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Sobre este e-book

A população carcerária brasileira é uma das maiores do mundo, sendo consequência de problemas socio-econômicos intrínsecos ao país. Mesmo assim, não é uma questão imensamente debatida, já que é mais fácil ignorá-la. Entretanto, essa não é uma alternativa para Leonardo Precioso. Leo nasceu na periferia de São Paulo e se tornou jogador de futebol. A profissão, porém, exigia algo além de talento e o atleta acabou enveredando-se pelo mundo do crime. Foi parar na cadeia e, lá, se tornou membro do crime organizado. Mas decidiu mudar de vida. Aliás, Leo não apenas mudou, ele se transformou para enfrentar a causa que ninguém quer lidar. Após cumprir sua pena, fundou o Instituto Recomeçar, que ajuda ex-presidiários a se reintegrarem na sociedade. Essa é a história de todos os caminhos que ele percorreu. E chegou aqui.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de abr. de 2022
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    Pré-visualização do livro

    Recomeçar - Leonardo Precioso E Sabrina A. Mori

    R E C O M E Ç A R :

    o cárcere e a necessidade de (se) transformar (n)o país imutável

    1

    prefácio por

    . EDU LYRA .

    Leonardo Precioso estudou em três escolas de

    formação não tradicionais: futebol, crime e social.

    A primeira, assim como milhares de jovens

    brasileiros nascidos em periferias e favelas, foi o futebol.

    Leo, como o chamamos, foi dos melhores laterais direito que teve na Região Leste de São Paulo, ele tinha força de marcação e muita chegada ao ataque. Além de ser um líder dentro e fora de campo. Foi nesta época que conheci o Leo, pois como também nasci em região de extrema pobreza, a bola era a saída mais real.

    Porém eu não tinha qualidade técnica. Fui fazer um

    teste em um clube do Paraná e o treinador me reprovou, disse que, se eu quisesse melhorar, precisava treinar com gente boa e mais experiente. Então, meu pai me colocou 2

    para treinar na Associação Atlética Ajax, um time do Itaim Paulista.

    Foi assim que conheci o Leo e outros grandes atletas. Leo era dado ao treinamento intenso, os intervalados, dois toques e os reduzidos. Batia bem na bola. Eu passei um ano ao lado dele. Aprendi tudo que podia, voltei ao Paraná e fui aprovado no juvenil do Matsubara. Virei zagueiro titular e capitão do time. Sonho realizado. Acabei criando um vínculo de admiração e gratidão com Leo.

    Anos depois, abandonei o futebol, porque preferi ir estudar e criar uma carreira sólida. Soube que, como eu, o Leo também havia deixado o esporte, porém para ingressar na criminalidade. Aquela notícia me pegou de surpresa, foi um soco no estômago.

    Francamente, a notícia de que algum amigo havia

    entrado no crime ou sido assassinado era comum, mas não vinda de uma referência no esporte para toda uma geração de atletas amadores e profissionais. Como você 3

    vai ler no livro, o Leo chegou longe no esporte de alto rendimento.

    E, no crime, Leo foi fundo, tão intenso quanto no futebol. Liderou e ganhou poder com seus delitos e, uma vez preso, ingressou no crime organizado. Fez muitas pessoas sofrerem, sobretudo sua família. E também sofreu. Apanhou pelado da polícia, foi torturado, viveu em presídios em condições sub-humanas. Às vezes, não tinha sequer sabonete pra tomar banho na cela.

    Enquanto isso, do lado de fora, eu fui estudar. Ao

    cursar faculdade de Jornalismo, trabalhava em dois empregos pra conseguir pagar a mensalidade e ajudar minha mãe em casa. Fiz uma promessa a mim mesmo,

    que quando pudesse, iria ajudar o amigo a sair do crime e recomeçar a vida aqui fora. Alguns anos depois de criar o Gerando Falcões na periferia de São Paulo, as coisas começavam a andar. Arrumei meus primeiros

    patrocinadores, o casal Ricardo e Patrícia Vilella Marino, família ligada ao Itaú. Assim que ganhei um fôlego econômico fui atrás do Leo.

    4

    Através de sua mãe, dona Vanda, comecei a enviar cartas ao presídio. Passamos anos em conversa.

    Negociando a sua saída do crime e retorno a sociedade, o que parecia impossível para quem estava tão submerso na criminalidade. Contudo, eu já tinha visto milagre, meu pai foi preso, indiciado por roubo a banco e salvamos ele.

    Hoje, ele está em casa com minha mãe.

    Leo saiu da prisão. Magro, porém bonito. Após uma

    proposta que eu e Lemaestro, co-fundador da Rede Gerando Falcões, fizemos, Leo aceitou abandonar o passado e partiu para sua terceira escola, a social.

    Eu convivo há quase 6 anos com Leo como

    empreendedor social. Já vi Leo feliz, bravo, muito bravo, mas nunca vi, este líder, que hoje impacta a vida de tanta gente, dizer que iria voltar ao crime ou ter recaída, em relação a drogas ou a dinheiro. Um homem de palavra.

    Fundou a ONG Recomeçar com suas próprias mãos

    e sua visão de mundo, que tenho a alegria de fomentá-la dentro do Gerando Falcões. O Recomeçar é um programa que faz homens e mulheres colocarem as suas armas no 5

    chão e voltarem pra dignidade. Como líder e empreendedor social, ele tem relacionamento com as maiores companhias do país, tem o Whats App de juízes e desembargadores que o respeitam. Ele entra e sai do prédio Adriano Marrey, no qual, um dia, foi um dos líderes do crime organizado. Leo tem uma impressionante capacidade de administração, conhecimento de

    indicadores de performance, gestão da rotina, etc. É fiel à causa da qual defende, é capaz de entregar a própria vida pelo o que acredita.

    Como alguém que ficou 7 anos atrás das grades, Leo vem se transformando dia a dia. Depois de viver debaixo de um estatuto criminal com regras ferrenhas, ingressar novamente na sociedade é um desafio, que só compreende quem viveu de perto.

    A trajetória deste homem, que ainda não tem nem

    40 anos, está apenas começando. Com muita estrada pela frente, sua garra e persistência vai continuar salvando vidas e criando oportunidade pra quem estava sentenciado pela sociedade.

    6

    Esse livro vai te fazer refletir sobre o Brasil, as desigualdades, a criminalidade e a redenção de um homem, que estudou em escolas diferentes e aprendeu muito e hoje se tornou um herói pra muita gente, que assim como ele, estava condenada.

    Edu Lyra é CEO e fundador da Rede Gerando Falcões.

    7

    8

    A P R E S E N T A Ç Õ E S

    Jogador profissional de futebol, membro do crime

    organizado e empreendedor social. Com 38 anos, Leonardo Precioso já viveu um pouco de tudo:

    Nascido em periferia, onde a violência e a fome são regra e não exceção, Leo aprendeu o que era sobreviver e viu no futebol sua chance para mudar de vida. Entretanto, o que a televisão passa nos jogos de domingo se mostrou uma farsa e o oculto dos gramados se revelou, fazendo com que o atleta desistisse de seu sonho.

    Ainda assim, o então garoto queria todos aqueles

    luxos que lhe foram prometidos e recorreu ao crime.

    Foram três anos desfrutando a vida boa da ilegalidade antes de ter de passar sete no sistema carcerário. Lá dentro, uma nova realidade foi apresentada, um lugar com suas próprias leis, onde a sobrevivência ganha uma nova definição. Foi na cadeia que Leo entrou para o crime organizado.

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    E quando decidiu abandonar esse estilo de vida, depois de estar em liberdade, o único que lhe ofereceu emprego foi um amigo de infância que havia criado uma ONG. Todavia, parecia errado que aquele que não desejava mais viver do crime encontrasse tanta dificuldade para sair desse mundo. Assim, Leo propôs o Instituto Recomeçar, uma ONG para recolocar ex-presidiários na sociedade através do mercado de trabalho.

    Em 2021, 2982 pessoas estão cadastradas no

    programa, 523 possuem qualificação profissional, 40

    estão fazendo faculdade através de bolsas conseguidas pelo projeto e apenas 5% reincidem no crime (o índice nacional de reentrada é de 42,5%, chegando a 75% no estado do Espírito Santo, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça em 2020).

    Essa é uma biografia ambiciosa que conta a vida

    de uma pessoa ambiciosa. Um homem que errou mais vezes do que acertou e que tenta enfrentar problemas que parecem estar intrínsecos à sociedade contemporânea.

    Ele é um dos exemplos de quem vive a guerra da classe 10

    baixa brasileira e que teve de se transformar inúmeras vezes para conseguir encontrar a melhor alternativa. E, ao final deste livro, o leitor talvez permita ser transformado também.

    abertura

    . TRANSFORMAÇÃO .

    Trans.for.mar v.t.d. e transobj. 1. Dar nova forma, feição ou caráter a; mudar,

    modificar, transfigurar. 2. Converter. P. 3.

    Mudar de estado, posição, condição, forma,

    11

    etc, § trans.for.ma.ção sf.; trans.for.má.vel adj2g

    Miniaurélio: o

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