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O Que O Acaso Uniu, Nem Os Deuses Separam
O Que O Acaso Uniu, Nem Os Deuses Separam
O Que O Acaso Uniu, Nem Os Deuses Separam
E-book247 páginas3 horas

O Que O Acaso Uniu, Nem Os Deuses Separam

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Sobre este e-book

O barulho de um animal se aproximando me faz despertar daquele pesadelo. Quase que no mesmo instante uma cena surreal se desenha à minha frente: um homem, montado em um cavalo negro, cavalga apressado em minha direção. Não pude deixar de rir ante à ironia. Seria salva por um selvagem. Não qualquer um, é verdade, mas um homem em trajes que mais pareciam ter saído de algum conto das Mil e Uma Noites. Sorri novamente. Minha imaginação, afinal, havia decidido jogar a meu favor. Fernanda, uma carioca apaixonada por livros, música e pelo seu time do coração, o Flamengo, cruza o mundo em busca de histórias para seu Mestrado. Aluna de intercâmbio em Abu Dahi, ela acaba vítima de um dos maiores clichês românticos de todos os tempos: é resgatada por um árabe, quando se perde em pleno deserto! O incidente lhe deixa incapacitada de retornar ao Brasil. E, enquanto se recupera, acaba tendo que conviver com aquele estranho homem, cujo conhecimento por Shakespeare e interesse por futebol têm tudo para atrai-la completamente! Uma divertida e apaixonante história, sobre como o amor pode estar onde menos se espera!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de nov. de 2018
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    Pré-visualização do livro

    O Que O Acaso Uniu, Nem Os Deuses Separam - Adriana Gavaça

    Prólogo

    O sol brilhava como uma bola de fogo, tingindo de laranja e vermelho todo o céu do deserto. As cores refletiam na imensidão de areia, parecendo queimar tudo à sua volta.

    Aos poucos, senti a energia do meu corpo se esvair, enquanto olhava hipnotizada para aquela luz quente, que teimava em me encarar. Minha boca e nariz estavam tomados por minúsculos grãos, tornando o simples ato de respirar cada vez mais difícil.

    Um barulho de um animal se aproximando, me fez, finalmente, despertar daquele pesadelo.

    Quase que no mesmo instante uma cena surreal se desenhou à minha frente: um homem, montado em um cavalo negro, cavalgava apressado em minha direção.

    Não pude deixar de rir ante à ironia. Seria salva por um selvagem. Não qualquer um, é verdade! Mas um homem em trajes que mais pareciam ter saído de algum conto das Mil e Uma Noites.

    Sorri novamente. Minha imaginação, afinal, havia decidido jogar a meu favor.

    Parte 1:

    Buscar o amor é bom, melhor é achá-lo

    (Noite de Reis – William Shakespeare)

    Capítulo 1: O dia da minha morte

    Às oito horas em ponto, o despertador programado no celular disparou. O som, aos poucos, invadiu uma parte do meu cérebro muito distante. O barulho foi aumentando até se tornar ensurdecedor, descartando qualquer possibilidade de permanecer na cama, dormindo.

    Droga!

    Não consegui reprimir um grito abafado, enquanto afundava o rosto no travesseiro. Eu não queria levantar. Não depois de ter ficado acordada até tarde na noite anterior tentando, em vão, guardar todas as roupas e quinquilharias adquiridas em Abu Dhabi.

    A mala era pequena demais para a quantidade de coisas que precisava acomodar. Nem preciso dizer o quanto arrumar tudo havia se tornado uma tarefa praticamente impossível. Por fim, tive a brilhante ideia de literalmente sentar por cima da tampa, puxar o zíper e, finalmente, fechá-la.

    O celular deu uma trégua, mas logo voltou a tocar.

    Ai meu Deus!

    Bem lá no fundo eu sabia que tinha que levantar. Não queria desperdiçar o último dia de viagem.

    Assim que abri os olhos, não consegui evitar que um filme passasse por minha cabeça.

    Após longos seis meses, minha jornada chegava ao fim. No dia seguinte, bem cedo, retornaria para minha amada casa: um pequeno apartamento alugado, de pouco mais de 60 metros quadrados, no centro da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Só de pensar nisso, meu coração doeu de saudades.

    Embora lamentasse o fim da viagem, a única coisa da qual sentiria falta, admiti, seria da exótica cultura daquele país. Não havia feito muitas amizades durante o tempo em que passei por lá.

    As poucas pessoas com quem me relacionei eram extremamente formais e fechadas e eu só tinha conseguido conversar por mais de uma vez com algumas estudantes ou professores da universidade, em que estava matriculada em uma turma de intercâmbio.

    Era isso que enchia meu coração de saudades e de um desejo imenso de retornar ao Brasil. Nascida e criada em Niterói, tinha me mudado para a capital, ao ser aprovada no vestibular da Faculdade Federal de Antropologia.

    A tão sonhada independência não havia sido um processo fácil. Ralei muito no início como garçonete, antes de conseguir um estágio remunerado no escritório de Antropologia da Universidade, o que só aconteceu no terceiro ano do curso.

    Aos finais de semana, ainda encontrava tempo para me apresentar como vocalista da banda Viajantes do Tempo, em bares pela orla da praia.

    Seis anos dessa rotina, de muito estudo e trabalho, haviam me rendido dinheiro suficiente para que eu conseguisse me manter sem ajuda financeira de meus pais. Assim que me vi formada, decidi concorrer a uma bolsa de estudo na Universidade de Abu Dhabi. A ideia era adquirir experiência suficiente para ingressar em um Mestrado no ano seguinte.

    É, por isso, que eu não pretendia desperdiçar a chance de aproveitar ao máximo o último dia naquele país.

    Havia programado, para a parte da manhã, uma incursão pelo deserto. Um táxi me levou até o lugar e, depois, segui pelo passeio em um 4x4 alugado.

    Apesar da indicação do recepcionista do hotel, para que eu contratasse um guia para me acompanhar, decidi fazer o passeio sozinha. Queria ter liberdade para curtir a paisagem e, por fim, conhecer o acampamento que existe no local, destinado a turistas. O que aconteceu, no entanto, só pode ser descrito como uma sequência de eventos desastrosos.

    Os primeiros minutos de exploração daquele deserto imenso, de areia amarela e sol incandescente, tinham me deixado simplesmente de boca aberta!

    As paisagens eram espetaculares!

    O problema é que, quando eu já tinha me aventurado o bastante para o seu interior, o carro fez um barulho estranho e simplesmente pifou.

    Tentei por mais de quarenta minutos fazê-lo funcionar, sem sucesso. Para piorar a situação, o celular ficou sem sinal, não permitindo que eu pedisse ajuda.

    Fiquei trancada naquele pequeno espaço de lata, enquanto o calor emanado pelo sol, aos poucos, foi se intensificando.

    Meus olhos começaram a arder, mesmo por baixo das lentes dos óculos escuros, ao mesmo tempo em que minha cabeça começou a girar.

    O ar condicionado havia parado de funcionar, juntamente com o veículo. Quando estava completamente suada e sem conseguir respirar direito, numa tentativa desesperada, achei melhor sair do carro. O calor, no entanto, parecia ainda mais intenso do lado de fora do veículo.

    Não sei em que ponto comecei a perder a conexão com a realidade. A única coisa que sentia era aquela bola laranja e brilhante me deixar cada vez mais mole, quente e extremamente sonolenta...

    Sentei sobre a areia fofa e fechei os olhos por um segundo, na esperança inútil de que aquele mal-estar passasse. Em um estado de completo desespero, comecei a rir. Tentei mais uma vez olhar para o horizonte, onde o sol parecia castigar os que se arriscavam a sair naquela hora do dia. Fiquei cega na mesma hora.

    Não conseguia me conformar com a minha má sorte. Por que, meu Deus, justamente no último dia eu fui ter aquela ideia idiota?

    Fiquei ali, largada, perdida nesses pensamentos, enquanto tentava me consolar.

    Claro que logo iriam dar falta do meu sumiço! Era só uma questão de tempo para alguém aparecer e me resgatar!

    O sol continuava brilhando como uma bola de fogo, tingindo de laranja e vermelho todo o céu. Minha boca e garganta já estavam totalmente tomadas por areia e, o simples ato de respirar, pareceria um esforço cada vez mais difícil. Tentei, em vão, cuspir os grãos presos na minha língua. O movimento, porém, só fez com que entrasse mais areia.

    Fechei mais uma vez os olhos a fim de evitar outra leva de areia soprando. Meu rosto parecia todo arranhado e minha têmpora começou a pulsar, como se ali houvesse um coração. Teria uma dor de cabeça daquelas, pensei sombriamente.

    Senti toda minha energia se esvair, enquanto olhava hipnotizada para aquela luz quente que teimava em me encarar. Foi então que um barulho de um animal se aproximando, prendeu minha atenção.

    Quase que, no mesmo instante, uma cena surreal se desenhou à minha frente: um homem, montado em um cavalo negro, vestido de branco e com um turbante quadriculado na cabeça, cavalgava apressado em minha direção.

    Não pude deixar de rir ante à ironia. Seria salva por um selvagem. Não qualquer um, é verdade! Mas um homem em trajes que mais pareciam ter saído de algum conto das Mil e Uma Noites.

    Sorri novamente. Minha imaginação, afinal, havia decidido jogar a meu favor.

    O estranho trazia apenas os olhos à mostra. Antes que eu tivesse tempo para prestar atenção a qualquer outra coisa, o homem perguntou em uma voz rouca e baixa.

    – Está sozinha? – Pronunciou cada palavra em um inglês perfeito.

    Alguma coisa devia estar muito errada no mundo!

    Um homem vestido daquele jeito, não devia falar inglês. Certeza que meu pouco conhecimento em árabe boicotou minha imaginação! Mas não me importei. Estava morrendo e não podia fazer muitas exigências. Permaneci largada, ainda sorrindo debilmente para o desconhecido.

    – Vem. – Estendeu uma mão morena. – Vou te ajudar. Você não parece nada bem – falou com uma expressão preocupada.

    Ele falar inglês já era um saco e dizer que eu não estava bem não foi nada legal.

    – Tente se sentar – propôs quando percebeu que eu não ia me mexer.

    Depois, desmontou de seu cavalo e veio em minha direção. Eu sequer tinha me dado conta de ter deitado sobre a areia.

    – Você precisa beber um pouco de água. O sol está...

    Foi a partir daí que não ouvi mais nada. Na hora em que meus olhos se fixaram no cantil em sua mão, percebi o quanto estava com sede. Tentei me sentar, mas foi inútil. Meu corpo todo parecia ter se transformado em gelatina.

    Uma voz distante continuava falando comigo. Eu me esforçava para tentar entender, mas era impossível. 

    Ele finalmente se calou, abriu o cantil e derramou um pouco do líquido transparente em minha boca, apoiando minha cabeça com sua mão.

    Eu nem bem tinha começado a beber, quando engasguei. Na mesma hora ele tirou o cantil de perto de mim. Soltei um gemido de protesto.

    – Calma, vai devagar – advertiu naquele inglês irritante.

    Pensei em gritar, falar que queria mais. Apesar disso, som algum saiu de minha boca. Tentei, em vão, mover minha mão em direção à garrafa. Nem um músculo se mexeu. Parte alguma do meu corpo parecia querer me obedecer. Para piorar, tudo, de repente, começou a girar, girar.

    Vendo que sem ajuda eu não sairia do lugar, o homem colocou uma mão sobre minhas costas e, com a outra no meu braço, me forçou a levantar.

    Assim que ele me ergueu, consegui em algum lugar da minha consciência desconexa, reparar no quanto ele era alto. Muito mais alto do que eu tinha percebido a princípio. Não consegui ver seu rosto escondido pelo traje que usava. Só seus olhos negros, que continuavam me encarando como se eu fosse maluca.

    Comecei a ficar enjoada, enquanto minhas pernas fraquejavam. De repente, tudo ficou preto. Morri.

    Capítulo2: Paraíso ou purgatório?

    O céu era um lugar realmente legal! Por onde quer que eu olhasse via luzes brancas, violetas e em todos os tons de azul. E meu corpo parecia não ter mais peso algum.

    A sensação era tão boa!

    Fiquei lá, aproveitando aquele emaranhado de cores, até que uma voz, vinda de um lugar muito distante, interrompeu meu devaneio.

    O que aquela voz queria? Parecia muito insistente. Por mais que eu tentasse prestar atenção, não conseguia entender o que ela dizia. Alguma coisa cutucou meu braço.

    Senti aquele lugar mágico me escapando, enquanto aquela voz insistente ficava mais alta e nítida.

    – Você consegue me ouvir? Pode piscar uma vez se estiver me ouvindo?

    Ai que droga!

    Abri os olhos.

    A primeira coisa com a qual eu me deparei foi com um homem alto, moreno, com uma barba bem aparada olhando fixamente em minha direção. Usava um tradicional turbante árabe e, assim que me viu acordar, começou com aquelas perguntas outra vez.

    – Tudo bem? Você pode me ouvir?

    – Parece que sim – respondi em português e imediatamente vi a incompreensão em sua face.

    – Você não fala inglês?

    Droga alguém já tinha feito aquela mesma pergunta, não tinha? É claro que eu falava inglês! Por que é que ficavam me perguntando isso a toda hora?

    O desconhecido continuou me olhando com um ar de interrogação antes de virar-se para falar com uma mulher. Foi só então que eu reparei que havia mais alguém junto com ele. Trocou umas rápidas palavras em árabe, que eu não consegui compreender, antes de se voltar novamente para mim.

    – Parla italiano? – Ele arriscou em um sotaque carregado, que me fez sorrir.

    Embora eu descendesse de italianos, não conhecia praticamente nada daquele idioma. Mas é óbvio que aquela pequena frase eu consegui entender.

    Ele também abriu um sorriso e, como se tivesse finalmente acertado, se arriscou com uma série de perguntas em um italiano enrolado. Dessa vez, fui eu quem olhou para ele sem compreender absolutamente nada.

    – Não falo italiano – respondi em um inglês perfeito.

    Desde meus seis anos de idade tinha começado a aprender o idioma. Aos 24 anos, podia-se dizer que o dominava totalmente. Quer dizer, nas poucas viagens que eu havia feito a outros países, consegui me virar bem, embora notassem de imediato meu sotaque pronunciado.

    – Você fala inglês? – Ele disparou quase que na mesma hora.

    Meu Deus, quantas vezes esse homem ia me fazer essa mesma pergunta?

    – Sim, falo.

    – Você lembra qual é o seu nome?

    Esse cara só podia estar de brincadeira! É claro que eu me lembrava. Só não entendia o porquê de ficar me fazendo aquelas perguntas sem nexo.

    – Fernanda Santorini. Brasileira, 24 anos. Formada há dois anos em Antropologia. Mais alguma coisa? – respondi diretamente para ele, que me olhou com uma expressão sombria.

    – O que você fazia sozinha no meio do deserto, na hora do sol mais escaldante? Estava, por acaso, tentando se matar?

    Então eu lembrei!

    Me vi como em um sonho começando aquele maldito passeio pelo deserto. Lembrei do carro, da forma como ele havia pifado, do nada, e de como eu quase morrera no meio de um mar de areia.

    Com assombro, voltei a olhar para o homem à minha frente. Agora me lembrava dele! Ele tinha aparecido quando eu já não tinha mais esperanças de ser resgatada.

    Fiquei apreensiva na mesma hora.

    Quem era aquele homem? Para onde ele tinha me levado?

    Estava em Abu Dhabi há tempo suficiente para saber o quanto era perigoso para uma mulher ficar sozinha naquele país, especialmente em poder de um árabe desconhecido.

    – Por que estou aqui? Quero ir embora imediatamente! – Só então me dei conta de que estava deitada em uma cama de casal gigante, rodeada por um dossel, de onde pendiam tecidos em seda marfim, que eu não reconheci.

    – Fique calma, Fernanda.

    A forma musical como ele pronunciou meu nome, me fez calar a boca imediatamente.

    – Farei questão de acompanhá-la até o seu hotel, assim que tiver certeza de que você está bem.

    – Eu estou ótima! – respondi. Mas, quando tentei sentar, uma nova vertigem me atingiu em cheio. Na mesma hora senti suas mãos me ampararem.

    – Cuidado! Não faça movimentos bruscos, antes de o médico chegar.

    – Eu não preciso de um médico – retruquei em pânico. Só pensava em ir embora, terminar de arrumar minhas coisas. No outro dia, meu voo para o Brasil partiria bem cedo.

    Ele trocou mais algumas palavras com a mulher e saiu do quarto, me deixando completamente atordoada.

    Olhei melhor para minha acompanhante. A mulher aparentava ter entre 50 e 60 anos. Era difícil precisar, com as camadas de tecido preto e da abaya, que ela vestia dos pés à cabeça.

    Tentei conseguir alguma ajuda, aproveitando que estávamos sozinhas.

    – A senhora tem que me ajudar a sair daqui!

    Apesar de não dar sinais de que tinha me compreendido, a mulher se preocupou com meu tom de voz.

    Lentamente, aproximou-se da cama e empurrou, com toda delicadeza, minha cabeça de volta ao travesseiro. Passou a mão pelo meu rosto, afastando uma mecha de cabelo que havia caído sobre meus olhos. Por fim, pegou minhas mãos entre as suas, tentando me tranquilizar. Me senti melhor na mesma hora.

    Ficamos assim até o tal homem desconhecido voltar acompanhado de um senhor, ligeiramente mais baixo, vestido como ele em trajes típicos da região.

    Os dois se aproximaram da cama. A senhora soltou minhas mãos e voltou a se postar no canto do quarto. O homem baixinho aproveitou para se apresentar em um inglês carregado.

    – Fernanda, sou o Dr. Hassan. Vim para examiná-la. Soube que foi resgatada por Abdul no deserto.

    Permaneci em silêncio.

    Dr. Hassan então aproximou um estetoscópio do meu peito. Tomou meu pulso e tirou minha pressão. Depois começou a cutucar minha cabeça, como que em busca de algum ferimento.

    Finalmente me encarou, antes de iniciar as perguntas, em um inglês carregado.

    – A senhora está sentindo algum tipo de dor?

    Estava?

    – Não. Só sinto que minha pele está fervendo e tenho muita sede.

    – Aparentemente, a senhora está em perfeitas condições de saúde. A sede e essa sensação de calor excessivo são consequência das queimaduras e de seu estado de desidratação, devido ao tempo em que ficou exposta ao sol. Terá que tomar muito líquido e fazer repouso absoluto nos próximos dias. Irei prescrever uma pomada para ser aplicada nas áreas afetadas. Se sentir qualquer outra coisa diferente, mande me chamar.

    O médico então se voltou para o homem moreno, que agora eu sabia se chamar Abdul, e trocou algumas rápidas palavras em árabe. Vendo que ele se afastava, me desesperei.

    – Doutor, eu não posso ficar em repouso! Tenho uma viagem marcada de volta para meu país amanhã – falei praticamente gritando.

    Dr. Hassam e Abdul trocaram um olhar,

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