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Histórias Do Isolamento
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E-book333 páginas3 horas

Histórias Do Isolamento

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Sobre este e-book

A Editora e Revista Acadêmica Todas as Musas convidou os PROFESSORES, PROFESSORAS, PESQUISADORES E PESQUISADORAS (alunos e alunas de pós-graduação em nível de especialização, mestrado ou doutorado) a participarem de sua COLETÂNEA DE HISTÓRIAS DO ISOLAMENTO, dedicada exclusivamente a trabalhos ficcionais (contos ou crônicas, podendo ser baseados em experiências reais ou não) que relatassem eventos passados durante situações de isolamento social.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de ago. de 2020
Histórias Do Isolamento

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    Pré-visualização do livro

    Histórias Do Isolamento - Editora Todas As Musas

    Apresentação

    Em janeiro de 2020, começamos a ouvir notícias e rumores sobre um novo vírus que teria se manifestado na cidade de Wuhan, na China.

    Em pouco tempo, as notícias começaram a falar de doentes em países europeus e do Oriente-Médio. Em fevereiro, tudo parecia ainda muito longe de nós, mas a situação mudou repentinamente. Em 26 de fevereiro, apareceu o primeiro caso de um brasileiro infectado.

    Pouco tempo depois, o Distrito Federal suspendeu as aulas e, em menos de um mês, em 23 de março, o Estado de São Paulo decretou a quarentena. Medidas semelhantes foram tomadas em outros estados e municípios.

    E nós: Quarentena? Se voltássemos a janeiro e perguntássemos a qualquer pessoa, não haveria quem pudesse dizer que esperava por algo assim.

    Nenhum de nós havia vivido algo semelhante e, no momento em que todos nós, autores desse livro, escrevemos, ainda não temos ideia de como irá acabar essa história. Não sabemos sequer se estamos apenas no começo, no meio ou perto do fim dessa história. Para que fique o registro desses escritos, a chamada para a publicação nesse livro foi feita entre 9 e 26 de abril de 2020, ou seja, salvo algum escrito de exceção, todos foram compostos no clima desse pequeno intervalo de tempo.

    Queríamos saber então como cada um estava fazendo para passar por algo nunca antes visto pela nossa geração, a suspensão da movimentação social, a interrupção do convívio com familiares e amigos. Compartilhar essas histórias, colocá-las na tela e no papel em forma de conto, crônica ou, em alguns casos, de simples desabafo, foi a nossa sugestão.

    Cabe ressaltar que caminhos diferentes foram percorridos. Alguns optaram pela ficção, estendendo sua narrativa por situações futuras ou criando situações e personagens, enquanto outros contaram experiências bastante pessoais. Ah, sim, nossos escritores são professores, pesquisadores, pós-graduandos e alguns poucos convidados que não fazem parte desse grupo. Explica-se então o motivo de uma parte dos textos tratar do cotidiano da educação.

    Vê-se imediatamente que essa é a proposta de quem ainda acredita na arte e na literatura. Talvez a escrita nos ajude a passar por isso, ou nos ajude a contar para os outros que virão como suportamos algo tão estranho. Ou talvez, a escrita nos salve e preserve a nossa sanidade. Ou talvez, enfim, salve ainda outros que não escreveram, mas que irão ler essas experiências e compará-las com as suas próprias.

    Já que a arte existe para que a realidade não nos destrua (Nietzsche), vão aqui as histórias que querem alentar os ânimos e enrijecer a nossa capacidade de perseverar e de resistir.

    As Histórias do Isolamento – Contos, Crônicas e Desabafos vêm para nos unir, mesmo que a distância.

    Os Editores

    Parte I

    A última dança

    Andréa Moraes da Costa

    Os ponteiros dançavam... encontraram-se duas, três... ou seriam cinco vezes? A matemática já não ajudava... ou seria mesmo a memória? Acompanhando os raios de sol, que insistiam em tocar a pilha de livros ao chão, chegava a esperança de que na próxima noite aquela dança cessasse.

    Nas paredes apenas mofo... camada aveludada, escurecida, decompondo pouco a pouco o que restara de um tom que se fazia ofuscante no passado... lívido no presente. Há muito aquelas paredes aguardavam para serem povoadas. Por hora, entre uma camada e outra, podia-se contemplar uma aranha de longas pernas, desfilando sem pressa em direção à cortina.

    Talvez, quando os dias difíceis dessem uma trégua, sairia para escolher algumas molduras para substituir as antigas. – Pensou, fitando as que estavam suspensas em cima do armário.

    Enquanto a fumaça flutuava pela cozinha, anunciando a hora do café, Levita colocava a mesa. Como todas as manhãs de domingo. Nessas manhãs, usava a melhor toalha. Na segunda lavava, na terça engomava e passava, em seguida, guardava. Em uma gaveta, que teimava em ficar aberta, a toalha obediente esperava até o domingo seguinte.

    Durante o café, entre um gole e outro, podia-se ouvir:

    – Querida, dormiu bem à noite?

    – Querida, tomou seus remédios?

    Levita deixava a mesa, ritualmente, após duas xícaras de café puro, uma fatia de pão adornado com sua geleia favorita. Desde que o verdureiro lhe contara que goiabas fortaleciam os ossos, nunca mais faltou geleia em sua casa. Ela mesma preparava. Mas isto mudaria em breve. Abrira o último potinho. Tão cedo não poderia sair para comprá-las. Seu Cláudio, o verdureiro, disse que guardaria as melhores para ela. Não contava com o cenário que estava se estendendo há três meses.

    As famílias agora estavam em suas casas, trabalhando – levaram seus escritórios para casa –, exercitavam-se em seus lares – levaram academias também. As casas viraram escolas, as mães e pais, professores. As pessoas tomavam cuidado...algumas mais do que outras. Ninguém oferecia uma projeção para o fim daquele confinamento. Desconheciam a origem do surto, que abatia a qualquer um, sem distinção.

    Ela lembrou que já precisara ficar duas semanas confinada. Foi quando seu primo transmitiu caxumba para os primos do lado de sua mãe. Todos os oito primos sumiram da rua naquela época. Hoje, entende que aqueles eram dias de sorte... dividia o quarto com suas duas irmãs. Sua amiga Rebeca também estava presente naqueles dias, como sempre estivera, compartilhando de sua infância e de sua juventude.

    De repente, ela acordou de um passado que era rodeado de alegria, vozes, vida. Foi deslocada de suas lembranças com aquela voz alinhada e agradável, com a qual se habituara:

    – Estou pensando em preparar o almoço para nós hoje, querida.

    Ela se questionava como passaria aqueles dias de confinamento se não fosse... E foi interrompida, novamente:

    – Quando Roberto nasceu, você ficou um mês sem colocar os pés na cozinha, meu bem, lembra?

    No início da tarde, tomou banho, dedicou-se a treinar um novo penteado. Colocou seu vestido azul, o mais bonito de seu armário. Duas gotinhas de perfume. Seus pensamentos lhe escaparam. O perfume lhe remeteu ao dia em que encontrara Clóvis. O vestido e o perfume eram uma reprise daquele dia. Assim acontecia há mais de cinco anos. Saía do quarto. Passava na cozinha. Sentava-se à beira do sofá recostado à parede que aguardava ser preenchida.

    – Sim, o Alfredo estava planejando fechar o escritório. E agora...com a pandemia, acredito que isto deva mesmo acontecer. Ele já estava com poucos clientes...

    Uma sequência de buzinas soou, impedindo que Levita ouvisse o início da fala. Procurou ficar mais atenta. Esticou seu vestido, para que cobrisse seus joelhos. Tomou a xícara à mão, sorrindo com leveza, enquanto ele anunciava seus planos:

    – No final do ano, quando tudo isto já tiver passado, voltaremos a Buenos Aires. Completaremos o roteiro de nossa lua de mel. Passamos pouco tempo, foram apenas cinco dias... precisamos passar, pelo menos, oito dias dessa vez. Voltar ao Ateneo. Mas não sei como ficará nosso calendário na universidade, depois desta interrupção.

    "Ateneo... aquela cúpula... as varandas...", ela pensou. Não conhecia muitas livrarias, mas acreditava que aquela, que já havia sido um teatro, deveria ser uma das mais belas livrarias do mundo. Imaginou-se arrumando as malas, caminhando pela Florida, tomando um barco rumo ao rio de La Plata.

    A tarde já se fora.

    O silêncio recobria o apartamento, até que um arrastar aqui, um arrastar ali quebrasse a monotonia. Levita nunca encontrara com os novos vizinhos do andar de cima. O casal havia se mudado há quase quatro meses, pouquinho antes de tudo começar. Pouco antes do isolamento. Talvez, tivessem dois filhos ou três... o certo era que havia uma menina, acreditava Levita, pois ouvia o barulho do secador dia sim, dia não, seguido de uma cadeia de malsonantes letras da moda.

    A noite chegara.

    Levita havia passado o domingo no sofá. Não. Havia passado a maior parte dos seus dias, nos três últimos meses, sentada naquele que passara a ser seu cantinho favorito.

    Em seu quarto, a nostalgia lhe tomava. O silêncio não sugava somente o ambiente, sugava sua alma. Por isso, gostava menos da noite. Tudo parecia mais melancólico. Olhou para o relógio e confiou que a dança não seria ensaiada durante aquela noite. Pensara isso também na noite anterior, na outra e na outra... No entanto, ela testemunhou quando os ponteiros pularam para o lado, marcando três horas da manhã. A dança se reproduzia.

    Ligou a TV. Desligou. Abriu o livro, era de Mendes Campos. Seu socorro nos incontáveis dias desde o início da clausura.

    Seis dias após a última dança, ouviu-se um grande estouro, uma grande pancada. Era a porta do apartamento de Levita encontrando o chão.

    O porteiro do prédio, depois de dois dias tentando entrar em contato com a inquilina, chamou a polícia. Adentraram o apartamento. Cruzaram o pequeno sofá. Notaram o recôncavo em sua extremidade. Enquanto os policiais giravam pela cozinha, o porteiro se aproximava de Levita. Com seu rosto voltado para o relógio, Levita segurava um livro. No seu interior, uma página recortada, dobrada em forma de retângulo que dizia: "Folha morta, dèça, dèlà, fui arrastado pelas ruas da madrugada. Havia um poder suicida em cada coisa."

    O movimento do andar chamou a atenção dos moradores. Logo o apartamento tornou-se repleto de vizinhos. Augusto, um professor universitário, que morava no apartamento imediatamente ao lado do de Levita, foi o primeiro a chegar no quarto, depois dos policiais e do porteiro. Recolheu o livro do chão, balançou a cabeça e pensou no dia em que o emprestara a vizinha.

    O bolo, espelho da alma

    Larissa Fonseca e Silva

    Não eram ainda os dedos ou a alma que estavam cansados, ainda que, verdade, fizesse tempo que estava mexendo no Zap. No tal do Zap. Marcelo teria rido dela, achado ridículo, fala Whatsapp, mãe, Zap é muito feio. Flávia teria se limitado a revirar os olhos. Às vezes a Flávia dava uma raiva, Flávia era filha e ela a amava, mas às vezes aquele ar de superioridade, só porque era mais jovem, só porque ainda era bonita. Mas amava os filhos, os dois.

    Tão longe, os dois. Tão sozinha, ela. Até o gato tinha feito o favor de morrer, no mês anterior. Ela não procurou outro: gato é bonzinho, é bonitinho, mas dá um trabalho... Depois a gente quer viajar e com quem que deixa o bicho, né.

    Coisa que ela viajava muito. Viajava nada. Conhecia o bairro, um pouco do centro, e só. Mas tinha orgulho de dizer que a Flávia tava fazendo intercâmbio na Europa e que o Marcelo tava no Rio Grande do Sul, quase uma Europa para ela também. Nossa, sorte que a Flávia voltou a tempo. Ela nem gostava do namorado da Flávia, achava-o meio afetado. Ele tem umas frescuragens, mas a Flávia gosta dele, vai entender. Mas foi bom, o namorado da Flávia, porque ela veio no Brasil ver ele, né. Não teria vindo ao Brasil só para ver a mãe, diria que a passagem estava muito cara, mas pra ver o namorado vale a pena, ela veio, ela tá no Rio. Que bom, porque a Europa, agora, com coronavírus e tudo...

    Mas no Brasil o risco era o mesmo. Whatsapp, tanta notícia, como é que ia saber o que era verdadeiro e o que era falso, meu Deus. O Marcelo até dizia, mãe, é só olhar em site confiável, mas que preguiça de tanta manchete, no Whatsapp era mais fácil. Ficava lá, olhos, dedos, um tempão, mas uma hora cansava. Mas não eram os olhos, ou os dedos. É sei lá, é a alma. No sofá, era como se um peso muito grande viesse sobre ela. Algo que viesse do teto, talvez o próprio teto, e vinha esmagando, esmagando... Uma falta de ar.

    Falta de ar. E o Marcelo, ontem, reclamando de falta de ar. E se for o coronavírus. O Marcelo disse que não, sossega, mãe, eu tive isso a vida toda, até parece que a senhora não sabe que tenho ansiedade. Mas, Marcelo, descuida não, meu filho. Marcelo, fica de olho, se ficar frequente vai no médico, não descuida não, pelo amor de Deus. Marcelo ria. Que saudade da risada do Marcelo, bem ali do lado dela. Saudade da Flávia também. Flávia era chatinha mas era filha, ela amava a Flávia que nem amava o Marcelo, podiam estar os dois ali com ela agora.

    Mas não, cada um no seu canto e ela ali, esmagada no sofá por alguma coisa que talvez fosse um teto.

    Levantou-se. De repente, a ideia de fazer um bolo. De chocolate. Uma vontade enorme de comer um bolo de chocolate. Fazia tantos anos que não fazia um, vai ver a última vez foi quando os meninos eram crianças. Deixa eu ver, já faz sete anos que o Marcelo saiu, a Flávia foi um ano depois... Fazia isso tudo que não comia um bolo de chocolate? Não, não. Certeza que comi depois, quando fui naquela padaria comemorar o aniversário da Cláudia a gente comeu bolo, parece que era de chocolate, não era? Mas e daí. Queria o bolo. Mas um bolo inteiro, sozinha. Eu tô até evitando o açúcar, né... Mas o diabinho do outro lado da cabeça, vai, faz o bolo, vai ser bom fazer o bolo, comer o bolo até passar mal, vai, faz. Devia era fazer mesmo.

    Que bosta. Sozinha em casa já tinha dezesseis dias. Os filhos ligando sempre na correria, como se ela não soubesse que eles também estavam em casa o dia inteiro. Custava falarem um pouco mais com ela, custava? Mas não, é o Marcelo naquela merda de videogame e a Flávia grudada naquele encosto. Não tinham tempo pra falar com ela. A Flávia, que chatice, dizendo que ela tinha era que arranjar alguém também, que eles tinham a vida deles, ela e o Marcelo, que eu devia era arranjar alguém. E não sei o que lá de Tinder. Inferno. Não precisava de ninguém, não era a Flávia mesmo que vinha com aqueles papos de feminismo e de que mulheres podiam ser felizes sozinhas e não sei mais o quê. E ela ia lá querer homem agora? Tenho nem mais idade pra isso não, ia fazer papel de ridícula. Imagina.

    Será? Mas na minha idade... Mas que que tem também, né... A Paula não tá lá, felizona com aquele velho? Feio que dói, mas tem dinheiro, o velho.

    Nossa, maldade minha, não é pra isso que a Paula tá com ele, a Paula gosta dele, e é minha amiga. Por que aqueles pensamentos ruins...

    Ia fazer a droga do bolo, quer saber, dane-se. Vou mandar até foto pra Flávia e pro Marcelo, eles não vivem mandando foto de comida? Podia ela também, olha só, fiz bolo, seus arrombado. Arrombado. Palavra engraçada, ela não usaria normalmente, mas o filho falava tanto. O arrombado do cara da internet finalmente veio aqui hoje. A arrombada da minha chefe mandou eu trabalhar até tarde. Ia ser engraçado, olha o bolo que eu fiz, seus arrombado.

    E daí que ia ficar gorda também. Estava na quarentena, o mundo já estava no apocalipse. Que importava que os filhos não estavam em casa para comer junto. Ela estava. Ela também tinha seu valor.

    Fez o bolo. Bateu o bolo, colocou o bolo no forno. É só esperar agora.

    Que culpa, ver aquele bolo crescendo!

    Por que que fui fazer bolo, agora vou ter que comer, e não vou aguentar comer só um pedaço. Vai nem servir as roupas em mim mais. Mas logo o cheiro invadindo a casa, o bolo ficando pronto, ela no sofá... Voltara ao tal do Zap, era assim que ela falava, ué, e daí, eu quero falar Zap, tão mais fácil. Mas o problema é que foi só deitar, pegar o celular e o tédio viera novamente. E aquele peso. Aquele peso que esmagava, que achatava, que vontade de fazer qualquer outra coisa, qualquer coisa diferente, sei lá, pintar o cabelo de roxo, gritar putaria na janela, sair pelada na rua, não tinha ninguém rua mesmo...

    Não. Olhar o bolo já estava ótimo. Levantou-se, foi até a cozinha. Abriu o forno. Só que aí, né, puta merda... Esquecera-se de que se abrisse o forno assim o bolo afundava. O bolo tava tão bonito, agora essa coisa triste. Droga. Isso que dá, fui inventar de fazer bolo, bem feito. Agora, além de gorda, vou poder nem mandar foto pro Marcelo e pra Flávia... Eles iam era rir, dizer nossa, mãe, também, né, pra que que foi inventar de comer bolo, a senhora nem pode com açúcar. E a verdade é que tinha tacado açúcar, queria nem saber, já que ia comer bolo ia comer bolo direito. Mas agora aquela coisa triste, afundada, vai ver o gosto tá até bom, mas que deprimência esse bolo.

    Ficou olhando, o bolo. De dentro do forno ainda, porque o fechara rapidamente depois de abri-lo antes da hora. Depois que fiz a cagada de abrir antes da hora.

    Ficou olhando o bolo, tão afundado, e de repente aquela ideia divertida: o bolo também tá cansado, cansado de tudo, é o peso do teto do forno que afundou ele, era isso, o bolo era ela no sofá.

    Riu, riu gostoso. Ela olhando o forno, o vidro do forno refletindo seu rosto, o bolo dentro do forno refletindo sua alma.

    O bolo, espelho da alma.

    Q., meu amor

    Ana Boessio

    Escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor,

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