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Passagem Para As Estrelas
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Passagem Para As Estrelas
E-book96 páginas45 minutos

Passagem Para As Estrelas

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Sobre este e-book

Henrique Severo Figueiró Nasceu no Alegrete, em 20 de maio de 1960. Estudou Economia e Administração. Hoje é aposentado e empresário. Na década de 80, publicou contos e crônicas em uma coletânea; na de 90, alguns poemas no jornal paulistano Gazeta da Penha. Com sangue pelas canelas, sua primeira narrativa longa, foi lançada em 2021, e Náufrago, sua primeira obra poética, em 2022. Instagram: @severofigueiro Email: henriqueseverof@outlook.com
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de nov. de 2022
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    Passagem Para As Estrelas - Henrique Severo Figueiró

    Dois olhos no fundo do copo

    O que resta é deixar o coração atento às paixões, que despertam a cada perspectiva mínima de virem a existir.

    A primeira vez que trocaram olhares foi no refeitório da loja. Trabalhavam em setores e andares distintos. Ele, invariavelmente, aquecia sua marmita de arroz com ovo frito. Ela, por sua vez, quase sempre comprava ou ganhava vale-almoço. Somente depois de muitos olhares e rápidos cumprimentos é que passaram a se sentar à mesma mesa.

    A vida perdia totalmente o significado, toda vez que ela trocava o horário de almoço. Para ela, representava um bom amigo e ouvinte, aquele par de orelhas emprestado, que algumas pessoas precisam. Também criara certa dependência daqueles encontros. Por motivos diferentes, ele contava as horas para as conversas.

    Com o tempo, passaram a sair aos sábados, após o expediente, com os colegas e tomar whisky num bar próximo. Algumas vezes acompanhados, outras somente os dois, ficavam a conversar até as primeiras horas do domingo. Este dia de descanso, embora acordasse tarde e tivesse lições acumuladas para fazer, era o dia mais longo da semana, sem dúvida.

    Às segundas-feiras, o ciclo recomeçava. Eram seis almoços e a possibilidade de uma conversa mais longa, regada a doses de whisky com gelo, num canto do bar, onde também devoravam uma carteira de cigarros. Muita filosofia de vida e sempre a expectativa de ela decidir lhe dar uma chance. Ele sabia, pois ela já lhe confidenciara que, assim como ele, aguardava uma oportunidade. Ela nutria o mesmo sentimento por outro. Achava muito bom tê-lo como amigo e meneava a cabeça, jogando os cabelos dourados de um lado para outro, toda vez que ele dizia não querer sua amizade. As garotas certas, em geral, querem os meninos errados, você é muito certinho, dizia ela.

    Agora estava ali, na ala dos fumantes do bar, a olhar desconfiado dois outros olhos que o observavam do fundo do copo já vazio, entre duas pedras de gelo bastante derretidas. Às vezes piscavam, mas não havia uma boca para falar, nem ouvidos para ouvir, apenas dois olhos, de um olhar recriminador. Um diálogo mudo de recriminação, muito parecido, aliás, com o de seu pai.

    Onde nascem as paixões? Não, elas não devem propriamente nascer, provável é que já vivam desde sempre, adormecidas. Então, o que as desperta? Diversos devem ser os motivos, nada de específico. Quem já não idealizou um parceiro ou parceira? Suas feições, sua voz, suas carícias, seu olhar, o jeito de caminhar, seu corpo, a maneira de vestir e despir... Como tais combinações jamais farão parte de uma só pessoa, ou então, se esta pessoa existir, a possibilidade de que ela tenha idealizado a pessoa que a procura é nula. Até mesmo que se cruzem um dia pela rua, a probabilidade é tão remota que não pode ser levada em consideração. O que resta é deixar o coração atento às paixões, que despertam a cada perspectiva mínima de virem a existir.

    Aproximou-se o garçom e ofereceu mais uma dose, enquanto aguardava. Olhou o relógio, era cedo, mas queria. Queria todas as doses que fossem necessárias para esquecer ou para chorar, pois talvez ela não viesse. Queria mais uma dose, até mesmo porque não havia o que fazer. As possibilidades se reduzem sempre na hora de decidir e a opção é sempre pela mais próxima, a mais fácil. É uma regra.

    Os esgotos já devem estar entupidos de olhos, pois o garçom despejou as pedras de gelo na pia. Devem ter caído junto os que há pouco espreitavam do fundo do copo. E se eles usassem óculos? Dois olhos despencando do fundo do copo, direto para um buraco escuro, tentando, desesperadamente, segurar as lentes. Depois, um pouco mais acostumados com a escuridão, encontrariam centenas de outros olhares e entenderiam: "Bem-vindos ao mundo dos

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