Sensível
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Sensível - Evellyn Mayra
Sensível
EVELLYN MAYRA
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EVELLYN MAYRA
Copyright © 2020 by Evellyn Mayra
Diagramação Evellyn Mayra
Capa Evellyn Mayra
Revisão Evellyn Mayra
M474s Evellyn Mayra
Sensível / Evellyn Mayra. 2ª Edição — Itaúna, MG
Esta obra é uma produção independente.
Copyright [2020] by Evellyn Mayra
Todos os direitos desta edição reservados à autora da obra.
ISBN: 978-65-00-01409-9
1. Literatura
2. Literatura juvenil
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura 800
2. Literatura juvenil 028.5
As flores que crescem no campo, onde um dia fora um vulcão, estas têm o poder do fogo e da sua destruição.
As chamas não queimam, desde que estas não encontrem o coração.
Os batimentos são o gás, que causa a explosão.
sensível
Capítulo 1
— Saia deste quarto, garota! — Sra. Gabriela, dona da casa, gritou pela milésima vez neste dia que mal acabara de começar. Não entendia a im-plicância comigo. Os gêmeos estavam a dormir no quarto ao lado em pleno domingo ao meio-dia. Os outros faziam churrasco no quintal e se divertiam na piscina improvisada. No total eram 15 crianças, contando os adolescentes, na Casa Acolhedora
, como Hugo chamava. A maioria tinha entre 7 e 14, enquanto Nathan e Hugo, os gêmeos, tinham 18 e eu, 17.
— Eu irei, Dona Gabriela. Mais tarde — ela sabia que eu preferia ficar afastada. Dentro de um quarto escrevendo minhas histórias ou em meu diá-rio. Também gostava de ler, e de refletir.
— Você não comeu nada esta manhã e há tempos não pega sol! É por isso que está tão branca e magra. Vai acabar virando a Branca de Neve. — Ri.
Talvez ela houvesse razão de a Branca de Neve ser branca, mas eu não sabia que ela sofria distúrbios na alimentação.
Escutei-a descer as escadas. Antes mesmo de retomar a minha lei-tura, alguém bate à porta e, em seguida, ela é aberta.
Os gêmeos entram. Não há nada que os diferenciem, a não ser as roupas. Eles têm o cabelo loiro e um pouco encaracolado, olhos do mesmo tom de verde, altos e magros.
Cada um deles vai para um lado da minha cama. E depois, eles pu-lam nela, sincronizados.
— E aí, Bela?
— Vai ficar trancada de novo?
— Saiba que os gritos da Gabriela estão começando a prejudicar a minha audição.
— Sem contar que assim não conseguimos dormir direito.
— Para começar, vocês não precisam dormir mais do que já dormem, mas se a gritaria é um problema, por que vocês não colocam fone de ouvido ou tampam a cabeça com o travesseiro? — Argumentei.
— E você acha que não fizemos isso? É tão alto que do outro lado da rua é possível escutar.
— E falamos isso porque já foi comprovado.
— Quem sabe eu não faço algo por vocês? — Perguntei e revirei os olhos, cansada disso.
— Tipo, tomar um sol? Se você ficar mais branca vai ficar transpa-rente — disse Nathan.
— Cara, ela precisa comer! Você está magra demais!
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— É... Tipo, carboidrato. Muito carboidrato.
— Vou acabar virando uma baleia só de ouvir vocês falando assim
— retruquei. Eles deram de ombro juntos. Minha cabeça já começava a doer.
A imagem deles mexia. Eles eram quatro... não dois?
Levei a mão à cabeça. Sentia que iria desmaiar.
— Ah, merda! Chama a Gabriela — Nathan resmungou. Vi duas imagens se levantarem e saírem pela porta. — Por que você não pode simplesmente comer?
— Olha que maravilha... Ela está viva! — Escutei Hugo. Eu ainda estava deitada na minha cama.
— Desmaiei?
— Pela quinta vez na semana. Quebrou seu recorde. Se continuar assim Gabriela vai te enforcar — falou Nathan, me reprovando com o olhar. —
Vamos para cozinha, você precisa comer.
Levantei-me e fiquei tonta. Apoiei no que estava mais perto — Nathan.
— Tudo bem... Eu te ajudo — ele me pegou no colo e desceu as escadas comigo.
— Você é bem forte para um magrelo — murmurei.
— Você que é mais leve que uma criança — ele me deixou numa cadeira. Dona Gabriela se virou para mim carrancuda e deixou um prato cheio de sanduíches e um copo com suco de laranja na minha frente. Pela primeira vez no dia, eu senti fome.
— Eu avisei, não é? Eu sempre aviso, mas você nunca escuta. Devia era estar com os meninos comendo churrasco, mas não... — Gabriela continuou me advertindo enquanto eu comia no balcão da cozinha. Hugo e Nathan saíram de fininho murmurando um desculpe
silencioso. Fiquei observando a escada. Não escutava uma palavra sequer que Dona Gabriela dizia.
Meu olhar parou em um garoto imóvel no primeiro degrau que olhava para o lado oposto em que eu estava, a sala. Ele vestia uma camisa branca, calça preta e tênis allstar. Um pouco esquisito aos meus olhos.
Ele se virou para mim e observou a cozinha, percebendo que meus olhos estava nele. Encaramo-nos por um tempo, até que ele franzisse as sobrancelhas, aparentemente assustado. Virei-me para Dona Gabriela, quem não o havia notado ali e continuava falando.
— Quem é ele? — Perguntei-a. Ela parou de falar e olhou na mesma direção que eu olhava.
— Quem?
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— O garoto.
— Não há garoto algum, Bela — franzi as sobrancelhas e pisquei vezes seguidas. Não o via mais. — Você precisa sair e respirar um pouco. Já está tendo alucinações.
— Você tem razão — com um suspiro, levantei para deixar a cozinha.
Enquanto abria a porta, duas crianças entraram correndo, quase me jogando no chão.
— Oi, Bela.
— Oi, Bela.
Saí para onde todos estavam. Os gêmeos tomavam conta da churrasqueira. Duas garotas, Anne Marie e Bruna, sentadas à mesa de madeira, conversavam com eles. No parquinho, depois da piscina improvisada com 7 crianças, havia Luke: um garoto de 10 anos com cabelo liso e franja que ia até os olhos, ambos, de tom escuro, que entravam em contraste com a pele branca.
Às vezes costumam compará-lo comigo, e diziam que talvez ele fosse meu irmão. Eu bem que gostaria. Além dos gêmeos, ele era um dos que mais me simpatizava.
Luke estava no balanço. Sentei-me no outro ao seu lado.
Alguns minutos em silêncio se passaram.
— Por que não está com os outros? — Puxei assunto.
— Eles não gostam muito de mim.
— Por que você acha isso?
— Escutei o Gabriel dizendo que sou um bocó.
— E o que você disse para ele?
Ele ficou em silêncio.
— Ele é um idiota, Luke. Você é muito legal e também inteligente.
Ele não sabe nem somar um mais um. Isso é só recalque dele.
Ele deu uma risadinha e disse:
— Você acha?
— Eu tenho certeza. Agora vai lá. Pede churrasco pro Hugo.
Ele se levantou e caminhou para a churrasqueira.
— O que você fez para que ele saísse daí? — Escutei Nathan perguntando ao que se aproximava. Ele sentou no balanço do meu lado.
— Apenas conversei com ele — dei de ombros. Nós ficamos em silêncio ali por alguns minutos, até Hugo chamar Nathan e Gabriela me chamar para ajudá-la na cozinha.
A tarde e o início da noite passaram rápido. Depois que a maioria das crianças estavam na cama, fui para o meu quarto. Eram dez da noite quando finalmente deitei no sofá perto da janela e observei as estrelas até adormecer.
Não eram nem sete horas, mas ao olhar pela janela, vi alguém se balançando no parquinho. Levei um momento até identificar. Pelo que 9
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constatava, eu estava ficando maluca. Eu via o mesmo garoto do dia anterior, com as mesmas roupas. Observei durante um momento, até que comecei a piscar os olhos e esfregá-los freneticamente. Algo devia estar errado. Ele não desaparecia.
Num momento, ele olhou para cima, e me viu novamente o observando. O olhar era o mesmo: confuso, um pouco assustado. Não entendia.
Ainda estava dormindo?
Senti minha cabeça latejar e caminhei para o banheiro. Depois de um banho quente desci as escadas e saí porta afora, indo até o parquinho. Não havia mais ninguém lá. Dei meia volta e caminhei para a rua. Iria dar uma volta.
Quando cheguei em casa, 5 crianças já acordadas estavam na sala, assistindo desenho. Fui à cozinha, onde Dona Gabriela acabava de tirar um bolo do forno.
— Acordou cedo hoje — observou.
— Fui dar uma volta — ela arqueou uma sobrancelha, estranhando meu ato e logo completei: — Não estava me sentindo muito bem.
— Como você está agora?
— Bem.
Gabriela aceitou minha resposta sem questionamentos. Devia perceber que eu não teria o que falar, caso ela me pressionasse.
— Me ajuda com as crianças? — Pediu, focando nos seus outros filhos.
Quarenta minutos depois, todos estavam à grande mesa da cozinha, comendo e conversando. Percebi que, por mais que não gostasse de barulho, o das crianças não me incomodava. Talvez fosse por serem basicamente meus irmãos.
Depois de arrumar a cozinha, enquanto subia as escadas, Dona Gabriela me chamou.
— Você poderia dar uma olhada no sótão para mim? Está cheio de cachetas e brinquedos velhos. Só de entrar lá aquela poeira me deixa mal durante dias.
— Pode deixar.
Subi as escadas até o final do corredor, onde havia uma porta que, ao abri-la, dava acesso a uma escada de mão que levava ao sótão.
O lugar estava escuro e cheirava a mofo. Tateei a parede em busca do interruptor.
Havia cachetas por todo lado, amontadas. No primeiro passo que dei, tropecei em um bicho de pelúcia rasgado.
Comecei a mexer nas caixas, vendo o que jogaria fora. Um vento 10
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jogou meu cabelo no rosto. Procurei pela janela; não me lembrava dela estar aberta. As crianças não entravam ali. Talvez um dos gêmeos tivesse a esquecido aberta. Pulando caixas e sujando minha roupa, consegui chegar até ela e fechá-la. O reflexo de algo brilhante atingiu meu rosto. Era um colar caído no chão, que tinha um B
escrito. Peguei-o, quase queimando os dedos com o calor que ele havia absorvido do sol. Ele não estava coberto de poeira. Talvez