menores de dezoito anos, aqueles filmes de sacanagem que o cinema exibia antigamente. Eu tinha a mesma idade dele, dezoito anos, e a metade do seu tamanho, passei sem problema algum diante do porteiro e de um senhor que representava o juizado de menor, mas ele foi barrado, pediram documento, e, como nunca carregava, foi posto pra fora.

    Outra passagem vexatória que Everaldo enfrentou, entre tantas, foi quando entrou na fila do antigo INSS para reivindicar uma correção no benefício. Chegou às quatro horas da manhã e enfiou entre os idosos. Naquele tempo, não tinha internet para agendar a consulta, as pessoas tinham que madrugar nas filas dos órgãos públicos para ser atendido. Os que estavam à frente do Everaldo e os que chegaram depois nada falaram, mas quando o posto abriu as portas, às oitos horas da manhã, uma velhinha, a última da fila, que acabara de chegar e usava um guarda-chuva como bengala, veio se arrastando, apoiando em um e em outro, até chegar onde estava o meu compadre Everaldo. Quando se aparelhou a ele, desceu-lhe o guarda-chuva nas pernas e ainda falou num tom altíssimo, de modo que todos ouvissem a sua indignação:

    — Ta vendo só como esses moleques estão ficando engraçadinhos! Esses pirralhos sabem que aqui não é o lugar deles, mas faz de conta que é! Se ninguém fala nada, eles tomam a frente da gente! Sai daqui, vara de espantar morcego, vai procurar a sua fila!!!

    Everaldo que era magrelo feito uma agulha de tricô, ao receber aquela pancada traiçoeira, saiu da fila saltitando e assoprando a perna que queimava e doía ao mesmo tempo. Depois de pular igual um saci, uns dois, a três metros de onde estava, sentou-se no chão e começou a massagear a perna espancada e, ao mesmo tempo, excomungava a anciã:

    — Ai!!! Ai!!! A senhora é louca! É doida varrida! Quer matar um aposentado? Caduca!

    Acumulando um vexame atrás do outro, Everaldo Matheus resolveu não mais entrar nas filas dos idosos e aposentados. Não quis mais usufruir as regalias

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