A empresa de corpo, mente e alma
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A empresa de corpo, mente e alma - Roberto Tranjan
Sumário
Capa
Folha de rosto
Introdução
Por uma mudança plena
I A EMPRESA NO AVESSO
1 A empresa-objeto
2 A empresa desnorteada
3 A empresa sensível
II A EMPRESA PLENA
4 A tríade corpo, mente e alma
5 A empresa em equilíbrio
III A EMPRESA PLENA NA PRÁTICA
6 A mente
7 A alma
8 O corpo
9 A empresa plena em funcionamento
10 Seu departamento também pode ser pleno
11 A empresa em pleno desenvolvimento
Epílogo
Referências bibliográficas
Sobre o autor
Créditos
A Lena, irmã e amiga,
pelo muito que aprendi e, principalmente, por ter me mostrado a existência da alma nos negócios.
PREFÁCIO DA NOVA EDIÇÃO
Vivemos em um mundo fragmentado! É assim na escola, quando informações e conhecimentos ainda permanecem segmentados em disciplinas estanques. É assim na empresa tradicional, fatiada em departamentos e subdivisões segregadas. A falta da visão do todo subtrai o significado do trabalho e dos negócios. Baixo nível de significado gera baixo nível de compromisso por parte de funcionários e clientes. Daí o enorme desequilíbrio entre a energia empregada nos esforços e os parcos resultados obtidos.
A visão sistêmica altera essa triste realidade. Afinal, tudo está inter-relacionado. Quando entendemos a relação que existe entre as coisas, aumenta nossa capacidade de compreensão do mundo e da vida. Negócios, equipes, clientes, resultados formam um todo indivisível. O significado está no todo, não nas partes! Essa é a grande questão!
A fragmentação leva à alienação e à ignorância. Impede que se enxergue o todo, as relações entre as coisas, dificulta a identificação de processos de interdependência, minimiza a consciência diante dos vários fenômenos da vida e gera incapacidade de enxergar ordem nos entremeios do caos.
Daí que os chefes se ressentem da baixa contribuição, iniciativa e criatividade de seus funcionários; daí que os funcionários se ressentem da baixa atenção, parco interesse e desvalorização de seu trabalho. É por isso que empresas não compreendem seus clientes; é por isso que clientes se sentem frustrados com as empresas.
Assim sobrevivem muitas organizações: alienadas e reclusas. O mercado funciona como um grande sistema em que vários agentes interagem: fornecedores, clientes, investidores, trabalhadores. Por falta de visão sistêmica, muitas empresas intoxicam seus mercados, em vez de nutri-los, e com isso perdem a oportunidade de também ser nutridas por eles.
Não é diferente com algumas pessoas em uma organização. Também trabalham alienadas e reclusas. Não conseguem, assim, oferecer o seu melhor. Tampouco receber o melhor. Essa alienação ou ignorância, resultante da baixa ou inexistente visão sistêmica, cria um ciclo perverso contínuo: muito esforço/pouco resultado/baixa recompensa/muito esforço/pouco resultado/baixa recompensa, e assim por diante.
O antídoto contra a alienação e a ignorância tem nome: conhecimento. Mas não se trata do conhecimento linear e cartesiano. Trata-se do conhecimento sistêmico. Não dá mais para aceitar pessoas adormecidas, líderes ou subordinadas, executando tarefas sem significado. A tarefa, por si só, é pouco estimulante se não estiver relacionada a algo maior. É a conclusão de um trabalho sem causa que gera desmotivação e baixo padrão de qualidade. Falta, portanto, de excelência.
É como a conhecida parábola dos três cegos a apalpar um elefante. Sem a menor ideia do que se trata, o primeiro supõe ser uma corda, o segundo, uma árvore e o terceiro, uma parede. É a verdade
para cada um deles. Essa é a pior prisão: viver acreditando em uma verdade
que não é verdade. Com as melhores intenções, todos dão o melhor de si: para uma corda... para uma árvore... para uma parede... e ignoram por completo a existência do elefante.
Diante de tal, e corriqueira, distorção, é comum que as pessoas criem imagens falsas e embaçadas do mercado, do negócio, do cliente, dos objetivos e dos resultados. Como acertar o alvo com uma visão bisonha? É possível dar certo? Só com excesso desnecessário de esforço e circunstancialmente. Essa visão fragmentada tem sido o maior problema de muitas organizações. Quando não se conhece o todo, reduzem-se ao mínimo as possibilidades de contribuir ao máximo.
É aí que vejo A empresa de corpo, mente e alma mais atual do que nunca. A velha economia deixou como herança um tipo de empresa fragmentada, em que as pessoas se limitam a ocupar cargos restritos, simplificados em funções e tarefas desconexas. Todos trabalham muito e rendem pouco. Há uma ingrata desproporção entre esforço e desempenho.
Nesta nova edição, revista e ampliada, pretendo ir além do propósito de fornecer elementos para a criação de uma empresa plena. O desafio está em recriar o trabalho, como algo integral e integrado, portanto inteiro e repleto de significado.
A metodologia Gestão CMA abre o caminho para trilhar uma nova economia, capaz de criar empresas geradoras de uma riqueza superior.
Roberto Tranjan
inverno de 2020
imagens12POR UMA MUDANÇA PLENA
Administrar uma empresa pode até parecer simples: nada além de comprar, estocar, vender, receber. Ou, naquelas dedicadas a prestar um bom serviço, atender bem o cliente.
Se parece tão simples, por que grande parte das empresas não consegue chegar lá? Se parece tão fácil, por que o índice de fidelização de clientes é baixo? E por que o nível de comprometimento das pessoas é ínfimo? E por que os resultados estão sempre aquém dos desejados?
Muitos líderes não conseguem explicar seus insucessos, senão usando o surrado refrão da conjuntura cruel. Todos trabalham com afinco: compram, produzem, vendem, recebem, mas os negócios deixam a desejar. As empresas falham no primordial quesito da relação proveitosa com seu mercado, os líderes são incapazes de manter uma equipe comprometida, os negócios padecem de baixa rentabilidade.
Por outro lado, existem empresas que funcionam como referências de competência: satisfazem os clientes, entusiasmam os funcionários, agradam aos líderes e acionistas.
Qual é o segredo?
A constatação é de que o sucesso existe, mas não por acaso. Há, de fato, alguns segredos para alcançá-lo.
O primeiro deles é a visão sistêmica. Nas empresas bem-sucedidas, os líderes enxergam muito além de seus pares acostumados à mesmice tradicionalista. Sabem que uma empresa não é apenas um meio de ganhar a vida e de fazer riqueza em proveito próprio. É muito mais!
O segundo segredo é a capacidade de diagnóstico. A máxima conhece-te a ti mesmo
vale também para as empresas. Identificar corretamente o problema e suas verdadeiras causas faz com que todos, líderes e colaboradores, ganhem em aprendizado e progresso.
O terceiro segredo é a certeza de que não existem fórmulas mágicas. Este livro não pretende oferecer soluções infalíveis nem um receituário genérico e aplicável, desvairadamente, a qualquer tipo de empresa, seja qual for o estágio de sua existência. Isso é ficção. Esqueça a panaceia das respostas rápidas, precisas e axiomáticas. Mas, se o seu objetivo for adquirir ou aprimorar a visão sistêmica e a capacidade de diagnose na busca de uma empresa rentável, diferenciada e saudável, tenho a convicção de que faremos juntos uma boa viagem, ao longo das próximas páginas.
As tendências indicam que as empresas viciadas no modelo arcaico de administração serão varridas do mercado, mais cedo ou mais tarde. E não basta querer mudar apenas para sobreviver. O sucesso consistente e contínuo requer uma mudança plena: de corpo, mente e alma!
A empresa no avessoO que é uma empresa de corpo, mente e alma?
É uma empresa plena, inteira, equilibrada. O corpo é formado pela parte visível e tangível: máquinas e equipamentos, instalações, estoques, produtos e serviços, duplicatas, relatórios, caixa e lucro. A mente trata da relação com o mercado, com os clientes, com o futuro. Cuida das estratégias, do negócio, do foco, dos diferenciais. A alma consiste nos relacionamentos internos, na comunicação, no comprometimento, na motivação, no exercício da liderança e no trabalho em equipe.
Para compreender melhor essa tríade, no entanto, vale a pena focalizar primeiro as empresas desequilibradas: a objeto, voltada predominantemente para o corpo; a desnorteada, que enfatiza a mente; e a sensível, preocupada exageradamente com a alma.
Essas empresas lidam mal com os recursos que cada parte da tríade oferece. Tal desvio acentua mais o descompasso, de maneira que elas, conduzidas por líderes de visão limitada e fragmentada, acabam procurando ajuda onde menos necessitam. Daí receberem a qualificação de empresas no avesso.
É como aquela frase do escritor americano Mark Twain: Quando o único instrumento que você tem é um martelo, você pensa que todo problema é um prego
. Afinal, ninguém reconhece o que desconhece, ou seja, nunca pede ou procura ajuda para o que não consegue enxergar.
A ausência de visão sistêmica cria empresas parciais, fragmentadas e mutiladas. É claro que resultados também serão parciais, fragmentados e mutilados.
Cada tipo de empresa apresentado fará com que você aprimore ainda mais a compreensão da tríade corpo, mente e alma. E, certamente, reforçará sua capacidade de diagnóstico para entender melhor as anomalias e disfunções de sua própria empresa ou área de trabalho.
1 A EMPRESA-OBJETO
A empresa que perdeu a hora
O dia deveria ter mais de 24 horas
, Ah! Se você estivesse no meu lugar
, Eu sou só um
, Não vai dar
, Estou no sufoco
, Ai, Jesus!
, Xiiii
.
Essas frases são ditas diariamente por quase todos, na empresa. A palavra urgente
não serve mais para nada, porque tudo é para ontem. Há pouco tempo, a diretoria introduziu o urgentíssimo
no vocabulário, na ânsia de conseguir que as coisas sejam feitas no prazo.
Os próprios líderes vivem no emaranhado de problemas do dia a dia. Atuam como bombeiros gerenciais, sempre apagando incêndios e muitas vezes acabam chamuscados, rendidos às labaredas. Todos, sem exceção, parecem baratas tontas: os chefes não se entendem, entregues a conflitos diários, os funcionários não se motivam e querem ver o circo pegar fogo.