Fera, Lobo E Leão

De Ingra Gomes

Copilado de contos e poemas escritos pela autora sobre juventude, amizade, auto descoberta e primeiro amor.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 2 de mai. de 2019

Pré-visualização do livro

                   

Ingra Gomes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca Pública do Estado do RS, Brasil)

G633f      Gomes, Ingra

Fera, Lobo e Leão / Ingra Gomes. -- Porto Alegre : ed. d autor, 2010. 110 p.

1. Literatura brasileira – miscelânea. I. Título.

CDU 869.0 (81)-8

Bibliotecária responsável: Tânia Mayer Evangelista CRB -10/1846

Dedicado a:

Lúcia e Marco, princípio de tudo; Lení, princípio do princípio;

Gomes, Arruda e afins, cada qual tem sua loucura interior

André Prado, meu espelho invertido

Aqueles que acreditaram!

Então, era uma vez...

Era uma vez... Stop! Ponto. Nem todo bom conto começa com Era uma vez... isso é tão fora de moda, out! E esse é um livro de contos... Acho.

O que é isso afinal? O que é qualquer coisa? Começou com sentimentos no papel, virou uma espera, esperança, até se tornar um grito de libertação... Uma vontade exigente como um amante.

Ao catar caquinhos, as folhas pelo chão não me pareceu nada mal compartilhar

Isso não é um conto, com começo meio e fim, mas tem Princesa meio brusca, enfeitiçada e despercebida, vilão com pinta de herói, herói com pinta de vilão, feitiço e chamado que não se concretizou. Só tem que ter sensibilidade para ver!

Juntando tudo, resolvi começar assim: "Era uma vez...

"

A Fera: Anjo, Bicho e Mulher alternando a Era...

Não é daquelas pessoas muito certas sabe, simplesmente é como um rio pontuado de pedras e desvios que continua a fluir.

Muitas coisas ao mesmo tempo... Frases que o vento sussurra, como uma canção dissonante e estridente.

Tudo ocorre de dentro para fora e prossegue.

Um castelo, casa... Princesa, Dragão e Bruxa Encantada tudo ao mesmo tempo.

Fera

E se nas noites de Lua Cheia eu me libertasse? O que você diria?

Algo obscuro, profano Inseguro

Você ainda voltaria?

Eu não sou tão exata,

Tenho segredos sombrios, insanos Não sou desse planeta

Não sou mulher nata

Quando tudo isso acabar Você ainda vai querer voltar? Eu não sou bela

Não finjo nem sigo

As mesmas regras que ela

Também não sei nada do meu habitat natural Acho que não sou dali, de lá

Não, certamente não sou normal

Como você lidaria com isso? Com esse ser visceral

Essa força, energia Super e natural Como a Magia?

Sobre Traições e Punhaladas

E disse-me Maria Madalena em um sonho:

"- Conosco, mulheres... A história sempre se repete: Desde que a Terra deixou de ser vista como doadora da Vida e a mulher como seu instrumento, apontando o caminho espiritual através da consumação de um ato de Amor, somos querida, constantemente desvalorizadas, pior que isso, rejeitadas, depostas, exiladas, apedrejadas, queimadas e torturadas... Mulheres. Ofendidas, desprezadas por homens... E mulheres! O que possuímos ambas... Todas. Considere um presente e um fardo: o Dom de dar a Vida... O Dom do saber.

Perdoa então, aqueles que a ofenderem, mas não busque aceitação... Aquilo que não é compreendido é sempre julgado da pior forma possível por aqueles que andam nas trevas da ignorância... Não pare para olhar para trás, não tente fazer justiça com as próprias mãos, deixe que a Consciência os guie e a Intervenção divina os julgue. Esqueça e viva minha menina, pois o mundo é feito do Bem e do Mal, conviva com ambos e saiba que todo o apoio que você precisar você sempre terá, por mim ou por instrumentos ao meu alcance. Estou junto com você e nunca a deixarei só, no escuro como você tanto teme, vai agora e descansa, sorri e recomponha-se, a Vida é uma luta diária e você nunca estará só, vai com a benção da Mãe, com sua proteção e conforto."

Melissa

Ao acordar ela não sente nada

É gélida ainda pelo orvalho tocado

Com o sol chegam lembranças e sentimentos Como raios a lhe queimar

Vozes nos quatro cantos,

A tarde traz angústia e espera

À noite a fogueira eterna a faz etérea.

Bellemere

As macieiras permanecem como você deixou Seus frutos ainda são os mais doces

Mas algo que não sei bem o que mudou Falta a tua presença A alegria jovial

Mesmo iguais as maçãs não são as mesmas

A maçã me lembra a escolha que um dia hei de fazer

Lembra o tempo perdido, falhas e tudo que não pude te dizer.

Ingá, Maringá

Deitada no escuro do quarto ela voltou mais uma vez ao passado, lembrou da aventura e das sensações. Caminhou novamente entre ipês floridos, respirando o cheiro da terra com chuva. Sentiu os ventos e as palavras das árvores que ninguém apreciava. Lembrou seus conselhos. Tocou suas raízes e o sol abrasador que não lhe deixava nem o suor... Trilhou novamente as ruas asfaltadas em círculos catando aqui e ali seus pensamentos perdidos. Demorou-se na esquina onde sentiu a primeira dor de amor... Logo ali, ainda assim mais que distante, seu melhor amigo esperava. Sorriu à textura dos cabelos lisos, a voz desafinada. Ouviu novamente aquele Até logo, não gosto de despedidas.

No antigo quarto, pode ver as marcas invisíveis do crescimento, sua infantilidade toda ali... As marcas das vezes que se incinerou, o chão de madeira, sons antigos, paz rosa e creme. Pequenas magias da pequena morena... O gosto único do cachorro quente da esquina, na Praça da Igreja São Miguel... A melhor amiga chamando no portão, cabelos de miojo e rosto de fruta. Seu fiel Lord Roxton correndo pelo pátio, o cão perfeito... Brigas por religião, defesas... A tristeza da mãe... Sofá, Santana, Administração. Viu o uniforme antigo da escola, a professora ídolo, a professora amiga... A primeira simpatia, o arqueiro no céu da casa e o luar... Concluiu que fora e era feliz, contudo.

E descobriu seu local de poder: A Maringá do passado com a qual compartilhava a força de um apelido