Viamão – arquitetura barroco-colonial
De Mariza Lópes
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Sobre este e-book
" O livro Viamão – Arquitetura barroco-colonial, de Mariza López, vai além do título. A autora inicia com um breve relato da ocupação hispano-portuguesa do território que hoje é o Rio Grande do Sul. Vários eventos históricos que permitem contextualizar a arquitetura da cidade são apresentados. Assim, são referenciados a atuação dos jesuítas espanhóis, os assaltos dos bandeirantes, a fundação da Colônia do Sacramento, os tratados entre Portugal e Espanha e a incorporação dos territórios que compunham a Província Cisplatina.
Alternando as narrativas, a autora transita pelas origens da composição étnica da população, conduz o leitor a visualizar como se estabeleceu o sistema de sesmarias e a ocupação dos Campos de Viamão.
A arquitetura colonial viamonense é apresentada, enfatizando seu caráter militarista. Diversas casas históricas são objeto de exame e, como não poderia deixar de ser, é feita uma breve análise da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a segunda igreja mais antiga do Estado.
O livro é fartamente ilustrado, permitindo ao leitor um passeio pela arquitetura colonial de Viamão."
Ricardo Arthur Fitz
Professor de História do Colégio Militar de Porto Alegre e professor aposentado da Faculdade Porto-Alegrense
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Pré-visualização do livro
Viamão – arquitetura barroco-colonial - Mariza Lópes
Viamão
ARQUITETURA BARROCO-COLONIAL
© Mariza López, 2022
Direitos da edição reservados à Libretos.
Permitida a reprodução apenas parcial e somente se citada a fonte.
Edição e design gráfico
Clô Barcellos
Foto na capa
Daiane López Peixoto
Porta da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Viamão
Foto na contracapa
Antônio Vargas
O fogo que não se apaga. São Sepé, Rio Grande do Sul
Daiane López Peixoto
Detalhe de teto e altar-mor na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Viamão
Revisão
Célio Lamb Klein
Grafia segue Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009
Viamão
ARQUITETURA BARROCO-COLONIAL
Mariza López
Porto Alegre, 2022
Dados internacionais de catalogação na publicação
Bibliotecária Daiane Schramm
CRB 10/1881
L864v López, Mariza
Viamão: Arquitetura barroco-colonial [recurso
eletrônico]. / Mariza López. – Porto Alegre: Libretos,
2022.
Livro Digital
ISBN 978-65-86264-53-1
1. Arquitetura Barroco-colonial. 2. História.
3. Costumes. 4. Memórias. 5. Viamão-Rio Grande do Sul. I. Título.
CDD 709
Libretos
Rua Peri Machado, 222, bloco B/707
Bairro Menino Deus, Porto Alegre, RS
CEP 90130-130
Brasil
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libretos@libretos.com.br
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IN MEMORIAM
Cesar Mena Barreto Gomes
(1945-1996)
Neuza Terezinha Tasca
(1950-2021)
Regina Frota
(1940-2022)
Sumário
Prefácio
Aquelas misteriosas paredes
Vitor Ortiz
Introdução
O passado e suas significações
Parte I
Aspectos históricos
Um território disputado, uma sede protegida
Sistema de sesmarias
A preferência pelo latifúndio
A questão indígena
Servidão disfarçada
Escravização no Sul
Maioria subjugada
Colonização de Viamão
Os primeiros povoadores brancos
Arquitetura militar
Construções para a defesa
Cultura missionária
O foco na educação
Código de posturas
Regras no espaço urbano
Alguns costumes
Folias regadas a pão e carne
Caderno de fotos
Parte II
Casa Velha
Estilo colonial português
Estância do Aterrado
Uma residência rural
Pensão do Seu Caruso
A casa urbana
Casa da Dona Mariazinha
A casa em fita
Sobradinho da Praça
Dois andares e paredes reforçadas
Solar Dom Diogo de Souza
Uma casa de veraneio
Solar dos Barcelos
Um tom barroco-colonial
Fazenda Águas Belas
Estilo açoriano
Igreja Matriz
A maior igreja setecentista do Rio Grande do Sul
Antigas bicas
Fontes desativadas
Igreja Episcopal Anglicana
Estilo eclético
Caderno de fotos
Conclusão
As urgências da memória e da história
Glossário
Referências bibliográficas
Agradecimentos
PREFÁCIO
Aquelas misteriosas paredes
Vitor Ortiz
¹
Esta publicação de Mariza López teve origem num trabalho acadêmico de especialização que realizou em idos dos anos 1980, quando ainda existiam diversos resquícios das inúmeras construções do período colonial e imperial em Viamão. Eu mesmo, quando criança, brinquei no meio de ruínas, ou sentado à porta desses casarões e igrejas de cujas paredes a ação do tempo removera o reboco, deixando à vista impressionada da garotada viamonense aquelas misteriosas paredes feitas com pedras irregulares e liga de conchas moídas, o cimento de então.
Lembro de ver com medo as casas muito antigas infestadas de aranhas e lacraias, que de vez em quando caíam do teto, como às vezes acontecia na barbearia de meu pai, Lírio Bittencourt, que ocupou por alguns anos o casarão onde hoje é o gabinete do prefeito e outrora fora a Pharmácia Esperança e a Pensão do Seu Caruso, conforme nos conta a Mariza neste livro.
A imagem na página 67 dá uma ideia do bucólico Arraial de Viamão, que, até meados dos anos 1970 e 1980, preservou inúmeras marcas e características do período colonial e imperial, especialmente das construções do século XIX, entre ruínas mais antigas, como as que existiam da casa onde se reuniram os vereadores da Câmara em 1766, depois da fuga da ocupação espanhola de Rio Grande.
Como descreveu Saint-Hilaire em sua passagem por ali em 1820, aquele antigo núcleo urbano compunha-se de duas praças contíguas e de formato irregular, erguendo-se, numa delas, a igreja:
[...] depois de São Paulo, ainda não conheci outra igual a essa. Possui duas torres, sendo bem conservada, muito limpa, clara e ornamentada com gosto. Pelas igrejas do Brasil pode-se julgar de quanto seria capaz este povo se os meios de sua instrução fossem multiplicados [...].²
É provável que o grandioso investimento na estrutura arquitetônico-militar da igreja de Viamão esteja realmente relacionado à ideia de instalação definitiva da sede da vila e da única Câmara governativa existente no Rio Grande de São Pedro, ideia que sucumbiu, em 1772, diante da visão do governador Marcelino Figueiredo, que concedeu o status de vila à freguesia de São Francisco do Porto dos Casais naquele ano, elevando-a à condição de lugar sede da Câmara, consolidando o antigo Porto de Viamão – então futura Porto Alegre – como local mais vocacionado para a condição de vila central e sede governativa. A decisão estava relacionada a pelo menos dois fatores. Um deles, a presença açoriana. Naquele ano, iam-se já praticamente duas décadas de assentamento dos casais nas margens do Guaíba à espera da demarcação de terras nas Missões, o que fracassara diante da resistência indígena à expulsão dos jesuítas e à subjugação ao cruento domínio bandeirante. Outro, a posição pluvial. Todos os negócios da época, inclusive o tráfico negreiro, dependiam de bons portos, de acesso às rotas de navegação.
Enfim, dentro do mesmo grande território dos Campos de Viamão, ao longo do século XVIII, consolidaram-se alguns núcleos de povoação portuguesa: o Arraial de Viamão, o Porto dos Casais, Belém Velho e a Aldeia dos Anjos. Todos transformados em freguesia, ou seja, detentores de capelas curadas, onde se podia batizar, realizar casamentos, registros de nascimento e óbito. Entre elas, uma seria destacada como sede, vila (conforme a nomenclatura da época para o lugar onde havia uma câmara governativa com seus vereadores), e as demais ficariam então como freguesias, à sede subordinadas. Foi desse modo que se organizou o mapa governativo depois de Marcelino Figueiredo, naquelas últimas décadas dos anos 1700. Embora a resistência dos vereadores instalados em Viamão, que ali haviam construído casas e realizado investimentos nas redondezas da Capela de Nossa Senhora da Conceição, mandado instalar fontes de abastecimento de água e até mesmo contribuído para a edificação de uma portentosa catedral – obras do governador anterior, José Custódio de Sá e Faria –, a vontade do governador Marcelino prevaleceu. Em 26 de março de 1772, o Porto dos Casais foi elevado à condição de vila, ficando Viamão, Belém e a Aldeia dos Anjos (futura Gravataí) na condição de freguesias daquela, o que teve ordem e concordância do Visconde do Lavradio, vice-rei do Rio de Janeiro, a quem toda a região Sul, incluindo São Paulo, era subordinada.
Naquela sua passagem em 1820 – 48 anos depois da elevação do Porto dos Casais (Porto Alegre) –, Saint-Hilaire percebia já um certo abandono de Viamão. Ele relata:
A fundação de