Passagem Para As Estrelas
()
Sobre este e-book
Relacionado a Passagem Para As Estrelas
Ebooks relacionados
Dialogando com as gavetas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÊta Nóis! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlltruísmo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSó uma pergunta para o futuro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs pessoas dos livros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Phd Da Razão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos curtos da vida lá fora Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIncontáveis contos de Carola Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma Nova Chance Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO diabo na rua Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJuro que tentei: História de um ferrado emocional Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEn[quadro]: Experiências de Morar Só Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOutra Face Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRecortes do cotidiano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRubores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAos 50, com amor: Um ano de vida em muitas crônicas (e alguns bons conselhos) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasXÔ: Relações abusivas sob um novo olhar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLivro do desassossego Nota: 4 de 5 estrelas4/5Toda forma de amor - Vol. 2 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo tratar loucuras crônicas com poesia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMorte E Vida De Um Escritor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiteratura & Champanhe Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGiovanna Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTodos E Ninguém Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Última Carta Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCalamário Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCarta A Kerouac Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHomem de papel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasObras essenciais de Fernando Pessoa Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Infantil para você
Magia De São Cipriano Nota: 4 de 5 estrelas4/5Rita, não grita! Nota: 5 de 5 estrelas5/5Simpatias Proibidas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Capa Preta Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Quarta Dimensão Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos Eróticos Picantes Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Cristão e a Política: Descubra Como Vencer a Guerra Cultural Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Livro Proibido Dos Bruxos Nota: 3 de 5 estrelas3/5O galo gago Nota: 5 de 5 estrelas5/5O livro do não Nota: 4 de 5 estrelas4/5Contos Eróticos Picantes Nota: 3 de 5 estrelas3/5Os Tempos Verbais em Inglês Nota: 4 de 5 estrelas4/5Prazeres Insanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLivro Infantil: Aventuras do Gato Miguelito Nota: 5 de 5 estrelas5/5Como cuidar do seu dinheiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5O meu pé de laranja lima: Em quadrinhos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Nem todo amor tem um final feliz. E tá tudo bem. Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Cabala E A Escada De Jacó Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Passagem Para As Estrelas
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Passagem Para As Estrelas - Henrique Severo Figueiró
Dois olhos no fundo do copo
O que resta é deixar o coração atento às paixões, que despertam a cada perspectiva mínima de virem a existir.
A primeira vez que trocaram olhares foi no refeitório da loja. Trabalhavam em setores e andares distintos. Ele, invariavelmente, aquecia sua marmita de arroz com ovo frito. Ela, por sua vez, quase sempre comprava ou ganhava vale-almoço. Somente depois de muitos olhares e rápidos cumprimentos é que passaram a se sentar à mesma mesa.
A vida perdia totalmente o significado, toda vez que ela trocava o horário de almoço. Para ela, representava um bom amigo e ouvinte, aquele par de orelhas emprestado, que algumas pessoas precisam. Também criara certa dependência daqueles encontros. Por motivos diferentes, ele contava as horas para as conversas.
Com o tempo, passaram a sair aos sábados, após o expediente, com os colegas e tomar whisky num bar próximo. Algumas vezes acompanhados, outras somente os dois, ficavam a conversar até as primeiras horas do domingo. Este dia de descanso, embora acordasse tarde e tivesse lições acumuladas para fazer, era o dia mais longo da semana, sem dúvida.
Às segundas-feiras, o ciclo recomeçava. Eram seis almoços e a possibilidade de uma conversa mais longa, regada a doses de whisky com gelo, num canto do bar, onde também devoravam uma carteira de cigarros. Muita filosofia de vida e sempre a expectativa de ela decidir lhe dar uma chance. Ele sabia, pois ela já lhe confidenciara que, assim como ele, aguardava uma oportunidade. Ela nutria o mesmo sentimento por outro. Achava muito bom tê-lo como amigo e meneava a cabeça, jogando os cabelos dourados de um lado para outro, toda vez que ele dizia não querer sua amizade. As garotas certas, em geral, querem os meninos errados, você é muito certinho
, dizia ela.
Agora estava ali, na ala dos fumantes do bar, a olhar desconfiado dois outros olhos que o observavam do fundo do copo já vazio, entre duas pedras de gelo bastante derretidas. Às vezes piscavam, mas não havia uma boca para falar, nem ouvidos para ouvir, apenas dois olhos, de um olhar recriminador. Um diálogo mudo de recriminação, muito parecido, aliás, com o de seu pai.
Onde nascem as paixões? Não, elas não devem propriamente nascer, provável é que já vivam desde sempre, adormecidas. Então, o que as desperta? Diversos devem ser os motivos, nada de específico. Quem já não idealizou um parceiro ou parceira? Suas feições, sua voz, suas carícias, seu olhar, o jeito de caminhar, seu corpo, a maneira de vestir e despir... Como tais combinações jamais farão parte de uma só pessoa, ou então, se esta pessoa existir, a possibilidade de que ela tenha idealizado a pessoa que a procura é nula. Até mesmo que se cruzem um dia pela rua, a probabilidade é tão remota que não pode ser levada em consideração. O que resta é deixar o coração atento às paixões, que despertam a cada perspectiva mínima de virem a existir.
Aproximou-se o garçom e ofereceu mais uma dose, enquanto aguardava. Olhou o relógio, era cedo, mas queria. Queria todas as doses que fossem necessárias para esquecer ou para chorar, pois talvez ela não viesse. Queria mais uma dose, até mesmo porque não havia o que fazer. As possibilidades se reduzem sempre na hora de decidir e a opção é sempre pela mais próxima, a mais fácil. É uma regra.
Os esgotos já devem estar entupidos de olhos, pois o garçom despejou as pedras de gelo na pia. Devem ter caído junto os que há pouco espreitavam do fundo do copo. E se eles usassem óculos? Dois olhos despencando do fundo do copo, direto para um buraco escuro, tentando, desesperadamente, segurar as lentes. Depois, um pouco mais acostumados com a escuridão, encontrariam centenas de outros olhares e entenderiam: "Bem-vindos ao mundo dos