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Como tratar loucuras crônicas com poesia
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Como tratar loucuras crônicas com poesia
E-book160 páginas1 hora

Como tratar loucuras crônicas com poesia

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Sobre este e-book

Em suas crônicas, Izabelle evidencia, de maneira cômica, problemas existenciais e sociais, como a relação que mantemos com a realidade circundante, nos convidando a questionar conceitos e padrões por meio de histórias divertidas. Para fazê-lo a autora utiliza situações e exemplos aparentemente simples do cotidiano e com situações comuns à maioria da sociedade, como relacionamentos, trabalho, família, sonhos, medos etc. Dessa forma, a autora se aproxima de seus leitores, mas utilizando uma abordagem anedótica para apresentar a eles questões filosóficas de maneira entendível e ao mesmo tempo divertida e cativante para públicos diversos.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento1 de set. de 2019
ISBN9788530010157
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    Como tratar loucuras crônicas com poesia - Izabelle Sousa Assis

    inventamos...

    Crônicas

    —Felicidade

    Vento de domingo. Barulho das folhas dos coqueiros balançando. Em meio a janelas cobertas pelas sombras do concreto, a luz do sol. Dando voltas, as andorinhas voam em círculos, feito o homem na vida. O que dizer desse tempo? Vontade de sorrir sem nenhum motivo específico, gosto de café na boca, jeito de criança, corpo firme e postura de quem continua.

    O que dizer dessa tarde?

    Espero que vocês consigam realizar seus sonhos. – Ouvi alguém gritando nas ruas.

    Se realizarmos tudo o que desejamos, temos nossos problemas acabados. Falaram-me que isso que era ser feliz, contudo, será que ter todos os nossos desejos consumidos é realmente sinônimo de felicidade? Vinicius de Moraes escreveu uma vez:

    "A felicidade é como a gota

    De orvalho numa pétala de flor

    Brilha tranquila

    Depois de leve oscila

    E cai como uma lágrima de amor"

    O poeta comentou nesse poema sobre a efemeridade de um sentimento cobiçado por muitos. Provavelmente, ele falava dos pequenos prazeres, como roubar o beijo de alguém, sentir um doce derretendo na boca, ficar bêbado com amigos em algum lugar, ganhar um abraço apertado quando se está precisando de carinho, receber uma boa notícia, surpreender-se com a bondade e força, tomar um copo de água quando se está com sede. Sentir o cheiro agradável de mato, terra molhada, café, comida de vó, roupa limpa ou do aroma característico do perfume da pessoa amada. Isso tudo são sensações momentâneas que parecem nos satisfazer completamente, nem que seja por um momento. Entretanto, sempre me pareceu estranho falar de felicidade passageira.

    Outro dia, assistindo A Vida é Bela, um filme italiano, veio até a mim alguns pensamentos reveladores relacionados a esse assunto. A obra trata da história do judeu Guido que tenta com bom humor convencer o filho de que não estavam em um campo de concentração. A princípio, fiquei admirada como a arte consegue mostrar o amor paternal através da habilidade que o personagem tem para proteger seu filho diante de uma das coisas que a sociedade mais é vulnerável: o domínio, a humilhação, a injustiça e outros tipos de violência; às vezes, precisando esquecer-se da própria dor para fazer isso. Ademais, a façanha apresenta com maestria a maneira como um indivíduo consegue, com graça, lidar com seus problemas.

    Ao ler a sinopse, no entanto, fui surpreendida ao ser tocada por um sentimento ainda mais forte do que admiração. Segundo um site sobre cinema, Roberto Benigni havia afirmado que o título do filme era baseado em uma citação de Léon Trotsky. Aguardando a morte no exílio, esse teria escrito que "apesar de tudo, Life is beautiful, que traduzindo para o português significa A vida é bela. Por isso, questionei: Que pessoa seria capaz de dizer algo assim enquanto aguarda o próprio falecimento?". Então, lembrei-me dela...

    Ela, em particular, parecia conhecer a verdade, a vida é fútil. Estava, dessa forma, abandonando a sua importância, pronta para se jogar de um abismo. Saciada pela certeza, imaginou o que sentiria quando pulasse... O vento batendo forte em seu rosto, a adrenalina tomando conta da sua mente, a velocidade da queda faria seus membros sentirem uma forte pressão. Surgiria em seu rosto, possivelmente, um sorriso de satisfação, vindo da coragem de ter sido capaz de cumprir seu dever ao fazer aquilo que acredita. Agiria da maneira que nenhuma espécie teria coragem: se jogaria, sem motivo, em um limbo.

    Naquele momento, já não importava mais os padrões sociais, as brigas ou os contratos, somente aquele instante que a invadia. A sensação de liberdade percorria o corpo, a de loucura soprava levemente nos ouvidos, porém aquela palavra para ela já não fazia mais sentido: loucura. Emocionada, enganava-se pensando que sentia no silêncio o sabor da morte, todavia, estava sendo invadida pelo gosto agridoce que é existir. A vontade de viver impediu que ela desse um passo para o suicídio, não porque se importava, mas, justamente, porque a vida não era mais um fardo e nem a morte uma forma de perseguição. Tinha paz de espírito. Seu nome era felicidade, como a que sinto hoje. Dessa forma, se me perguntarem o que dizer dessa tarde, sorrirei e, possivelmente, também serei capaz de responder: a vida é bela.

    —O Cigarro e o Pássaro

    Naquela tarde, encontrei uma reflexão singular. Sentada em um banco de praça, admirando a existência, veio ao meu encontro uma epifania. Recordo-me, ainda, do silêncio sussurrando em meus ouvidos quando ele repousou ao meu lado.

    — Aceita um trago? — ofereceu-me.

    — Eu não fumo, Senhor — respondi.

    Era um desconhecido, aparentemente, cortês  e, inegavelmente, charmoso. Dono de um semblante doce e uma curiosidade quase infantil:

    — Por que não? 

    Sorri.

    A frase ecoou na minha mente algumas vezes. Pensei em alguma resposta tola, mas, antes, observei aquele ato.

    Junto da penumbra da noite, a brasa do cigarro ganhava destaque. Ele tinha nas mãos o controle da evolução de nossa existência, o fogo, e não parecia muito empolgado com essa ideia. Além disso, era possível notar os fracos feixes das luzes iluminando a beleza da fumaça que se modelava pelo ar.  Aquela cena tinha várias metáforas lindas eternizadas na humanidade.

    Sinceramente lhe dirigi a palavra:

    — Já trago paixões suficientes entalhadas n’alma.

    Insatisfeito, ele insistiu:

    — Paixões?

    Fiquei intrigada a recitar uma explicação a alguém que parecia desorientado. Olhei para o lado, no entanto, guardei aquela revelação para mim: paixões, como aquele cigarro, foram criadas para acalmar, momentaneamente, a dor de existir ao serem sentidas e iluminarem. Para isso, porém, precisavam se desgastar e ir se suicidando a cada inspiração e respiração que nos inspira. Na última ponta, o desejo de ter novamente aquele prazer poderia certamente causar alguma abstinência ou ansiedade. Alguma loucura...

    Distraída com meus pensamentos, nem reparei quando,  pouco mais a frente, um pássaro pousou sobre uma luminária. Possuía cores irreverentes e uma calma no olhar distante, quiçá admirava comigo o entardecer e se sentia orgulhoso de poder ter asas para volta e meia cruzar a imensidão do céu. Contudo, não demorou muito para eu por os pés no chão:

    — Que tolice a minha! Aves não acham divertido voar — pensei

    Da mesma forma, ninguém nunca conseguiu fazer uma flor entender o quanto ela é bela. Nem que todos os homo sapiens dessa Terra as dissessem centenas de vezes, elas se apaixonariam.

    Ah! Como eram sortudas as rosas... Como eram sortudos os pássaros que só sentiam o vento bater no rosto sem se perguntarem o porquê daquilo.

    Eu, naquela euforia de tentar arrumar um meio de dizer a ele o quanto invejava suas asas, vi o homem ao meu lado se levantando e apagando a brasa com a sola do sapato.

    — Boa tarde, senhorita— disse.

    Acenei afirmando o mesmo com um sorriso no canto da boca.

    Olhei, novamente, para o pássaro e pensei:

    — Bobagem! Seria uma covardia dizer o quanto suas asas são especiais, ele já vive um sonho. Se soubesse disso, talvez se apaixonasse por voar, seria viciado nisso ou perderia a vontade de fazê-lo. Faz porque melhora sua vida, a deixa mais aceitável e fácil. Faz porque ama e...

    O amor é livre!

    Não um fardo...

    Nessa brincadeira, só imaginei, por mil diabos, como deve causar estrago ser só mais um cigarro na vida de alguém que não conhece a graça que é voar na própria fumaça inspirada.

    —O Combustível do Mundo

    Jamais entenderei a causa daquela penumbra. Eram seis horas matinais de um dia de inverno. Meus olhos mal abriam, mas o ruído de São Paulo já aguçava meus ouvidos. Sentei-me na mesma cadeira de sempre e, como era de meu costume, abri o jornal tentando encontrar algo que merecesse a minha atenção e desse a mim alguma vontade de escrever.

    Estava ali, entre letras garrafais, ocupando uma folha inteira, a notícia que arrastou meus olhos sobre o ambiente. No entanto, não tinha nada de diferente ao meu redor. Já havia se tornado rotineiro tal situação, eu apenas estava em uma megacidade e os rostos que refletiam na minha pupila eram sempre os mesmos. Do meu lado esquerdo, um estudante acostumado a começar seus dias com

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