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Amor, Do Virtual Para O Real
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E-book376 páginas4 horas

Amor, Do Virtual Para O Real

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Sobre este e-book

Helena, Lili, Stella, Marília, Axel, Nice e Eduardo... são pessoas comuns que em algum momento de suas vidas se viram só e buscaram os sites e aplicativos de relacionamentos para encontrar um novo amor, uma nova paixão, uma possibilidade de reconstrução da vida amorosa. As histórias verídicas, narradas de forma profunda e sensível, serviram de subsídios para autoras criarem esse guia que se inicia no virtual e concretiza no real. Com os acertos e erros experimentados pelos personagens, essa obra objetiva encurtar o caminho de quem também pretende se aventurar nessa forma cada vez mais comum de se conhecer pessoas. Afinal, o mundo digital passou a fazer parte do “novo normal”, até mesmo em nossas relações pessoais, afetivas e amorosas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mar. de 2021
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    Pré-visualização do livro

    Amor, Do Virtual Para O Real - Dalvina Nogueira E Máris Eliana

    Amores possíveis

    Sim, duas pessoas que se amariam e se faria muito felizes — caminham agora pela mesma rua, mas sabe-se lá porque raios usam lados diferentes da calçada. Almas gêmeas que viajam para o mesmo lugar estão assistindo a mesma paisagem — através de janelas muito parecidas —, mas, infelizmente, estão em vagões diferentes de um mesmo trem. Se hospedam na mesma rua, mas erram nos hotéis; ou, se acertam nos hotéis, nunca compartilham os elevadores.

    Existe alguém, agora, neste momento, sonhando em ter para si uma pessoa exatamente igual a você. Não sei se passeando em Paris, contemplando o romantismo platônico da Torre Eiffel, ou talvez caminhando solitariamente pelas ruas de Amsterdã. Pode ser que esteja mais quente, passando, nesse momento, compras no mesmo caixa do mercadinho em que você esteve há vinte minutos. Aí no mercadinho da esquina, pertinho de sua casa! 

    Seja como for, seja quem for — o problema está nos desencontros. 

    Você entra em um ônibus e ele desce pela porta do fundo. Você está subindo e ele descendo na escada rolante. Você pegou a sessão das 20h para ver aquele filme romântico que estava louco para assistir, mas seu amor, sozinho no shopping, só conseguiu uma entrada para a sessão das 22h. 

    Um dos muitos milagres da internet foi justamente este: proporcionar encontros entre as pessoas, inclusive àquelas mais improváveis. Gente que jamais se cruzaria em viagens, elevadores, escadas rolantes, ou muito menos em caixas de mercadinhos, mas que — explique-se o destino —, se encontraram por meios digitais, se amaram. Durando ou não, são relações que de alguma forma complementam a jornada de suas vidas. 

    A internet também é um lugar de encontros e que, em como qualquer outra maneira possível entre as relações humanas, precisa de seus cuidados peculiares. Mas é aquela história: alguém disse para a flor: 

    Você se abriu e as abelhas não vieram

    Sim — respondeu ela.

    Mas se eu não me abrir, acabo murchando!.

    Precisamos estar abertos ao amor, sem nos importarmos tanto pelo qual meio ele decidiu vir até nós. Nesta obra de arte literária, a brilhante jornalista Dalvina Nogueira e a excelente psicóloga Máris Eliana parecem encurtar o caminho, desburocratizando o amor, e mostrando, em uma linguagem clara que este sentimento se manifesta nas mais variadas formas e nas mais improváveis circunstâncias. 

    Não existem amores impossíveis. Existem amores que não se encontram. E a internet abriu mais uma possibilidade, um banquinho a mais nesta praça de encontros, onde pode acontecer de tudo, inclusive o @mor!

    — Thiago Mendes

    @soldadodapaz

    Introdução

    Navegando os sete mares

    Navegar é preciso, viver não é preciso... A frase ficava martelando, martelando a cabeça de Ana Maria e vinha acompanhada dos ecos da conversa que havia tido durante o almoço de domingo com sua amiga. Entre pratos sujos de uma bela macarronada, vieram as xícaras de café, que sempre encerravam ou abriam os encontros das duas. Era o ponto alto do encontro e elas faziam do ritual de ferver a água, adicionar o pó preto e servir o precioso líquido, sempre acompanhado de uma ou duas bolachinhas bem doces, um prazer que estreitava ainda mais aquela amizade. 

    Como disse, era o ponto alto da reunião, quando assuntos mais importantes e profundos eram tratados entre elas. Era como se as boas vindas, a comida e o que viesse antes fossem nada diante da importância do que falavam durante o café. Nesse interlúdio, nada escapava e elas mergulhavam no universo uma da outra com aquela falta de cerimônia que só sabem ter os grandes amigos. E dessa vez a pauta foi os anos de solidão de Ana Maria após o casamento de dez anos.

    E foi ali que ela ouviu falar pela primeira vez em relacionamentos pela internet. 

    Mentira! 

    A mente gritava apontado o dedo para ela, como aquela figura do Tio Sam recrutando novos soldados. 

    Admita! Já haviam sugerido para você antes, só que você teve preconceito. A coisinha mais fofa da faculdade, que sempre teve um batalhão de admiradores beijando o chão que ela pisava, não lançaria mão de um artifício tão, tão — sórdido? Desesperado? — para arrumar um namorado!

    Sites onde mulheres se mostravam, se colocavam, digamos na pista, por um relacionamento... Navegar é preciso, navegar é preciso... Viver é preciso A frase martelava no ritmo dos saltos nos degraus da escada. Viver não é preciso, já disse Pompeu e repetiu Fernando Pessoa. E não é mesmo! Viver é experimentar, é acertar e, mais ainda, errar e aprender com os erros. Então por que esse medo de apostar em algo novo? Navegar é preciso, mas viver, não! Viver é algo completamente impreciso! Só vivendo para saber!

    Só vivendo para saber!

    Um, dois, três degraus da escada do prédio do escritório... Navegar... quatro, cinco, seis... Preciso! Mas o que fazer com esse medo? Com essa certeza de estar entrando em um negócio com zero de domínio da questão? Totalmente off control! Enquanto subia, a mente era toda uma briga entre curiosidade e insegurança! E se der tudo errado?

    Dez, onze, doze degraus... Vinham a sua mente cenas de mulheres agredidas, de irlandeses que mais queriam é dar o golpe numa desquitada ingênua! Desquitada, essa palavra ainda existe?! Homens de turbantes em busca de loiras do Ocidente para escravas sexuais... camelos, areias escaldantes. E o pior e mais assustador de todos os pensamentos criados, entre o primeiro e o décimo segundo degraus: se algum colega de repartição ou vizinho a visse na internet atrás de homem? E se quem visse fosse um amigo do ex-marido? Mais alguns degraus e Ana Maria se veria estampada na capa do principal jornal da cidade:

    Separada carente procurando homem!!

    Ai, meu Deus!

    Mas, viver não é preciso! Nada é certo. Tudo pode ser... Ou seja, pode dar certo! Se lembra daquela amiga de uma amiga da cunhada do meu irmão que encontrou sua alma gêmea numa sala de bate papos? Por que não eu???

    A amiga martelando a ideia do virtual, o toc toc dos saltos nos degraus, a mente lhe apontado a covardia e Fernando Pessoa gritando:

    Navegar é preciso, viver não é preciso! 

    VIVER É PRECISO, ANA MARIA!

    Naquela noite mesmo, ela se serviu de uma taça de vinho, separou umas boas fotos — claro, aquelas em que se julgava mais bonita, afinal, o objetivo era atrair — e digitou o endereço do site sugerido pela amiga.

    www...tudo pode acontecer!

    www...sou uma mulher livre e moderna!

    www...içar âncora! Todos a bordo? 

    Só uma a bordo!

    Enquanto dedilhava o teclado, Ana Maria se lançava ao mar! Nascia uma nova mulher. Aquela que mora dentro do perfil de um site de relacionamentos, como naquele conto da carochinha em que a barata fica na janela e canta: Quem quer casar com a dona Baratinha? E vão passando pretendentes...

    Ao se deitar, um pouco mais tarde, exausta pela empreita, se sentiu segura, decidida! Moderna! Aquela que não teme os pixels e ama os bites. Era hora da partida e o mar virtual era uma imensidão de rostos, perfis e formas que poderiam se afigurar em um novo amor, novo caso ou mesmo num simples encontro casual... Navegar, viver, encontrar, sorrir e chorar era preciso. Mais do que isso, necessário!

    Ana Maria se sentou frente ao leme e tomou o comando do navio. Estufou o peito, estufou as velas e reconheceu essa nova persona, comandante de um navio, num mar de possibilidades. 

    Tudo era infinito. Tudo era cheio de mistério. Ela sentiu, num segundo, tudo que podia vir com aquela decisão, risos, lágrimas, paixão, decepção. Possibilidades! E ninguém pode viver impunemente. Ninguém pode se esconder eternamente do drama que é a vida... E o mar virtual estava ali, pedindo para ser explorado.

    Ela sentiu medo, porém o medo não a impediu de ir.

    E ela foi!

    CAPÍTULO 1

    O ciclo da borboleta

    É você

    Só você 

    Que na vida vai comigo agora

    Nós dois na floresta e no salão

    Nada mais

    É você

    Só você

    Que invadiu o centro do espelho

    Nós dois na biblioteca e no saguão

    Ninguém mais

    Deita no meu leito e se demora

    Na vida só resta seguir

    Um risco, um passo, um gesto rio afora¹

    Os sons do quarto não denunciavam que ali estava havendo um conflito entre duas pessoas que, até bem pouco tempo, estavam a jurar amor eterno. Eram quase sussurros, mas sussurros de ódio. O clima era de tensão, de incompreensão, de não aceitação e de tristeza, muita tristeza. Ele, agressivo e patologicamente transtornado, nem parecia o noivo alegre de três anos atrás. Ela, rosto banhado de lágrimas e olhos transbordando de pânico, por entender que o copo daquela relação estava a receber suas últimas gotas e iria trasbordar. 

    Desde que passara a viver uma vida a dois com o marido, que conhecera, namorara e noivara da forma mais tradicional e recomendada possível, Stella passou a viver uma existência em que continha toda a sorte de abusos psicológicos, morais e verbais. Ela não podia ter amigos, nem amigas, porque o ciúme dele beirava a loucura. Também não podia dar vazão ao seu lado social e sinérgico, uma característica que trazia nata em si, porque ele era egoísta, lhe podava cada manifestação de afeto e amizade, seja com um vizinho, um colega de trabalho ou com as crianças do prédio que viviam.

    Até da própria família ele tinha ciúme e o fato dela manter uma simples conversa ao telefone com a irmã se tornava terceira guerra mundial. Por fim, Stella era mais uma prisioneira do que uma esposa no próprio casamento. Nesta deplorável situação já se passavam longos anos do que deveria ter sido uma união feliz.

    O último pingo no copo a transbordar veio, minutos depois, quando ele a empurrou com violência e desprezo, nunca antes vivenciados por ela, filha mais nova de uma família amorosa e adepta do diálogo em qualquer circunstância; ela caiu deitada na cama de casal, em frangalhos, mas lúcida ainda para ouvir palavras de ódio sairem de uma boca que só deveria lhe proferir frases doces e de incentivo:

    — Morra traste!!!

    Ela tapou os ouvidos com as mãos e criou aquele que seria seu lema a partir daí:

    — Viva Stella! Viva Stella! Viva Stella!!!

    Sair daquele casamento, trabalhado para ser não menos que perfeito, foi para Stella como chegar a uma praia deserta, sobrevivente de um naufrágio. E detalhe, na ilha não havia água fresca. Nada foi fácil. A começar da aceitação de sua condição de mulher descasada. 

    Ao arrumar seus pertences em várias malas e voltar à cidade onde nascera, no interior de Minas Gerais, deixou para trás tudo que sonhara e não vivera. Os filhos que teriam — com seus cabelos e os olhos dele. As viagens de férias que fariam para ver o mar em família. A sociedade que constituiriam: ela professora infantil, ele advogado empresarial! Tudo ficou esparramado pelo chão e, se quis chegar até a porta que dava acesso a uma nova vida, ela foi retirando, com a ponta dos sapatos, ideal por ideal. Além dos sonhos, o coração também estava em cacos e Stella bem que tentou encontrar todos os pedaços, mas em vão. O horário do voo se aproximava e o jeito foi deixar uma parte para trás e para nunca mais ser retomada.

    ***

    Divorciada!

    O nome pesava como uma cruz que ela jamais se achara capaz de carregar. E escrever tal palavra em formulários em documentos lhe doía. Era a dor do fracasso — ela não pudera ajudar seu amor, o homem que escolhera para passar uma vida, quando esse se viu perdido na dificuldade de aceitação de sua condição e da doença emocional. "Culpa, por também colaborar para o fim da relação, o quê" fizera, exatamente não sabia, mas não pudera consertar. Frustração, por não ter conseguido levar adiante os sonhos de uma vida a dois.

    Quando retornou ao antigo lar, Stella teve que reconstruir sua vida. Ao optar por acompanhar o marido em mudança para Salvador, ela deixara emprego, alguns projetos de pós-graduação e mestrado que, agora, haveria de retomar. Nessa busca por si mesma, na tentativa de assumir seu novo estado civil — divorciada — a sensação de Stella era de total abandono.

    Quando casara, aos 32 anos, pensara ser para a vida toda. Recomeçar, reformatar suas crenças e planos estava sendo uma tarefa penosa demais para ela. Sentia-se constantemente cansada. Chorava muito, chegando ao ponto de se envergonhar e se achar não mais merecedora da felicidade. Uma nova rotina ia sendo estabelecida, mas a rotina de uma viúva, não de uma mulher separada. E viúva ela era. Acompanhara, em casada, dia a dia, a desconstrução daquele que ela julgara ser o amor da sua vida. Agora era uma jovem solta no mundo, um coração puro que se via às voltas com uma nova realidade, atirada a uma existência que nunca sonhara para si.

    Fazer terapia, conversar com as irmãs e com o padre de sua paróquia ajudou, mas foi aos poucos. A família também auxiliava como podia no processo de superação da perda, do medo de se sentir exposta diante da sua condição. E se havia algo que Stella tinha verdadeiro horror era de se sentir exposta. Quando criança era daquelas que, volta ou outra, sonhava que esquecia a letra da canção ou as falas de uma peça quando já estava no palco, com as cortinas se abrindo. Nessas ocasiões, era certo ela acordar em pânico.

    Esse sonho sintetizava bem seus temores. Stella nascera para viver a vida de forma correta, tranquila e discretamente. Não fora preparada para estar no olho do furacão de uma situação em que todos comentavam seu infortúnio e tentavam amenizar sua dor apresentando pretendentes, os quais ela não tinha a menor intenção de conhecer.

    A ajuda profissional de um terapeuta estava ajudando, mas reconstruir o lado profissional e sentimental estava dando trabalho demais. Nessa se passaram longos dois anos, quando a moça só ia de casa para o trabalho, do trabalho para casa e, às vezes, à igreja.

    O tempo é o remédio para todas as dores, diz o dito popular e isso e Stella foi aos poucos comprovando essa verdade. Um dia parou de doer, de doer não, de latejar, porque a dor — aquela que cutuca a alma, impedindo um sorriso de atingir o limite da boca —, sempre estaria ali. Fazia parte do aprendizado e agora ela se tornara uma aprendiz da vida e de si mesma. Com ajuda, aos poucos, ela foi trocando o papel de alguém cujo casamento tiveram um fim prematuro para se tornar uma nova mulher, a despeito de sua condição. Não mais a noiva magoada, mas uma jovem de 37 anos com uma vida toda pela frente.

    Porém ainda que voltasse a sentir-se inteira, ainda que percebesse ter um belo caminhar pela frente, estava acima de suas forças dividir sua estrada com outra pessoa. Nem a fila de pretendentes que lhe chegavam através dos amigos — afinal era uma bela, belíssima mulher, de sorriso de pérolas — nem as sugestões da irmã, amigas e agora da terapeuta para buscar um amor online lhe abalavam o desejo de permanecer só consigo mesma.

    Além do mais, aos quase quarenta anos, Stella era mais seletiva. Não aceitaria qualquer situação só para fugir da condição de mulher só. Entendia que a perfeição não existia, mas queria algo que mais se aproximasse disso em se tratando de relação. E tinha medo de novamente não saber entender os sinais de um amor equivocado.

    Mas como disse, o tempo faz parar de sangrar, embora deixe cicatrizes. Cicatrizes de guerra. Contudo, a despeito dos ferimentos, Stella, aos poucos, voltou para si mesma e se perdoou. Percebera que fizera tudo certo pelo casamento, pela felicidade conjugal, mas que ainda assim não obtivera o sucesso merecido. Conjecturou que na vida alguns encontram, outros procuram eternamente, mas que, no seu caso, o pior passara. Chegara a hora de seguir adiante, ainda que, por enquanto, e por opção, sozinha. Não se julgava ainda capaz de acertar o passo com outro homem e andar de mãos dadas com alguém, romanticamente, parecia estar além de suas forças emocionais.

    Foi num desafio terapêutico de fazer algo diferente para obter resultados também distintos, uma referência à lei da insanidade, que naquela noite de sábado Stella se predispôs a romper muitas das crenças que a limitavam a seguir adiante; que a impediam de praticar os conselhos dados no sentido de que ela encontrasse um novo parceiro, nem que fosse pelo virtual.

    Eram muitos tabus a vencer, muitos preconceitos a serem despidos, muito conceito a ser repensado. Para uma mulher que sempre primou pela distinção e que não apreciava ser assunto nas rodas de conhecidos, aquela era uma tarefa por demais desafiadora. 

    Mas havia o desafio e com ele a necessidade de seguir à frente em seu processo de cura.

    Da multidão dos conselhos acha-se a sabedoria.

    E foi assim, da fala dos que a amavam, ela elaborou a própria rota e o traçado para mais aquela viagem. O caminho apontava à frente, para o renascer de uma mulher, jovem demais para entregar os pontos, que queria, apesar do contratempo vivido, ser mãe e ter uma existência plena ao lado de alguém. 

    Com quem? — Pensou Stella mirando a tela do computador — Quem será você que me espera do outro lado desse monitor? 

    Ninguém ainda sabia responder, mas a resposta viria.

    Vera, a irmã, serviu de mentora na construção da identidade digital de Stella. Juntas se sentaram de frente ao computador para abrir as velas do barco que levaria a solitária mulher para o mar aberto das emoções. 

    — Ah, eu não vou pagar por isso!! — Foi a primeira negativa de Stella frente ao processo. Ao que Vera argumentou: 

    — Você deve, porque daí você terá mais segurança de fazer o contato e não ficará dependendo da pessoa te procurar. Você vai poder fazer o primeiro contato! Faz assim... esse primeiro pagamento eu faço! Como um presente de vida nova pra você!

    A própria Vera era uma otimista nesse sentido, afinal contabilizava, de suas andanças virtuais, muitos relacionamentos. Alguns de sucesso, outros nem tanto, mas, com certeza, muitos momentos felizes e de realização. Ela sabia que o ser gostada, admirada, paquerada pode ser um santo remédio para almas feridas. Desde que se permitisse acreditar. Se permitisse querer! Vera sabia, com aquela rotina de vida totalmente incipiente, nada iria acontecer para a irmã, assim como não acontecera nos três últimos anos.

    O perfil de Stella no site de relacionamentos refletiu bem o momento que vivia e as experiências que trazia consigo. Buscava ser agradável, mas não se dava à aceitação a qualquer preço. Foi direta em seus objetivos, ainda que tal franqueza espantasse alguns pretendentes, afinal, pensou: não estava ali para se distrair, por falta do que fazer nem para paqueras inconsequentes. Queria uma pessoa como ela, exigente e disposta a muito mais que tecladas sem compromissos.

    Stella fez mais. Para compensar a falta de fotos que ela não aceitou publicar em hipótese alguma — seria exposição além da qual poderia suportar — ela desnudou sua alma. Falou das barreiras vencidas para estar ali, viva, naquele momento. Falou do medo de errar, de se expor e de como suplantara tudo aquilo por acreditar estar lutando pela felicidade, dando o passo definitivo rumo ao que seriam o melhor encontro e os melhores anos da sua vida. Um homem com ideais não tão definidos quanto ela passaria incólume por aquele perfil. Mas com isso ela não estava preocupada

    A parte mais difícil na elaboração do perfil para Stella nem foi a descrição. Foi fazer a opção pela condição atual. Escrever d i v o r c i a d a equivaleu para ela à tarefa de redigir o próprio obituário. Foi sofrido, árduo, vexatório. Aquela palavra não a definia e, ainda naquele momento de renascimento, quando se viu a digitar o termo reviu toda a cena de abandono vivida há alguns anos. Na verdade, em pensamento, ela o perdera mil vezes desde a separação. A cada pergunta, a cada documento preenchido, era novamente revivida e revolvida toda a dor do abandono e agora, aquilo: Precisar se colocar, em sua fragilidade desnuda, à mostra para homens do mundo todo. Não tinha medida o peso daquela carga nos ombros frágeis de Stella!

    Ela poderia colocar solteira, assim como poderia diminuir a idade. Mas não. Stella não queria começar nada com base em mentiras. Como deixara claro em sua descrição, estava ali movida por objetivos nobres e, ela acreditava, nada de nobre se alicerça em mentiras, ela acreditava. Por fato ou coincidência, na próxima semana Stella faria um curso em outra cidade e, na saída, uma das irmãs ainda lhe sugeriu:

    — Stella por que você não deixa a aliança? Esse casamento não existe mais, então uma aliança seria apenas para levantar perguntas que você não precisa responder.

    A moça que mantinha firme em seu dedo a grossa aliança, até mesmo para se livrar das abordagens românticas indesejadas, deitou um novo olhar sobre o círculo dourado em seu dedo. Tirou-o e entregou à irmã com o pedido:

    — Guarda para mim? — como quem ainda fosse reaver aquele bem. Porém, ela sabia, jamais iria usar aquele anel novamente. Outro talvez, aquele estava certo, era passado morto e enterrado.

    Fazendo isso, Stella dera um importante passo de volta para casa. 

    De volta para si mesma!

    ***

    A primeira noite frente ao computador foi o verdadeiro paraíso na Terra. Para a jovem e bela mulher, escondida em sua feminilidade, toda aquela atenção masculina fez para ela o efeito que um oásis verdejante faria a um viajante perdido no deserto. Havia saída para a solidão e ela estava logo ali, ao alcance dos olhos. Ou melhor ainda, dos dedos!

    A primeira reação diante das possibilidades foi de deslumbramento. Centenas milhares de possíveis amores a desfilar pela sua tela azulada. A próxima percepção, paradoxalmente, foi de temor. Afinal, como achar uma única alma compatível naquela imensidão de gente?

    É como procurar um tesouro no oceano! — Falou em voz alta, mas se havia um

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